Zugzwang escrita por MB


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários!



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Charlie tinha acabado de sair da faculdade, não fora para o trabalho hoje. Terminou o sanduíche que comia e jogou na lixeira da cozinha o papel que o envolvia. Não faria mal comer algo assim um dia durante da semana. Ela e Spencer conversavam todos os dias, às oito e meia da noite, quando ela chegava do trabalho e acabava de jantar. Assim que se mudou, começou a receber uma ou duas vezes na semana uma mensagem igual e algumas ligações, mas que não passavam de alguém respirando do outro lado da linha. Ficou com medo nas primeiras vezes em que isso aconteceu, mas se tocou que eram apenas os veteranos querendo brincar com ela, afinal era a mais nova em seu meio de amigos. Seu pai parara de mandar cartas, o que Charlie estranhou no começo, mesmo ele tendo sido informado sobre o novo endereço dela, por meio do governo.

Começara há pouco seu quarto ano na faculdade e não imaginou que Spencer ficaria tão feliz por ela. “Não é todo dia que alguém pula um ano depois de receber uma bolsa de Yale” ele dissera quando tirou dois dias de folga para visitá-la e fora nesse tempo que seus sentimentos tornaram maiores do que imaginavam, mas ela não admitira para ele – nem para si própria. Charlie se sentia mais sozinha que nunca, apesar de Spence. Sem sua mãe e irmã, seus dias estavam cada vez mais vazios e o único momento em que ela sorria verdadeiramente era às oito e meia da noite.

Quase quatro semanas depois de a equipe ter ido embora da cidade, assim como Charlie, ela teve sua primeira crise. Uma de muitas. Pensou em desistir de tudo, largar Yale, largar o apartamento e tomar todos os antibióticos que ela tinha no armário do banheiro. Ela estava desesperada em não conseguir fazer nada e pensara até em escrever para o pai, mas essa ideia saiu tão rapidamente quanto chegou à cabeça dela. E foi quando Spencer ligou, oito e meia da noite. Desligaram três horas depois, rindo de algum trocadilho idiota que ele havia feito.

Agora eram oito e vinte e nove.

– Boa noite, Dr. Reid. - Charlie jogou a bolsa em cima da pequena mesa de seu pequeno apartamento.

– Boa noite, Dra. West. - ele respondeu, parando as palavras cruzadas que jogava com Blake.

– Não sou doutora, ainda. – ela sorriu, se jogando no sofá.

– Mas fez sua terceira cirurgia. - Spencer retrucou, sem perceber que Rossi olhava para ele com uma sobrancelha erguida. Reid estava virado de costas para a equipe, parado em frente à sua mesa.

– E eu ainda me surpreendo por você lembrar, Memória Fotográfica.

– Não foi a memória fotográfica que me fez lembrar. Foi, na verdade, mas... - ele se interrompeu quando percebeu que começaria a divagar.

– Você sabe que eu amo ouvir você divagando. - ela riu quando notou o motivo pelo qual ele parou de falar. Spencer ficou por um momento sem reação. - Então por que lembrou?

– Porque é importante. - ele deu de ombros. - Pra você, pra mim.

Charlie ficou um tempo sem falar nada, só olhando para o teto. Às vezes eles ficavam assim, em silêncio, só ouvindo a respiração um do outro e o barulho que estava a volta deles.

– Está na UAC? - ela perguntou após um tempo.

– Sim. - ele se sentou na cadeira, ainda sem notar que as outras pessoas da equipe chegavam. - Chegou em casa só agora?

– Entreguei um trabalho sobre embolia pulmonar, consegui faltar o trabalho. – Charlie respondeu e se virou no sofá, encarando uma parede vazia onde deveria estar uma televisão. Ela ainda estava arrumando o lugar, mas não gastaria dinheiro em uma TV. - É um coágulo de sangue em uma artéria, que bloqueia a passagem de mais san... Mas não importa. - ela riu fraco.

– Você sabe que eu amo... - ele iria responder do mesmo modo que ela: "amo ouvir você divagar", mas Morgan o interrompeu.

– Vamos começar a reunião, garotão! - ele gritou e JJ lhe bateu fraco no braço, lançando-lhe um olhar de reprovação, achando que Spencer iria falar outra coisa. Reid se virou e ficou um pouco envergonhado quando percebeu que todos o ouviam.

– Tenho que ir. - ele se levantou da cadeira, andando até a sala.

– Ok. Bom trabalho, Spence. - ela se levantou do sofá e levou a bolsa até o quarto bagunçado, ligando o computador, levando-o para a sala e começou a tomar o resto de uma Coca-Cola que havia em sua geladeira, enquanto via episódios aleatórios de Dr. House.

