Eu sou o inverno escrita por AleyAutumn


Capítulo 64
Esperança/Hope




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A primeira pancada veio do lado direito e logo depois do lado esquerdo e eu apenas a senti sem se quer me mover, me virei em fúria e fiquei surpresa ao ver Marcel me encarando com medo no olhar, ele parecia estar extremamente nervoso, talvez devido ao fato de que eu estava prestes a avançar contra Davina e a degolar. Eu não tinha culpa se ela era tão frágil... tão boazinha... como seu sangue deveria ser.

Me transformei e Marcel ofegou dando um passo para trás, ele me olhou atentamente esperando que eu fizesse algo, mas eu ainda estava no controle do meu corpo... por pouco tempo. Ele parecia se mover sozinho, encontrar forças sozinho, se guiar completamente sozinho. Isso era um péssimo sinal, um sinal muito ruim. Eu tinha poder demais para ser descontrolada, eu não tinha mais forças para medir contra mim mesma. Eu queria parar, eu queria respirar, eu queria ... fugir dessa nova realidade. Eu soube que eu não pararia até acabar com toda New Orleans e para o meu azar New Orleans não era uma pequena vila de cinco mil habitantes.

— Sage o que aconteceu? – ele questionou.

 - Acredito que ela agora seja uma híbrida de Ibis. – Davina falou baixo – Marcel chame Niklaus.

— Niklaus? – onde estava Niklaus pra me ajudar? É claro, desaparecido – Você acha que Niklaus vai me parar? – minha voz saia de forma descontrolada, era como se alguém estivesse controlando meu corpo – Você acha que alguém vai conseguir me deter? Eu quero ver tentar. – eu sentia uma energia estranha fluir de meu corpo enquanto meus lábios se moviam por vontade própria.

Ou talvez eu mesma estivesse fazendo isso.

— Sage por favor... – chutei ele para longe, mas ele se moveu  para trás de mim e segurou meu pescoço com força, chutei a parede e cai por cima dele, dei um soco em seu rosto e sai correndo pela cidade.

Agarrei a primeira pessoa que vi e drenei seu sangue quebrando o pescoço logo em seguida, saltei sobre um carro e quebrei o para-brisa puxando o homem pela gola da camisa e finquei meus dentes em seu pescoço, sua esposa ou irmã gritava do lado do passageiro e era muito irritante. Parecia que ia estourar meus ouvido extremamente sensíveis, sem nenhum remorso cravei o salto de minha boca em seu pescoço vendo o sangue escorrer descontroladamente pelo seu pescoço e joguei o corpo de seu marido em cima do capô do carro.

— Sage! – Katherine veio em minha direção e eu apenas ergui a mão fazendo ela segurar o próprio pescoço enquanto sufocava, a lancei longe acertando seu corpo contra um imenso prédio.

 Parei no meio da rua e olhei um carro vir em alta velocidade, o homem bem que tentou parar, mas movi o braço para frente o parando com extrema força, os ocupantes foram lançados para fora e passaram pelo meu corpo e eu ergui o braço esquerdo pegando uma menina que foi arremessada do banco traseiro.

Mordi a garota e a joguei no chão ainda viva, chutei seu rosto quebrando seu pescoço e segurei o pai que tentou me socar, quebrei seu pescoço sem me alimentar dele e quando me virei vi dezenas de pessoas paradas me olhando. Assim que ergui os braços elas saíram correndo e gritando, comecei a caminhar pelo corredor de carros enquanto explodia cada um pelo qual eu passava. Corri usando minha velocidade recém adquirida e agarrei outra pessoa a mordendo enquanto corria, joguei seu corpo em cima de uma mulher e soquei um adolescente quebrando uma vitrine atrás deles, peguei vários pedaços de vidro e os lancei contra as pessoas que caíram no chão enquanto outras ainda corriam.

— Poderia ser pior. – peguei um homem que gritou histérico – Eu poderia estar de mal humor. – sorri e mordi seu ombro com tanta força que quase arranquei o pedaço dele.

— Sage. – ouvi Caroline gritar de longe e lancei um carro em sua direção, ela desviou graças a Elena – Pare com isso! – estava prestes a quebrar o pescoço dela quando meu corpo foi segurado com força me virando para quem o havia feito.

