Zugzwang escrita por MB


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Obrigada Ally Glader pelo comentário! Espero que gostem!



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Normalmente, nesse momento, toda a equipe toda estaria no avião, prontos para ir para casa, porém estavam no hospital, na sala de espera. Spencer mexia as pernas incessantemente e toda vez que uma enfermeira saia da sala de cirurgia e passava reto por ele, revirava os olhos e voltava a encarar a porta.

Só não conseguia suportar a ideia de não conseguir salvar mais alguém. Ele sabia que estava assim por conta de Maeve, e pelo fato de Charlie fazer seu cérebro criar relações banais com ela. Mas isso não o fazia se sentir melhor.

Quando a quinta ou sexta enfermeira passou por ele, Spencer se levantou e a chamou.

— Você pode me dar informações sobre Charlotte Beaumont West? - ele perguntou para a mulher baixa, vestida com uma calça e blusa de um azul pastel enjoativo.

— Um minuto. - a mulher pegou a prancheta e virou alguns papéis. - Houve algumas complicações na cirurgia, mas está tudo bem agora. Uma das balas acertou uma artéria importante na cocha dela, mas ela já está no quarto.

— E vocês não me avisaram? - Spencer arregalou os olhos e olhou em volta, irritado.

— Desculpe, senhor, deve ter acontecido uma falha no sistema...

— É, aconteceu uma falha no sistema! - Reid encarou a mulher e olhou para o lado, vendo Morgan segurando um sorriso.

— Calma, criança. - ele riu e agradeceu a enfermeira.

— Ela vai ficar um pouco sonolenta por conta da morfina, mas daqui alguns minutos já vai ser possível receber visitas. - a mulher falou um pouco baixo e saiu.

Reid revirou os olhos e se voltou para os agentes que estavam com ele.

— Tá tudo bem? - JJ perguntou se levantando.

— Tudo. - Spence respondeu e encarou o livro "A mágica da matemática avançada - II volume", que trouxera para se distrair e olhou para os colegas - Se ela acordar antes de eu chegar fala que volto logo.

— Aonde você vai? - perguntou a loira enquanto Spencer pegava seu livro e colocava dentro de sua pasta, passando a alça pelo pescoço.

— Vou pegar um dos livros preferidos dela. - ele colocou o cabelo atrás da orelha e sorriu minimamente. - Charlie comentou ontem comigo que havia levado para o hotel.

— Vocês ficaram conversando? - Morgan levantou uma sobrancelha. - Achei que tivesse ido dormir, garoto. Parecia muito cansado.

— Não estava cansado, era impressão. – ele sorriu e saiu do hospital, preferindo andar a pegar um dos carros.

~*~

Charlie achou que Spencer estava dormindo na poltrona ao lado da maca onde estava deitada, mas se lembrou de que ele não pregava os olhos há um bom tempo. Reid não havia percebido que Charlie acordava, porque ela não se mexera, só analisava o quarto movimentando apenas os olhos e não pôde deixar de sorrir quando viu seu livro favorito, A Coisa, na mesinha de cabeceira.

— Spence. – ela resmungou sonolenta. Spencer levantou o rosto e sorriu aliviado.

— Ei. – ele respondeu, com uma voz suave. – Você está bem? Precisa de alguma coisa?

— Estou ótima... Você trouxe meu livro? – Charlie sorriu.

— Você vai ficar um tempo aqui, imaginei que talvez quisesse.

— Obrigada. – ela tentou sentar, mas estava fraca demais. Me deram remédios fortes..., pensou.

— De nada.

— E o obrigada por me ajudar no hotel.

— De nada. – ele sorriu tímido, e ela sorriu por conta da expressão de Spencer. – E está desculpada.

— Por que? – Spencer levantou a mão que havia dado a ela no quarto, mostrando algumas marcas de unha.

— Você é mais forte do que eu imaginei.

