Rediscovering a Dream escrita por Loren


Capítulo 11
Capítulo Dez




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Até chegarem perto o suficiente para enxergar o formato da ilha, já entardecia.

Nenhuma ordem havia sido dada, porém os marujos já se antecipavam em preparar os preparativos, quaisquer fosse a decisão de seus superiores. Estes, inclusive, debatiam as ideias.

—Parece desabitada. Mas se os fidalgos seguirem o nevoeiro para leste, devem ter parado aqui.- presumiu Caspian, observando a praia através de uma luneta.

—Pode ser uma armadilha.- observou Drinian.

—Ou pode conter respostas.- contrariou Edmundo, ansioso por terra firme.- Caspian?

Caspian fechou a luneta e a entregou para Drinian. Não demorou muito a responder. Compartilhava da mesma opinião do mais novo rei.

—Vamos passar a noite na praia. Percorremos a ilha na manhã.- disse e desceu para o convés para deixar os marinheiros enteirados dos próximos passos.

Terminando de falar com Toro e tendo checado o grupo e mantimentos que desceriam com o grupo de majestades, Caspian virou-se a fim de ir para seu camarote e recolher seus equipamentos. Deu de cara com a única cabeleira ruiva do barco e não pôde deixar de sorrir, afinal, era Lúcia. A rainha sempre tinha a habilidade de iluminar o humor ou local que estivesse, era só querer. No entanto, não parecia disposta a isso naquele dia.

—Lúcia, tudo bem?- perguntou com um sorriso e a segurando pelos ombros.

A ruiva ergueu o olhar para o homem e por um segundo apenas o fitou, com os olhos esbugalhados. Em seguida abanou a cabeça e afastou as mãos do rei. Este não impôs resistência, mas estranhou o gesto.

—Sim. Estou procurando o pai de Gael. Não quero que ela desça na ilha até termos certeza que é segura e é melhor que fique com o pai.- explicou sua pressa, sem mirá-lo nos olhos.

—Compreendo.- respondeu o rei, assentindo.- Bem, creio que Senhor Rince está nas dispensas pois...

Ela não o esperou terminar e retirou-se com passos rápidos. Caspian observou a figura esguia sumir abaixo do convés e com o cenho franzido, perguntou-se qual seria a razão de tal estranho comportamento. Certo que conhecera uma menina e agora esta voltara como mais do que isso, mas Lúcia era uma dessas pessoas que não deixaria sua simpatia para trás por ter crescido. Ao menos, ao seu ver. Não que o rei pensasse em má educação dos outros ou coisa do tipo, apenas tinha a impressão de que quando todos cresciam, algo era deixado para trás. Não que tornasse as pessoas más, mas as mudava. Ou as tornava frias, ou grosseiras ou apenas formais demais. Entretanto não imaginava que a ruiva se enquadraria neste grupo, visto que a conhecera e se recordava dela sempre como uma criatura feliz e com uma luz própria. Balançou a cabeça, deduzindo que talvez, apenas um talvez, todos tenham que passar por esta fase.

Chegando em seu quarto e preparando a bolsa de couro com algumas de suas frutas, facas, uma bússola e um frasco de medicamento, pensou mais uma vez no comportamento de Lúcia. E pensando em Lúcia, pensava em Susana. A Pevensie mais velha. A primeira a roubar seu beijo e despertar-lhe sentimentos românticos, como os poucos livros que chegara a ler nesse estilo. Houve algo parecido neste último ato de Lúcia? Não. Mesmo que Susana era mais séria e até mesmo fria, Lúcia não se comportara como ela. Também não se comportara como três anos atrás. A ruiva era a Destemida, afinal e ali, pareceu assustada. Ou fugindo de algo. Poderia ser a Névoa? Talvez a Névoa estivesse perseguindo a ruiva? Fechou a bolsa, decidido a descobrir.

Não que a rainha mais nova não tivesse enfrentado o perigo, mas naquele momento, ele era o rei e era seu dever manter a paz e tranquilidade para seus súditos. Tinha consciência de que a ruiva ainda possuía um nível maior que o seu, no entanto, não importava. Deveria e faria o que achasse que fosse correto. Sabia o quanto Lúcia amava Nárnia, recordando-se de seu comportamento teimoso e determinado a salvar aquela terra e sua gente na última visita. Além do mais, a considerava sua amiga. Uma boa amiga. Descobriria qual era o mal que a afligia e resolveria. Talvez se o rei telmarino tivesse tido em sua vida, algumas mais experiências de amor ou paixão, teria escolhido a manter-se em silêncio.