— Pare com isso Morce, seja forte. – Damon sussurrou em meu ouvido e eu quebrei seus dois braços e puxei seu cabeça o mordendo brutalmente e o joguei no chão.

Alguém pare isso! Minha cabeça parecia explodir, eu tentava impor minhas vontades, mas meu corpo apenas agia sozinho. Stefan surgiu a minha frente, mas eu apenas empurrei sua cabeça com força o fazendo atravessar uma parede de uma cafeteria. Kol parou a minha frente e enfiou o braço em meu estômago enquanto Elijah e Rebekah seguravam meus braços para trás, o moreno me olhou fixamente e eu soube o que tentaria fazer. Meu corpo pegou impulso e minhas pernas enlaçaram envolta do pescoço de Kol se torcendo violentamente quebrando o pescoço dele.

Joguei Rebekah para frente a acertando com força contra um carro, Elijah tentou me segurar, mas eu o impedi o atacando mentalmente. Ele se afastou caindo de joelhos e eu o chutei para longe, me virei dando de cara com Niklaus que me olhava horrorizado pelo meu estado. Ele se aproximou de mim e tentou tocar meu rosto e eu quase quebrei o seu braço, eu teria o quebrado se ele fosse apenas um vampiro.

— Sage meu amor, o que foi?

Eu pedia socorro com os olhos, eu queria tanto o abraçar. Me controlei o máximo que consegui e os deixei para trás correndo até os limites da cidade, eu só não contava com as risadas baixas e os gritos de felidade... parecia algo tão doce e saboroso. Meu corpo foi puxado como um imã, eram tantas vozes, pareciam me chamar o tempo inteiro. Pareciam me puxar.

Chutei a porta com força e ouvi gritos de susto quando ela se quebrou, uma freira rapidamente apareceu e eu parei de frente para ela que apenas me encarava com os olhos arregalados.

— Senhora isso é um orfanato, está precisando de ajuda, quer que eu chame a polícia?- ela parecia barbarizada e isso só me fez sorrir expondo meu dentes sujos de sangue e meu rosto completamente transformado. - Meu Deus, demônio. - colocou uma cruz em frente ao meu rosto.

— Prima dele. - quebrei seu pescoço e antes que pudesse ir longe o suficiente meu corpo foi puxado para fora e eu atravessei outra porta parando em um prédio abandonado.

— Sage. - Gaspar apareceu diante de mim bloqueando minha saída.

— Gaspar não. - Ibis o puxou.

— Eu já passei por isso. – ele contestou.

— Eu era sua marcada. Ela foi marcada por Niklaus e só pode ser hipnotizada por ele.  - Ibis estalou os dedos e meu pescoço se retorceu enquanto eu o lutava para deixar no lugar certo, ela fez isso várias vezes até ver que não estava dando certo.

Avancei contra ela a mordendo e Gaspar lançou meu corpo longe, aproveitei para ir para o andar cima e me preparei para pular a janela onde eu cairia dentro de uma festa infantil que ocorria no jardim do prédio ao lado. Minha cintura foi puxada com força e senti o perfume de Elliot, me virei e quebrei seu pescoço e lancei Eleonor, Scarlet e Akio para longe as fazendo atravessar as janelas fechadas por madeira e cair no meio da rua. Ibis apareceu de novo a minha frente.

— Você precisa nos deixar chegar perto! – ela gritou e eu a olhei em fúria.

Eu realmente estava tentando, mas não era fácil. Klaus surgiu tentando me segurar e imediatamente caiu de joelhos no chão enquanto gritava, Elijah fez o mesmo e eu apenas o olhei vendo seu corpo cair no chão com o pescoço quebrado, Marcel se aproximou e eu o mordi o jogando no chão enquanto meus olhos cravavam no local que brilhava intensamente próximo a nós, cheio de corpos, barulhento, agitado e quando trancasse... todos estariam sem saída e seriam meus. O estádio.

Eles pararam seguindo meu olhar e eu tombei a cabeça sentindo o prédio inteiro tremer aos nossos pés. Niklaus se levantou de novo e então eu me virei para ele segurando seu braço o impedindo de me socar, chutei sua costela e ele bateu o corpo violentamente contra a parede e logo estava em cima de mim novamente completamente transformado, chiei irritada e me movi tentando acertar vários socos e chutes, mas nenhum o acertava assim como os meus também não o acertavam. Estávamos de igual para igual, e eu sabia que ele não se importaria de quebrar alguns de meus ossos para me impedir de ter uma dor maior ainda, então eu finalmente estava no mesmo nível de Niklaus evidenciando que éramos únicos. Ele tentou avançar novamente e seu nariz começou a escorrer sangue, eu jogaria sujo pra sair em vantagem é claro... até por que essa não era mais Sage Mikaelson, era uma bruxa híbrida sem nenhum controle sobre suas decisões.

