Dcaa escrita por NMCMsama


Capítulo 13
Interlúdio


Notas iniciais do capítulo

Atualizado!!



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Minha vida é pacata, pelo menos quando não estou envolvido em algum tipo de investigação maluca. Tenho meu apartamento perto da sede dos Ceifadores. Existem diversos restaurantes nas proximidades. Até mesmo um supermercado. Sim, o submundo também tem essas coisas, a diferença é que você pode encontrar alguns produtos bastante...Er...Digamos...Exóticos. Como lesmas cegas fosforescentes, uma iguaria muito popular no submundo, sendo que elas são vendidas ainda vivas o que torna muito inconveniente guarda-las nas sacolas plásticas, já que algumas vezes elas escapam! Também tem os peixes albinos cuja pele era tão clara que em alguns locais de seu curto corpo chegavam a ser transparentes, de modo que podíamos ver seu coração batendo. Sim, era nojento e estranho, mas um peixe albino frito ao molho de gosma ectoplasmal iria fazer você repensar a suas primeiras impressões. Mas não queria discorrer sobre a gastronomia do reino de Hades, não! Esse não era o motivo desse relato... A verdade era que devo corrigir a minha fala, dissera que “minha vida é pacata”, pois o certo é dizer era.

— O que você está fazendo mesmo aqui? – questionei quando abri a porta, mas Noir não respondeu de imediato, me mirava como tivesse visto um fantasma. Haha! Boa piada, não? Entenderam? A graça estava no fato de eu ser um fantasma de verdade e... Quer saber? Esqueçam! Não se deve explicar uma piada! Isso é uma regra sagrada tanto no mundo humano quando no submundo.

— Você está sem uniforme... – sussurrou o príncipe, bufei irritado, ele esperava que eu vestisse uniforme até mesmo no meu tempo de folga? Bem que, agora olhando bem para o meu suposto chefe, via que ele estava ainda com o uniforme característico dos ceifadores: as calças e smoking de coloração negra, com uma gravata de igual cor, combinando. Eu, por outro lado, usava apenas umas calças de pano folgadas que pendiam um pouco dos meus quadris, sim, eram grandes, não eram do meu tamanho, mas não ligava, gostava de usa-las quando estava de folga! Não tem nada de errado usar roupas que não são de seu tamanho! Não havia nenhum tipo de lei em relação a isso... Ou existia?

— Você não respondeu a minha pergunta. – cruzei os braços diante do meu peitoral nu e franzi o cenho, sim, assim eu deveria parecer mais ameaçador (ênfase no deveria).

— Eu não quero dormir hoje lá em casa. – ao falar isso notei a mochila que tinha nos ombros. Outra coisa a ser notada é o termo “lá em casa” o que seria referência ao palácio de Hades...Ou seja, Noir ou tinha fugido de casa ou dissera que iria participar de uma festa de pijamas no ape do seu “espirito-babá” Eric. Perfeito! Não era como tinha planejado minha folga.

— E por que seria isso? – suspirei e me afastei da porta permitindo que o garoto entrasse, como seu pudesse impedir de seguir as ordens de meu “chefe”, além disso, seu eu negasse... Para onde Noir iria? Se perdesse o 13° filho de Hades estaria em um grave problema com o soberano do submundo.

— Devido a última missão. – respondeu, adentrando e fazendo a questão de lançar um olhar crítico para todo o lugar, precisamente as roupas jogadas no chão. Ainda fizera questão de se abaixar e pegar uma cueca minha de estampas de caveiras.

— Ei! – retirei a minha roupa intima de sua mão bisbilhoteira – Você é um convidado, logo, nada de tecer opiniões negativas sobre a minha casa, ok?

Noir parecia pensativo quanto a isso, mas ao final assentiu. Era obvio que ele queria dizer algo, mas se conteve. Foi para o sofá e se sentou, deixando sua mochila sob o seu colo.

— Certo... O que tem a última missão? Devo dizer que foi uma das mais difíceis que enfrentamos... Nunca mais irei encarar o banheiro da mesma forma.

Noir assentiu, mas nada disse, logo tive que continuar falando...

— Mas, pelo visto, a missão em si poderia ter resolvido mais rapidamente se sua irmã tivesse participado desde o início.

As mãos de Noir se cerraram subitamente com a menção da Morte.

— Ela... Meu pai... – Noir não era conhecido por fazer muita expressão facial, mas naquele momento tive um vislumbre de sua fúria e rancor. Isso foi antes de uma explosão de fumaça negra ocorrer. Sim! Noir meio que começou a expelir uma fumaça... O que me deixou bastante preocupado com sua saúde! Acho que seres sobrenaturais não deviam soltar tanto “efeito especial”.

