Zugzwang escrita por MB


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/662472/chapter/1

Era um prédio antigo, um daqueles em que um grupo de arquitetos poderiam fazer uma manifestação para não demolirem, por ser muito velho, porém muito bonito. Ficava ao lado de um café e uma livraria, e os carros pretos do FBI pareciam totalmente perdidos naquele cenário. Não podiam negar que aquele lugar era muito Spencer Reid.

Os quatro agentes subiram as escadas e pararam no quinto andar, batendo na porta do apartamento 503 logo em seguida. Ficaram uns cinco minutos analisando o andar e esperando alguém abrir a porta, enquanto Dr. Reid tentava decifrar a música que vinha de dentro do apartamento. O som estava meio abafado, mas conhecia aquele ritmo de algum lugar.

Uma mulher abriu a porta, deixando a música mais clara. Seu cabelo castanho escuro estava meio bagunçado e seus olhos um pouco vermelhos. Seu suéter cinza ia até seu quadril, tampando parte da calça jeans escura.

— Posso ajudar? - perguntou com a voz embargada, não os olhando nos olhos.

— Charlotte Beaumont West? - agente Blake perguntou e mostrou seu distintivo em seguida. - Somos do FBI, precisamos falar sobre a sua irmã.

A garota assentiu com a cabeça e deu passagem para eles passarem. Seus olhos pararam em Reid por um momento. Ele parecida com Matthew...

— Aceitam café? - perguntou fechando a porta em seguida e indo em direção à cozinha. Havia mais xícaras na pia e no escorredor de louças do que pratos. Tinha uma mesinha com algumas banquetas em volta, no meio do cômodo.

— Por favor. - ao contrário dos outros, Spencer precisava muito daquela bebida. A garota sorriu e abriu o armário, tirando de lá duas canecas, e a enchendo completamente com café.

— Sobre a minha irmã...? – Charlotte apontou para a sala, onde os agentes se dirigiram. Havia um sofá marrom, combinando com o raque cheio de livros, DVD's e CD's e um toca discos, que girava um vinil, com a música que Spencer ainda tentava decifrar. Havia um espaço vazio, onde deveria estar uma televisão. Ao lado, uma mesa de madeira de um marrom um pouco mais clara que a do raque. Livros, cadernos e canetas estavam espalhados. A garota deixou a caneca na mesa e tirou a música, envergonhada pelos olhares dos agentes.

— Quando foi a última vez que a viu, Charlotte? - perguntou Morgan, se sentando no sofá e segurando o sorriso pelo olhar de Spencer na garota.

— Me chame de Charlie. – falou rapidamente, odiava seu nome verdadeiro. - Semana passada. - ela respondeu se sentando em uma das cadeiras da mesa de jantar. - Saiu pra ir no shopping com o namorado.

— E esse namorado...? - comentou Reid.

— Um idiota. – Charlie o respondeu. - Frances dizia que não, mas tenho quase certeza que ele era um drogado.

— Por que acha isso? - ele se sentou à frente dela.

— É fácil reconhecer cheiro de maconha. Frances voltava da casa dele com esse cheiro, mas falava que nunca havia usado nada... Acham que ele tem algo a ver com isso?

— Não, dificilmente uma pessoa tão próxima faria algo assim, além do mais, as pessoas já desconfiavam que ele não era uma boa pessoa. - Reid falou rápido e tomou um gole do seu café.

— Quantos anos você tem? - Blake se virou para a garota, após analisar os livros que estavam na prateleira do corredor.

— Vinte e dois.

— E não tem uma TV?

— Só Frances usava, então a vendi.

— Não acha que era ficaria chateada? - a agente testava a moça.

— Se ela vier me assombrar. - comentou com um humor ácido, fazendo Morgan e Reid sorrirem um pouco.

— Não tem TV, mas tem celular e computador... – a agente continuou analisando a casa. – Por que?

Charlie deu de ombros, achando um pouco rude da parte dela. Estavam ali para discutir sua decoração e gostos ou tentar achar o corpo da irmã? Não adiantava negar, ela sabia que sua irmãzinha estava morta.

