O som da festa dava para se ouvir por todo o quarteirão. Facilmente se podia localizar a casa a qual era a origem de toda aquela algazarra. Rolos de papel higiênico estavam decorando as árvores da entrada. Alguns adolescentes bêbados estavam desmaiados logo na entrada. Um outro abraçava uma girafa inflável e sussurrava juras de amor ao ser inanimado.

— Será que essa casa não está assombrada? Talvez essas pessoas estejam possuídas? – Inqueriu Otto mirando curiosamente o adolescente que agora beijava a girafa. O ceifador, pela primeira vez, estava sem seu uniforme. Vestia uma calça jeans muito folgada e cheia de bolsos. Uma camisa regata. Estava disfarçado de adolescente humano, mesmo que segundo seus acompanhantes, nem precisara de muito esforço para alcançar esse objetivo.

— Não! Isso é normal por aqui! – Informou um jovem de cabelos negros, meio acinzentados, pele morena e olhos de íris totalmente negra. Sua roupa contrastava um pouco, vestia uma camisa havaina, shorts e sandália. Sorria e tirava fotos de tudo que avistava. Otto o observava com um pouco de inveja, queria ter uma câmera fotográfica também...Mas pelo visto o direito de portar maquinas humanas era conferido só a família real. 

Sim, aquele garoto que mais parecia um turista animado era um dos filhos de Hades, mais precisamente o 12° filho: Dante.

— Ai meu Hades! Uma autêntica festa estadunidense! Com direito a jovens em coma alcoólico e tudo mais! – Dizia Dante tirando ainda mais fotografias.

— Isso não é uma atração turística! – Resmungou um rapaz próximo a eles, cabelos loiros tão claros que pareciam platinados. Corpo magro e quase feminino, mas Otto não podia esquecer que aquele fantasma era de fato homem... Ainda sentia a força do seu chute em meio as suas pernas quando tentou espia-lo na casa de banhos, no submundo. Aquele jovem com uma beleza sobrenatural era Virgílio, outro fantasma consultor, contudo sua real função era evitar que Dante se envolvessem em problemas (algo bastante comum, infelizmente).

— M-mas...Mas... – Dante fez biquinho, algo muito estranho de se ver, afinal, aquele príncipe do inferno não era uma criança. Se Noir  fizesse a mesma ação talvez fosse fofo, mas Dante era maior e mais musculoso, a definição de fofo não se aplica.

— Temos uma missão. – Enfatizou Virgílio – Além disso, essa câmera não é um dispositivo comum. Trata-se da câmera Obscura, ela teria a capacidade de registrar a atividade sobrenatural por meio de suas lentes e...

— Sorria! – Dante nem estava ouvindo a explicação, estava batendo uma selfie com o garoto bêbado e a sua girafa.

— Dante! – Virgílio sibilou, raivoso.

A câmera começou a esfumaçar. Se ela registrava atividade sobrenatural, tirar uma foto do filho de Hades devia estar sobrecarregando a coitada.

— Ops... – Dante deu um meio sorriso travesso.

— Ops!? Eu não vou explicar ao seu pai como a câmera favorita dele sumiu do palácio e como ela quebrou!

— Ela não está totalmente quebrada... – Argumentou o 12° filho do senhor do mundo inferior.

— Pessoal... Precisamos entrar. – Falou Otto, um pouco receoso, o menos queria era fazer Virgílio se irritar, temia ser alvo de outro chute preciso em seus “países baixos”.

— Otto tem razão. – Suspirou cansado o fantasma – Dante, lembre-se que estamos aqui em uma missão! Para adentrar no mundo humano existem algumas passagens, altamente vigiadas,  cheias de formulários para preencher e filas enormes... Para sermos mais rápidos usamos a habilidades de seres com alta capacidade sobrenatural, ou seja, alguém com sangue real, capaz de abrir, por si só, passagens entre os dois mundos! Noir era responsável pelo transporte de ceifadores, mas o seu irmão mais novo está em uma missão no Japão! Vossa majestade Hades achou que seria interessante que seu outro filho, que, devo enfatizar, está desempregado, ajudasse o departamento de captura e acolhimento de almas... Por isso, deve se portar como profissional e...

— Veja! Veja! Eu roubei a girafa! Vou levar comigo como souvenir! – Dante sorria segurando o animal inflável como um tesouro precioso.

— Eu ainda vou... – As mãos de Virgílio tremeram, fez um sinal com as mesmas que parecia indicar que iria enforcar o jovem príncipe, mas logo começou fazer exercícios de respiração para se acalmar.

— Pessoal! Pessoal! – Uma garota, no interior da festa começou a gritar – Está na hora de invocarmos Bloody Mary!

Otto engoliu em seco e mirou de relance o fantasma que assentiu.

— Aí está nossa oportunidade... – Disse Virgílio arrastando Dante consigo para o interior da casa, junto com o ceifador.

Hoje era o dia de captura da famosa Bloody Mary.