Zugzwang escrita por MB


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Três acompanhamentos e dois comentários! Muito obrigada!



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Charlie se vestiu o mais rápido que conseguiu. Todos os finais de semana passava o dia inteiro de pijama, lendo ou vendo algumas séries. Parou o ultimo episódio da oitava temporada de How I Met Your Mother, sem precisar anotar os exatos minutos: ela se lembraria. Guardou a chave do quarto e seu celular em sua bolsa e a pendurou em um dos ombros, sem se importar que o cadarço do tênis estivesse desamarrado. Só não queria causar mais problemas para aqueles agentes.

— Foi rápida. – JJ sorriu quando a viu, e entraram em um dos carros pretos que pararam em frente à casa de Charlie.

— Acharam ele? – ela perguntou, colocando o cinto no banco de trás.

— Não, mas achamos que talvez você reconheça o suspeito. – respondeu Reid olhando para trás rapidamente. Ele usava seus óculos escuros assim como Charlie. Ambos odiavam o fato de ter sol, mas serem obrigados a usar roupas de frio.

— São as imagens da câmera de segurança do shopping onde Frances e Rick estavam. – JJ começou a dirigir enquanto Reid analisava as fotos das outras vítimas. – Acha que consegue ver?

— Aham. – ela respondeu depois de um tempo. Era loucura... Ver um vídeo onde aparecia a irmã conversando com a pessoa que provavelmente a matou. – Vocês... Vocês tem uma ideia de como esse cara pode ser? Suas características psicológicas, eu digo.

— Na verdade, sim. – JJ segurou um sorriso quando Spencer começou a falar antes mesmo de Charlie terminar. – Achamos que talvez ele possa ter sofrido algum tipo de abuso na infância, por seu irmão ou pai. Mas o fato de só sequestrar mulheres não faria sentido. Ainda estamos trabalhando nisso.

— Não poderia ser uma irmã? – arriscou-se Charlie. – Não faria sentido descontar a raiva em mulheres?

— Faria, mas as taxas de mulheres praticando esse tipo de abuso em irmãos são muito pequenas, então... – Reid fechou a pasta de papel e viu o olhar da garota perdido quando a olhou pelo retrovisor. – Ei, vamos achá-lo...

— Eu sei. – ela sorriu minimamente para ele. Só não é mais possível achar minha irmã viva, pensou. – E o que Rick falou?

— Ele viu um homem saindo com Frances no shopping. – JJ se adiantou. – Se me permite perguntar – ela sorriu -, por que você e Rick não se dão bem?

— Bom... Ele deu em cima de mim em uma festa, há algum tempo e quando eu disse não, ele ficou bem agressivo... Traiu Frances uma ou duas vezes e ela sabia... – Charlie poderia falar mal de Rick por horas e horas sem se cansar e sem nunca repetir argumentos.

— Uau. – JJ ergueu as sobrancelhas, sem saber o que falar. Olhou para Reid a mesma coisa passou na cabeça dos dois: talvez Rick tivesse participação nisso, mas a ideia fugiu rapidamente, afinal viram a reação dele quando recebeu na noticia.

A cidade não era grande, mas a maioria das pessoas já sabia da chegada do FBI, já que os jornais e revistas não perderam tempo na hora de anunciar o fato. Passaram o resto o caminho em silêncio. Charlie tentando entender que estava a ponto de ver os últimos momentos de sua irmã, JJ e Reid pensando o máximo que podiam para tentar achar algo que revelasse o suspeito.

Sabiam que o suspeito provavelmente viveu nessa cidade, já que parecia conhecer cada canto do lugar. Sofrera abuso quando era menor e não era filho único. Organizado e paciente. Nada muito útil.

JJ parou o carro na frente do shopping e falou que iria achar uma vaga, e era melhor Reid e Charlie irem encontrar Hotch e Rossi. Reid nunca havia visto a colega tão nervosa por conta de um caso.

— Tudo bem? – Charlie perguntou enquanto os dois andavam até o elevador do shopping. Ele não parecia nem um pouco bem.

— Tudo. – Spencer respondeu após um tempo, como se estivesse contendo as lágrimas. – É só... Não é nada. – a verdade é que ele só precisava conversar sobre Maeve, sobre como queria o tempo de volta.

— JJ me contou sobre Maeve. – ela falou lembrando que conversara bastante com a agente enquanto arrumavam suas coisas. Sabia exatamente como ele se sentia. Também havia perdido Matt e não era uma das coisas mais fácies para se lidar sozinha. Perder quem você tinha certeza que passaria o resto da vida. – Eu sinto muito, mesmo.