Fechei os olhos e tossi, quando os abri havia outra pessoa no meu sofá. Digo, de início pensei que fosse outra pessoa, mas então notei os olhos de íris tão escuras como a noite, cabelos de igual tonalidade, agora mais longos, pele esbranquiçada como a mais pura neve. Aquele era Noir...A versão mais velha dele! Igual o que tinha acontecido no banheiro no Brasil! Ele tinha se transformado de novo!

— Er... Noir? – chamei, meio incerto pelo o que estava acontecendo.

— Eles estavam tentando me testar! Sim, Morte podia ter resolvido tudo... Na verdade a missão era dela e foi designada a nós de propósito. O objetivo? Me testar e também a Dante!

A voz de Noir tinha mudado, agora era mais grave... Até sua roupa mudou, tipo, ela se adaptou ao novo corpo, logo ela cresceu junto com o seu “hospedeiro”. O que era fantástico... Afinal, um príncipe do submundo com roupas de um pré-adolescente seria meio hilário de se ver.

— Espera... Isso foi muito errado da parte deles! – disse, apesar de que não devia tecer opiniões sobre a família real do submundo...Mas, eu pus meu pescoço espectral em risco, bem como aqueles humanos que tiveram suas almas ameaçadas de serem roubadas, sem contar que testar os filhos dessa maneira, também não estava correto – Por isso fugiu de casa?

— Eu não fugi. Eu só disse que iria te ver.

— Eles deixaram?

— E por que não iria deixar? Você é meu... – Noir fechou a boca, parecia querer achar a palavra correta para me classificar.

— Babá? – falei ao mesmo tempo que ele disse.

— Amigo.

— Oh! – fiquei surpreso com aquele título.

— Sinto muito que você pense que sou apenas alguém que você deve cuidar.

Ops...O deixei chateado, apensar de Noir não demonstrar isso na expressão de seu rosto, podia concluir isso com a sua voz mais seca e por desviar os olhos evitando me fitar.

— Desculpe. – sentei ao seu lado – Bem...Acho que te considero um amigo também, um amigo que também é meu chefe e filho do governante do submundo. Sem nenhuma pressão aí!

— Se não quiser ser...

Toquei o seu braço, agora mais grosso e firme do que sua versão “mais nova”.

— Sim, faz parte do meu dever cuidar de você, Noir...Mas... Eu gosto. – admiti, fiquei ainda mais surpreso pela a facilidade com que aquelas palavras saíram de minha boca, sim, eu podia reclamar muito, mas no fundo eu gostava de cuidar daquele garoto calado e metido a certinho que era Noir – E quanto a ter um laço de amizade com você? Não vejo nada de errado nisso! Somos, sim, amigos!

Noir virou o seu rosto para me encarar, engoli em seco, aquela versão mais velha mexia de forma estranha comigo... Meu coração de fantasma (sim, eu ainda tinha um!) começou a bater descompassado.

— Obrigado. – sussurrou colocando sua mão sobre a minha. Agora sentia que estava corando, perfeito... Eu devia me controlar mais, não quero dar uma impressão errada sobre...Sei lá o que estou sentindo!

— P-posso perguntar por que você está assim?

Noir ergueu as sobrancelhas, em um sinal de desentendimento.

— Digo...Assim! – apontei para o seu novo corpo – Grande!

— Oh! – o 13° príncipe do submundo olhou para si, parecia ter notado somente agora sua nova forma – Desculpe... Isso te incomoda?

—Não! – exclamei, talvez um pouco rápido e alto demais. Droga! Eric, se controle!

— Meus poderes estão amadurecendo, de modo que fico mudando de forma... Ainda não tenho muito controle. Sinto muito.

— Não... Digo, nada contra! Afinal, ter um amigo que ora é um garoto e ora é um homem feito parece ser algo divertido, não? – forcei uma risada meio nervosa, bem era divertido brincar com o meu pobre coração fantasmático... Afinal, aquela “transformação” obviamente mexia comigo.

— Isso é transitório, quando por fim meus poderes se estabilizarem ficarei em uma única forma. – explicou, mas pude sentir algum tipo de incerteza em sua voz – você sentirá saudade do outro Noir?

Owt! Ele estava preocupado? Me sinto um pouco culpado por não perceber o quão eu era importante para Noir, era obvio que ele levava em consideração a minha opinião. Sem perceber estava sorrindo. Agora era a minha vez de colocar a minha mão sobre a do meu chefinho e apertei.

