Zugzwang escrita por MB


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que estão acompanhando e comentando!
Espero que gostem:



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     - O que sabemos sobre Everett? - todos estavam em uma sala do hospital, praticamente vazia se comparada com as outras à volta, que eles conseguiam ver por conta das portas de vidro. Hotch, Rossi, Morgan e Reid estavam na mesa redonda mais ao centro da sala, enquanto Blake e JJ estavam sentadas nas poltronas ao fim da sala, à frente da janela. Reid lia os artigos sobre ele rapidamente.

   - Foi criado pela mãe e não há o nome do pai em nenhum documento. Se casou com vinte e dois anos, teve uma filha chamada Hayley, e foi preso por dois meses por suspeitas de ter matado a filha e a mulher, mas não haviam provas o suficiente. Isso em 2010.

     JJ fez uma careta, assim como o próprio Spencer quando passou as informações.

     - O que fez esse tempo em que estava solto? - Rossi olhou para o computador, onde Garcia digitava rapidamente.

     - Em 2011 arranjou um emprego como entregador, mas se demitiu em 2013 por "não achar o salário suficiente para as contas" e duas semanas depois, começou a trabalhar em uma loja de roupas como caixa. - ela contou. 

     - Algum tipo de reclamação em qualquer um desses empregos? - Morgan perguntou.

     - Fui mais rápida, trovão de chocolate, e já pesquisei. - ele sorriu. – Não, nada. Inclusive foi funcionário do mês algumas vezes.

     - E sobre as crianças? - Blake se levantou e fechou as persianas, incomodada com os olhares curiosos que recebiam dos pacientes, enfermeiras e médicos que passavam. - Algo em comum...?

     - Nada muito relevante. Dez mães deram queixa do desaparecimento e o modo como foram sequestradas diz que foi o mesmo cara: todas as mães notaram a ausência dos filhos da casa quando voltaram do trabalho. - ela disse.

     - Elas ficavam sozinhas? - Reid franziu as sobrancelhas.

     - Não, com as babás, que afirmam ter ido ao banheiro, ou tomar água, ou qualquer coisa do tipo. "Me virei por um segundo". - Garcia fez aspas. - Estou passando a lista de todas as crianças para os celulares de vocês e Reid, pra você, como documento pronto para impressão. - ele sorriu. - As cinco primeiras já foram encontradas. Em ordem: Emma, seis anos, Rachel, quatro, William, quatro, Maggie, oito e Samuel, nove.

     Reid já estava com as imagens em mão, e exatamente como os outros, não disfarçou o desconforto ao ver as fotos usadas para divulgar o desaparecimento das crianças sorrindo com os pais, e em seguida o choque de vê-las mortas, com os olhos abertos e colocadas sentadas em bancos de parques.

     - Etnias diferentes, alturas, aparência física, classe social. - Hotch maneou a cabeça. - Não vejo semelhança.

     - Personalidade. - supôs Rossi. 

     - Blake, JJ, falem com as famílias de Emma, Rachel e Maggie. - elas assentiram e se levantaram, verificando os endereços. - Morgan e Reid com as famílias de William e Samuel. Eu e Rossi vamos observar o comportamento de Everett. Garcia, pode procurar mais informações das crianças, das ainda desaparecidas também?

     - Sim, senhor. Câmbio e desligo. - a tela do computador ficou preta e cada um foi para seu determinando lugar.

     Reid e Morgan voltarem antes de JJ e Blake. Foram até o quarto onde Everett estava apagado por conta da cirurgia que acabara de fazer e Rossi falava com Garcia pelo telefone.

     - Hotch. - Spencer o chamou. O agente se virou com a feição seria. - Os pais das crianças afirmam que William e Samuel eram como qualquer outra, mas os colegas a professores de William o descreveram com alguns sintomas esquizofrênicos, enquanto os conhecidos de Samuel, com sintomas autistas.

     - Exatamente como com Emma, Rachel e Maggie. - eles ouviram a voz de Blake. - Pais que se recusam a ver a verdade. - foi a conexão que ela supôs.