— JJ gosta de falar. – ele sorriu minimamente e apertou o botão do elevador, olhando para Charlie em seguida. Spencer precisava abaixar um pouco seu olhar por conta da altura dela.

— Ela não disse muito, mas da pra ver que ela realmente se importa... – Charlie levantou um pouco o olhar.

— É, eu amo JJ... – Spencer respirou fundo - Nunca tinha visto Maeve. - ele começou. Contar a história desde o começo era o que ele mais tinha medo: que só se tornasse uma história, uma memória distante. Mas ele não sabia que era isso que precisava. Charlie decidiu não interromper - A gente só conversava por telefone, por uns dez meses. Ela tinha uma stalker e... E a primeira vez que eu a vi, Maeve tinha sido sequestrada por ela.

Os dois agora estavam sozinhos no elevador. Spencer colocava o cabelo atrás da orelha como se fosse tirar a atenção de si, e engolia em seco repetidas vezes, querendo tirar de dentro dele aquele vazio que precisava ser preenchido.

— E a mulher que a perseguia queria matá-la. No fim ela conseguiu. - a garota sentiu um arrepio passar por seu corpo quando os olhos do agente se encheram de lágrimas, mas depois rapidamente se secaram.

— Eu sinto muito. - ela falou se sentindo culpada por tê-lo feito contar... Mas ele não faria nada que não quisesse, certo?

— Não é sua culpa.

— Mas eu sinto muito.

— Obrigado. - pela primeira vez em um bom tempo ele olhou nos olhos da garota, que pareciam mais doces naquele momento. Charlie o abraçou, sem se preocupar com o rosto surpreso dele. Spencer ficou alguns segundos sem saber o que fazer, mas então passou os braços pelo corpo dela e a abraçou, apoiando o rosto em seu ombro. Ela só queria ter a sensação de que alguém a entendia, e Spencer parecia entender. Ela passou uma das mãos pelos seus cabelos bagunçados, começando o caminho pela nuca, exatamente como fazia com Matt quando algo o deixava para baixo. E Reid passava as mãos pelo suéter fininho de lã que ela usava, exatamente como em seus sonhos com Maeve, quase em desespero por querer ficar mais próximo.

~*~

Frances estava tomando um refrigerante enquanto esperava Rick. Checava o celular constantemente, verificando as horas. Um grupo de jovens se sentou um uma mesa um pouco distante a da que ela estava. Constantemente lhe lançavam olhares maliciosos, que Frances só ignorava. Charlie desviava os olhos do monitor, enojada por conta daqueles homens aparentemente cinco anos mais velhos que sua irmã. Spencer percebia o desconforto de Charlie e imaginou se teria sido uma boa ideia trazê-la. Ele se aproximou, sem tocar, mas ela sorriu minimamente, percebendo que só queria confortá-la.

Rick chegou algum tempo depois, fazendo as pessoas da outra mesa parar de encarar Frances. Eles ficaram quase uma hora conversando, Frances parecendo extremamente madura. Foi quando Rick começou a ficar exaltado e se levantou irritado, assim como descrevera para Reid. Após uns dez minutos, um dos homens da outra mesa se levantou e foi falar com a garota. Ele era exatamente como Charlie imaginava que seria: igual a todos os homens naquele caderno que a mais nova guardava. Depois de conversarem eles se levantaram e saíram daquele espaço do shopping.

— A última coisa que sabemos é que ela o acompanhou até o estacionamento. Seu carro era novo e estava sem placa. Ele é esperto, sabia onde a câmera estava e escondeu o rosto. – disse Hotch pausando o vídeo e em seguida se virou para Charlie. – Consegue reconhecê-lo?

— Não, me desculpa. – ela disse e se afastou do computador, dando espaço para JJ e Blake verem o vídeo. – Mas um daqueles homens da mesa, Jason Ritzman, ele está na minha sala de uma das matérias da faculdade.

— Garcia, oi. – ninguém percebeu Reid havia pegado o celular. – Jason Ritzman... Isso. – todo mundo ficou um tempo em silêncio esperando alguma resposta. – Ok, obrigado. Ele foi preso há três dias por furtos em uma loja.

— Ótimo. – Morgan resmungou. – Vou falar com ele. Rossi?

O outro agente assentiu.