— Prefiro a internet. – respondeu por fim – Sinto que tenho mais controle das coisas que quero ver ou não.

Ela abaixou os olhos para a xícara, e ficou quieta por um tempo, enquanto os agentes anotavam coisas ou se olhavam, parecendo que conversavam telepaticamente.

— Acham que... Talvez possa ter sido o meu pai? – ela perguntou, eles eram tinham informações, deviam saber tudo sobre a vida dela.

Todos a olharam confusos. Haviam feito o perfil da garota, pesquisado sobre seu passado. Sabiam que morava só com a irmã depois que a mãe morreu e vivam por conta do salário dela como secretaria em alguma empresa que ia depois da faculdade, e da pensão que o pai pagava.

— Por que acha isso? - JJ se aproximou dela, usando seu tom maternal.

— É ele. – Charlie deu de ombros e terminou o café. Spencer sabia que Morgan faria mil piadinhas sobre como os dois eram parecidos. - Ele abusou da Frances, vocês sabem. Não acho difícil que a tenha matado.

Então Reid se lembrou de onde conhecia a música que havia tocado antes. Um de seus sonhos com Maeve. Engoliu em seco e colocou o cabelo atrás da orelha tentando se livrar da onda de tristeza que o invadia naquele momento.

— Qual o nome da música? - ele levantou o olhar para a garota - A que estava tocando quando chegamos.

Sleepwalk. - sua voz saiu como um fio, porém respondeu rapidamente. - Santo & Johnny. '59. - era como se ela recebesse as informações em tópicos, e era assim que as passava.

JJ e Morgan trocaram um olhar confidente, que não passou despercebido por Blake e Spencer, que tentou ajeitar a gravata, deixando-a mais torta.

— E você faz faculdade? - continuou a loira.

— Medicina. Frances ainda estava no segundo grau.

— Sabe... - Spencer tinha o olhar perdido. - Já ouvi esse sobrenome, Beaumont, em um jornal, ou algo assim...

— É... – Charlie concordou e olhou nos olhos do agente por um tempo. - Meu namorado foi morto pelo meu... Ex namorado. Eu dei queixa do desaparecimento dele. - tinha um pingo de vergonha em sua voz.

— Qual o nome dele...? - Blake perguntou.

— Matthew morreu e... Jason o matou.

— Jason foi preso?

— Sim, mas se matou algumas semanas depois.

A agente Blake viu o quadro depois de Spencer. A frase "O amor é nosso verdadeiro destino" estava emoldurada em um quadro atrás da garota. Enquanto os outros faziam mais perguntas a Charlie, Blake puxou Spencer para o corredor, onde ele ficou encantando com os livros dali.

— Você tem que sair daqui.

— Por que?

— Ela se parece muito com Maeve. E pelo visto você se parece muito com o ex dela. - a agente apontou para um porta-retratos na estante. Charlie vestia uma saia xadrez com o mesmo suéter que estava usando, com meia calça preta e uma bota de cano baixo. O homem que a abraçava pela cintura tinha o cabelo preto meio bagunçado, parecido com o de Spencer, porém um pouco mais comprido. Usava um blazer azul marinho meio antigo, junto com uma calça jeans e um All Star preto sujo.

— Esse é o Matthew? - perguntou já sabendo a resposta, mas voltou a pensar no caso.

A agente assentiu com a cabeça. Estavam havendo crimes onde o suspeito sequestrava a irmã mais nova e em seguida, a mais velha, matando as duas. As caçulas haviam sido violentadas sexualmente por pessoas muito próximas, porém as mais velhas haviam escapado desses abusos. Se algo assim aconteceu com Charlie, ela seria a próxima.

JJ e Morgan apareceram no corredor e abriram a porta de um quarto que não parecia pertencer aquela casa: havia muitas cores vivas, uma cama de casal gigante e com cobertores fofos.

— A gente vai ver se acha alguma coisa no quarto da Frances - avisou-os a loira - Algo que a enquadre com as outras vítimas. Charlie pode ser a próxima, se for o mesmo cara.

Blake e Reid voltaram para a sala, onde a garota organizava os cadernos e livros em uma pilha e colocava no canto da mesa.

