Os agentes não estavam no quarto, mas conseguiam ver Charlie na cama, com o braço esticado enquanto um enfermeiro tirava seu sangue. Era notável a desconfiança dela, que alternava o olhar entre a seringa e o homem, que sorriu para ela e saiu do quarto algum tempo depois, carregando duas amostras.

Penelope andava mais rápido que todos e quando Charlie e Spencer ouviram o barulho dos saltos dela, sorriam para eles. Garcia andava com duas sacolas na mão direita enquanto na esquerda apenas uma. 

— Oi, meus nerds, feliz Natal...! - ela disse um pouco receosa entrando no quarto e deixou as compras no sofá. 

— Feliz Natal. - o tom animado de Charlie fez os agentes se surpreenderam de uma maneira positiva. Garcia a abraçou, não conseguindo segurar as lágrimas. Com JJ e Blake foi a mesma coisa.

— Bela Adormecida! - Morgan sorriu e Charlie olhou para Spence, no mesmo momento que ele a olhou, os dois disfarçando o desconforto ao se lembrarem da história original desse conto de fadas. - Falei algo errado?

— Não. - ela sorriu para ele em resposta. - Só dois nerds, lembrando de coisas irrelevantes. Feliz Natal!

Rossi e Hotch sorriam ao vê-la daquele jeito. Não esperavam ela tão receptiva, mas era algo bom. Todos viram os pulsos enfaixados ao mesmo momento e disfarçaram, lembrando que, enquanto estava desacordada, as faixas não estavam lá.

— Ok! Temos presentes! - Garcia limpou o rosto e andou até o sofá.

— Reid, os nossos estão lá UAC. - Morgan contou. - Garcia foi a unica que conseguiu colocar essas sacolas no porta-malas lotado do carro dela.

Eles sorriam e Penelope entregou uma sacola de plástico para Spencer, que sorriu ao ver o segundo volume do livro de física que estava lendo. Para Charlie entregou a sacola de papel rosa.

— Obrigada. - ela abriu, tirando uma saia um pouco mais colorida do que normalmente compraria, mas com certeza muito bonita. - Ah, obrigada!

— Não agradeça! - ela pegou a outra sacola, uma vermelha com desenhos de renda preta. - Todos os homens saiam. Mesmo sabendo o que temos aqui, não queremos deixar nossa gênia envergonhada. - Garcia ordenou e eles saíram. - Estou entregando pra você, mas Reid vai amar, também. 

Ela falou um pouco alto demais e eles conseguiram ouvir. Morgan riu e empurrou Spencer para mais longe do quarto, que tinha a cabeça um pouco baixa de vergonha.

— Como ela está? - Rossi perguntou. - Psicologicamente.

— Ruim. - Spencer respondeu quase no mesmo momento. - Às vezes ela esquece que Blauman está morto e ela não quer conversar, nós não sabemos metade do que aconteceu lá e isso está a sufocando. 

— Os pulsos dela...? - Hotch perguntou.

— Blauman os cortou. – ele olhou para o quarto, onde as quatro riam. - Charlie teve um ataque de pânico hoje antes de vocês virem e ela os cortou novamente, sem perceber.

— Oh. - foi o que conseguiram falar. Garcia abriu a porta, falando que eles poderiam entrar novamente. O rosto de Charlie tinha muito mais cor agora.

— Você vai gostar, Reid. - a loira sussurrou para ele, que sorriu envergonhando.

— E quando vai poder sair, Charlie? - Rossi perguntou.

— Não sei. – ela disse. - Os médicos ainda estão analisando.

— Se não conseguir até o Ano Novo, podem ter certeza que terá um jantar na minha casa...

— Mansão. - Hotch o interrompeu, tossindo disfarçadamente, fazendo os outros rirem.

— Já que insiste, Hotchner, na minha mansão, especialmente para os pombinhos. - Rossi sorriu.

— Spence, estamos nos casando e não sabemos. - Charlie brincou.

— Meu Deus! - Garcia abriu a boca. - Eu posso muito imaginar Rossi te acompanhando até o altar. 

— Spence com o Converse. - JJ riu e eles perceberam que Reid tinha um sorriso tímido.

— Você pode se casar na igreja, né? - Penelope perguntou para Charlie, que fez que não, contraindo os lábios em um sorriso ao ver a expressão de espanto dela. - Por que?!

— Não sou católica, evangélica ou nada assim. - ela respondeu brincando os dedos de Spence.

— Eu não me importo de não casar da igreja. - ele deu de ombros e todos levantaram as sobrancelhas. 

— Reid. - Hotch e Blake disseram ao mesmo tempo. 

— Oh! - ele olhou para Charlie que apertava sua mão, sorrindo pela confusão dele. - Não é isso. Não, eu quero me casar e ter filhos, a gente falou sobre isso, você lembra, na quinta, dia 17, mas... Não com voc... Com você, eu quero dizer. Mas, assim, não que eu esteja te pedindo em casamento, mas se você quiser, a gente...

— Hey, Pretty Boy! - Morgan riu. Charlie estava vermelha, querendo segurar a risada pra não deixar Spencer mais desconfortável do que ele já estava. - Vocês podem falar sobre isso em um momento mais íntimo! Mas com o presente que sua Pretty Girl recebeu, não acho que vocês vão falar muito.

— Morgan! - Charlie afundou o rosto nas mãos, extremamente vermelha. - Ah, meu Deus...  

— Estou falando do livro que eu e Rossi compramos! - ele brincou, fazendo ela o olhar com os olhos semicerrados e revirar em seguida. 

— Muito obrigada. - ela disse depois de um tempo. - Pelos presentes e por me...

— Se você falar "me ajudar", Charlie... - Blake disse bem humorada e ela sorriu. 

— A gente tá tão feliz que você está bem! - JJ sorriu. - Qualquer pessoa que faz tão bem pra Spence já é da nossa família. 

Os dois sorriram quase como reflexos um do outro, com as bocas abertas em surpresa, antes de abaixarem os olhares, sem saber muito o que responder.

Eles voltaram a conversar e a mente de Reid se voltou para a primeira vez que a viu. Garcia apresentava o caso e mostrava fotos das vítimas. Ao lado da foto de Frances, Charlie foi a única daquelas irmãs que não estava com um sorriso no rosto. Olhava séria para a câmera, mas ele conseguiu ver o canto de sua boca se curvando timidamente. Spencer realmente começou a prestar atenção quando Garcia começou a descrever sua personalidade, ajudando-os a criar relações com as vítimas. Mesmo em fotos, ele conseguiu enxergar o azul escuro dos olhos dela, que estavam destacados por conta da maquiagem que ela usava na foto. Quando Garcia minimizou a imagem, ele percebeu que era uma parte de uma fotografia com seu namorado, ex, agora. Lembrou-se que, quando Hotch disse "saímos em meia hora", Morgan bagunçou seu cabelo sem delicadeza nenhuma e já que ele ficou mais tempo que o necessário olhando para a foto, brincou dizendo:

— Ela é alguns anos mais nova, Reid. 

Charlie agora conversava alegremente com Garcia e, quando um doutor entrou no quarto, dizendo que Charlie poderia ir para casa no fim do dia seguinte, eles perceberam que nem ela acreditava em sua completa sanidade psicológica.