Véspera de Natal e ainda permanecíamos na Vila Oculta das Fontes Termais, decidimos passar o Natal por aqui mesmo. Era um pouco após a hora do almoço quando eu e Sasuke-kun saímos para conhecer mais a vila, andávamos pelo comércio onde as ruas estavam cobertas de neve num frio intenso. Eu andava tranquilamente observando as lojas com o dono de cabelos e olhos negros ao meu lado, era impossível não notar as garotas patéticas que olhavam descaradamente para Sasuke-kun quando passávamos, isso realmente me irritava porém eu não faria uma cena, seria ridiculo de minha parte já que Sasuke-kun nem sequer olhava na direção delas, demonstrando que não se importava.

Eu estava mais calma com a situação de minha gravidez e já havia me acostumado com a idéia, o que me incomodava era como contar a Sasuke-kun, não consigo sequer pensar em sua reação e isso me tirava o sono e até a fome. Talvez eu pudesse contá-lo como sendo um presente de Natal, mas sua atitude era tão imprevisível. O fato é que meu olfato e paladar estavam mais aguçados, me embrulhava o estômago e me dava enjoo seguido de uma tontura, sei que não conseguiria esconder por muito tempo. Ainda mais quando Sasuke-kun mencionou que participaríamos de uma cerimônia do chá hoje, eu estava apreensiva quanto a isso.

A tarde passou rápido e logo chegou a hora da tal cerimônia, fomos a um local o qual eu não havia reparado antes, mas nem por isso deixava de ser bonito e interessante. À entrada, duas pequenas estantes sugeriam que eu deveria ficar descalça. Espio da porta e vejo um longo banco de madeira, um corredor de água corrente com fundo de pedrinhas e uma bica de bambu de cada lado. Trata-se de uma fonte termal transformada num escalda-pés, coletivo e público. É só chegar, tirar o sapato, arregaçar as calças e ficar lá com os pés na água quente admirando o horizonte onde o lugar era absolutamente calmo, e assim o fizemos.

O ritual foi iniciado e primeiro veio um doce envolvido em gelatina translúcida para aguçar o paladar - como se eu precisasse disso - depois observei a moça limpar a tigela do chá e depositando-la em nossa frente, eu estava apreensiva sob o efeito que isso teria sob mim e assim olhei de canto para Sasuke-kun, ele estava estranhamente calmo e até relaxado,  o que era no minimo intrigante. Voltei minha atenção ao tal ritual e reparei na moça preparando um pó sobre o qual derramava uma concha de água quente. Devagar, degustando cada segundo, ela finalmente ofereceu o chá ao privilegiado viajante. No caso, nós. Eu bebi o chá calmamente para não fazer desfeita á moça e também para meu estômago e paladar se adaptarem, devo admitir que não era nada mal, um chá comum unido a um lugar voltado para relaxar e afastar o stress, era um ritual comum e confesso que gostei de participar. Era algo bem comum aqui e bastavam apenas alguns minutos por dia, na hora do almoço, no intervalo do cafezinho, antes de ir para casa após o trabalho, quando pudesse.

Ao sairmos do tal lugar notei que o final da tarde já havia esmorecido e dado espaço a noite fria de inverno, eu estava com frio e precisava de um banho quente, assim, Sasuke-kun e eu voltamos ao Ryokan. Após o banho eu me analisava no espelho do banheiro procurando algo diferente em meu corpo, não notei nada relevante visivelmente mas sabia que por dentro as coisas estavam mudando. Alguns minutos depois senti um certo enjoo e meu estômago protestar seguido de uma junção excessiva de água na boca, foi então que logo tudo veio. Agachei-me sob o vaso sanitário e deixei que meu estômago esvaziasse tudo que havia dentro, um tempo depois me levantei e recuperei a compostura, suspirei e deixei o banheiro para me arrumar e irmos ás festividades da noite. Me deparei com um Sasuke-kun muito bem vestido e lindo como sempre, porém sua expressão estava levemente confusa e bem séria - como se me repreendesse - mas não fez qualquer pergunta e eu agradeci imensamente por isso.

[...]

As ruas enfeitadas com belas decorações de Natal davam um deslumbre especial a vila cheia de turistas. Havia iluminação noturna natalina em vários pontos estratégicos, especialmente nas lojas e no comércio em geral, a decoração e iluminação chamavam bastante atenção e eram realmente lindas, tinham o objetivo de impulsionar as vendas já que o comércio era ponto forte da vila. Mesmo sendo Natal o comércio permanecia aberto, aliás, a grande festividade ocorria no centro da vila e era organizada para os turistas. Havia mesas e cadeiras espalhadas, música, comida, bebida, decoração deslumbrante e uma quantidade grande de pessoas… Tudo incrível, era realmente uma comemoração agradável e mais retraída já que se tratava de algo mais familiar. Paramos em um restaurante que não tinha muita gente, aliás Sasuke-kun não gostava de aglomerações. Pedimos algo para comer e enquanto esperávamos, olhávamos o movimento das pessoas. Era realmente uma noite agradável.

Sasuke-kun estava calado em seu modo de sempre, até que resolveu pedir um sakê e eu amaldiçoei amargamente minha falta de sorte. Eu gostava de sakê - influência de Tsunade - mas eu não poderia beber em meu atual estado.

— Você tem certeza? - questionou com o cenho franzido quando recusei o sakê que ele havia me oferecido.

— Sim Sasuke-kun. Aproveite por mim, Arigatou. - respondi sorrindo tentando mostrar uma normalidade. Ele apenas resmungou e tomou gole de sua bebida. A noite seguiu tranquila, conversávamos sobre a festividade, dentre outras coisas. Embora quem mais falasse fosse eu.

Não muito tempo depois nosso pedido havia chego, Sasuke-kun comia tranquilamente enquanto eu beliscava algo aqui e ali, comi porque estava realmente com fome, havia comido pouco desde que descobri a gravidez. A comida estava boa, porém o cheiro me enjoava e não consegui comer o prato todo, algo não muito comum de minha parte e dessa vez Sasuke-kun não deixou passar despercebido. Fiquei extremamente surpresa quando ele deixou o dinheiro sob a mesa e levantou-se bruscamente.

— Vamos! - foi o que falou ao me lançar um olhar duro e reprovador, a principio me encolhi na cadeira mas logo me levantei e o segui de volta ao Ryokan.

[...]

Durante o caminho Sasuke-kun veio até mais quieto que o normal - se isso é possível - eu também vinha calada tentando imaginar o que me esperava. Já de volta em nosso quarto, Sasuke-kun caminhava até uma cadeira próxima e colocou sob ela seu agasalho. Em seguida virou-se para mim com uma expressão indecifrável.

— Pode falar! - disse calmo mas forte, como uma ordem.

— A que se refere Sasuke-kun?

— Não sou idiota como o dobe para não notar as coisas, - comentou fazendo uma pausa, devo dizer que sua expressão estava levemente irritada. - você quase não come, pouco dorme e passa mal… E o pior, esconde algo de mim. - finalizou. Diria que estava realmente chateado por isso e assim não me deixou escolha senão contar-lhe. Mas antes pensei em como a resposta estava tão evidente e ele não havia percebido, sendo que ele mesmo havia ditado os sintomas, talvez achasse que não seria possível… Assim como eu achava antes.

— Antes de tudo peço-lhe desculpas por não contar antes, - disse desviando para a varanda meus olhos já lagrimejados. - não sabia como.

Ouvi seu ‘Hn’ costumeiro e sua postura mudar um pouco, parecia um pouco impaciente.

— Eu estou grávida Sasuke-kun, você já não é mais o último Uchiha. - confessei.

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