 

 

 

Desceram do barco, suas majestades, o capitão, o rato, vossa graça, o chato e mais alguns quatro marinheiros. A praia estava deserta e apesar da noite e brisa, não estava tão frio quanto o esperado. Um leve roçar na pele. Caso estivesse sem meias, correria o risco de acordar com a garganta rouca. Do contrário, agradável. Há alguns metros começava uma floresta densa e fechado, com poucas opções de trilha a se seguir. Possivelmente haveriam mais, mas no escuro da noite não havia como ter certeza.

Sem muitas enrolações, cada qual arrumou seus cobertores no chão e preparou-se para dormir. Dividiram as rondas noturnas, começando por dois marinheiros, seguidos de Lúcia, Drinian, marinheiros restantes, Caspian, Edmundo e Irina. Nada de anormal ou interessante ocorreu nas rondas de terceiros. Cada um preocupado com seus próprios problemas, metas ou missões a resolver, cumprir. Falemos do penúltimo. O rapaz dos olhos castanhos levantou-se sem resmungar e conferiu o fecho do cinto da espada, antes de começar a caminhar. Andou em círculos, ao redor dos outros. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Não havia chegado nem na metade de seu turno quando já sentira-se entediado. Geralmente era paciente, mas ali era até então uma terra totalmente nova. Nem mesmo em seu Período de Ouro havia chegado tão longe e estando ali, sua curiosidade, seu maior pecado, o instigava cada vez mais a explorar o desconhecido.

Fitou seu grupo e confirmando que todos dormiam, dirigiu-se para a beira da mata e adentrou-se por uma das trilhas. Não havia som de pássaros ou pisar de folhas. Tudo era o mais completo silêncio. Tão silencioso que chegava a doer os ouvidos com apenas sua respiração. Andar não era mais fácil, pois os galhos acima, tão pertos uns dos outros, impediam com suas folhas a entrada da luz lunar. Após alguns minutos de caminhada, não tendo encontrado nada de interessante e começando a cansar-se, ouviu um barulho. Um pouco distante, mas um barulho. Pôs a mão no cabo da espada e controlou a respiração para não sair ruidosa. Agachou-se e olhou ao redor, deslizando suavemente a espada para fora da bainha.

O som aumentou. Os passos se aproximavam. Seu maxilar e o aperto na espada enrijeceram. Estava vindo por trás de si. Em um minuto, levantou-se e alçou a ponta da espada para seu oponente.

—Edmundo!- seu nome naquela voz o fez relaxar e puxar a espada de volta.

Semicerrou os olhos e graças a um raio de luz, encontrou os olhos verdes. Revirou os olhos e voltou a guardar a arma.

—Irina. O que está fazendo em pé? Não sabe que pode ser perigoso?- ela sorriu de canto.

—Preocupado?- ele engoliu em seco.

—Me preocupo com qualquer criatura viva.- respondeu, de maneira quase infantil, mas não se importou.

Dirigiu os passos de volta ao acampamento, no entanto ao passar ao lado da loira, esta o segurou pelo braço. O aperto era tão forte que por um momento surpreendeu-se que Irina pudesse ter tanta força. Quando subiu os ollhos para seu rosto, no entanto acreditou que ela seria capaz de resbalar a qualquer momento dependendo de seu próximo gesto.

—Edmundo. Por favor.- a voz saiu trêmula.- Vamos conversar.

Ele pensou em soltar-se do aperto e voltar com passos furiosos para o acampamento, mas seria justo? Seria o certo? Os últimos diversos conselhos que tivera retornaram à sua mente e ele apenas fez assentir. Ela o soltou e juntou as mãos, lambendo os lábios, preparando-se para falar. Ele esperou e nesse meio tempo, aproveitou para admirá-la. Continuava mais magra do que se lembrava e no entanto continuava bonita. Irina não era bela mas não era feia. Ela não possuía uma beleza expecional ou diferenciada. Era simples. Eram os cabelos compridos, lisos e loiros. Era um rosto redondo, com o queixo mais pontudo. Os olhos verdes e pequenos, com o nariz pequeno e reto. Era simples. E no entanto havia sido essa mesma simplicidade, de corpo e alma, que havia encantado Edmundo um ano atrás. Suspirou, com um aperto no peito por não conseguir simplesmente abraçá-la ali e beijá-la.

—Eu sinto muito.- ela começou.- Eu realmente sinto muito. Eu não planejei ou esperei por nada do que aconteceu. E se eu pudesse voltar no tempo e evitar tudo o que passou, eu o faria. Pois foi uma promessa e eu falhei. Mas eu não posso negar que... aconteceu. Eu jamais quis machucá-lo, Edmundo. Tu sabe disso.- ele sabia, mas a dor permanecia.- Talvez dizer que três anos é uma justificativa justa ou não, não importa. Eu não consegui com o tempo que passou. Talvez tu entenda, talvez não. Mas tu está de volta.- o fitou com um olhar carinhoso e o interior do rei amoleceu um pouco.- Eu quero fazer certo. Já disse isso e estou decidida. Mas eu também preciso de sua ajuda. Preciso saber se... está disposto.