— Charlie? - Blake começou, cautelosa. - Precisamos saber se o seu pai já... Já tentou fazer com você a mesma coisa que fez com sua irmã.

A garota olhou para eles e abaixou o suéter, como se sentindo envergonhada.

— Tentou. - levantou o olhar para os dois agentes parados a sua frente. - Mas estava bêbado, então eu consegui me trancar no quarto com a minha irmã. Liguei pra minha mãe e ela veio nos buscar. Eu tinha onze anos.

De acordo com as informações que conseguiram, as duas moravam com o pai por conta do trabalho corrido da mãe, mas depois do acontecido, saíram de lá. O pai ficou preso por dois meses e fora atrás das filhas, abusando da mais nova.

— Acham que ele fez isso com ela porque não conseguiu comigo? - seu olhar caiu sobre Spencer, mas não havia tristeza em seus olhos. Tentava se manter firme.

— Achamos que sim. - não havia porque mentir. A garota assentiu, contraindo o maxilar - Mas não achamos que possa ser seu pai quem a matou. Temos informações de que ele não está no estado, não sei se você sabia. Mas nosso suspeito tem características psicológicas diferentes dele, talvez seja alguém se sofreu algo assim ou... - Reid parou de falar e olhou para baixo por um segundo antes de se virar para a garota, que não sorria, mas seu olhar demonstrava algum tipo de empatia pelo agente, pelo modo como ele falava, talvez.

— Como sabem a personalidade do meu pai? - perguntou após um tempo. - Ok, vocês têm dados, mas não conviviam o dia-a-dia com ele.

— Então você quer que seja seu pai? - Blake se aproximou do outro agente.

— Não estou dizendo isso. Estou dizendo que ele tentou fazer aquilo comigo e fez com Frances. Ele sempre foi muito agressivo.

— O suspeito não parece agressivo. Demora um ano exatamente para cada morte. – Blake continuava conversando com Charlie.

— E por que ele não pode assassinar outras pessoas nesse meio tempo, mas com outras características?

— Por que tem tanta convicção que é seu pai?

— Não tenho. - ela negou com a cabeça. - Só estou pensando.

— Então tente parar um pouco. – o tom de Blake não fora grosso, mas era impossível para Charlie parar de pensar.

— E o suspeito? – ela mexia nas mãos, querendo controlar a ansiedade. – Por que ele iria querer Frances ou a mim?

— Ele sequestra irmãs mais novas e sem seguida a mais velha. O perfil de vocês se encaixa no das outras vítimas. – Reid falou.

— Sou a próxima, então? – o tom de Charlie era mais como uma afirmação.

— Por isso precisamos que fique conosco. – Alex olhou rapidamente para a primeira porta do corredor, onde JJ e Morgan analisavam o quarto da mais nova.

— Isso não irá fazê-lo se irritar mais? Procurar outra vítima? O fato de o FBI estar me vigiando? – era o que Charlie havia aprendido enquanto assistia suas séries policiais.

— O suspeito parece muito organizado com suas datas, não acho que ele parará com sua rotina por conta disso, além do fato de que iremos ser discretos. – assegurou-a Spencer. O fato de ele ser extremamente parecido com Matthew fazia uma confusão na cabeça de Charlie. Parte dela queria abraçá-lo, como se estivesse recuperando o tempo perdido, mas outra parte só queria expulsá-lo dali.

Morgan e JJ saíram do quarto de Frances assentindo com a cabeça, dizendo que estava tudo ok.

— Ela era muito diferente de você? – perguntou a loira, se sentando em uma das cadeiras, assim faria Charlie sentir como se estivesse conversando com pessoas mais próximas. Algum tempo depois, todos já estavam sentados em algum lugar, menos Reid, que se apoiava em uma parede ao lado do sofá em que Charlie estava.

— Em alguns aspectos. Música, filme, garotos, roupas. Na verdade, praticamente tudo.

A loira franziu o cenho. O suspeito não parecia tão corajoso ao ponto de raptar alguém em plena luz do dia, em um lugar movimentado como um shopping, talvez ela fora com ele por vontade própria.

— Ela e o namorado estavam brigando muito na época em que ela desapareceu? – perguntou.

