Dcaa escrita por NMCMsama


Capítulo 11
Banheiros e Espelhos - Parte VI


Notas iniciais do capítulo

Sim, demorei...
Esse semestre está mesmo apertado para mim! Desculpe pessoal...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/663324/chapter/11

Encontrar a escola foi a parte fácil, invadir o banheiro na surdina fora a parte difícil. Sei que não devia me sentir tão mal sobre espiar o banheiro feminino, tipo, não estou fazendo isso por ser pervertido! Mas o sentimento persiste enquanto Noir sobe por meus ombros para entrar na pequena janela. E eu que pensei que o príncipe do submundo fosse leve... Ledo engano!

— Acho que alguém tem que perder uns quilinhos... – resmunguei, enquanto o moleque das trevas pisava no meu ombro.

— Está insinuando que estou gordo? – não podia ver o rosto do meu chefe, mas quase pude pressentir o levantar de uma sobrancelha em seu rosto sempre impassível, aquele podia ser uma indicação de irritação e deste modo de perigo. Uma dica para quem for um dia para o submundo e quem sabe tiver a sorte de ser um funcionário de Hades, nunca irrite um de seus adoráveis filhos... Não queira ver um príncipe mal-humorado, muito menos furioso. Encare isso como uma dica de sobrevivência...

— Bem, eu devo mesmo estar mais gordo. – soltei um leve suspiro de alivio, reconheci o tom de voz de Noir, era o mesmo que ele empregava quando iria dar uma explicação... Oh! Lá vai começar uma nova aula... – Sou um ser originário do submundo, ao contrário dos fantasmas que podem ser tornar cidadãos do mundo inferior, ainda assim, são seres transitório cujo o ciclo de existência envolve a jornada entre a Terra e o reinado de Hades. Eu, por outro lado, sou um nascido do submundo. Quando venho ao mundo dos vivos, minha matéria se torna mais densa, logo me torno mais pesado... É como se a gravidade tentasse me enviar para o meu lugar de origem, para as entranhas da Terra.

— E sabendo disso, você me usa de apoio?

— Viu alguma escada disponível por aí que eu poderia usar? Não temos tempo a perder com frivolidades.

Não o respondi, na verdade quase lhe deu uma resposta à altura, mas ao sentir o pé dele na minha cabeça e o impulso que ele deu para entrar no banheiro... A única coisa que me passou pela a cabeça foi: fantasmas também sentem dor! E MUITA!

— Venha logo! – mandou Noir lá de dentro, engoli minha lamúria e fiz uma anotação mental que iria para ouvidoria dos ceifadores acusar um certo príncipe das trevas de promover condições insalubres de trabalho. Deveria ter um sindicado de espectros que tiveram que assumir a função (pós-mortis) de ser babá de filhos de Hades... Sabia que Virgílio iria aceitar prontamente em ser o representante oficial da causa, levando-se em conta o quanto Dante o estressava...

— Eric. – agora não foi um chamado e sim uma ordem. Suspirei e com dificuldade escalei o muro e tentei passar pela a janela... Logo percebi, para o meu desespero que entalei. Olhei, aflito para Noir que me observava com aquela carinha sem expressão.

— Uma ajudinha seria apreciável. – disse dando uma risada seca e nervosa. Noir se aproximou e tocou minha mão, subitamente senti meu corpo ficar mais leve e ... Apenas atravessei a parede! Tinha me tornado um fantasma... Digo, eu já era um fantasma antes, mas tinha um corpo físico quando vinha para a Terra, além disso, eu tinha uma espécie de corpo no submundo...Mas naquele momento me senti como tivesse acabado de cair no rio das almas. Não foi uma sensação muito boa, devo ressaltar.

— O que... – tentei dizer enquanto era guiado para dentro do banheiro sujo por Noir. Eu parecia uma espécie de balão de gás. Estava flutuando! Pelo menos, por alguns segundos... Pois logo depois a matéria retornou ao meu corpo e cai de cara no chão. (já tinha mencionado que o banheiro era sujo, ne? Pois é... ).

— Desculpe. Tive que alterar a sua natureza por alguns instantes. – explicou Noir.

Eu me levantei, ainda segurava a mão do 13° filho de Hades, a qual soltei de forma brusca.

— Na próxima vez, avise que vai fazer algo assim! Mudar a minha natureza assim... Do nada?! – sim, estava chateado, não gostava de voltar a um estado de imaterialidade, me fazia cair na real em relação ao fato que estou morto e sou um espirito. Digo, não que eu não aceite a minha condição atual, mas ver seu corpo ficar transparente, flutuar pelos cantos, não poder tocar nas coisas, não poder se comunicar... Não queria retornar a ser assim... Por isso fugira do rio Estige!

Noir me fitou intensamente e depois assumiu uma postura estranha, abaixou os olhos e começou a esfregar o braço direito como se tivesse com frio...Ou sei lá o que...

