This Love escrita por arizonas


Capítulo 3
This love is alive


Notas iniciais do capítulo

E EU TAMBÉM TO VIVA obrigada Deus

Gente, mais uma vez tenho que pedir desculpas pela demora. Tenho que confessar que estava completamente sem inspiração e esse capítulo precisava ficar muito, muito bom ou eu não ia postá-lo de jeito nenhum. Depois de muito apagar, recomeçar e xingar, eu consegui. Está aqui o desfecho de This Love.

Gostaria de agradecer a todos por terem acompanhado essa história, que apesar de curtinha, mora no meu coração. Fiquei muito feliz em ler e responder cada comentário. Vocês são incríveis.

Boa leitura!!



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— Você precisa ir pra casa, garoto.

A voz rouca de Haymitch foi acompanhada pelo aroma inconfundível de café forte. Peeta sabia que o do homem estaria batizado com rum; parte dele esperava que ele tivesse estendido a mesma cortesia para a sua bebida. Ele nunca havia procurado consolo em garrafas de vinho ou cigarros de tabaco vagabundo, mas Peeta confessava que naquele instante, qualquer forma de fuga parecia tentadora.

Aceitou a caneca de pintura lascada que Haymitch lhe entregou quando sentou ao seu lado, e os dois beberam em silêncio. Fez uma careta ao notar que, de fato, o café em sua caneca havia sido misturado com uma quantidade generosa de álcool. Não estava acostumado ao gosto, mas sabia que melhoraria a medida que continuasse tomando.

O sol da manhã brilhava tímido por entre as nuvens daquele dia nublado, e o vento gélido fazia com que uma sensação estranha subisse pela garganta de Peeta. Talvez fosse o fato de que aquele era a primeira vez em quinze anos que dormira e acordara sem Katniss, talvez fosse apenas pelo pesadelo que a sua vida com ela houvesse se transformado em tão de repente.

— Acha que é uma boa ideia eu voltar bêbado? — Peeta perguntou no tom mais bem humorado que conseguia enquanto gesticulava para a caneca.

— Bêbado ou sóbrio, não é certo você ficar aqui. — Haymitch levou a pergunta a sério, os olhos semicerrados de sono focados no horizonte. — Não quando a sua esposa precisa de você. Você a conhece o suficiente para saber que, mesmo te mandando ir embora, ela queria que você ficasse com ela.

Peeta tomou mais um gole do café, derrotado. Haymitch estava certo; ele sabia ler as entrelinhas de Katniss mesmo antes de que ela se abrisse para ele e se permitisse ser dele. Muitas vezes, suas atitudes e palavras refletiam justamente o oposto do que ela queria, e ele era mestre em traduzi-la. Amava fazê-lo, até. Mas por uma vez — apenas uma maldita vez — ele queria se dar o direito de magoar-se, e pensar se iria realmente perdoá-la (mesmo sabendo que já havia perdoado em seu íntimo).

— Há muito tempo atrás, eu disse a ela que poderia viver mil vidas, e que ela ainda não te mereceria. Ela concordou. — Peeta espantou-se com a confessão repentina de Haymitch, mas deixou que ele continuasse. — Eu menti. Apenas fiz isso para que ela fosse mais grata por ter você, e hoje vejo que ela é. Ela o merece, assim como você a merece. Podiam andar por este planeta por toda a eternidade, e enquanto não estivessem juntos, nunca estariam felizes. E é por isso que você precisa dar o fora daqui e ir pra casa.

Peeta olhou para os próprios joelhos, um pouco envergonhado. Sabia que Haymitch não estava o julgando por ter passado uma noite em seu sofá após os eventos do dia anterior, mas ele se sentia como um réu extremamente culpado. Ele mal dormira na noite passada, perturbado com pensamentos de uma apavorada Katniss sozinha na cama dos dois, desamparada e a apenas poucos metros de distância.

Quanto ela teria chorado naquele curto período de tempo? Quantos copos ela teria acidentalmente quebrado enquanto lavando-os com amargura na pia da cozinha? Quantas vezes xingara o nome Mellark, xingara a ele, por tê-la reduzido àquele estado? E, o mais importante—Quantas vezes havia desejado que ele voltasse?

— Eu não sei se consigo fazer isso, Haymitch. — Peeta confessou, derrotado. Doía o ego admitir, mas era a verdade. — Não sei se consigo deixá-la... Se livrar do bebê. — Apenas dizer as palavras em voz alta fazia com que a garganta de Peeta se fechasse com enjoo. Como ele conseguiria acompanhá-la até a clínica, segurar a sua mão, cuidar do seu corpo vazio depois de tamanho ato?

