Zugzwang escrita por MB


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Obrigada para as pessoas que estão acompanhando, Ally Glader e CapitãoGancho pelos comentários!
Espero que gostem:



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Os sonhos sempre foram algo que perturbaram Charlie por muitos motivos. Um deles é que a ciência nunca tem uma explicação concreta para esse fenômeno que ocorre enquanto se está dormindo. A definição mais usada é a de que "sonhos são como excitações da imaginação do inconsciente". Para Freud, eles são reflexos e traduções dos desejos que temos e, muitas vezes, não admitimos. Mas o principal motivo que faz Charlie não simpatizar com eles, é o fato de fazerem você sentir tudo: dor, amor, saudades, e não ter controle nenhum sobre eles.

Charlie teve uma semana seguida apenas tendo pesadelos, mas que depois se tornaram horas de nada, já que ela acordava sem lembrar-se do que havia sonhado. Preferia assim, algumas vezes. De vez em quando suas emoções nos sonhos eram tão reais que ela acordava resmungando e com lágrimas nos olhos.

Aquele foi um daqueles dias. Por quase um segundo, era Matthew no lugar de Spencer. O cabelo dele cobria o rosto, deixando só sua a boca à vista. Deus, como eram parecidos...

Spencer acordou quase um segundo depois que Charlie. Olhou-a perdido por algum tempo até perceber que ela também parecia perdida e seus olhos estavam molhados, mesmo que fosse óbvio que ela não estivesse acordada há mais de um minuto. Cuidadosamente, ele se aproximou, abraçando-a do mesmo jeito que fez no hotel. O rosto de Charlie entre o peito e pescoço dele. Ela colocou o braço em cima de seu corpo, para que o fio ligado à sua veia não entortasse ou a machucasse. Em menos de um minuto já estavam dormindo novamente. Spencer precisava de boas horas de sono e há quase cinco meses não conseguia.

Era quase meio dia quando Morgan deu um tapa no pé de Spencer, fazendo ele acordar assustado e, consequentemente, Charlie também.

— Bom dia, crianças. – ele disse, sorrindo ao observar o desconforto de Reid ao ver as outras pessoas da equipe fora do quarto, que não se preocupavam em segurar o riso. – Charlie.

— Oi. – ela respondeu, sem olhar nos olhos de ninguém. Morgan lhe entregou uma muda de roupas que JJ e Blake haviam separado do apartamento da garota, que resmungou um “obrigada”. Ela se levantou com dificuldade e foi mancando até o banheiro do quarto, depois de perceber que alguma enfermeira havia retirado o fio do soro.

Spencer já estava no sofá, calçando seu All Star e fingia que os olhares dos outros agentes não existiam. Guardou seus outros livros em sua pasta e fechou rapidamente, sabendo que Morgan morria de curiosidade para sabe o que ele guardava lá. Percebeu que Derek revirou os olhos e se sentiu feliz por isso.

— Spence, nós vamos embora depois do almoço, ok? – JJ entrou no quarto depois de Rossi.

— Ok. – ele resmungou depois de contrair os lábios.

— E você e Charlotte? – era estranho ouvir o nome inteiro dela para Spencer, principalmente vindo de Rossi.

— Charlie está no banheiro, consegue te ouvir. – foi o que Spencer respondeu, fazendo os outros agentes trocarem mais olhares maliciosos. – Nada está acontecendo, ok? Não faz nem quatro meses desde Maeve e dois desde Matthew.

Reid falara aquilo tão calmo que era evidente que falar de Maeve o machucava muito ainda. Eles sabiam que ele estava sofrendo, mas naquele momento tiveram certeza que era muito mais do que imaginavam.

— Mas vocês são fofos. – Blake comentou descontraída.

— Obrigado. – Spencer não sabia como responder àquilo. Ouviram a porta do banheiro sendo destrancada e Charlie saiu vestindo um shorts jeans escuro e uma camisa xadrez vermelha e preta, justa o suficiente.

— Falei que ela gostaria. – Blake falou para JJ, que sorriu e assentiu com a cabeça. Spencer passou os tênis para Charlie, que se sentou ao seu lado e os calçou. A faixa branca estava a mostra, o shorts não era tão curto, mas ao contrário do que Charlie pensou, Spencer não se incomodou nem um pouco com aquilo e Morgan percebeu, piscando para ele em seguida.

Os dois pareciam uma atração de circo, onde todos os olhares estavam nele. Sempre o tratam como um irmão mais novo?, pensou Charlie, sem saber se achava aquilo fofo ou irritante. Os dois, talvez.

— Obrigada. – ela falou se dirigindo para todos, sorrindo envergonhada. – Não agradeci apropriadamente pelo o que fizeram.