— Eu... Não tive intensão. – sussurrou, fora difícil de ouvir. Ai meu santo Hades... Ele não irá chorar, não é? Fazer um príncipe das trevas ficar furioso é uma coisa, agora fazê-lo chorar? Não devia ter procedentes no grau de punição que teria...Entretanto, não foi temendo a maldição que iria cair sobre mim que fez com que estirasse o meu braço e desse um cafune nos cabelos sempre tão bem penteados de Noir. Quem  estava querendo enganar? Eu gostava daquele nanico, apesar dele agir sem pensar nas consequências... Ainda assim, sabia que o 13° filho de Hades era bom. Não conseguiria ficar bravo com ele por muito tempo...

— Está tudo bem. – digo dando um cafuné e desarrumando os cabelos metodicamente alinhados de Noir, o resultado final foi surpreendente – Sabia que você fica melhor assim? – soltei minha opinião, afinal, com os cabelos daquela forma Noir parecia mais um adolescente normal e não uma espécie de mini-adulto sério e sem-graça.

O príncipe das trevas nada disse, na verdade, para minha maior surpresa, vi o rosto alvo do meu chefe ser dominado por uma onda vermelha. Tipo... Não era só o rosto, as mãos e as orelhas também estavam vermelhas. Fiquei apavorado, será que desencadeie algum tipo de reação alérgica!

— O-o-o-obrigado. – gaguejou por fim o garoto, com um andar tenso e desengonçado foi verificar os boxers aonde estariam os vasos sanitários. Tive que conter a risada, agora entendi o que estava acontecendo, pelo visto, até mesmo os poderosos filhos de Hades ficam embaraçados.

— Devemos nos esconder, acredito que alguma das meninas da escola irá vir aqui para fazer o ritual. – bem, o embaraço não durou muito tempo... Mas nem tive tempo me lastimar do momento de bromance que tivemos, a porta fora aberta do banheiro. Puxei Noir pelo braço e me enfie em um dos box do banheiro. O meu querido chefe não precia ter aprovado ou desaprovado a minha iniciativa, ao invés disso parecia preocupado em ouvir a conversa das humanas que adentraram.

— Gabi, não sei não...

— Está com medo, é?

— N-não! – a menina vacilou na resposta – Eu só acho bobagem fazer esse tipo de coisa!

— Acho que ela está com medinho! – opinou outra garota.

— Não estou!

— Então prova!

Rolei meus olhos diante daquela discussão tola. O que ganhavam com isso? Brincar com o perigo e com assuntos muito além da compreensão humana? E para que? Provar que tem alguma coragem as custas de se colocar em perigo? Sim, talvez estivesse exagerando, afinal, naquele exato momento em diversos outros banheiros do país haveria alguma garota(o) tentando fazer a mesma invocação, a maioria não passaria de uma tentativa infrutífera de “chamar” um ser não-humano, mas haveria, como naquela situação em especifico, invocações que dariam certo e não existia uma justificativa forte bastante de se colocar em risco e principalmente, colocar a sua alma em risco!

— Pois comece a invocação então! – a tal de Gabi parecia ser a líder ou a que “colocava lenha na fogueira”, incentivando e provocando.

— E-eu não sei... Eu te falei que nunca mexi com essas coisas.

— Nossa! Mas é a coisa mais simples do mundo! Você só precisa... – a porta do nosso box tentou ser aberta, mas Noir deixou que uma forma disforme de sombras escapasse de seus dedos e se alastrassem pela porta cheia de pichações, formando uma força contrária a humana.

— Está emperrada! Droga de escola! – disse isso enquanto se dirigia ao box ao lado – Ótimo! Pronto, temos uma privada só para nós! Enfim, onde eu estava? Ah! A invocação! Você deve chutar a porta três vezes, depois dar descarga três vezes... Aí vem a parte divertida: você fecha a porta, senta na privada e chama a loira do banheiro três vezes enquanto dá a descarga e espera...

— Isso parece ser tão idiota!

— E daí? Se é tão idiota assim não terá problema nenhum em fazer, ne?

Quase podia sentir o nervosismo da humana desafiada.

Esse é o momento que você diz não e foge! Desejei em pensamento.

— Vou fazer e mostrar para vocês como toda essa história de loira do banheiro é coisa de criança!

— Vá em frente!

Levei a mão a testa, decepcionado com a humanidade em geral. Noir agora voltou a sua atenção para a parede lateral do box, para onde a humana iria fazer a invocação. Que tipo de demônio surgiria dessa vez? Só esperava que não fosse tão horrendo e estranho como os últimos dois...

Ouvimos as três batidas na porta, em seguido vieram as três descargas.

— Que foi? Vai amarelar agora, Marcela?