— Não seja bobo! Não importa que forma você tenha, sempre será o Noir que conheço! – falei confiante e...

Noir sorriu.

Isso era algo raro de ocorrer, era como o amanhecer depois de um longo inverno, refrescante e ao mesmo tempo preludio da vida depois de meses de frio e morte, ok... Talvez eu esteja sendo um pouco poético, mas era maravilhoso ver aquele rosto meio que robótico finalmente demonstrar uma expressão além da cara-séria e cara-tédio.

— Fico feliz em ouvir isso. – ainda sorrindo, ele se levantou do sofá...E se não bastasse os eventos que ocorreram naquele fim de tarde, Noir se inclinou e deu leve beijo na minha cabeça. Tipo... Ainda bem que eu já estou morto, pois senti que teria uma parada cardíaca!

— Posso usar o seu banheiro? Pretendia tomar banho...

Assenti meio abobado e com a mão trêmula apontei para o corredor, Noir assentiu e saiu, totalmente alheio as consequências devastadoras que provocou em mim!

~~**~~

Virgílio gostava de aproveitar sua folga em uma casa de banho, as águas termais além de relaxar a tensão de seus músculos, resultado do estresse por cuidar de um determinado 12° filho de Hades, fazia relembrar um pouco as recordações de quando estivera vivo de seu clube de natação. Não havia muitas piscinas no submundo, além do grande rio das almas que cruzava aquelas terras sombrias, outras fontes de água eram normalmente duvidosas e repletas de seres que era melhor evitar. Casas de banho eram bastante comuns para os seres sobrenaturais, pelo visto, todos gostavam de um momento de relaxamento nas águas medicinais.

Estava retirando a roupa cantarolando uma música qualquer, tentando ignorar o calafrio que sentia na nuca.

“Alguém estava me seguindo...” pensou olhando, sorrateiramente, para os lados, estava sozinho, preferia vir naqueles horários onde havia poucos clientes, afinal ainda não tinha se acostumado a se despir na frente dos outros, mesmo que esses outros fossem serem sobrenaturais que muitas vezes nem usavam roupa para tapar suas vergonhas.

— Se pelo menos Eric estivesse aqui... – resmungou recordando do seu amigo e companheiro fantasma, os dois costumavam sair juntos nas folgas, mas Eric tinha um gosto discrepante quanto a relaxar, no caso seria se empanturrar de lesmas fritas e assistir alguma projeção em algum oioide.

Relutante seguiu para uma espécie de lago com uma pavorosa escultura de gárgula cuspindo água quente. Uma neblina úmida e morna tornava o ambiente convidativo. Lentamente Virgílio deixou que sua toalha caísse revelando sua nudez.

— AH! – algo ou alguém exclamou.

Em um movimento rápido chutou algo que se encontrava atrás de si, um vulto alto caiu de encontro ao chão molhado e choramingou. A neblina dissipou revelando um jovem moreno e incrivelmente nu.

— Dante! – o fantasma logo se abaixou, tateando por sua toalha – O que está fazendo aqui?

O 12° filho de Hades se sentou, massageando a lateral do seu tronco, onde Virgílio deveria ter golpeado.

— Boa noite para você também... – fez biquinho.

— Eu não acredito que você me seguiu até aqui... Se não percebeu esse é meu dia de folga! Logo, era preferível você ficar longe de mim!

O biquinho aumentou ainda mais o que era algo irritante levando-se em consideração a fisionomia de Dante que era um rapaz de cabelos cinzentos, pele morena e misteriosos olhos de íris tão negra como a noite mais escura...Apesar de Virgílio não flagrar o príncipe desnudo não pode deixar de notar os músculos que se destacavam em seu peitoral, braços, pernas e... O fantasma desviou o olhar.

— Que eu saiba não há nenhuma restrição nessa casa de banho que me impeça de entrar! – disse teimoso.

— Você tem sua própria lagoa particular no palácio!

— Sim, mas...

— Dante... – Virgílio suspirou, massageou as têmporas prevendo uma futura dor de cabeça – O que você está fazendo aqui? Não! Acho mais importante saber se sua saída do palácio foi previamente anunciada... Você não fugiu de casa, não é?

— Hum... Bem... – massageou o pescoço evitando o olhar crítico do outro.

— Eu não acredito! – ralhou o fantasma apontando para a saída – Volte já para casa! Eu não quero problemas!

— Noir pode sair de casa e ninguém reclama, mas quando é o Dante... Sempre é outra história. – resmungou amolado.