— Mais ou menos, se encontraram no shopping para tentaram se resolver. – lembrou-se.

— Talvez eles não tenham se resolvido... – pensou alto, atraindo a atenção dos outros agentes. – Seguiu o suspeito por vontade própria. Deixar o namorado com ciúmes...?

— Ele a seduziu e ela foi com ele, sem parecer algo estranho para as pessoas. – Blake continuou o pensamento.

— E por quais garotos ela se interessava? – perguntou Morgan.

— O tipo dela? – Charlie fez uma pergunta retórica, pensando consigo mesma. – Bad Boys... Jaqueta de couro, moto, óculos escuros, notas baixas, essas coisas... – ela assentiu e se levantou, indo até o quarto da irmã e trazendo um caderno preto. Abriu e mostrou para os agentes algumas fotos que Frances havia colado: Kurt Cobain, Shane West no filme “Um Amor Para Recordar” e outros caras com óculos escuros e cara amarrada.

— Então o suspeito fará a mesma coisa com ela... – Blake falava com os outros agentes como se a garota não estivesse no cômodo. – Quais os lugares que você mais frequenta?

— Faculdade, a biblioteca e a cafeteria aqui do lado. – Spencer não tirava os olhos dela, além de quando Charlie o olhava. Não conseguia entender o porque disso. Talvez ela se parecesse muito com Maeve, mas era muito diferente ao mesmo tempo. Ela fez um rabo de cavalo meio bagunçado e o agente conseguiu analisar seu rosto: os olhos castanhos quase azuis estavam inchados, talvez tivesse passado a noite chorando e suas olheiras estavam começando a ficar um pouco profundas, mas isso não a deixava feia, e não que isso importasse para Spencer. Ele só queria superar Maeve, mas não queria que ela se tornasse uma memória distante. Talvez aquela garota o ajudasse. E talvez ela também precisasse de ajuda.

— Então o cara que seduziu sua irmã vai ser o oposto do que vai tentar o mesmo artifício com você. – filosofou Morgan, pensando que uma sósia de Spencer iria aparecer. – O suspeito provavelmente sabe sua rotina, só a siga normalmente.

— O fato de vocês terem sofrido ou quase abuso na infância e de serem completamente diferentes podem ser um dos métodos que ele vai usar pra se aproximar de você. – Reid gesticulou com as mãos, mas depois as colocou no bolso da calça e olhou para baixo antes de voltar a Charlie. – E uma ter passado por um momento traumático recentemente, também.

Charlie encarou o agente por um tempo, como se estivesse analisando-o. Sentiu aquele nó na garganta se formar novamente quando percebeu que talvez não estivessem passando por essa situação se Matthew não estivesse morto. Ela e a irmã estariam tentando levar as coisas normalmente, como sempre fizeram.

— E então? Quanto tempo faz? – ele perguntou, ignorando os olhares das outras pessoas da equipe.

— Dois meses e alguns dias. – Spencer sabia que ela sabia exatamente quantos dias.

— E como aconteceu?

— Por que quer saber? – Charlie engoliu em seco e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha, mas se deu por vencida quando ele sorriu minimamente, reconfortando-a – Jason sequestrou Matt e matou ele.

— Só isso? – Morgan a olhou. Talvez aquilo fosse importante para o caso.

— Jason ficava me ligando, dizendo que... Que iria tirar uma coisa importante de mim. Mas Matt me mandava mensagens dizendo que estava na casa da mãe dele e que estava tudo bem. – Charlie falou segurando as lágrimas.

— Não faz sentido... – Blake franziu as sobrancelhas. – Por que ele mandaria mensagens com sentidos totalmente opostos?

— Jason queria me fazer sentir culpada. – disse Charlie, baixo. – Mas não importa mais...

— Ela tem razão. – JJ se levantou, parando ao lado dela e sorrindo para Spencer, que tinha o olhar perdido em algum lugar entre o All Star de cano alto da garota e a bota de bico fino da loira. – Temos que focar nesse caso.

— E agora? – perguntou a garota.

— Você tem que vir com a gente. – respondeu Dr. Reid a olhando nos olhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e comentem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Zugzwang" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.