– Boa noite, Charlie. - ele respondeu e desligou em seguida, guardando o celular no bolso. Sentou-se em uma das cadeiras com uma cara normal, como se nada estivesse acontecendo.

– Com quem você estava falando, Spencer...? – Garcia perguntou, esperando JJ entrar na sala.

– Charlie, você me ouviu falando o nome dela quando disse boa noite. – ele respondeu e colocou a pasta em cima da mesa.

– Eu sei, mas só queria saber até onde ia a sua cara de pau de não falar nada pra mim. - todos soltaram uma risada fraca ao ouvir a resposta dela.

– Falar o que? – ele sorriu também – “Garcia, eu e Charlie ficamos duas horas e quatorze minutos no telefone ontem, gostaria que eu dissesse tudo o que falamos?”.

– Vocês ficaram tudo isso no telefone? – ela se animou, aproveitando que JJ ainda não chegara.

– Não. – ele mentiu. – Foi a primeira coisa que pensei.

– Desculpem, Henry no celular. – a loira entrou na sala um tempo depois e guardou o aparelho no bolso do blazer.

– A conversa não acabou, garoto. – Garcia semicerrou os olhos para Spencer e em seguida pegou o controle, mostrando a foto de um homem loiro. – Bruce Phillips foi achado morto com o cabelo tingido de preto, dentro de uma caixa no meio da rua.

– O cara está praticamente dobrado ao meio. - Morgan observou as imagens.

– Ele tinha sido enforcado e amarrado. - Garcia continuou - Justin Marks e Connie Foster, um casal, sumiram a uns 3km do local do primeiro rapto.

– Está evoluindo. - JJ comentou.

– O corpo de Justin foi achado hoje. Enforcado, colocado em uma caixa e deixado em um beco qualquer. Cabelo castanho pintado de preto.

– Connie está desaparecida. - JJ olhou as fotos novamente.

– Ele deve estar com ela. - Morgan a olhou - Por que se desfez logo de Justin mas ficou com o primeiro por dois dias?

– Alguma coisa não deu certo com ele. - Rossi disse. - Veja o pescoço. Foi enforcado várias vezes.

– Mas o que ele fez com Connie? - Blake mexia na tampa da caneta.

– Pode fazê-la ver as agressões ou sexo com asfixia. - Reid supôs.

– Um moreno e uma mulher são cruciais para sua fantasia. - Morgan continuou o pensamento.

– Ela pode ser o objeto de desejo dele. - JJ olhou para Reid. - A prioridade é encontrá-la.

– Depois evitar que ele faça de novo. - Hotch concluiu se levantando. - Saímos meia hora.

Morgan percebeu que Spencer mal esperou Hotch terminar de falar, que pegou o celular, verificando se havia algo novo, o outro agente podia jurar que Reid parecia desapontado. Rapidamente, ele se levantou fechando a pasta e indo atrás dos outros agentes.

– Vitimologia. – já no jatinho, Hotchner fez Spencer parar de encarar as nuvens. – O cabelo dos dois homens foi tingido de preto. E a mulher é morena.

– Os caras são parecidos, mesma altura, mesma idade. – Blake falou. – Raptados na frente de suas casas, ficam na mesma região.

– Estavam sendo vigiados. – Morgan levantou o olhar para ela.

– Connie estava com o namorado? – Spencer perguntou rapidamente.

– Parece. A bolsa foi achada no chão. – o outro agente respondeu.

– É difícil tirar as pessoas de suas casas. – ele continuou. – Quem é vigiado varia caminhos, usa portas diferentes, usa disfarces, não fala com ninguém... Vive apavorado.

– Foram seguidos. O fato é que o suspeito evoluiu. – Morgan deu de ombros e Garcia apareceu na tela do computador, que estava em cima da mesa onde Blake, JJ, Rossi e Hotch estavam.

– Algo para mim? – ela perguntou animada.

– Ainda não temos muitas coisas... – respondeu Morgan.

Spencer recebeu uma mensagem de Charlie, onde só continham pontos de exclamação e uma carinha feliz. Imaginou que a equipe não se importaria de ligar para ela, afinal ali era o máximo que conseguiram chegar em quarenta minutos de voo.

– Você está bem? – ele perguntou no mesmo momento em que ela atendeu.

– Sim, Spence, eu mandei uma carinha sorrindo. - ela riu, adorando o jeito como ele era protetor. - estou animada porque o Halloween é daqui três dias.

– Eu sei! É uma das melhores datas! - Spencer leu nos lábios de Garcia: viva-voz. Sabia que ela não o deixaria em paz se não o fizesse.

– Em termos de popularidade, Halloween só perde pro Natal. E eu terminei todos os trabalhos desse semestre, tenho nota o suficiente e os professores gostam de mim, então vou ficar quatro dias mofando em casa. - Charlie comentou e conseguiu escutar Morgan segurando um riso. - E eu estou no viva-voz. Obrigada por avisar, Spence.