—Disposto a quê?

—A dar mais uma chance.- ele respirou fundo e desviou o olhar para um ponto qualquer.- Preciso saber o que... sente.

Ele não respondeu. Continuava a fitar uma folha qualquer perdida em outras mil no chão. O que devia dizer? Ele estava disposto? O que sentia? Tantas respostas vinham à mente mas nenhuma se concretizava para chegar na ponta da língua. Por um momento sentiu-se zonzo e mais uma vez não compreendia como em apenas alguns dias, toda a lógica que prezava e cultivava em sua vida não vinha lhe socorrer. Ele a encarou por alguns segundos, antes de respirar fundo e atender ao pedido da loira.

—Irina, eu...

Não terminou naquela hora seu nem mesmo preparado discurso pois um barulho semelhante ao anterior, chamou sua atenção. Não somente a dele mas da garota à sua frente. Os dois aproximaram um do outro, como instinto, e agacharam-se, correndo os olhos ao seu redor. Não viram nada, mas de repente o barulho se repetiu. Dessa vez, mais alto, mais rápido e mais... números? Pareciam mais de uma criatura atravessando aquela área. Perceberam alguns galhos e folhas mexerem-se de leve, mas não conseguiram detectar o contorno de figura alguma. A mente de Edmundo estalou quando o silêncio se instaurou.

—Foram para a praia.

 

 

 

—Parece que trouxeram um porco. - disse uma voz rouca audível, porém invisível, acerca do primo Eustáquio.

A cada passo que tais seres davam, uma pegada gigante se marcava na areia.

—Essa aqui é fêmea.- disse outra voz.

—Ouviram algo?

—Deve ter sido o mar.

—Edmundo, fique parado.- resmungou Irina, o puxando de volta para seu lado.

—Estão em cima de Lúcia.

—Podem estar em cima de todos com as espadas apontadas para suas gargantas. Nós não sabemos porque nem sequer vemos.- ele bufou.

—Se gritarmos e corrermos, podemos acordar os outros e eles irão reagir. São preparados!

—Ah sim, preparados para tudo, até mesmo criaturas invisíveis? E à noite?! Sossegue e espere. Não atacaram ninguém. Devem estar reconhecendo antes de tudo.- deduziu rapidamente e continuou a segurá-lo firme pelo ombro.

Edmundo assentiu a contragosto.

—É a única fêmea. Os outros são machos.- voltou a falar um deles, do outro lado do círculo.

—Esta fêmea sabe ler.- apontou algo ou alguém, folheando o livro de Lúcia.

—Vamos levar ela.- mandou uma das vozes e as outras concordaram em murmúrios.

Em seguida, Lúcia foi levantada, com seus pés a poucos metros do chão. O ato repentino acordou a ruiva e seus olhos esbugalhados mostravam seu espanto e desespero. Sua boca era um enorme buraco sem emitir som algum. Seu corpo voou rapidamente para longe do acampamento, adentrando-se na floresta e sumindo em um borrão. Os dois não precisaram falar entre si para levantarem-se em um pulo e correrem atrás da rainha. O que quer que fosse, era rápido. Não os alcançaram a ponto de estarem lado a lado, mas pela diagonal todavia conseguiram segui-los na direção correta pelos sons pesados dos passos e do rastro de galhos quebrados que as criaturas deixam para trás.

Chegaram em um jardim, com arbustos e árvores bem podados. Se não fosse a situação em que estavam, apreciariam mais devagar o local. Ao chegarem cerca da linha que terminava a floresta, esconderam-se atrás de alguns baixos arbustos e árvores com troncos retorcidos. Lúcia, que já estava sentindo seus pulmões queimarem pela falta de ar, agradeceu quando fora jogada brutamente na grama. Ouviu risadinhas. Pôs-se de pé em um segundo com a adaga em mão, sem grande utilidade, pois a mesma foi retirada da sua mão com o que pareceu um tapa. Tentou, em vão, correr para a floresta mas foi empurrada. Olhou ao seu redor, sem saber exatamente aonde fixar-se. As risadas vinham de todos os lados, mas não havia ninguém ali. Ela podia sentir as presenças, mas jamais havia enfrentado algo do tipo.

—Não tem saída.- disse uma voz.

—É.

—Assustador.

—O que são vocês?!- exclamou a ruiva, soando um pouco nervosa.

—Somos feras horríveis e horripilantes.- respondeu uma voz a direita.

