Zugzwang escrita por MB


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo curtinho, espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/662472/chapter/10

A equipe estava no elevador. Comentavam sobre como uma simples mentira - mesmo que com boas intenções - pode desencadear ações que inesperadas, como o caso de Kutner. Spencer tagarelava sobre como ninguém vive sem mentir, já que é como um reflexo do cérebro.

– Em 1997, o psicólogo Gerald Jellison ouviu conversas diárias de 20 pessoas e percebeu que mesmo os participantes mais sinceros contaram uma mentira a cada 8 minutos, em média. Normalmente são para procurar justificativas para comportamentos que achamos que os outros poderiam julgar inadequados, mas o caso de Kutner é diferente, já que se trata de uma doença que já só se agravou por conta...

– Reid. - Morgan o guiou para fora do elevador, empurrando-o pelo ombro. - Depois você discute essas coisas com a Charlie, ok?

Garcia saiu da sala ao encontro deles, segurando duas caixas de pizza e o som de seus saltos batendo rapidamente no chão era o que mais se ouvia.

– Imaginei que merecessem um prêmio por terminar esse caso tão rápido. - ela sorriu e todos fizeram a mesma coisa, animados e morrendo de fome. Garcia deu meia volta e colocou as caixas na mesa de Reid, que era a mais próxima dali. Os outros agentes puxaram suas cadeiras e se sentaram em volta da mesa, não esperando muito tempo para abrirem as caixas e começarem a comer. - E do que vocês vão se vestir para a festa?

– Homem de terno. – não ficaram tão surpresos quando Hotch falou.

– Qual é, Hotch. - Reid engoliu um pedaço de sua pizza antes de falar. - Halloween é uma das festas mais populares, só perde pro Natal...

– É, Spence, a gente ouviu Charlie falando isso. - JJ riu.

– Ah. - ele pareceu um pouco surpreso por não se lembrar disso, mas logo a cena voltou a sua memória. - Mas a questão é, ser outra pessoa por pelo menos um dia!

– Eu não quero ser outra pessoa. - Garcia comentou. - Minhas roupas já são bem coloridas e não preciso de Halloween.

– Não mesmo. - Morgan riu. - Reid, vai do que?

– Quarto Doutor. - ele sorriu.

– De novo essa fantasia? - Penélope resmungou.

– É uma das melhores. - ele se defendeu.

– Reid, garoto. - Rossi colocou a mão no ombro dele. - Eu vi vocês daquele jeito e, apesar de te amar, não use essa roupa.

– Por que? - ele olhou surpreso para o outro agente enquanto os outros riam da reação deles.

– Bom... - ele fingiu pensar – Primeiro: você disse que Charlie viria e acho que ela não vai querer te ver daquele jeito. E segundo: só não use, mesmo. - Dave parecia que suplicava, o que fez JJ e Garcia rirem mais, assim como Morgan.

– É, Reid. - Derek concordou. - Eu não te vi daquele jeito, mas garanto que não era uma das melhores vistas.

– O que? - Spencer falou indignado, porém sorrindo. - Garcia, você gostou, não gostou?

– Eu te adoro, você sabe. - foi o que ela disse depois de morder um pedaço.

– Mas do que vocês vão? - ele resmungou, pensando que usaria a fantasia de qualquer jeito.

– Não acho que as pessoas vão realmente se fantasiar. - JJ disse.

– É claro que vão. Strauss vai de Alice. - Reid respondeu.

– O que?! - Garcia deu um pulo. - Como você sabe disso?

– Ela cruzou comigo e disse que sabe como eu gosto de Halloween, ai ela me falou. Comprou fantasia e tudo... Uma das filhas dela insistiu muito. É por isso que estamos tendo essa festa. - ele deu de ombros.

– Meu Deus! - JJ exclamou e pegou outro pedaço de pizza. - Ok, então estamos ferrados se não nos fantasiarmos.

– Basicamente. - Dave riu. - Vou ser o mesmo que Hotch.

– Morgan deveria ser um pirata. - Garcia comentou e ele piscou para ela, rindo em seguida.

– Sabe que é uma boa ideia, gata?

A equipe continuou conversando e rindo por quase duas horas, até Hotch se levantar ao receber uma mensagem dizendo que Jack estava doente. Todos foram um tempo depois.

–----x-----

Quando Spencer desligou depois de acordar dos pesadelos, Charlie voltara a dormir e não pôde deixar de agradecer por ele ter ligado, já que a acordara de um sonho nada agradável.

Quando ela tinha dez anos seus pais se separaram. Ela e Frances moraram com a mãe nos primeiros seis meses depois do divórcio, mas o trabalho dela começou a exigir demais e mal conseguia sustentar as garotas. As duas mudaram de cidade para morar com o pai. Viveram os dois primeiros anos normalmente, visitando a mãe nos finais de semana, conhecendo algumas namoradas do pai e tendo que aguentá-los discutindo por telefone. Alguns dias depois do aniversário de cinco anos de Frances, o pai das garotas começou a beber mais, ficando mais agressivo e elas não saiam do quarto nos dias em que havia futebol ou UFC passando na TV. Foi quando Charlie fez treze anos que o pai bebeu mais do que costumava.

Spencer ligou para Charlie no momento em que seu cérebro repassava o dia de deu décimo terceiro aniversário: ela descendo as escadas com cuidado, querendo não fazer barulho. O pai gritando com Charlie porque ela interrompeu seu jogo. Ela subindo as escadas correndo, enquanto seu pai tirava o cinto a abria o zíper da calça.