— É o nosso trabalho, criança. – Morgan sorriu e Charlie assentiu. Era o trabalho deles... Era o trabalho de Spencer. – Nós vamos almoçar daqui a pouco, vocês devem estar com fome.

— Na verdade, não. – Spencer respondeu.

— É, mas você tem que comer. – Charlie falou baixinho só para ele, e Reid assentiu, segurando um sorriso.

— Charlie? – JJ chamou. – Você vem com a gente?

— Hm, acho que não, obrigada. – ela sorriu do mesmo jeito tímido. – Tenho que seguir uma dieta por alguns dias.

— Ok. – JJ sorriu e todos se despediram de Charlie.

— Vou te ver de novo ou você vai embora direto? – ela perguntou para Spence, que quase saia do quarto.

— Vou me despedir de você. – ele sorriu e andou para o elevador, onde Blake segurava a porta.

— Descobrimos que Kutner cremou suas vítimas. – Hotch falou para Spencer enquanto esperavam para chegar ao térreo. Ele levantou o olhar para o chefe. – Achamos que talvez você devesse contar para Charlie. Ela deve estar se perguntando sobre Frances.

Spencer só assentiu e continuou segurando firme a alça de sua pasta, olhando para seu tênis um pouco sujos. Ele passou um dos pés por cima do outro, lembrando-se quase no mesmo minuto de Charlie. Não havia se tocado que fizeram aquilo enquanto dormiam. Subconsciente é uma beleza, ela diria.

Eles pararam em um restaurante qualquer, dessa vez não tão próximo ao hospital e Blake percebera que Spencer disfarçou seu desconforto. Os agentes conversaram mais que o normal naquele dia. Blake contou sobre seu relacionamento com James, fizeram piadas sobre as ex-mulheres de Rossi, e JJ e Hotch combinaram um dia para Henry e Jack brincarem.

— Mas alguém tem uma namorada e não quer contar para os outros...! – Rossi lançou um olhar sugestivo a um dos agentes.

— Não estamos namorando. – Spencer disse calmo, e eles perceberam que ele não havia aberto a boca durante toda a refeição e mal estava prestando atenção na conversa.

— Eu estava me referindo a Morgan, mas já que insiste... - Rossi riu, fazendo Reid se mexer desconfortável na cadeira antes de voltar a comer. Eles voltaram a conversar, deixando Spencer perdido nos próprios pensamentos. Ele estava literalmente perdido. Não fazia ideia do que estava pensando quando realmente parava para analisar. Quando ele terminou de comer, eram meio dia e quarenta.

Oi. Já almoçou?, ele mandou para o celular de Charlie.

Sim, ela respondeu algum tempo depois. Recebi alta. Já posso sair daqui.

Onde quer ir?

Posso tomar sorvete. Tem uma praça há algumas quadras daqui, acho que você já viu. É preciso aproveitar quando faz calor nessa cidade.

Spencer soltou um riso fraco sem perceber e deixou o dinheiro em cima da mesa, se despedindo de todos, lembrando-se da praça que havia visto enquanto estava na ambulância com Charlie.

~*~

Spencer chegou antes que ela. Não a culpou, ainda andava com dificuldade. Se xingou por não ter ido pegá-la no hospital. Ele ficou um tempo sentado em um banco na praça onde haviam combinado. Era um dia ensolarado, bonito. Nenhuma nuvem pesada no céu e as crianças brincavam no parquinho rindo como se fosse uma oportunidade única.

— Oi. – ele ouviu a voz de Charlie e se levantou. – Demorei?

— Não. Acabei de chegar.

— Que bom, as enfermeiras não queiram me deixar sair. Houve um problema ou sei lá...

— Sorvete? – lembrou-a.

— Por favor. Não aguento mais aquela sopa que me deram na janta e almoço. – ela comentou sorrindo e os dois andaram até uma sorveteira, voltando para a praça em seguida.

Nenhum comentou nada sobre dormirem com os pés entrelaçados e, mais tarde, totalmente abraçados, então decidiram fingir que não era nada. Afinal Charlie fora apenas simpática ao chamá-lo quando percebeu que ele estava desconfortável no sofá e Spencer só estava fazendo seu trabalho a acolhendo e protegendo, como Morgan havia dito.

— Droga, eu quero ter filhos... - Charlie resmungou depois de sorrir para uma garotinha que passou correndo pelos dois.

— Agora? - Spencer olhou de relance para ela, sorrindo sem perceber quando ela quase deixou um pouco do sorvete cair da colher.

— Não! Sou muito nova pra isso. E você? - ela se virou para Spencer, o olhando curiosa.

— Eu quero.

— Agora?

— Talvez... - ele respondeu sem a menor intenção de ser misterioso ou deixar segundas intenções no ar.