     - Everett não tem nenhum dessas doenças. - Morgan deu de ombros. - Então qual o fator para escolher crianças assim?

     - Garcia diz que a mãe de Everett às vezes desaparecia por um ou dois dias quando ele era pequeno. - Rossi se juntou a eles.

     - Então a mãe dele era esquizofrênica ou autista? - Morgan perguntou com cautela, não querendo ofender Reid. – Por isso tem raiva de pessoas com as mesmas doenças.

     - É provável. - Reid finalmente falou. - Não há registros de tratamentos dessas doenças?

     - Ela diz que não. - Rossi respondeu.

     - Reid e Blake, falem com o diretor do hospital, Dr. Lawrence. - Hotch discava o número de Garcia. - Vejam quais as previsões para podemos levar Everett para a delegacia, para podermos interrogá-lo. Qualquer assunto sobre ele, pediram para falarmos diretamente com o diretor. - ele informou aos outros e se afastou quando Penelope atendeu.

     Spencer e Blake estavam andando até a sala o diretor quando ele viu Charlie em uma das salas.

     Ela estava lendo rapidamente o livro. Ele olhou para Blake e disse que já a acompanhava, mas ela parou fora do quarto quando uma enfermeira começou a lhe perguntar sobre o caso.

     - Charlie...? - ele a chamou, preocupado, mas ela só tomou mais um gole de energético direto da latinha. Estava com a mesma roupa do dia anterior e ele soube que ela não havia ido pra casa. - O que você está fazendo?

     - Lendo. - respondeu após um tempo e engoliu em seco, ainda sem tirar os olhos do livro. A cortina atrás dela estava aberta, revelando que era mais tarde do que ele achava. - Eu não sabia qual era o diagnóstico de uma paciente hoje de manhã.

     Charlie fechou o livro e passou por ele, deixando o que acabara de ler na prateleira e pegou outro, voltando para a mesa em seguida. 

   - Isso é normal. - Spencer se aproximou dela.

     - Não, não é. - ela maneou a cabeça. - A criança poderia ter morrido e eu não sabia o que ela tinha. E sabem o que era? Mielite transversa.

     - Charlie, você não precisa saber de tudo.

     - Spencer. - ela parou e olhou para cima. Ele ficou preocupado, Charlie quase nunca usava seu nome em um tom tão sério. - Como você se sente quando pensa em uma teoria errada, ou não pensa em algo óbvio sobre um suspeito ou sei lá? Além do mais, você é um gênio.

     - Por que está se comparando comigo...?

     - Porque eu não sou inteligente o suficiente. Com 29 anos Andreas Vesalius descobriu a Anatomia Moderna. Que merda eu estou fazendo com 24?

     Ela se levantou e abriu uma das gavetas ao lado da mesa. Tirou de lá um pote laranja e colocou uma pílula branca na mão, que engoliu sem ajuda de água.

     - Pra que isso serve? - Spencer perguntou preocupado.

     - Enjoo. - ela respondeu um tempo depois, sem olhar nos olhos dele e sem se importar que ele sabia que era mentira, só saiu da sala.

   - Charlie. – Spencer a chamou de novo e dessa vez ela o olhou nos olhos. - O que você quer dizer com "não sou inteligente o suficiente?", olhe onde você está.

     - Eu não estou falando só de trabalho, Spencer. – ele percebeu que a mudança de comportamento era estresse e havia uma ponta de tristeza nos olhos dela. - Tem certeza que seu QI é de 187?

    Spencer ficou a encarando por um momento, analisando seu comportamento e ela sabia que ele fazia seu perfil. Então Robert chegou e passou o braço pelos ombros de Charlie.

   - Vamos jantar?

   - Não, eu... Estamos responsáveis pelo cara que matou as crianças e... - ela começou falando rápido, mas olhou para baixo por um tempo e respirou. - Vamos. Sabe, faz tempo que não como hambúrguer.

