Zugzwang escrita por MB


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por todos os comentários ♥
Contém um pouco de fofura e drama:



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Ela estava dormindo com a coberta quase em seu queixo. Respirava profundamente e não acordou depois, o que surpreendeu Spencer. Ele não conseguiu dormir depois daquilo. Foi um beijo curto e calmo, mas ele conseguiu colocar parte do que sentia por ela para fora. Percebeu, também, que os olhos dela brilharam por um tempo e um pequeno sorriso ameaçou a se formar antes de ela passar uma das mãos dele em volta de seu corpo e se deitar novamente, com o rosto próximo ao dele. Em poucos minutos ela estava dormindo novamente.

Faltavam poucos minutos para o despertador dela começar a tocar, avisando que logo deveria estar no hospital. Spencer não queria que isso acontecesse. Poderia ficar ali por horas. As pernas de Charlie estavam encolhidas e seu rosto agora estava um pouco mais abaixo do de Spencer, que a abraçava como se fosse um escudo, protegendo-a de qualquer coisa. Passava uma das mãos delicadamente pelos cabelos dela, colocando para longe de seu rosto, que parecia tão em paz naquele momento.

Finalmente poderia estar acontecendo, pensou. Achara alguém que se sentia da mesma maneira por ele e poderia ser feliz, sem se preocupar. Mas as cartas que ela recebia voltaram a mente dele e sentiu como se estivesse sendo socado no estômago. Não deixaria nada acontecer com ela. O autor das mensagens tinha ciúmes deles, obviamente. Spencer já estava tentando procurar quem era, com os recursos que conseguia e sem deixar ninguém saber o que fazia. Não seria agora que um psicopata acabaria com a felicidade dele.

Cinco minutos para o despertador tocar, mas Charlie já começava a se mexer lentamente, saindo da zona que ficava entre a consciência e o sonho. Abriu os olhos devagar e sentiu o toque quente de Spencer. Antes de olhar para ele, foi para mais perto, querendo sentir que não era um sonho e que finalmente havia o beijado - enquanto ele não estava bêbado, ao menos. Esfregou os olhos e levantou o olhar, ficando com o rosto na mesma altura que o dele.

— Bom dia. - ele sussurrou sorrindo.

— Oi. - respondeu no mesmo tom, sentindo seu coração batendo mais rápido e mais forte. Estava tão silencioso que ela conseguiu ouvir o dele também. Seus lábios estavam quase há um milímetro de distância, mas não se beijaram, como se tivessem medo da reação do outro, mesmo sabendo que os dois queriam a mesma coisa. Olharam-se nos olhos e conseguiram sentir o toque macio. 

O histórico de Spencer não era um dos melhores assim como o de Charlie. Eles não paravam de pensar nas mensagens e tinham medo do outro se machucar.

Então ela fechou os olhos e pressionou verdadeiramente seus lábios contra os dele. Ele retribuiu segurando o rosto dela, com a mesma calmaria apaixonada.

Afastaram-se depois de algum tempo e Charlie demorou um pouco para abrir os olhos, como se soubesse que aquele momento não duraria muito, e só queria aproveitar. Quando os abriu, encontrou o olhar receoso de Spencer, que ainda acariciava seu rosto. 

— O que...? - perguntou receoso. Ela maneou a cabeça e sorriu, finalmente entendendo de verdade a expressão “borboletas no estômago”, que naquele momento pareciam estar subindo por sua garganta.

— Nada, só... - ela deu de ombros, espantando a ideia que a atormentou alguns segundos antes de dormir. - Estou pensando muito.

— E isso é bom? - Charlie sorriu mais ou perceber que ele estava envergonhado. 

— Nesse caso não. - respondeu por fim, e o beijou mais uma vez, mais rapidamente, querendo espantar a ideia de que alguém faria algo com qualquer um dos dois.