Essa era parte que a menina tinha que entrar no box e ficar sozinha... Compreendia sua hesitação.

— Só estou sentindo nojo de ter que sentar nessa privada... Já imaginou que um rato saia daí!

— Ai, para de frescura e vai logo!

Escutamos a porta ao lado ser fechada.

— Loira do banheiro. – a garota falou e uma descarga fora dada.

Engoli em seco, se eu tivesse um coração vivo agora sem dúvida ele estaria acelerado nesse momento. Notei que Noir estava deixando escapar muito dessas coisas negras... Ele pretende mesmo usar seu poder no mundo humano? Sei que a situação é crítica, mas...

— Loira do banheiro – mais uma vez a invocação e depois a descarga.

— O que foi isso? – a dupla de garotas que estava fora soltaram um gritinho de medo, pude escutar água escorrendo.

— Você abriu as torneiras?! – acusou uma delas.

— Eu não! Nem pensei que essas torneiras funcionavam! Esse banheiro está interditado, esqueceu?

— Ei! Parem de tentar me assustar! – reclamou a garota do box – Não tem a mínima graça!

— N-nós, não...

— Gabi! Você pensa que irei amarelar?! Pois eu vou terminar essa brincadeira boba independente se você tente me assustar ou não!

— Espera, Marcela!

— Loira do banheiro! – praticamente gritou, as garotas suplicavam para que a amiga parasse, que não estavam brincando, que algo estranho estava acontecendo, contudo, Marcela não as ouviu.

A última descarga fora dada. Em sincronia as outras privadas começaram também a darem descargas, continuamente. Pude ver que água começava a ser alastrar pelo chão. O ambiente, além de úmido, ficou mais escuro. Sinal que as coisas só estavam piorando...

— Viram? Não ocorreu nad...AH! Mas o que?

Noir tinha escalado o box e adentrando no box vizinho.

— AH! Um menino! O que você está fazendo aqui? Esse é o banheiro feminino, sabia?

Lógico que tive que segui-lo... A garota estava mais impressionada por ter um garoto ali do que toda a estranheza que estava ocorrendo? Ás vezes, não conseguia entender a prioridade dada por algumas pessoas.

— Mais outro garoto?! – disse ela enquanto apontava o dedo acusador para mim – Pervertidos! Irei gritar a professora! Vocês serão presos! Já vou avisando que o primo segundo do meu pai é policial!

— Ei... – não gostei de ser acusado daquela forma, estávamos tentando salva-la e não espia-la. Aliás, ela era uma garota de 11-12 anos! Por Hades! Não tenho atração por crianças! Morri quando tinha 16 anos! Entretanto, senti meu olhar ser guiado para Noir ...

Hã?! Balancei minha cabeça para dissipar estranhos pensamentos que passaram por minha cabeça.

— Calada. – mandou o filho de Hades, seu tom autoritário surtiu um efeito imediato no tagarelar da menina.

Só então notamos o grito desesperado das garotas do lado de fora, seguido por som de passos apressados na água rumo a única porta. Tentavam abri-la, inutilmente. Contudo, havia mais um grupo de passos... Não sei se estou enganado, mas posso jurar que estava ouvindo algo semelhante a sapatos altos?

Uma cabeleira loira se fez aparecer no alto da porta. Era alguém alto, tendo em vista que as portar quase alcançavam o teto do banheiro.

A porta se abriu lentamente. (só para dar suspense, claro!).

E então...

Meus olhos...

Meus olhos ardem com a visão...

Era alto, usava uma peruca (só podia ser peruca!) de longos cabelos loiros. Um vestido perigosamente curto branco. Perigosamente digo, por que devido ao porte do demônio, não deveria caber naquela vestimenta! O coiso era como a versão drag queen infernal do Arnold Schwarzenegger. Tinha mega músculos em toda a extensão do corpo de modo que o vestido estava ao ponto de rasgar (algo que temia e muito que ocorresse a qualquer momento!)... E para dar um toque final e especial, algodões estavam enfiados em suas grandes narinas.

— Oi queridos. – o coiso  tinha uma estupenda voz fina e esganiçada, um choque, pois não esperava esse tipo de voz emitida por tamanho ser – Sou a maravilhosa, poderosa, esmagadora das inimigas, sexy...Loira do banheiro!

Vidro se quebrando.

Esse era o som dos cacos do meu medo infantil sendo estilhaçados...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Na verdade o ritual da loira do banheiro varia muito de escola para escola, tentei fazer uma descrição de ritual bem generalista!
Se vocês fizeram ou sabem de alguém que já fez o rital, digam nos comentários, adoraria saber de outros rituais de invocação da Loira do Banheiro.
Outra coisa.
Noir e Eric(o espirito-babá) teriam um romance?
ainda não sei...
Espero que tenham gostado do cap!
Novamente desculpe pela demora.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dcaa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.