Haymitch virou-se para ele e o olhou como se ele fosse completamente louco.

— Quem disse que você vai deixar que ela faça isso? — Ele o repreendeu, balançando a cabeça e levantando as grossas sobrancelhas para ele enfim. — Você sabe tanto quanto eu que Katniss Everdeen faz o que bem quer, o que bem entende e na hora que quer, filho. Ninguém nunca vai obrigar aquela mulher a fazer merda nenhuma. Ela quer ter esse bebê, Peeta. O problema é que ela é muito teimosa, e até mesmo medrosa para admitir. Porque confessar isso a você iria contra todos os princípios e o passado dela. Você precisa voltar não para impedi-la de nada, mas porque quando ela perceber que jamais negaria a você e a ela mesma um filho, ela vai querer você lá.

Peeta sempre soube que o seu mentor era perspicaz, mas não fazia ideia de que era tão sensível às personalidades alheias até o momento. Ele tinha toda a razão; Katniss era um tornado, uma força impossível de ser contida. Nem mesmo com todas as palavras ou ações do mundo ele poderia convencê-la de algo no quê ela não acreditasse, e por mais que eles tivessem passado por coisas horríveis, impossíveis de serem narradas ou descritas, a vida era tão preciosa para ela quanto era para ele.

Deixou de lado a xícara de café ainda cheia. No final da tarde, despediu-se de Haymitch com um abraço. O homem o xingou, passou a mão pelo seu cabelo de jeito paternal, e mandou-lhe no seu caminho para casa.

XXX

Ela queria encolher-se até desaparecer, desaparecer em um universo aonde não existia para que não precisasse reconhecer o quão sozinha se sentia.

Pensou que após a sua separação abrupta de Peeta no Massacre Quartenário e a dor lacerante de tê-lo recuperado tão danificado quanto ela, nunca passaria por algo tão sofrível no que dizia respeito a ele, mas estava enganada. Doía muito mais quando ele, de livre arbítrio, batera a porta da casa deles atrás de si do que quando ele foi tirado dela há tantos anos atrás, mesmo que ela tivesse que admitir que fora a idiota que pedira que ele fosse embora.

Abraçou os joelhos perto do torso, a água antes morna gelada em torno dela numa mistura de espuma e lágrimas. Katniss sentia que não tinha mais forças para chorar; não tinha mais forças para fazer nada além de ter pena de si mesma, e não havia nada de mais patético do que isso. Tinha pena dos miseráveis famintos no Prego, dos atingidos pela radiação no antigo Treze, pena dos mortos, tantos mortos. Pena de Haymitch e seu alcoolismo incurável, sua solidão desde a morte abrupta de Effie, pena da solitária Annie que criava o filho sozinha, pena de Peeta por ter de tolerar os caprichos dela, pena da criança que crescia dentro dela, inocente a todos os horrores que aquele mundo já havia visto. E, por fim, tinha pena de si mesma, pena por ter se reduzido àquela situação.

As pontas de seus dedos estavam tão enrugadas que Katniss não os sentia mais. Tinha que sair dali, sabia disso, mas não conseguia olhar para a cama, muito vazia, muito menos tentar deitar-se nela para uma terrível noite de insônia como a passada. Estava certa de que Peeta estava com Haymitch, não iria mais longe do que isso, mas pensar nele lhe tirava o fôlego de preocupação. No que estaria pensando? Estaria a odiando muito, dessa vez por vontade própria e não por uma lavagem cerebral? Teria ele desistido dela? Quando ele voltaria? Adiantaria que ela pedisse perdão?

Estava tão concentrada com as suas perguntas sem resposta que pensou estar imaginando o ranger familiar da porta do banheiro. Sobressaltou-se quando olhou das bolhas de sabão para cima, encontrando o olhar azul de Peeta. Ela pensava que estaria forte para ele quando voltasse, mas nada poderia realmente prepará-la para as sensações que as invadiram quando ela o viu. O semblante daquilo que mais amava estava lotado de cansaço, sofrimento e saudade que eram espelhos do dela. Antes que pudesse dizer as palavras que se prenderam em sua garganta, Katniss soltou um pequeno soluço.

— Katniss... — Peeta começou, projetando-se para frente, mas ela agarrou seus braços e o interrompeu antes que pudesse dizer mais alguma coisa.

— Por favor, por favor, não me deixe. — Ela suplicou, nunca tendo se sentido tão vulnerável. — Eu não consigo fazer isso sem você.