Spencer se surpreendeu, mas se deixou ser levado, deixando seu rosto acima do dela, com as mãos apoiadas na cama, cada uma em um lado do corpo de Charlie. Ela segurou o rosto dele e sorriu ao ver os olhos dele que há alguns segundos pareciam nervosos e receosos, mas agora tinha tudo menos isso. Entrelaçou seus pés e juntou seus lábios novamente, não achando que conseguiria mais ficar longe dele.

— Você...? - ele começou, mas parou quando sentiu ela entrelaçando seus dedos.

— Eu...? - ele se virou, voltando a ficar ao lado dela.

— Você quer isso? - perguntou receoso. Ela sorriu minimamente, o Spencer inseguro de volta.

— Você não quer? 

— Eu... - ele engoliu em seco.

— Spencer, foi sempre tão óbvio que eu queria algo a mais.

— Foi?

— Foi. - ela riu ao ver o sorriso nervoso dele.

Ouviram a campainha tocar. Charlie se levantou, Spencer não querendo que ela o fizesse.

Ela olhou para baixo para ver se tinha roupas ao menos descentes. Seu pijama rosa largo estava ótimo. Spencer sorriu ao ver que ela não se importava nem um pouco. Tinham botões mais claros na blusa, que ela deixava fechado até o último, com medo de passar frio. Ele se levantou e foi atrás dela.

Não havia ninguém na porta, como ela já havia presenciado tantas vezes e automaticamente olhou para o chão, vendo um envelope em cima do tapete azul, onde se lia “bem vindo”, em letras roxas. Ela pegou e olhou para os lados, mas não havia vestígio de que alguém passara por ali. Nenhum som de passos ou da escada rangendo. Sentindo o mesmo gosto amargo na boca que sentia toda vez que algo assim acontecia, fechou a porta e se virou para Spencer. Ele a olhou com tristeza e a abraçou. Nunca havia presenciado aquilo e o rosto pálido e sem expressão mostrava como ela estava cansada daquilo, ainda com medo evidente.

Ela se soltou após um tempo e fechou as únicas cortinas abertas da casa: a da cozinha e uma fresta da do quarto.

Respirou fundo sentindo o que teve no meio da noite de volta, mas com uma intensidade menor. Andou até Spencer de volta e passou os braços ao redor de seu pescoço.

— Eu não quero ler. – disse baixinho. Ele sentiu seu coração quebrar. Vê-la frágil daquele jeito era uma das coisas que ele mais odiava. 

— Você não precisa. – falou calmamente e pegou sua mão, fazendo-a se sentar ao seu lado. Spencer abriu o envelope totalmente branco e viu uma foto dos dois na cama, ela dormindo e ele acariciando seu rosto. Sentiu uma queimação em seu estômago ao perceber que ela tinha que convier com a ideia de alguém a observando 24hrs por dia. Por isso o apartamento estava cada vez mais escuro. Virou a foto rapidamente ao perceber que ela vira e pegou a carta em si. Era óbvio que o autor estava com pressa e raiva, dado à descuidada caligrafia e percebia que em alguns pontos a tinta estava mais escura, como se ele tivesse pressionado a caneta com mais força sob o papel.

Pelo jeito os dois gostam de brincar com a morte. Você vai pra Quântico, consequentemente eu também. Não posso dizer se vou no mesmo voo que você ou chegarei depois, mas vou estar lá. Talvez tenha até arrumado um lugar.

Não adianta se disfarçar, ou mudar rotas, isso só vai me deixar mais furioso, você sabe.

Um dia com o agente = Um dia a menos para um dos dois.

Doutor, não adianta procurar detalhes sobre minha personalidade em minha escrita. Você sabe que isso é inútil. O fato de você não saber quem sou eu, mas eu saber tudo sobre sua vida é a parte mais divertida. Sabe que se contatar qualquer um de seus agentes – além das duas que já sabem – só irá enfurecer-me mais. Eles rirão de você, Dr.

Charlie, ainda vamos ficar juntos. Eu prometo.

Ele estranhou a mudança repentina de seus sentimentos sobre Charlie, primeiro dizendo que iria a matar, depois fazia promessas como um apaixonado perdido.