– Garcia queria te conhecer - ele sorriu. - Se lembra dela, não?

– Claro. A loira de óculos, não é? Oi. - Charlie não sabia quantas pessoas estavam lá, então estava um pouco nervosa.

– Oi, docinho. - Penélope disse alto perto do microfone. - Bom conhecer a namorada do meu gênio.

– Charlie, a gente vai ter uma festa de Halloween na nossa sede, por que não vem pra cá? - JJ falou rápido antes que qualquer um dos dois contrariassem Garcia. - É para usar fantasias mesmo, hein.

– Nós vamos ter uma festa? - Spencer levantou o olhar pra os outros, tão surpreso quanto Charlie. – Sim! Você tem que vir...! – os outros agentes sorriram pela animação de Reid, que olhava para a tela do celular.

– 6 horas de distância. - ela disse como se fosse óbvio, e o maior empecilho.

– Charlie...! - Spencer tirou do viva-voz e se sentou em um dos bancos de couro bege. - Eu seria O Doutor e você... - ele parou um pouco de falar e riu em seguida. - É, você seria ela.

– Reid... - Hotch o chamou e olhou para seu celular, em seguida para as fotos das outras vítimas.

– Oh, ok. - ele se tocou. - Falo com você depois. – ele ficou um tempo em silêncio antes de falar, sorrindo e depois segurou uma risada. – Eu sei! Vejo você depois.

Ele desligou ainda segurando um sorriso, que não passou despercebido por nenhum dos agentes, que lhe olhavam curiosos. Ele só contraiu os lábios e olhou para eles, que ficaram naquele silencio por alguns segundos, analisando o perfil de Spencer e querendo saber se ele falaria algo.

– E então...? – Rossi quebrou o silêncio. – Vai nos contar o que esta acontecendo?

– Nada está acontecendo. – ele deu de ombros.

– Sobre você e Charlie, Reid. – Derek sorriu.

– Oh, somos amigos. – ele sorriu, tirando de dentro de sua pasta um exemplar de Um Estudo em Vermelho e o abriu, calmamente.

– Desde quando se falam? – JJ perguntou.

– Desde que saímos da cidade dela. – Spencer respondeu, ainda virando as páginas.

– Dois meses? – ela continuou.

– E dezessete dias.

– Claro. – ela sorriu. – E conversam toda noite? – ele assentiu. – E essas ligações têm uma duração de quanto tempo, mais ou menos?

– Duas horas e... cinquenta e sete e minutos. – ele levantou o olhar, franzindo as sobrancelhas. – A média.

– Hm... – JJ balançou a cabeça, segurando o riso, assim como todos os outros. – E não estão namorando?

– Não. – ele respondeu simplesmente.

– E ela gosta de você? – Rossi perguntou.

– Acho que sim. – a resposta faz com que eles se surpreendam. – Se não, por que seriamos amigos?

– Não assim, Spencer! – Morgan bagunçou o cabelo dele. – Você entendeu como. E você? Gosta dela? – ele deu ênfase na palavra.

– Ela ainda ama Matthew. – ele respondeu fechando o livro e andou até a cafeteira, enchendo um copo de plástico.

– Mas você gosta dela? – ele insistiu mesmo quando ele revirou os olhos.

– Não. – Spencer colocou o cabelo para trás da orelha.

– Se ela não amasse Matthew, você gostaria dela? – Garcia perguntou e sorriu.

– Não. – ele umedeceu e contraiu os lábios.

– Ok, Spence. – JJ sorriu e cortou o assunto, percebendo que ele ficava desconfortável. – Mas ela vem?

Reid verificou o celular antes de respondeu.

– Não. Acha que você falou aquilo para brincar. – ele disse, por fim.

– Mas fui eu quem disse, não Morgan. – a loira se defendeu e Morgan maneou a cabeça.

– Eu sei. Ela disse também que não teria lugar para ficar. Ofereci minha casa, mas ela está com vergonha eu acho...

– Mas os dois gênios dormiram juntos na cama do hospital sem nenhuma vergonha. – Rossi riu.

– Eu sei. – Spencer bloqueou o celular e olhou para JJ, que sorria doce para ele. – Ela disse que me fala...

– Nos deixe saber. – ela falou por fim e ele assentiu, indo para um dos bancos do fundo, adormecendo algum tempo depois. Logo todos estavam na mesma situação e Reid não vira a mensagem que Charlie lhe enviou duas horas depois:

Então eu vou ser a Hermione, apesar da minha casa ser a Corvinal. Vou precisar que me empreste uma gravata.


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Notas finais do capítulo

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