Zugzwang escrita por MB


Capítulo 26
Capitulo 26




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Spencer segurava o computador, ignorando os pedidos para parar de ver aquilo. Charlie estava deitada na cama, e apesar de tudo, sua aparência estava um pouco melhor. Conseguia mexer as pernas, mas não se levantar. Ela murmurava alguma música e Reid se perguntou por que nunca ouvira ela falando ou cantando algo em francês, como estava fazendo. Ele poderia ouvi-la por horas, caso não fosse o homem, o que eles não tinham uma pista de quem era, parado, praticamente a obrigando a cantar.

Je creuserai la terre jusqu'après ma mort pour couvrir ton corps d'or et de lumière. – ela estava fora do ritmo e sua voz estava falha, rouca. Spencer conseguiu traduzir, e aquilo o deixou mais tenso: "eu atravessarei a terra até próximo à morte, para cobrir teu corpo de ouro e de luz".

Ela parou e Spencer abaixou a tela, com os olhos encharcados, quando o homem se deitou atrás dela, na terceira vez naquele dia.

— O que sabemos sobre ele? – Spencer se levantou e olhou para a sua equipe.

— Provavelmente tem um emprego de meio período. – JJ disse.

— Desempregado. – Spencer a corrigiu. – Se não, como passaria quase vinte e quatro horas a observando?

— Ele não é um medico. – Blake descartou a possibilidade que havia pensado. Se fosse, faria sentindo conseguir ficar perto dela o tempo todo, mas se lembrou dele falando “você é a médica aqui”.

— Como tem dinheiro para comprar esses equipamentos? – Hotch perguntou, se referindo à tecnologia que usou para despistar sua real localização.

— Empréstimos ou uma boa economia. – Morgan concordou com Spencer.

— Uma família rica, talvez. – Blake balançou a cabeça, também concordando com o argumento dele.

— O pai dela falava sobre as filhas. – Spencer disse se lembrando das cartas. – O suspeito criou uma fantasia, a doença está relacionada a esquizofrenia. Ex-presidiários?

— Ou policiais. – Rossi completou o pensamento.

— Ele é metódico e organizado, parecia que tinha uma programação com o que fazia... Falava com ela. – JJ se corrigiu rapidamente. – Garcia, cruze os nomes das pessoas que estavam no mesmo presídio que o pai dela, funcionários e os presos, com quem fez algum tratamento ligado a TOC e outras síndromes, grupos de apoio, etc. – Garcia começou a digitar.

— Qual o nome do pai dela? – ela perguntou para Spencer.

— Alain Beaumont. Os avós dela por parte de pai eram franceses. – ele explicou.

— Charlotte Beaumont. – JJ sorriu.

— Charlotte Beaumont Reid. – Morgan cutucou o braço de Reid, fazendo-o sorrir um pouco.

— Nada, senhores. – disse com uma voz pesada e Spencer não conseguiu evitar um soluço nervoso.

— Ele não se deu ao trabalho de tampar a boca dela, o que provavelmente significa que não adianta gritar por ajuda. – Rossi pensou alto. – Algum lugar abandonado, porém não distante. Ele não conseguiria ir muito longe e ainda... Ainda ter tempo de deixá-la as ... – ele não precisou terminar de falar.

— Cruze os nomes que tenham relação à família dela, com pessoas com boa economia. – Hotch pediu.

— 137 nomes. 

— Quantos tem imóveis em New Haven, Quântico ou na cidade natal de Charlie?

— 74. – respondeu após um tempo. – Usei nomes de família, também, o suspeito pode não ter usado seu verdadeiro.

— Bem pensado... – Spencer murmurou.

— JJ, ligue para o hospital de New Haven e peça os registros de pacientes masculinos em todas as áreas nos últimos cinco meses. – Hotch disse sério. – Ele não precisa ter necessariamente ter se consultado com ela ou a equipe, pode tê-la visto de longe.

— Vou fazer, senhor, mas é muita coisa. – a loira se levantou e pegou o celular do bolso. – Não tem alguma informação a mais que possa pedir para restringir a busca?