Depois que eles desligaram, Charlie voltou a dormir. Sempre que tinha um sonho bom e acordava, queria que quando voltasse a dormir, ele continuasse, mas isso nunca acontecia. Mas com os pesadelos eram diferentes. Pareciam que continuavam exatamente de um ponto, como um filme que fora pausado.

Ela acordou abafando um grito no travesseiro.

Acendeu a luz rapidamente e olhou em volta de seu quarto, com a respiração mais pesada.

Seu quarto estava escuro, mesmo com a luz acessa. Em frente à cama de casal, sua escrivaninha estava mais desorganizada que nunca, os livros e papéis quase fazendo uma pilha. A lata redonda de metal que servia de lixo estava quase entupida. Charlie nem amassava mais os papéis, só os jogava de qualquer jeito ali. Na parede do lado esquerdo de sua cama, sua estante de madeira estava pela metade, a maioria dos outros livros estavam espalhados pela casa. Às vezes ela tropeçava em um e colocava no lugar, mas só quando realmente a incomodava. Do seu lado direito, ao lado do criado mudo, a janela estava coberta por uma grossa cortina branca, que tampava qualquer tipo de claridade das luzes da cidade durante a noite. Naquela madrugada ela decidiu abri-la e percebeu que grande parte das pessoas daquela região também estavam acordadas. Claro, pensou, universitários estariam fazendo o que na madrugada de uma sexta-feira?

Ela acendeu as luzes da sala e da cozinha. Encheu uma xícara de café com leite e voltou para a cama, depois de pegar um dos exemplares de O Eu e o Id e Correspondências de Amor e Outras Cartas.

Freud é foda mesmo. A mensagem fez Charlie gelar e seu coração quase parar por um segundo. O número era bloqueado e ela não conseguia enviar uma resposta. Não era Spence, ele não fala assim normalmente, só quando está nervoso, o que não acontece com frequência. Charlie se levantou e fechou a cortina do quarto, assim como todas as outras da casa. Sentou-se no meio da cama, enrolada no edredom branco, e continuou lendo, tomando seu café aos poucos. A vista estava tão linda...

Spence, é você?, ela mandou para o número normal dele.

Ele ainda estava com a equipe, mesmo que a pizza já tivesse acabado.

Eu o que?, ele respondeu, ignorado as piadinhas de Morgan.

Esquece, boa noite. Desculpe te acordar.

Não estava dormindo. O que achou que fui eu?

Nada. Brincadeiras dos veteranos.

Achei que andasse com eles.

Ando, mas eles são assim.

Não vai me falar o que aconteceu?

Falei. Brincadeiras, Spence.

Ela voltou a ler, querendo esquecer o medo constante. Só estava nervosa assim por conta dos sonhos, que realmente a afetavam.

– O que aconteceu, Spence? – JJ perguntou, notando como franzira as sobrancelhas.

– Nada, Charlie disse... – ele guardou o celular no bolso e levantou o olhar para os outros. – Nada.

– Ela vem? – Garcia perguntou e Reid assentiu. – Vai se vestir do que?

– Não sabe direito.

– Reid, vai falar o que aconteceu? – Morgan insistiu.

– Charlie. – ele falou.

– O que tem ela?

– Não sei. Parece meio tensa.

– Mas ela te mandou mensagens. – falou Rossi. – Como pode saber?

– Eu sei. – ele disse simplesmente.

– Vou dar uma de Reid agora, mas têm estudos que mostram que quando você gosta muito de alguém, consegue ouvir a voz dessa pessoa quando lê uma mensagem enviada por ela. – Garcia balançou a cabeça exatamente como Reid faz depois de despejar uma informação. – Você deve gostar mesmo dela, então.

– É, eu gosto. – ele estava perdido nos pensamentos e não fazia ideia do que falava, e os outros agentes percebiam isso, mas não deixariam de implicar com ele.

– Hm, garotão! – foi quando Morgan exclamou que Reid se tocou do que havia dito, mas não adiantaria nada tentar se corrigir. – Ela deve ser incrível por aguentar você.

Ele só sorriu tímido e maneou a cabeça.

– Sobre o que vocês conversam? – Blake perguntou. – Não é possível que passem duas horas falando sobre estatísticas e sei lá o que mais.

– Uma vez passamos. – Spencer falou. – Falamos sobre tudo. Ela me contou sobre Matthew e eu falei sobre Maeve, porque ela diz que quanto mais se fala em algo, mais normal a situação soa. Charlie não se parece mais tanto com Maeve e eu acho que isso é uma coisa boa. Ela me contou sobre o pai dela e eu falei sobre a minha mãe, o que foi ótimo, porque Charlie não viu problema no fato de ela ter esquizofrenia, já que o primo dela também tem. Falo sobre os casos e ela, sem perceber, analisa a psique dos suspeitos. – ele não percebeu que sorriu perdidamente quando falou isso. - E às vezes, antes de eu falar sobre o perfil do assassino, ela tem uma explicação do porquê ele age daquele jeito, porque ela lê Freud. Conversamos por horas e é fácil falar com ela. – Spencer demorou um pouco para entender que havia dito aquilo. – Mas nos conhecemos há dois meses e vinte e três dias e...

Ele parou de falar e percebeu que os outros agentes sorriam, as mulheres principalmente. Olhavam para Spencer como se ele fosse um irmão ou algo do tipo.

– Garoto, é melhor você fazer alguma coisa quando ela chegar. – eles concordaram com Garcia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada pelos acompanhamentos, favoritos e comentários!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Zugzwang" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.