— Eu me lembro de Morgan falando que você é ótimo com crianças.

— Certo, você se lembra de bastante coisa. - ele brincou, fazendo-a revirar os olhos - E estava sob o efeito dos medicamentos.

— Cala a boca, Memória Fotográfica. - Charlie segurou um sorriso e comeu mais um pouco do sorvete de creme. - Já arrumou suas coisas...?

— Já. - ele assentiu e contraiu os lábios, querendo entender se ela estava triste por conta daquilo. - Estão no carro.

— Obrigada, de verdade. Digo, já se passaram quase dois dias desde que pegaram Kutner e você não fez menção de ir embora. Acho que eu precisava disso.

— Do que?

— Eu to sozinha há um bom tempo, Spence. Eu já te disse isso.

— Falando assim parece que estou aqui por obrigação. – ele franziu as sobrancelhas.

— Não faz isso com todas as vítimas? - Charlie levantou uma sobrancelha, fazendo-o sorrir.

— Não, Charlie.

— Então obrigada. – Spencer soltou um riso fraco e olhou em volta. Franziu as sobrancelhas quando notou uma adolescente o encarando enquanto brincava com um garotinho, que só poderia ser seu irmão.

— Você deveria ir falar com ela. - Charlie sussurrou ao observar a confusão dele e percebeu que ela estava lendo Sob a Redoma enquanto o irmão brincava com outras crianças. - Ela é esperta...

— É. - Spencer deu de ombros. Ele nunca fora bom nisso, mas ultimamente tinha quase repulsa em paquerar alguém. Não estava pronto. De longe, viram a equipe se aproximar, procurando por eles, mas nem Reid nem Charlie fizeram a mínima ação de levantar a mão, gritar o nome deles ou simplesmente andar até lá.

— Agora que as coisas acalmaram...

Reid se virou para ela, curioso.

— Duas coisas: - ela continuou - Recebi uma carta de Yale antes de... Frances... E eles me ofereceram uma bolsa...! - Spencer iria soltar um "woah!" animado, mas Charlie levantou a mão, sorrindo, antes de continuar – E, dois, me chamaram para participar de uma cirurgia. Não fazê-la, mas ajudar.

— Charlie! – ele exclamou animado e ela assentiu, sorrindo abertamente. Não sabia que poderia sorrir tanto em um momento assim. – Parabéns! Como...? Uau! Você vai aceitar, né?

Ela riu da confusão dele.

— Eu não ia, mas agora que eu sei que Frances não vai voltar, não tem porque não. - apesar de tudo, ela disse aquilo sorrindo. - Pelo jeito meus resultados impressionaram. – brincou.

— E não iriam? Você ganhou a discussão sobre a acromatopsia, e eu nunca perco. – Charlie soltou um riso fraco pelo nariz e olhou em volta antes de voltar para Spencer.

— Convencido, isso sim. – ela resumiu. Mas com razão, completou em seus pensamentos.

— E quando você vai se mudar?

— Semana que vem vão começar as aulas lá...! - Charlie parou de falar quando percebeu que os outros agentes os haviam visto. Poderiam ficar naquele banco por um bom tempo, e logo estariam divagando sobre coisas aleatórias.

Morgan resistiu ao impulso de chamá-los de "pombinhos" e só ajudou Charlie a se levantar, abraçando-a em seguida.

— Você e Reid continuam a conversa sobre algum tipo de assunto aleatório que vocês acham superinteressante por telefone.

Charlie riu envergonhada.

— Ok, obr...

— Se você disser "obrigada", vou te ligar toda noite para incomodá-la com problemas simples de saúde. - ele ameaçou, em um tom brincalhão.

JJ a abraçou, imaginando que sentiria mais saudades dela do que imaginou. Blake também a abraçou, e andou com JJ e Morgan até um dos carros. Hotch e Rossi se contentaram com um aperto de mão, e foram em direção ao outro carro.

— Eu vou ver todas as temporadas de Dr. Who e você vê todas de House. Assim ficamos quites. - Charlie sorriu, levantando um pouco a cabeça.

— Ok, acho que é justo. - ele sorriu também, a abraçando.

— Fica bem. Você pode me ligar, se quiser só conversar. - ela foi sincera, ainda no abraço e segurou a vontade de mexer no cabelo dele.

— Você também, Charlie. - ele passou os dedos pela camisa dela, que não se importou em ficar naquele abraço por mais alguns segundos. Quando se afastaram, Spencer ficou sério por um tempo olhando para o nada antes de voltar a olhar para Charlie, que se aproximou e beijou sua bochecha.

— Até mais, Spence. - ela falou baixo. Spencer sorriu um pouco.

— Até mais. - ele respondeu no mesmo tom e andou até o carro preto onde Hotch e Rossi estavam.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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