Finnick me trouxe a infeliz lembrança de que os dias para a colheita estavam chegando. Eu não havia esquecido mas tentava pensar nisso o menos possível. Meus pais também faziam um esforço para não tocar no assunto.

Alguns dias depois o grande dia chegara. Eu e todos os jovens do Distrito 4 de 12 a 18 anos fomos encaminhados para a praça onde os nomes seriam sorteados. Eu estava mais nervosa do que parecia mas tentei não demonstrar tanto isso pelos meus pais que estavam apavorados.

– Sara Hengi – anunciou Witess, a apresentadora esquisita da Capital.

A garota escolhida estava próxima à mim. Pude ouvir seu choro baixo enquanto ela andava em direção ao palco, logo atrás os pais da garota começavam a gritar. Ela era tão pequena, aparentava ter bem menos do que 12 anos. Depois do choque uma onda de alívio tomou conta de mim. Não foi dessa vez. Sorrio e tento procurar meus pais na multidão.

– E agora o tributo masculino! – Anuncia Witess com a mão no ombro da garota que foi escolhida que não conseguia parar de chorar.

Meu coração para por um minuto. Finnick. Eu quase havia me esquecido dele. Fecho os olhos com força e penso “Não, ele não vai ser sorteado.”

– Vin Fauls – ela anuncia sorridente. Como se a pessoa tivesse ganhado um sorteio de uma casa ou algo do tipo.

Respiro aliviada. Uma alegria imensa toma conta de mim até eu me lembrar que enquanto eu não completar meus 18 anos não vou estar completamente livre desse tormento.

Os dias e os meses foram passando devagar desde então. Quase se arrastando. A situação no distrito 4 não esteve sendo muito boa. As pessoas não tinham mais condições de viverem apenas da pesca e outras atividades relacionas a isso. Muitos tentaram fazer trabalhos extras e até mesmo colocaram o nome mais de uma vez na colheita na troca de alimentos. Houveram alguns tumultos e roubos devido a isso a segurança foi reforçada com toques de recolher. Eu já não podia mais ficar na praia ao entardecer.

Depois de dois anos eu estava mais uma vez tendo pesadelos a noite. O dia da colheita estava próximo novamente.

Finnick e eu nos tornamos amigos. Quase toda semana vamos juntos a praia. Mas agora ele anda ocupado. Quando passo perto de sua casa ele esta sempre treinando com seu pai lutando ou caçando. Ele esta treinando para os jogos. Eu deveria fazer o mesmo mas quais seriam as minhas chances na arena? Talvez conseguisse passar despercebida no banho de sangue. Mas treinar pra que? Finnick me vê chegando e atira alguma coisa em forma de um disco na minha direção e eu desvio.

– Olha só, nada mau – Ele da uma risada e vem me cumprimentar com um abraço.

– Pra quem esta treinando tanto pros jogos deveria ser capaz de mais coisas além de jogar discos nas pessoas – digo um pouco irritada. Finnick soava muito convencido as vezes.

– Pelomenos eu sei nadar – diz ele dando uma gargalhada. Eu gostava de ouvir o som de sua risada mesmo isso sempre me atrapalhando na hora de formular uma resposta.

Finnick nunca perdia a oportunidade de jogar na minha cara que eu não sabia nadar. Ele me deu algumas aulas as vezes mas eu ainda tinha problemas. Uma vez ao tentar nadar sozinha quase me afoguei. Não sei o que teria acontecido se ele não estivesse por perto.

– Se um dia eu for nadar na arena vai ser no meu próprio sangue – digo.

– Seu pessimismo é engraçado Annie - Ele se aproxima e tira uma mecha do meu cabelo colocando-a de traz da minha orelha.

– É a realidade - digo dando de ombros tentando não olhar em seus olhos.

– Podemos treinar juntos o que acha? Você podia me ajudar a fazer esses nós de rede aí e eu te torno uma nadadora profissional.

– Nadadora profissional - Dou uma gargalhada. - Boa sorte com isso.

Apertamos as mãos e sorrimos. Finnick Odair era muito mais que um amigo para mim.

O dia da colheita chegara novamente desta vez eu Finnick vamos juntos. Eu não sabia o que esperar mas Finnick me passou tranquilidade dizendo o tempo todo que haviam muitas pessoas em nossos distritos que tinham o nome muitas vezes lá. Nossas chances não eram altas. Nos encaminhamos para nossos lugares e aguardamos. Estava com uma sensação ruim. Pensei em tudo que vivera até ali e como tudo podia acabar num instante. Fecho os olhos e começo a repetir em minha mente que iria dar tudo certo.

– Frances Wine – anunciou Witess. Um suspiro de alívio tomou conta de todas as meninas que estavam perto de mim.

A garota sorteada era filha do dono de um comércio. Tinha 18 anos. Frances caminha para o palco com o olhar petrificado. Sua pele morena estava quase branca.

Procuro Finnick entre os meninos do Distrito e ele já estava olhando para mim. Ele faz um sinal de positivo com a mão e sorri com satisfação como se quisesse dizer "eu disse".

No palco, Witess se prepara para pegar o nome do tributo masculino.

Estranho a sensação que toma conta de mim naquele momento. Minhas mãos começam a suar. Witess escolhe o papel e o abre anunciando o nome.

– Finnick Odair!