Me virei novamente.

— Agora. – Ibis e Gaspar me olharam com intensidade e minha cabeça girou, gritei tentando liberar a dor e chutei Caroline que surgiu a minha frente com força para longe, tentei usar meus poderes, mas a dor me desconcentrava completamente. Isso era mil vezes mais intenso do que eu conseguiria suportar se eu fosse humana ou até mesmo uma vampira completa.

Elena tentou me segurar e eu quebrei seu braço, quebrei a perna de Damon e as duas de Stefan enquanto avançava pelo local, pisei com força chão de madeira e os pedaços da tábua voaram para cima, os agarrei e lancei um contra Kol e outro contra Rebekah, eu só não contava que Elijah fosse acordar tão rápido.

Elijah passou seus dois braços por debaixo dos meus e Ibis e Gaspar aumentaram a intensidade do ataque mental enquanto eu gritava me desconcentrando mais ainda, Enzo surgiu e segurou minha perna direita junto de Nataniel e Alaric, Rebekah e Elena envolveram minha cintura com os dois braços me grudando a Elijah.

— Faz parar, por favor. – pedi sentindo a sede se intensificar mais ainda devido ao cansaço.

Tentei chutar com a minha perna esquerda e Caroline e Kol a seguraram junto de Marcel, quando meus dois braços se moveram Damon e Stefan os seguraram com força. Senti os dedos de Katherine se enfiarem em meu cabelo e ela puxou minha cabeça para trás a mantendo imóvel e então Niklaus surgiu com os olhos verdes brilhantes dele e segurou o meu rosto com força, suas pupilas dilataram e sua voz se tornou suave me puxando para um tipo de transe, era como se eu não estivesse mais em meu corpo, era como se eu entrasse aos poucos em uma espécie de sono induzido.

— Se acalme amor. – meu corpo relaxou instantaneamente – Você não precisa beber o sangue dessas pessoas dessa forma... você está bem, pouco é mais do que suficiente para você. Você não vai drenar nenhum humano até a morte, não precisa disso, vai ficar completamente no controle de seu corpo, ele é seu. Nós estaremos aqui para te ajudar. – sua voz era suave.

Eles me soltaram e Niklaus imediatamente me envolveu em seus braços, encostei a cabeça em seu peito e fiquei encarando as paredes velhas e desgastadas com um ar melancólico. Eu ataquei meu próprio reino, ataquei pessoas que defendia. Isso não era ser um ser sobrenatural, isso era ser um amaldiçoada.

— Aquela menina deveria ter uns 10 anos. – me referi a menina que foi lançada para fora do carro.

— Não pense nessas coisas Sage, isso acontece. Não é a primeira vez.

— Espero que seja a última.

~º~

Ajeitei o vestido preto e sai do carro indo em direção ao túmulo, eu nem deveria estar aqui, era muita cara de pau da minha parte, mas eu estava com um peso na consciência enorme. Eu havia matado uma das poucas amigas de Niklaus, e matado dezenas de pessoas naquela noite e estava viva, obviamente que eu nunca me importaria com isso antes... Mas era meu reino, a minha cidade... as pessoas que jurei defender. Eu machuquei desconhecidos, meus amigos, minha família... e principalmente Niklaus. Era o mínimo que eu poderia fazer.

— Sage. – Caroline se aproximou tocando meu rosto – Você está horrível, deveríamos falar com alguém da sua família sobre isso, não parece normal. – ela me abraçou.

— Está tudo bem Caroline. Sage está apenas se recuperando, logo ela irá melhorar. Foi pelo choque. – Gaspar se aproximou passando um braço ao meu redor enquanto passava por Marcel e Davina – Ninguém está te odiando Sage.