— Eu fiz isso?! – Charlie riu fraco. – Meu Deus, desculpe.

— Tudo bem.

— Manchei sua camisa. – ela observou a mancha de sangue que estava em um dos braços do agente.

— Dá pra lavar. – ele deu de ombros e se lembrou do que havia pensado durante a meia hora em que estava naquela sala. – Por que abriu a porta, Charlie...?

Ela deu de ombros antes de responder.

— Ele tinha uma criança.

— Você sabia que ele não a machucaria. Não estava ali pela criança. – Spencer se levantou e ajudou Charlie a se sentar, observando o esforço que ela fazia.

— Pra quem matou sei lá quantas pessoas, imaginei que faria a mesma coisa com uma criança. Ele estava apontando uma arma pra cabeça do garotinho.

— Exatamente como fez com você. – Charlie sorriu um pouco ao observar a preocupação dele. Só depois entendeu que fora assim que Maeve havia morrido, nas mãos do suspeito.

— E eu estou sozinha, Spence. – ela engoliu. – Minha mãe e minha irmã estão mortas, meu pai está preso e ele continua me mandando cartas que eu não leio, mas por algum motivo eu guardo. Talvez eu quisesse ser “salva”.

— Não diga isso, Charlie. – ele maneou a cabeça e ela arregalou os olhos, como dizendo “como não?” – Se você morresse, não ia ser só mais uma vitima, eu iria me culpar para sempre, perguntando o porquê de eu não conseguir salvar ninguém. – Spencer falou aquilo rápido, como se tivesse tirando um peso de cima de si. Por que não conseguia salvar todos?

— Mas eu não morri, Spence. – ela falou séria, o olhando nos olhos. – E é a verdade, eu estou sozinha. E você não pode salvar todo mundo, você já faz muito arriscando sua vida.

— Bom, eu não salvei Maeve. – sua voz saiu como um fio e Charlie só queria o abraçar e reconfortar. Ela olhou para ele com lágrimas nos olhos, e ainda fazendo movimentos lentos por conta dos remédios, pegou sua mão.

— Não vou deixar marcas dessa vez. – Charlie brincou, fazendo Spence dar um sorriso fraco.

— Tiveram alguns problemas com a cirurgia... – ele resmungou. – Eles falaram que você talvez não aguentasse.

— Você chegou bem na hora, então.

JJ e Morgan entraram no quarto um tempo depois, fazendo eles se soltarem, e a loira entregou para Spencer um copo de café. Ele agradeceu e tomou um gole, sorrindo por conta do olhar de Charlie na bebida. Uma enfermeira havia informado que ela não poderia tomar café durante dois dias.

— Hey! – JJ a abraçou e só depois notou a faixa na perna da garota. – Como você está?

— Bem. – ela assentiu e retribuiu o sorriso dos outros agentes.

— Meio sonolenta por causa do remédio. – Spencer corrigiu-a, informando os outros. – Por isso não levem tudo que ela fala a sério.

Eles riram e se sentaram no sofá, onde três livros estavam empilhados no canto.

Charlie olhou em volta e viu um potinho de plástico com um pouco de gelatina.

— Você estava comendo gelatina? – Charlie perguntou para Spencer e ele assentiu. - Eu tinha uma tia... Tenho, ela não morreu nem nada e o filho dela tem esquizofrenia... Ele não gosta muito de mim. A última vez que fui na casa dela eu tinha sete, e ele jogou gelatina em mim.

— Spencer é ótimo com crianças. – Morgan comentou, recendo de Reid um olhar de “qual a necessidade?”. – Ele descobriu o suspeito falando com uma criança autista que não falava com ninguém.

— Eu não descobri o suspeito, descobri a rotina da criança, o que nos ajudou a achá-lo. – Spencer pegou outro potinho de gelatina azul e entregou para Charlie que olhou animada para o alimento, como se não comesse há séculos e sussurrou um “obrigada”, não querendo atrapalhar a conversa deles. – Crianças com autismo são fáceis de lidar, dependendo do caso. Geralmente não gostam de contato físico, o que é um dos principais sintomas e se você conseguir entender a maneira de como a criança se comunica...