Ela leu a carta rapidamente e mantinha seus olhos fechados, percebendo que o motivo pelo qual Spencer estava ali, era porque alguém não o queria ali. Estavam se arriscando.

— Eu não quero que você se machuque. - ele disse após um tempo, percebendo que ela contraia os lábios, tentando segurar as lágrimas. Os medos dela agora eram reais. Talvez conseguisse conviver com o fato de alguém fazendo ameaças sem fundamento, mas não quando isso a impedia de ficar com quem queria. Spencer não precisava ser tão fofo e superprotetor naquele momento.

— Eu não vou. - ela falou abrindo os olhos, encontrando a boca entreaberta de Spencer e fitou seus olhos em seguida, que queriam tanto quanto ela. - Nada vai acontecer, Spencer.

— Não posso deixar você correr esse risco. - ele sentia seu coração se apertar cada vez mais.

— Que risco...? - Charlie colocou sua mão em cima da dele, que estava repousada em seu joelho e eles começaram a brincar com os dedos um do outro. - Ninguém está vendo.

— Como você pode saber? - ele não conseguiu evitar trazê-la para mais perto. Estavam novamente com os rostos a milímetros de distância. - Você me mostrou as fotos que ele tirou enquanto você estava dormindo, quando achava que todas as cortinas estavam fechadas.

Ela o beijou mais uma vez, e não importa o quanto Spencer falasse, nunca a afastava.

— Você está aqui. - ela disse. - Nada pode acontecer.

— Esse cara tinha ciúmes quando nos falávamos por telefone. Eu não quero pensar no que pode...

 – Você mesmo disse que nada iria acontecer. 

— Porque eu não imaginei que você queria algo a mais.

— Spencer, eu te disse que foi sempre tão óbvio que eu queria algo a mais. Mas você me beijou logo em seguida. Foi o jeito que encontrou de me acalmar não foi...? – ele negou com a cabeça. – Eu confundi tudo, não confundi?

— Não. – Spencer olhou em seus olhos. – Eu quero você.

— Você me tem. – disse com a voz mais baixa e eles ficaram em silêncio por um momento.

— Eu não conseguiria viver tranquilamente sabendo que alguém pode estar planejando te machucar porque você está comigo. – ele disse por fim.

— Então eu vou viver assim pra sempre?

— Vou achar ele. – Spencer a abraçou.

— Você já está tentando, Spence. 

— Como...?

— Eu sei. - ela deu um sorriso fraco. – Me desculpe fazer você passar por isso de novo.

— Não se desculpe. Pelo menos você está perto.

— Spence. Eu sei que você perdeu muito, eu também perdi. – ela se afastou não achando que poderia achá-lo mais perfeito naquele momento. - Mas a última coisa que eu quero é perder você. Eu sei que... Meu Deus, eu estou apaixonada por você. Eu sei que você não quer... Não quer que tudo se repita, mas eu não quero não conseguir ficar com quem eu... Spencer, eu...

— Eu te disse, lembra? Você não vai me perder.

~*~

Reid entrou na delegacia, onde Everett já estava na sala de interrogatório. Rossi e Morgan estavam à frente dele, enquanto um sorriso debochado estava estampado em seu rosto.

— Tudo bem? - JJ perguntou quando o viu entrando na sala. Blake, Hotch e ela observando o comportamento de John. Spencer assentiu.

— O que conseguiram? – perguntou depois de fechar a porta trás de si.

— Nada. - ela disse se voltando para o vidro. - Não teve reação nenhuma quando eles comentaram sobre a mãe ou filha.

— O que eles disseram?

JJ iria responder quando Everett soltou uma risada irônica e encarou o espelho, onde só conseguia ver seu reflexo, mas sabia que o resto da equipe estava lá.

— Estava esperando ele chegar. – John disse e cruzou os braços, se referindo a Spencer. Olhou para Rossi e Morgan e levantou as sobrancelhas, como dizendo “continuem”.