— Eu estou. Eu matei Phoebe, matei Hayley... matei crianças, as pessoas do meu reino... sofri um ataque mental pra me tornar uma híbrida, matei a amiga do Nik embora eu sempre tenha achado que ela merecia morrer, mas eu ia relevar né? – o olhei seriamente – Eu cheguei ao ponto de desejar nunca ter sobrevivido, nunca ter existido.

— Não diga isso Sage. Não diga um absurdo desses, você conseguiu ser parada a tempo antes que fizesse um estrago maior e caísse por si mesma, nós poderíamos ter te perdido completamente. Esse é o mundo sobrenatural, esse é o mundo real... ou você se torna forte pra ficar ao lado da vida, ou você se enfraquece para ser passado para trás por ela. Isso sempre vai existir. – ele beijou minha testa e continuou me puxando, vi Elijah ao lado do caixão de cabeça baixa e vi que Niklaus encarava o mesmo sem esboçar reação alguma.

Nik ergueu os olhos e me encarou profundamente antes de se voltar para o caixão, balancei a cabeça e corri para fora do local os deixando para trás, entrei na confeitaria e vi Theodore sorrir para mim discretamente, ele veio em minha direção e posicionou uma xícara de chocolate quente a minha frente. Bebi e tombei a cabeça encostando no vidro, eu não deveria estar assim, tão acabada. Tão triste.

Cerca de 295 corpos foram achados ontem em uma rua de New Orleans, alguns foram perfurados por pedaços de vidro e outros estavam com pescoços quebrados, alguns completamente sem sangue. A policia acredita que talvez tenha sido um ato terrorista já que o carros da rua explodiram completamente...— ele desligou a televisão.

— Não escute isso Sage. Isso acontece, você não é a primeira e não será a última que vai passar por isso... eu sinto muito mesmo que tenha passado, que eu não pude estar perto. – o pai adotivo de Theodore morreu na noite anterior, a noite em qual eu havia me descontrolado, mas não havia morrido por minhas mãos e isso tirou um peso maior ainda de minhas costas.

— Tudo bem. – olhei para fora – Eu vou sair um pouco, se Niklaus não estiver cuidando muito bem do reino... peça que Marcel faça isso por favor. – me levantei da cadeira – Ou alguém coerente. – sussurrei.

— Onde vai?

— Vou rodar por ai. – sai do local.

Me peguei pensando em Bonnie, como ela estaria? E o principal era se Uri havia chegado lá, era meio óbvio que Finn tentaria algo contra todos nós e o fato dele saber sobre o meu relacionamento com ela só ajudava. Disquei o número dela enquanto vagava pelas ruas lotadas de New Orleans, o carro musical tocando de maneira agitada estava me irritando profundamente, apenas olhei para ele e as caixas de som explodiram acabando totalmente com a festa.

— Ei Bonn. – reparei que ela fungava e Jeremy conversava baixo com ela.

— Ei Sage. Eu ia te ligar, acho que senti que precisava falar comigo.

— Sim, eu quero saber como está ai. – notei que havia um coro de vozes ao fundo.

Ela começou a chorar e eu notei imediatamente que havia algo de muito errado nisso.

Uri mandou algumas pessoas atrás de nós.- avisou – Foi terrível acabar com eles, mas por algum motivo alguns de seus vampiros estavam em Mystic.— ela falava soluçando.

— Bonnie.

Oi Sage.— ouvi a voz de Jeremy – Está tudo bem agora.— sussurrou.

— Onde estão? – perguntei me agitando e começando a correr pela cidade em direção a praia o local estava agitado demais para mim e só me deixava ainda mais tensa.

No cemitério. No enterro. Do Matt.

Paralisei caindo de joelhos na areia gelada próximo ao mar, engoli as lágrimas com dificuldade.

Você não pode trazer ele de volta?— Jeremy sussurrou com a voz embargada.

— Existem regras... infelizmente não. – ele começou a chorar comigo.- Eu sinto muito. – eu me sentia culpada, extremamente culpada por isso.

Não culpa sua. Nós sabemos como funciona.

— Eu vou para ai...- me levantei.

É melhor não Sage, não que não iremos querer você aqui, mas isso não vai te fazer nada bem... não se esqueça que você ainda é uma rainha. Podemos precisar de você ai. — sussurrou – Até logo.

— Até.

