Zugzwang escrita por MB


Capítulo 29
Capitulo 29




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Cinco dias haviam se passado desde que Charlie chegou no hospital. Cinco dias, dezesseis horas e cinquenta e sete minutos. 

Mas ela ainda não tinha aberto seus olhos. Ou mexido a mão, ou qualquer parte do corpo.

Diversas vezes os médicos tiverem que tirar Spencer do quarto ao ouvirem os aparelhos apitarem rapidamente. Todas as vezes conseguiram estabilizá-la, até que o som que perturbava Spencer começasse novamente. 

Era como se ele tivesse reaprendido o significado de "saudades" quando percebeu que ela não acordaria tão cedo. Ela só precisava adicionar uma informação sobre o fato aleatório que ele falava. Precisava o fazer assistir horas de Downton Abbey ou House. Ou pelo menos respirar sem a ajuda de aparelhos.

Hotch havia dispensado Spencer durante o tempo que ele precisasse. Ambos só esperavam que não fosse muito, já que sabiam os possíveis motivos caso muito tempo se passasse e Spencer não voltasse para a UAC. Não eram bons.

Reid tinha acabado de falar com um médico, querendo saber o estado atual dela, que não havia mudado muito. Ele tinha que dormir - ou tentar – em casa todas as noites, já que não deixavam que ele passasse as noites ao lado de Charlie. Ele se sentou em um sofá bege do lado da cama dela, onde se encontrava de olhos fechados.

— Lembra-se de... – Spencer engoliu em seco enquanto segurava a mão dela. Sentia-se envergonhado, mas precisava falar com ela. - Na décima primeira vez que nos falamos por telefone, você disse que adora a Europa e que seu sonho era ir para Paris ou Portugal. Eu falei que Roma e Grécia eram os lugares que eu gostaria de ir da Europa. Você disse que não se importaria de ir pra lá e depois que percebeu como soou, ficou tão envergonhada... Eu consegui imaginar como seu rosto estava no momento. Eu não me importo de ir pra Paris ou Portugal, também. 

Spencer parou de falar quando achou que começaria a chorar novamente.

Ouviu os saltos de Penelope, junto com os de JJ indo em direção ao quarto e respirou fundo antes de olhar para elas, vendo Morgan e Rossi atrás.

— Você precisa comer, dormir, Spence. - ele mal negou com a cabeça quando JJ disse, só continuou a encarar o rosto desacordado, cheio de curativos. - Spence...

— Eu não posso, JJ. - ele conseguiu falar. - Ela não sabe que eu fiz tudo o que podia, não posso ficar longe dela.

— Ela sabe, Reid. - Morgan falou preocupado.

— Não, não sabe. - ele o interrompeu e ficou um tempo sem falar. 

— Reid, você não pode ficar horas sem... – Rossi começou, mas foi interrompido.

— Eu preciso ir no banheiro. - Spencer falou baixo, e andou até a porta do quarto depois de dar uma última olhada em Charlie.

— Tá bom. - Rossi assentiu e Morgan deu espaço para ele passar.

— Não vamos tirar os olhos dela, ok? – Garcia sorriu um pouco.

— Obrigado.

— Lava o rosto. – Morgan disse. - Ela não vai querer te ver assim quando acordar.

— E se ela acordar quando eu estiver fora? - ele voltou para o quarto, mas Rossi o virou pelos ombros.

— Se ela acordar agora, vamos ter certeza de que ela saiba que você não saiu daqui por um minuto. - ele disse e empurrou Spencer levemente. Ele fungou e limpou o rosto enquanto caminhava até o banheiro. Ele não ligava para os olhares solidários sobre ele, achando que alguém tivesse morrido, mas as pessoas não faziam ideia que era uma parte dele que estava morrendo. 

Foi no banheiro, querendo ser rápido, mas mal conseguia se mexer. Pensou em passar na cantina do hospital e pegar um café, sabendo que não dormiria bem até Charlie acordar. 

— Tudo bem, filho? - uma senhora perguntou para Spencer, que esperava seu copo. Ele mal negou com a cabeça, ainda sem expressão no rosto. - Quem está aqui?

— Minha namorada. - ele respondeu e pegou seu café, voltando para o quarto. JJ e Morgan estavam sentados no sofá. Charlie na mesma posição, com seus olhos fechados, e o aparelho respiratório ligado. Garcia e Rossi falavam entre si baixinho fora do quarto.