    - Sei desejo é uma ordem. - ele riu, mas Blake percebeu que o sorriso de Charlie era forçado demais. Spencer revirou os olhos e saiu da sala, disfarçando para a outra agente.

    - Preciso de um mapa daqui. – ele falou. – Fala com o diretor sozinha?

     Ela assentiu e Reid se juntou à Hotch e Rossi, que estavam de volta à sala de mais cedo.

     - A família é muito rica. – ele ouviu a voz de Garcia antes de fechar a porta. - Mais de trinta imóveis só por essa região.

     - Algum abandonado? – perguntou.

     - Quase todos. – ela suspirou.

     - Não podemos vasculhar todos. – Hotch disse com pesar.

     - É possível dizer qual desses a família viveu? – Rossi questionou.

     - Quase todos, novamente.

     - Na idade entre oito e quinze anos, é quando as crianças se apegam mais aos lares. – Spencer se sentou em uma das cadeiras.

     - Nesse período ele viveu em quatro casas. – ela respondeu rapidamente depois de digitar.

     - De onde vem o dinheiro? – Hotch arrumou a tela do notebook.

     - Herança dos avós, que tinham uma empresa. – Garcia disse após digitar. - Acabou não indo pra frente, mas a mãe não precisou trabalhar. Antes de ser preso, esse dinheiro acabou. Gastou em hotéis, algumas viagens e coisas assim.

     Eles continuaram discutindo as possibilidades, mas não chegaram a muito lugar.

     Charlie voltara da janta e cruzou com os agentes uma ou duas vezes, mas estava sempre focada no trabalho e só parava para conversar quando eles questionavam algum comportamento médico de Everett. A equipe da UAC estanhou que Spencer e Charlie não estavam grudados o tempo inteiro, como acharam que estariam. Quando se cruzavam, mal olhavam um para o outro e a única vez que Charlie disse o nome dele até mais tarde naquele dia, foi quando uma das enfermeiras perguntou o nome do “bonitinho de cabelo bagunçado”. Enquanto Spencer estava em uma sala com sua equipe, Charlie estava em do outro lado do corredor, porém mais a frente.

     Haviam dois momentos em que ela odiava as portas transparentes do hospital: quando um paciente estava passando mal e todos os olhares ficavam sobre os médicos que tentavam ajudar e quando um paciente morria e todos os olhares ficavam disfarçados sobre a família. 

     Naquela noite ela achou outro motivo. De tempos e tempos ela via as equipes se olhando, analisando os trabalhos diferentes de áreas diferentes um do outro.

     Ela discutia com a sua naquele momento.

     - Ele tem problemas psicológicos, isso a gente sabe. – ela analisava e todos assentiam. – Temos duas possibilidades.

     - A dupla personalidade é a mais provável. – Rob comentou e Kate e Adam, as outras duas pessoas da equipe, concordaram. – Charlie, você consegue ver a ficha dele? A do FBI, temos informações diferentes, vai ver algo ajuda.

     Ela assentiu e deu exatos dez passos para atravessar o corredor estreito, e odiou cada um deles. Bateu levemente na porta e a abriu.

     - Desculpem, mas tem uma cópia da ficha dele? – perguntou, sem entrar na sala, com uma das mãos no bolso do jaleco.

     - Achei que tivessem uma. – Morgan procurou na montureira de papel.

     - Temos, mas as informações sobre outros crimes que vocês têm, pode ajudar. Sabe, assim podemos saber quais os outros problemas psicológicos. – ela respondeu e teve que entrar na sala para pegar o papel que Derek lhe esticou. Ficou ao lado de Blake e Spencer para conseguir pegar a folha do outro lado da mesa.

— Muito obrigada. – ela falou quase aliviada quando leu rapidamente o que havia e saiu da sala, fechando a porta atrás de si. Ninguém perguntou nada a Spencer, percebendo como eles haviam praticamente ignorado uns aos outros. Eles a viram entrando na outra sala e entregou para Kate o papel que se levantou. A ruiva, três anos mais velha que Charlie, pegou um quadro branco e começou a anotar palavras que nenhum dos agentes da UAC, além de Spencer, haviam visto. Os médicos argumentavam e pegavam livros da estante que havia na sala para servir de argumento. Depois de vinte minutos, Adam, Kate e Robert saíram da sala e o som ficou menos abafado.