—Se pudesse nos ver, ficaria mesmo apavorada.- completou outra a sua esquerda.

—É, se esqueceu de dizer que também somos muito grandes.

—E o que é que vocês querem?!

—Você vai fazer o que nós mandarmos.

—É, vai sim.

—'Tá na cara.

—Disse muito bem.

Respirou fundo e pôs-se de pé, tentando manter a mente focada.

—Se não?- perguntou.

—Morre.- sua respiração falhou por um instante.

—Morre.- pensou.

—Morre.- uma solução?

—Mas eu não serviria morta para vocês, serviria?

—Eu não tinha pensado nisso.

—É, não tinha.- sorriu de lado, satisfeita consigo.

—Bem pensado. Resolvido, vamos matar seus amigos.

A respiração voltou a falhar, ciente de que o feitiço virara contra o feiticeiro. Deixou cair os ombros e suspirou. O que mais poderia fazer? Não sabia do que eram capazes. Poderia ser um blefe, mas e se não fosse? Era seu irmão, seus amigos e gente. Gente que não possuía nada com isso.

—O que vocês querem de mim?

—Você vai entrar na casa- um empurrão- do Opressor.

—Mas que casa?- indagou, quase rindo ao não ver nada além do jardim.

—Essa aqui.- uma porta invisível foi aberta e dali uma luz amarelada e cálida apareceu.

Enquanto isso, Irina estava tendo dificuldades em manter Edmundo ao seu lado.

—Quer parar?

—Ela vai entrar! Lúcia vai entrar!

—Ela não...

—Ela vai entrar, pois é Lúcia. Nos ameaçaram, então ela vai fazer. Não posso deixá-la ir! O que pode estar lá dentro?!- respondeu irritadiço e se levantando de novo.

A loira, enfurecida, o puxou outra vez, até este cair sentado e a fitar de maneira boba, meio surpreso, meio bravo.

—E o que me diz dos outros?

—O quê?

—Os outros não sabem que estamos aqui e não irão nos encontrar. Até o amanhecer, as pegadas terão desaparecido. Se formos lá- apontou com a cabeça para o jardim-, seremos pegos e são capazes de nos deixarem presos, até Lúcia cumprir o que quer que seja!

—Não posso deixar Lúcia para trás!- revidou e Irina não lhe tirou a razão.

Mirou Lúcia, a pensar com os lábios apertados.

—Lá em cima- continuou uma das vozes-, tu vai encontrar um livro de feitiços. Recite o feitiço que faz tu veres o oculto.

Lúcia observava a entrada alta e reta, admirada pelo fato de que quando andava para um lado, atrás da abertura continuava a ver o jardim. Irina mordeu os lábios. Ela ia entrar.

—Tu vai. Eu fico.- ordenou e já pousava suas mãos em suas adagas.

—O quê?!

—Edmundo, por favor. Vá chamar os outros e os traga até aqui. Se eu puder impedir Lúcia e resgatá-la, será lucro. Do contrário, tu e os outros podem ter mais chance.

—Não posso deixá-la! Se forem mesmo criaturas horríveis, isso é suicídio!

A loira o segurou pelos fios baixos do pescoço e o fez mirá-la bem nos olhos.

—Faça o que eu disse. Não há tempo para discussão!

—Rápido que não temos o dia todo!- apressou uma das vozes para a ruiva, mas serviu para o moreno.

—Mas...

—Edmundo, vá!- ordenou, quase como um pedido desesperado.

—Lembre-se do que vai acontecer com seus amigos.- Lúcia virou-se para o nada falante.

—Por que não fazem vocês sozinhos?

—Ed...- ele a mirou, engolindo em seco. Ele queria dizer algo?

—Não sabemos ler.- respondeu uma das vozes, soando envergonhada.

Ele abriu a boca. Ia dizer algo.

—Para falar a verdade, nem escrever.

—Nem somar.

Mas não o fez.

—Por que não disseram logo?- respondeu Lúcia, com um suspiro.

Ele assentiu e virou-se, apressando os passos para a praia. A loira virou-se, girou as adagas em seus dedos e preparou-se.

—Cuidado com o Opressor.

—Ele é muito opressivo.

Lúcia dirigiu-se para a entrada, segurando a respiração. E Irina? Irina correu.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá! Como estão?
Eu peço mil desculpas pela demora, mas eu não consegui postar mais cedo por conta de algum problema do site. Eu tentava postar mas recebia uma mensagem de volta dizendo que não era possível. De qualquer forma, consegui postar e no dia marcado, como prometido! :)
Espero que tenham gostado!
Quaisquer erros ou críticas, por favor, avisar. Eu agradeço desde já e agradeço muito!
Beijos e abraços da Loren.