Peeta a abraçou, então, um ato de tamanha familiaridade que encheu Katniss de um alívio indescritível. Ela chorou contra o ombro dele, ainda nua dentro da banheira, molhando a camisa dele com o aperto possessivo de suas mãos, e ele acariciou o seu cabelo da mesma forma que fazia quando ela tinha um pesadelo.

— Eu nunca te deixarei, Katniss. Por nada nesse mundo.

XXX    

Os pães de queijo demoraram um pouco para assar, mas Katniss esperou pacientemente para que Peeta terminasse de prepará-los sentada à mesa da cozinha, onde tudo havia começado.

Ele havia demorado para acalmá-la. Levara pelo menos uns bons vinte minutos para que Katniss se recompusesse e o deixasse ajudá-la sair da banheira, secá-la e vesti-la como se fosse uma boneca. Desde o seu tão desesperado pedido para que ele não a deixasse, não havia dito uma única palavra, mas não parecia silenciosa como nos dias que sucederam sua suspeita de gravidez, nos quais estivera irritada e apreensiva. Agora, estava quieta, mas parecia tranquila. Peeta esperava que aquele fosse um bom sinal.

Quando ela havia dito que não conseguiria ir em frente sem ele, a o que ela se referia? Queria dizer que precisava dele para ir adiante com o aborto? Que precisava dele para ajudar a ter o bebê? Que precisava dele independente de qual decisão tomasse? Peeta não sabia dizer. Não iria pressioná-la por respostas, não quando estava tão vulnerável, mas não podia deixar de se preocupar. Havia saído determinado da casa de Haymitch, mas precisava ser paciente. Katniss já estava assustada o suficiente, ambos estavam, e precisavam de paz.

— Cuidado, estão quentes. — Peeta alertou-a quando colocou o pote repleto de pães de queijo fumegantes em cima da mesa e sentou-se ao lado dela, aonde sua xícara de chá estava ainda intocada, enquanto a dela estava vazia. — Pode beber o meu, se quiser. — Ofereceu, sabendo que ela aceitaria, e assim aconteceu. Katniss sorriu para ele antes de pegar a xícara e beber dela, fazendo uma careta quando sentiu o gosto do líquido sem açúcar.

— Eu nunca entendi como você consegue gostar de chá sem açúcar. — Ela comentou enquanto colocava o pó fino na bebida e misturava com entusiasmo. Era a primeira vez que ouvia sua voz desde a cena no segundo andar há pouco tempo, e ela soava normal, aquela mistura entre leve diversão e bom humor que Katniss sempre trazia quando estava tendo um dia bom. — Só sei que nunca me esqueci disso. Como nunca me esqueço de nada que é parte de você.

Peeta sorriu para aquilo, sabendo que a recíproca era verdade. Eles sabiam tudo sobre o outro, mais do que qualquer um poderia. Algumas vezes, ele achava que Katniss o conhecia melhor do que ele conhecia a si mesmo.

— E é por isso que vamos ter esse bebê. Juntos. — Katniss declarou após beber um longo gole do chá, como se estivesse dizendo algo tão simples como um comentário sobre o tempo naquele dia.

Peeta sentiu suas pernas enfraquecendo, como no dia em que ela havia contado para ele que suspeitava que estivesse grávida. O coração estava disparado, e sua cabeça parecia girar. Katniss virou-se para ele, assistindo sua reação enquanto agarrava um pão de queijo ainda quente e o mordendo com voracidade.

— Eu sei como isso soa, depois da maneira como agi ontem. Soa como loucura. — Katniss prosseguiu antes que ele pudesse responder, tendo terminado de comer o pão. Suas mãos brincavam com a manga da camisa dele, um ato comum para ela em momentos de conversa. — Sou impulsiva, e você sabe disso. Quando saímos do consultório do médico ontem confirmando que íamos ser pais, eu só conseguia pensar no que ele me dissera, sobre as minhas opções. — Ela pausou para fazer as aspas com as mãos, e continuou. — Fazia sentido, sabe? Racional, que pessoas como nós, que vimos tanto mal, não devessem criar crianças. Foi o que eu sempre convenci a mim mesma de que era real.

"Sei que o mundo mudou. Fomos nós que ajudamos que ele mudasse, depois da Rebelião. Participamos de cada etapa. Diabos, fomos nós quem começamos tudo. Mas mesmo sabendo que não há mais Coin, nem Snow... Eu me sinto impotente para proteger meus filhos, entende? Fico pensando que, se numa piada cruel do destino os Jogos voltassem a acontecer, eu não poderia me voluntariar por eles... Como me voluntariei por Primrose. E isso que não poderia suportar. Era por isso que eu estava certa de que não ter o bebê era ideal. Estaríamos protegendo-no de uma vida de apreensão antes mesmo que pudesse nascer. Nada de mal lhe aconteceria. Aquilo era certo.