     - ... mas ele não tem só isso. – Charlie continuou, ainda lá dento. - Vocês não perceberam ele tremendo quando eu tirei sangue?

     - Deveria ser de nervosismo, Charlie. Ficamos esse tempo discutindo seu argumento. – Kate sorriu, sabendo que a amiga não desistiria tão fácil.

     - Pode ter sido alguma reação do medicamento, gênia. – Robert disse o apelido em tom carinhoso e os três começaram a caminhar até o elevador, enquanto Charlie folheava um livro gigante de capa branca, passando os olhos rapidamente pelas palavras.

     Blake se levantou do seu lugar e abriu a porta. Os médicos estavam andando pelo corredor, de costas para os agentes, que só viam quatro jalecos brancos.

     - Com licença? – ela chamou e os três se viraram. – O diagnóstico de Everett? Sabem quando poderemos encaminhá-lo para a delegacia?

     - Amanhã de manhã – Adam respondeu. Ele era quase da altura de Rob, mas loiro de olhos verdes. O olhar de Spencer caiu sobre Kate. – Precisamos fazer alguns exames para confirmar dois distúrbios psicológicos, mais para fins formais necessários.

     - E quando irão fazer? – Reid perguntou.

     - Agora. – Charlie respondeu, saindo da sala e segurou o livro ao lado do corpo.

     - E o que acham...?

     - Aquelas dores musculares que teve hoje de manhã, antes da cirurgia, não são normais, não naquela intensidade, pelo menos. – ela o interrompeu. – Fizemos exames para ver isso e não havia nada errado, fisicamente, mas men...

     - E mentalmente?

     - Pode esperar, Dr. Reid? – Spencer não percebeu que de um pequeno passo para frente, assim como Charlie. Os dois claramente irritados. - As emoções, principalmente medo, dúvida, mágoa e remorso podem desencadear sintomas físicos. Dores musculares são a forma mais simples de o corpo manifestar que algo está errado com a mente.

     - O modo como ele executa os crimes não condiz com remorso e como ele agiu não demonstra medo, Dra. West. – ele respondeu no mesmo tom.

     - Os sintomas apresentados mostram uma provável chance de dupla personalidade. Ele tomou remédios para depressão e ansiedade, e não se lembra nem do que comeu na noite passada. Por isso iremos pedir testes físicos, como raio X e alguns mais complexos de sangue e então o encaminharemos para um psicólogo e psiquiatra.

     - Dra. West, leu a ficha? Ele via um psicólogo. 

     - Para tratar depressão, Dr. Reid. A dupla personalidade nunca foi uma opção, dessa vez o especialista vai prestar mais atenção nos sintomas desse transtorno. 

     Eles ficaram se encarando sérios por dez segundos antes de Robert tossir e Charlie soltou o ar que não percebeu que segurava.

     - Quando tivermos a confirmação iremos passar para vocês, juntamente com cópias dos resultados dos exames. Se quiserem pegar de manhã, estarão na nossa outra sala. - Charlie falou para ele e deu meia volta, ainda com as mãos no bolso e andou na direção contrária das pessoas da sua equipe, descendo pelas escadas. Spencer sabia que se ela tivesse a opção, não usaria elevadores.

     Reid se virou um tempo depois.

     - O que aconteceu com vocês? – JJ perguntou e Spencer só negou com a cabeça. 

     - Nada, só... – ele franziu as sobrancelhas e voltou para a sala, sabendo que ela não iria se dar uma folga até terminar com todos os pacientes com casos mais sérios que estava tratando, ou até não aguentar mais a pressão.

  


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentem o que acham que pode ser mudado e o que gostariam de ver ao decorrer da história!
Até o próximo!



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