— Vou com vocês. – Blake se adiantou, guardando seu celular no bolso, mas se virou para Charlie antes. – Vocês se falavam muito?

— Não. – ela respondeu. – Tem muitas pessoas naquela sala, acho que ele não sabe nem meu nome.

— Mas você sabia o dele.

— Eu me lembro de coisas o suficiente. – Charlie mexia nervosamente nas unhas, tirando parte das cutículas de alguns dedos. Spencer olhou para baixo, segurando um sorriso.

— Charlie, você quer vir com a gente ou...? – Morgan disfarçou depois do notar o sorriso de Reid.

— Não acho que posso ser útil. – ela respondeu e eles assentiram, saindo da sala de computação e agradecendo o gerente daquela área. Spencer se ofereceu a levá-la para o hotel e nenhum dos outros agentes discutiu. Onde eles estavam hospedados não era tão longe do shopping, então Spencer e Charlie foram andando.

— Desculpe, mas não posso te deixar sozinha. – Reid falou após algum tempo em que estavam andando.

— Sem problemas. – Charlie sorriu para ele. – E me desculpe por fazer você falar da Maeve.

— Não tem porque se desculpar. – alguns postes de luz se acenderam e foi quando os dois perceberam que estava quase anoitecendo. – Você também não parece bem...

Charlie sorriu para ele e encarou o cadarço solto de seu All Star azul.

— Sou melhor escutando do que falando, às vezes.

— Rossi me disse que é preciso falar com alguém.

— Talvez não em todos os casos. – ela deu de ombros, já vendo o hotel. O problema é que talvez ela quisesse conversar, colocar todo para fora. Só tinha vergonha, achava que todos seus problemas eram totalmente superficiais e que quem a ouvisse, iria achar a coisa mais idiota do mundo. Então só os trancava dentro de si.

O celular de Spencer vibrou e uma mensagem de Blake o fez ficar dividido entre sorrir e ficar irritado: “Reid, não precisa vir pra delegacia, estamos quase acabando com Ritzman. Tira uma noite de folga”. Ele não queria uma noite de folga. Queria ocupar sua mente com tudo o que não fosse Maeve e o trabalho ajudaria. O fazia ficar acordado.

— Precisam de você? – Charlie perguntou.

— Não. – Spence contraiu os lábios em um sorriso tímido. – Estão acabando com Ritzman.

— Ele sabe alguma coisa?

— Não me falaram.

— Talvez você precise de um tempo de folga, afinal. – Charlie disse ao observar como as olheiras dele pareciam profundas.

— Você também. – ele se defendeu, fazendo-a soltar um riso fraco. – Eu fiz seu perfil e...

— É claro que fez. Mania de agente? – Spencer riu tímido e os dois entraram no hotel vendo uma placa onde mostrava um restaurante 24hrs. Anotaram essa informação mentalmente.

— Mania, na verdade, é um distúrbio mental definido como um período distinto onde existe um humor anormal para cada pessoa, mas que se torna tão frequente que passa despercebido por grande parte das pessoas. Normalmente é tratada como hábitos, mas essa concepção não é totalmente erronia. – ele franziu as sobrancelhas, como se acabado de descobrir algo e Charlie sorriu, como se fosse Matthew ali na frente.

— Você não tem dormido, não é? – ela perguntou após um tempo em que estavam no elevador. Spencer iria perguntar como ela sabia, mas deduziu que, assim como ele, só era boa em observar o comportamento dos outros.

— Há um tempo. – respondeu com a voz rouca.

— Por que? – Reid deu de ombros, parte querendo falar tudo e outra querendo fingir que estava tudo bem.

— Não sei. No começo eram pesadelos, depois só me acostumei em acordar no meio da noite fugindo deles. – mas não eram pesadelos, era Maeve querendo dançar e era ele não querendo que aquilo se tornasse uma memória.

— Você precisa dormir, Reid. – era fácil conversar com ele e não era por conta de Matt, era porque Charlie não fazia o mínimo esforço para conversar com quem ela não queria nada a mais, então só era ela mesma.

— Eu sei...

— Mas café é bom demais para largar... – os dois deram um sorriso fraco e o elevador parou no andar deles. – Não tenho dormindo muito também, se quiser conversar no meio da madrugada, me tiraria do tédio.

— Ok. – ele balançou a cabeça positivamente e tirou o cabelo do rosto, colocando atrás da orelha. – Me chame só de Spencer.


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Notas finais do capítulo

Comentem falando o que acharam!



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