— Sim, Reid... Você nos explicou isso. – Morgan o interrompeu e se virou para Charlie. – Não sabia que você tinha familiares próximos.

— Não tenho mais. – ela colocou a colher de plástico dentro do potinho já vazio e se esticou para colocar em cima do criado mudo. – Depois que a minha mãe faleceu, minha tia se isolou totalmente. Nunca mais vi meus tios e meu primo, não faço ideia de onde estão.

— Oh... Sinto muito. – JJ resmungou.

— Tudo bem. – Charlie deu de ombros e eles perceberam que o remédio ainda estava fazendo efeito. – Depressão pode fazer isso, sabe? Pra algumas pessoas o mundo fica preto e branco, literalmente em um caso. Em 57, uma mulher alegou que estava tão deprimida que não via mais cores e os médicos acreditaram, mesmo sendo impossível isso acontecer, já que o olho humano...

— Na verdade, existe uma doença chamada Acromatopsia, onde a pessoa só enxerga em preto e branco... – Spencer a interrompeu, sorrindo ao notar que não era o único que divagava sem perceber.

— Eu sei, Spence, mas a causa não é a depressão e o psicológico não afetaria um órgão assim. Acromatopsia são os fotorreceptores defeituosos, não há nenhuma relação com doenças psicológicas. – foi a vez de Charlie o interromper, fazendo os outros agentes se perguntem como eles conversavam daquele jeito como se fossem as coisas mais banais do mundo.

— Seu psicológico afetou na intensidade da dor e fez você perder mais sangue. – Reid continuou contrariando-a, percebendo que isso só a deixava mais irritada.

— Sim, Dr. Reid, em alguns casos o psicológico afeta o físico, mas não é o caso da Acromatopsia.

— Bom... – ele iria continuar e segurou o riso quando Charlie lhe lançou um olhar irritado, fazendo-o olhar para Morgan e JJ sorrindo.

Os dois agentes balançavam a cabeça sem acreditar nos dois.

— Vocês podem ter essa conversa super empolgante depois. Reid, você não comeu nada, vamos almoçar. - JJ disse, preocupada.

— Não estou com fome, JJ. – ele respondeu, olhando para Charlie de relance.

— Vai comer, Spencer. – Charlie sorriu. – A última coisa que você precisa é uma síncope vasovagal.

— Não estou há tanto tempo sem comer para isso acontecer. – ele franziu as sobrancelhas e pegou um de seus livros, colocando dentro da pasta que estava ao seu lado. Morgan só balançou a cabeça negativamente para JJ, como dizendo “não pergunte...”. Spencer se deu por vencido e levantou, sentindo pela primeira vez durante aquele período seu estômago roncar. – Qualquer coisa me chama.

— Eu to num hospital, Spence, não tem como estar mais segura. – Charlie sorriu e ele maneou a cabeça.

— Ok... – Reid disse preocupado e devolveu um sorriso mínimo para ela, saindo do quarto em seguida e ignorando os olhares dos colegas.

~*~

Eles estavam em um restaurante próximo ao hospital. Spencer comia sem conversar, e só percebeu naquele momento como estava com fome.

— Onde estão Rossi, Blake e Hotch? – perguntou quando acabou sua água.

— Resolvendo algumas coisas com o gerente do hotel. – Morgan respondeu depois de engolir um pedaço de carne.

— Quanto tempo acha que...?

— Não sei, criança. O cara é cabeça dura, vai demorar um pouco. – ele sorriu ao perceber onde Spencer queria chegar.

— E quanto tempo vamos ficar aqui...? – ele tentou perguntar naturalmente, mas estava em uma mesa com membros da UAC, afinal.