— Vocês podem ir. - ele resmungou para os agentes. 

— Não vamos te deixar sozinho aqui, Spencer. - Garcia falou.

— Eu quero ficar sozinho com ela. - Spencer levantou os olhos cansados. Morgan se levantou, sabendo que ele falava sério, e o abraçou, JJ em seguida e saíram do quarto, deixando claro que poderia ligar para eles a qualquer momento. 

Ele se sentou na ponta sofá bege e segurou a mão dela por quase uma hora, sem conseguir falar mais nada. 

— Senhor. – uma enfermeira que ele nunca tinha visto o chamou. – O horário de visitas acabou.

— Cinco minutos? - ele pediu, sabendo pelo modo que ela o olhava, deixaria. Balançou a cabeça a positivamente e saiu do quarto.

Toda vez que ele tinha que sair do hospital era como uma despedida. Sabia que o coração de Charlie poderia parar enquanto ele estivesse em casa, com os pensamentos nela.

— Me desculpe, Charlie... Eu sinto muito. - ele resmungou. - Preciso que você acorde... Não vou aguentar nunca mais ouvir sua voz, ou ver seus olhos. - mais lágrimas caíram do seu rosto e sua voz ficou mais baixa. – Você só precisa acordar... Eu te amo tanto... – ele respirou fundo e sorriu um pouco. - Abriu uma livraria perto da sua casa. Acho que você ia acabar com todos os livros no primeiro o dia. Comprei um pra você, inclusive. É sobre um policial de uma cidade pequena na França, lá pela década de 60, que acorda em uma cela, mas não se lembra de nada. É um suspense que mexe com o psicológico... - ele parou de falar e respirou fundo, sentindo aquela secura na garganta de quando se quer segurar o choro. - Mas talvez você queira livros mais leves depois de tudo. – ele se levantou quando percebeu que logo outra enfermeira iria o chamar. – Eu te amo.

Ele ficou por um tempo olhando para o chão, a fim de fazer as lágrimas pararem. Quando conseguiu, tirou o cabelo de Charlie de perto do rosto e saiu do quarto, pensando, como sempre, que poderia ser a última vez a vê-la.

Em casa, se sentou em um dos sofás da sala e pegou o livro que comprara para ela, analisando a capa preta com as letras do título em vermelho. Folheou algumas páginas até seu pensamento de voltar para o nome dela. Percebeu o quanto achava esse nome lindo. Não pôde deixar de pensar que Charlotte Beaumont Reid ficaria mais lindo ainda. 

Espantou essa ideia da cabeça, pensando que só estava com essa ideia, porque, no fundo, sabia que ela não iria acordar.

Ouviu seu celular vibrar na mesa a frente da mesa e atendeu.

— Spencer? - ele demorou um pouco para responder Rossi.

— Oi.

— A equipe vem jantar aqui em casa. - Spencer ouviu vozes e percebeu que todos escutavam, provavelmente estava no viva-voz. - Você vem?

— Comprei uns livros novos. - ele disse. - Obrigado, mas hoje não.

— Onde você está? 

— Em casa.

— Acho que você deveria vir, JJ vai amarrar elástico de cabelo nos hashis pra você.

— Obrigado, mas não estou no clima para sair. – ele sorriu um pouco - Vejo vocês amanhã. 

— Você vai pra UAC amanhã?

— Não posso ficar longe pra sempre. Vou pegar alguns relatórios para fazer em casa.

— Spence. - ele ouviu a voz de JJ. - Faria bem se você ficasse perto dos amigos, nem que por um tempo. 

— Eu tenho que ir. – ele se sentiu um pouco mal por ter sido tão rude, mas estava cansado demais para se importar com isso por muito tempo. Apesar de tudo, não demorou para pegar no sono. Desde que Charlie fora sequestrada, não fechava os olhos por mais de quatro horas, e o acúmulo de cansaço estava começando a se tornar demais. 

Acordou oito horas depois, e viu três chamadas perdidas em seu celular: uma de JJ, outra de Garcia e um número que ele reconheceu como o do hospital em que Charlie estava. Seu coração gelou.

Ele se vestiu rapidamente e pegou seu carro, seu cérebro dividido em duas possibilidades: a que o faria ficar dias dentro de casa, e a que o faria sorrir pelo resto da vida.


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