— Temo que não. Não podemos poupar esforços. – ele se levantou. – Reid, acho que você deveria ir para casa.

— O que?! Não. – ele protestou. – Vou ler os registros e separar os suspeitos. Enquanto isso eu vou ler as cartas novamente. Eu vou no banheiro, eu já...

Ele não terminou de falar. Se apoiou em uma das paredes do banheiro e sua mente se voltou para três dias atrás, quando eles estavam voltando de um caso. JJ contava como o primeiro encontro dela com Will foi totalmente horrível, e como achou que nunca haveria outro. Depois de muita pressão, Hotch disse que com Beth, não foi tão ruim, mas sim, haviam coisas que ele não gostaria de lembrar ou de ter feito.

— E você, Pretty Boy? – Morgan chamou a atenção de Spencer, que ainda ria lembrando de como JJ quase caiu quando foi cumprimentar Will. – Como foi seu primeiro encontro com a gênia?

— Ah, não tivemos um encontro de verdade. – ele respondeu naturalmente.

— Desculpa...? – JJ levantou as sobrancelhas.

— Não é necessário. – ele deu de ombros, não entendendo os olhares sobre ele. – Já nos conhecemos.

— Spencer. – Rossi balançou a cabeça, rindo, assim como os outros. - Só leve sua namorada para jantar. - eles chegaram algum tempo depois em Quântico.

Spencer ligou para Charlie quando o resto da equipe estava saindo do prédio. Quando ele a convidou, sorriu quando ela disse “se quiser podemos só pedir uma pizza e ver algum filme”, mas não precisou muito para convencê-la. Quando Charlie chegou no restaurante, usando um vestido azul marinho justo na parte de cima, mas que formava uma saia depois da cintura, não deu tempo para Spencer se levantar e puxar a cadeira, como havia planejado. Ele levantou o olhar da caixinha preta de veludo que segurava quando a ouviu falando.

— Prazer, Charlie. – ela brincou. Achou fofo quando, no telefone, ele explicara que nunca tiveram um encontro de verdade.

— Ah, olá, oi. – ele riu. – Spencer.

— Prazer em conhecê-lo. – ela sorriu mais e, sem perceber, arrumou uma vela que estava no canto da mesa, incomodada de que não estava alinhada com a flor ao lado. Spencer sorriu ao ver aquilo, pensando que ela não acharia estranho se soubesse que ele havia feito a mesma coisa minutos atrás. Ele entregou a caixinha para Charlie.

— Garcia me ajudou a escolher. – disse tímido quando ela pegou, com os olhos arregalados e a boca aberta em um sorriso surpreso.

— Spence! Achei que era só... Eu não comprei nada. – ela falou rápido e sorriu. – Muito obrigada...!

A feição dela quando viu a pulseira prata com algumas pedras não saia da mente de Spencer, que agora tentava segurar mais as lágrimas. E como ela sussurrou “eu te amo tanto” depois, o fazia se sentir mais culpado.

JJ entrou no banheiro sem se importar de ser o masculino e encontrou Spencer olhando para o nada, respirando fundo.

— Eu me lembro de tudo. – ele murmurou quando a loira o abraçou. - Quando eu a vi pela primeira vez... Ela estava chorando por causa da irmã e esse cara vai colocar na cabeça dela que Frances está viva, depois vai mat...

— Shh, Spence... – JJ não sabia o que fazer, mas segurava as próprias lágrimas.

— Sabe quando você está tendo um pesadelo e depois que acorda, você percebe que nada era real, e volta a dormir tranquilamente?... JJ, não importa quanto tempo passe, isso ainda vai ser real...

— Reid. - Morgan o chamou, mas depois ficou desconfortável quando o viu chorando daquele jeito. – Acho que temos um nome.


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Notas finais do capítulo

(a música que a Charlie canta é Ne Me Quitte Pas, Jacques Brel, escutem é mto boa ehehe)
O que acharam desse cap?



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