— Acho que podemos ficar por mais uma noite, Spence. – JJ sorriu. Não custava ficar mais um dia longe de casa, apesar de estar morrendo de saudades de Henry. Spencer estava muito triste ultimamente, eles percebiam isso. Não havia superado Maeve e isso demoraria, não era segredo para ninguém. Eles poderiam ficar mais um dia na cidade por um amigo.

Terminaram de comer e voltaram para o hotel. JJ ligou para casa e leu parte de um livro para Henry. Morgan foi direto para a academia do lugar e Blake ligou para James, que estava na África do Sul no programa Médicos Sem Fronteiras. Reid tomou banho e trocou de roupa, voltando em seguida para o hospital.

—----x-----

Spencer e Charlie voltaram a discutir sobre a Acromatopsia, tendo ela a última palavra. Passaram um bom tempo lendo e Spencer não pôde deixar de notar o quão adorável ela ficava quando chegava alguma parte que a deixava nervosa na história: roia as unhas e divagava baixinho, sem perceber, sobre algo que acontecia, tentando tirar a tensão de si.

— Sabe, você não precisa ficar aqui. – eram quase onze e meia da noite. Charlie se sentou na beirada da cama, não aguentando mais ficar deitada, mas não podendo se levantar por conta da cirurgia que havia feito na coxa. Tinha medo que ele estivesse ali por obrigação.

— Não vou conseguir dormir de qualquer jeito. - ele deu de ombros.

Charlie sorriu e uma enfermeira entrou no quarto, trazendo um copinho de plástico com dois comprimidos. Abriu o frigobar e tirou de lá uma garrafa de água, entregando para Charlie.

— Isso vai fazer você dormir. - informou-a.

— Ok, obrigada. – a garota esperou a enfermeira sair do quarto para deixar o copo e a garrafa no criado mudo ao seu lado.

— Você vai tomar. - Spencer sorriu e se levantou, entregando os medicamentos para ela.

— Não quero dormir, você não vai. Vai ficar acordado fazendo o que?

— Eu tenho alguns livros aqui. – ele assegurou-a. – E você precisa descansar.

A garota o analisou por algum tempo antes de tomar o remédio.

— Então boa noite, Spence. - ela disse baixinho, entregando para ele um dos travesseiros que estavam na cama.

— Obrigado. - ele sorriu e colocou no braço do sofá. Andou até o interruptor e diminuiu a intensidade da luz, deixando o quarto claro o suficiente para conseguir ler, mas de um modo que ela conseguisse dormir. - Boa noite, Charlie.

~*~

JJ e Blake entraram no quarto com dois copos de café, imaginando que Reid e Charlie já estariam acordados e agradeceriam por um café bom, ao contrário do que era o do hospital. Elas apenas sorriram surpresas e deixaram os copos no criado mudo ao lado de Charlie, que dormia no canto da cama, dando espaço para Spencer. Havia dois livros abertos, virados com a capa para cima no sofá, onde Reid dormira nas primeiras horas até Charlie acordar e ver como ele estava desconfortável.

Seus rostos estavam virados um para o outro e o fio que estava ligado à veia do braço direito dela passava por cima do braço esquerdo de Spence, que não se importava nem um pouco. A cama era um pouco pequena, obrigando-os a ficarem mais próximos, porém o cabelo de Charlie estava quase todo para fora da cama, como se ela estivesse com vergonha da proximidade.

— Spence pode tirar alguns dias de folga. - JJ comentou sorrindo.

— Ele está precisando. - Blake concordou. - Só quero ver a expressão de Morgan.

— Daqui a pouco ele vem pra cá. Não consegue ficar um minuto sem atormentar Spence. - ela riu, mandando uma mensagem para Derek. Só quando estavam saindo do quarto perceberam que, enquanto sonhavam, Spencer e Charlie mexiam lentamente os pés entrelaçados.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?? Comentem!



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