Mas... Quando você foi embora, toda essa lógica desmoronou, como um castelo de cartas. Lembrei-me de que nem eu mesma pude protegê-lo quando a Capital o tirou de mim, quando machucou-lhe de formas inimagináveis, não importava o quanto eu lutasse para tê-lo de volta. Todas as vezes que fechava os olhos, não via mais eu e você, mas eu, você e uma criança. Nossa criança. Porque independente da capacidade da nossa força, não somos invencíveis. Mas podemos tentar. Sei que você não pode me prometer que nada de ruim acontecerá comigo, ou com o bebê, mas sei que morreria para garantir que isso fosse verdade. E eu faria o mesmo por você, e pelo nosso filho."

— Estou com medo, Peeta... — Katniss sussurrou entre lágrimas quando terminou sua grande fala, os braços dela agora envolvendo o pescoço dele enquanto se apoiava totalmente em seu colo. — Estou com tanto medo. Mas absolutamente nada é maior do que o amor que eu sinto por você, ou pela nossa família. Nada. E é por isso que sei que vai ficar tudo bem.

Todos os dias quando acordava e Peeta via o semblante de sua esposa ainda em seu pacífico sono, ele dizia a si mesmo que era impossível que ele a amasse mais, que não havia maneira de sua paixão imortal por ela aumentar em intensidade. Naquele momento, sabia que estava errado. Depois das palavras de Katniss, ele estava certo que era possível sim amá-la um milhão de vezes mais, até mais do que isso, e que nada poderia ficar entre os dois novamente.

— Eu amo você, Katniss. — Peeta acariciou a bochecha úmida dela com o polegar e uniu os lábios dos dois em um beijo tenro, ambos compartilhando de um sorriso quando se separaram, as testas grudadas juntas. A mão dele deslizou para baixo do suéter dela, para a parte mais baixa de seu estômago, aonde ele a acariciou. — Eu amo vocês dois.

— E nós amamos você. — Katniss proferiu com confiança, o que fez com que o coração de Peeta se derretesse normalmente. Aquela mulher e o seu poder de transformá-lo em um filhote de cachorro com apenas poucas palavras e um olhar apaixonado. — Mas eu tenho uma condição. — Ela levantou o dedo indicador, brincalhona.

— Ah, é? E qual seria essa condição? — Peeta levantou uma sobrancelha para ela, tão aliviado que se sentia enebriado.

— Se for uma menina, ela não vai ter nome de flor. — Ele riu quando as palavras saíram da boca dela, e ela lhe deu um tapa no ombro. — Estou falando sério! Panem já viu o suficiente de mulheres com nome de flores, incluindo o meu. Podemos ser mais criativos que isso.

— Tudo bem. — Peeta sorriu, tentando reprimir o riso. — Sem nome de flor, eu prometo.

XXX

Sete meses depois, no meio de um inverno rigoroso, Willow Rue Mellark veio ao mundo após um longo parto de quase treze horas.

Ela era uma coisinha pequena, rosada, com os cabelos castanhos da mãe e os olhos azuis do pai. Haymitch foi logo chamado de seu padrinho, e Annie, de sua madrinha. Desde que a parteira havia limpado o bebê e entregado-a enrolada em um pano cor-de-rosa para Katniss, a mãe se recusara a soltá-la. Peeta, completamente apaixonado, não tirara os olhos da filha nem por um instante, nem mesmo quando o dia se tornara noite.

— Willow é o nome de uma árvore, sabe. — Peeta levantou uma sobrancelha para a esposa. — Isso é quase a mesma coisa que dar a ela o nome de uma flor.

— Ah, pare com isso. — Katniss mostrou a língua para ele antes que voltassem sua atenção para Willow e para toda a alegria que ela traria os dois pelos vários, vários anos que seguiriam em suas vidas.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso aí :) Espero que tenham gostado.

Não quis desenvolver muito a gravidez da Katniss porque essa é uma short-fic, e eu precisaria de muuuitos capítulos extra pra fazer isso, o que não era o objetivo da história. Queria mostrar apenas um outro lado daquela coisa "Peeta merece ter um bebê" que a gente imagina que aconteceu, e espero que vocês tenham gostado de ler a minha perspectiva!

Entrem lá no grupo, pra acompanharem as postagens das minhas novas histórias, e pra gente se conhecer! https://www.facebook.com/groups/581676645266081/

Mais uma vez, MUITO obrigada pelo carinho, e por terem reservado um tempinho pra ler This Love. Um beijo!!