— Noir também saiu? – Virgílio notou que o príncipe estava verdadeiramente chateado. Sim, Dante podia ser meio infantil e impulsivo, o que tornava o trabalho de Virgílio desgastante, mas também sabia que aquele poderoso ser sobrenatural era carente e incompreendido por seus parentes.

— O que está aconteceu?

— Meu pai e Morte... – continuou a resmungar – A última missão foi um teste para avaliar nossas habilidades, minha e a de Noir. Adivinha? Eles ficaram impressionados com Noir ter despertado seus poderes e ter libertado a sua forma madura. Enquanto a mim...

— Dante. – Virgílio tocou levemente o ombro do moreno tentando reconforta-lo.

— Só por que sou um filho de Hades não significa que desejo uma profissão ou uma grande responsabilidade nas minhas coisas. Posso optar por ter uma vida pacata...E não desejar desenvolver meus poderes.

— Acho que cada um tem direito a fazer suas escolhas. – analisou o fantasma – Mas eu entendo o senhor Hades...

— Vai ficar do lado dele? – havia uma clara dor em sua voz.

— Deixe-me explicar, sim? Hades está preocupado com seu futuro. Ele deu a todos os seus filhos livre arbítrio, mas não pode fugir do que você é: o 12° príncipe do submundo! Não pode ficar o resto da sua longa vida brincando e fugindo das responsabilidades, todo os seres desse mundo têm deveres e direitos, é assim que é a vida...Ou a morte? Sei lá!

Dante não parecia se animar com aquela explicação. Virgílio soltou mais um suspiro e se sentou ao lado do príncipe, naquele chão molhado, arrumando a toalha para não deixar amostra nada, afinal já bastava o que Dante já tinha vislumbrando minutos atrás...

— Sei que quando você realmente se concentra em algo consegue realizar grandes feitos! A missão passada não foi um desastre, você salvou aquela humana... Pode ter quebrado a câmera do seu pai e roubado uma girafa inflável...Mas... Aquela foi sua primeira missão no mundo humano! Eu estou orgulhoso de você, até mesmo conseguiu escrever um relatório!

— Depois de você passar horas brigando... – um leve sorris

— Sim, verdade.

— Eu sou mesmo um príncipe idiota, não é?

O fantasma deu um soco no ombro do outro, arrancando um gemido de surpresa de Dante.

— Eu não quero ficar ligado a um príncipe que fica choramingando pelos cantos e não toma nenhuma ação para mudar o que os outros pensam dele! Faça eles verem o que você realmente é!

A resposta dada pelo moreno surpreendeu Virgílio, pois Dante começou a rir e não foi só isso...

Fogos flutuantes começaram a surgir no ar. Pareciam fogos fátuos, mas aqueles detinham uma coloração alaranjada, não eram fantasmas e sim pura energia... A noite no submundo não tinha estrelas, pelo menos não até agora, pois os fogos subiam ao céu, faiscando e depois explodiram. Fogos de artificio? Seja lá o que fosse, era belo.

— Acho que tens razão... – Dante disse, só então, Virgílio notou que havia chamas alaranjadas recobrindo o corpo do 12° príncipe. Esse era o seu poder?

— Está na hora de mostrar quem é realmente sou! – nisso se levantou (deve-se enfatizar sua nudez novamente) e se dirigiu para o lago, a água fervia ao tocar a sua pele, mas logo aquele estranho fogo se apagou. Virgílio ainda observava tudo aquilo com misto de fascínio e confusão.

— Não vem se banhar? – inqueriu Dante piscando malandro. O fantasma tentou se recuperar daquele evento, andou para o lago e adentrou, ainda detendo a toalha envolvendo sua cintura.

— Você está muito distante... –choramingou Dante.

— Fique aonde está! Pode ter soltado fogos por aí, estou feliz que finalmente tenha tomado coragem de mostrar seu poder, mas essa noite ainda é minha folga, ou seja, meu tempo que tenho que ficar longe de você!

O príncipe fez biquinho novamente.

— Sei que você me adora... – falou convencido.

Virgílio nem quis fazer um esforço para contradize-lo, apenas rolou os olhos e tentou aproveitar sua folga. Fogos laranjas ainda flutuavam pelo céu.

Sem dúvida, era algo belo de se ver...


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Notas finais do capítulo

Agora temos, por fim, casais!

Não tinha planejado, mas não tinha como evitar... Eles foram feitos um para outro!

Bem, espero que tenham gostado!

Próximos capítulos serão mais uma missão! Mais outro ser sobrenatural para capturar! Dou uma dica sobre esse fugitivo:

Uma fita, 7 dias!

(foram duas dicas!! kkkk)



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