Eles se entreolharam estranhando.

— O que fez com as crianças? – Derek perguntou por fim.

— O que mereciam. – ele deu de ombros.

— Onde elas estão?

— Não será assim tão fácil, vocês sabem.

— Everett... – Rossi começou, achando que se não fizesse perguntas tão diretas, talvez chegasse a algum lugar aos poucos. – Por que as sequestrou?

— Elas são monstros, assim como a mãe do “gênio” que vocês mantém na equipe. - Morgan e Rossi se endireitaram em suas cadeiras. Os outros agentes olharam com piedade para Reid, que continuou olhando para o vidro. 

— Spencer... – Hotch começou para ele maneou a cabeça, pedindo para ele para de falar.

— Ele está vendo isso, não está? – Everett pensou em voz alta. - Diga que se o gene da esquizofrenia não se manifestou nele, vai passar pro filho que tiver com a doutora. - ele fingiu surpresa. - Ah, esqueci, nem se beijar podem porque tem um obcecado que não deixa ninguém chegar perto dela... - ele disse olhando para o vidro falso. Blake e JJ se olharam, sabendo que eram as únicas que sabiam das ameaças, até aquele momento pelo menos. – Reid, já recebeu uma ameaça? Ou só sua namoradinha? 

Eles tentaram chamar Spencer, mas ele abriu a porta da sala e ficou em pé entre Morgan e Rossi que se assustaram com a reação dele.

— Escuta, seu doente filho da mãe, eu não vejo outro motivo para você ter tenta raiva de pessoas com problemas, a não ser o fato de sua mãe e filha terem. - Spencer disse com raiva que nenhum dos agentes nunca haviam visto. Everett continuou sentado e eles perceberam que Reid havia achado o ponto em que ele se abalava. - Ela te abandonou, não foi? Depois voltou algum tempo depois como se nada houvesse acontecido e você não entendeu, porque é tão doente quanto qualquer uma das duas, mas no pior sentido que possa imaginar. 

— Reid... - Rossi o chamou, mas Spencer continuou falando.

— Você cuidou dela, mesmo não entendendo, porque seu pequeno cérebro não consegue compreender que essas pessoas não assim por escolha, ao contrário de você. Depois se casou e pensou que estaria livre da mulher que te criou, mesmo com tantos problemas que nem ela compreendia. Jogou ela em um hospital e teve uma filha, que não escapou da doença que a vó lhe passou.

John estava tremendo de raiva.

— Depois a matou, em seguida sua esposa. – Reid continuou, com uma das mãos apoiadas na mesa de metal. - Você tentou suicídio, mas é tão incompetente que nem isso conseguiu fazer com sucesso. Você ainda tem grandes chances de começar com os sintomas, John. Vai morrer como a última pessoa que quer ser no mundo e não tem mais nada a perder. – ele parou de falar por um tempo para ele digerir as palavras. - Onde estão as crianças? - ele olhou no fundo dos olhos encharcados de Everett. 

— Vocês nunca vão descobrir.

— Você morou com a sua mãe em uma casa que te marcou mais. - Reid disse ainda com o sangue subindo a cabeça. - Prováveis chances de estarem lá. Não quer que elas percebam quanto trabalho dão? O único jeito de saberem é quando elas mesmas tiverem que se criar.

— Parabéns! - Everett gritou e se levantou, com as algemas ainda nos pulos. - Parabéns, Dr. Reid. - o tom irônico fez Spencer ficar com mais raiva.

— E onde é essa casa?

— É tão esperto, por que não...?!

— Interior, não é? Uma das mais simples? – Reid o interrompeu e sua reação só o fez confirmar seu argumento. – Muito obrigado. - ele falou e se virou para sair da sala.

— Vai procurar sua namorada. - John falou com tanta calma que Spencer se virou para ele, mas voltou a andar para fora da sala. Everett começou a gritar para ele ouvir. – Sempre muito azar, não é?! Elas sempre morrem por sua causa!


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam?



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