Deixei o celular na areia e coloquei os pés dentro da água gelada enquanto olhava os cruzeiros passando de um lado para o outro, talvez estivesse na hora de ir visitar o meu “novo mundo”. Virei para trás vendo que havia menos pessoas que o normal, afinal o “terrorismo” tinha os assustado. Mas eu iria inconsciente ou com meu próprio corpo?

Entrei no apartamento de Gaspar e fui até o último quarto, dei duas batidas na porta e ouvi a voz suave, entrei e vi Eleonor amontoada em livros de bruxaria. Ela me olhou por alguns segundos e se sentou sorrindo abrindo um espaço em sua cama.

— Pode me ajudar a entrar?

— Sim. – ela deu um enorme sorriso – Eu posso fazer isso facilmente Sage. Eu costumo ir lá para ver um dos meus pais adotivos, tive mais facilidade pelo fato de minha mãe “geradora” ser uma bruxa.

— Ele está no mundo dos mortos e consegue falar com ele? – talvez eu pudesse ver Matt.

— Não, ele está entre os dois mundos Sage. Eles disseram que ficarão me vendo enquanto eu não me juntar a eles. – sussurrou – Deite e feche os olhos.

Fiz o que ela pediu e notei que o quarto escureceu, senti o cheiro de cera sendo derretida e notei que ela havia acendido velas.

— Lembre-se que se quem você quiser visitar estiver no lado bom... ele não pode sair, jamais... mas você pode entrar, mas requer muita força. Você pode ser dada como morta até voltar, seu coração vai parar até que você volte... eu estarei conectando sua alma ao seu corpo até que você aprenda a fazer sozinha. – senti a energia fluir pelo meu corpo – Você vai entrar entre os dois mundos. Respire fundo e conecte toda a sua energia em seu coração, para que ele não bata mais.

Fiz o que ela pediu e torci para que ninguém interrompesse, aos poucos fui abrindo os olhos e percebi que estava em um local vazio e escuro. Sai dele notando que estava do outro lado, imaginei o ambiente em que Matt estaria e fiquei surpresa pela facilidade com o qual encontrei, ele estava em Mystic. Percebi que o cenário se tornou completamente embaçado como se existisse uma linha entre nós.

— Precisa atravessar. – ouvi a voz de Eleonor.

Coloquei um pé e senti que minha temperatura caiu drasticamente, ignorei isso e avancei entrando completamente no mundo dele, era límpido, bonito, ventava e haviam dezenas de pessoas pela rua. Avancei pelo local e achei sua casa torcendo para o encontrar lá, abri a porta da frente procurei por todos os cômodos, por fim fui para o quintal e dei de cara com ele brincando com um sprinkler ao junto de Vic, os dois rolavam pelo chão fugindo da água. Assim que pisei na grama Matt me olhou e Vic saiu correndo.

— Sage, eu sabia que você ia vir. – reparei que Elena estava no fundo junto de Caroline e isso fez meu coração se doer – Eu sei que você não é ilusão, a Sage de antigamente que eu conhecia não se veste tão bem. – ele riu e a luz do sol pareceu piscar por um breve momento e isso foi o bastante para que eu visse um buraco imenso em seu pescoço que estava quebrado, isso me deu náuseas. – Eu fiquei entre os mundo para ver o suficiente do que aconteceu ontem com você e eu sinto muito, eu estou feliz de estar aqui e acho que qualquer pessoa de bem que tenha morrido ontem também vai estar... como não estar? – apontou para o local e depois para Vic – Eu tenho minha irmã, forte e saudável, não estou feliz por viver em uma ilusão... mas estou bem por ser parte de uma realidade, na verdade essa é minha realidade agora. – ele tocou meu rosto – Seja forte... e me visite sempre.

Ele me abraçou com força e se afastou me deixando molhada.

— Volte para casa Sage, você pode ser dona disso aqui... mas esse não é o lugar em que eu quero te ver presa. Você ainda está viva. – ele sussurrou e eu dolorosamente fui jogada para fora de seu mundo o vendo novamente completamente embaçado diante de meus olhos.

Pensei em Hayley. Novamente o local estava embaçado, mas era bem claro. Pisei sentindo meu corpo enfraquecer atravessando o fino véu e continuei a andar entrando na mansão Mikaelson, vi com surpresa que eu estava lá discutindo com Rebekah enquanto Klaus e Elijah tentavam intervir, Kol apenas aumentava a briga. Dei de ombros e subi as escadas entrando no quarto ao qual eu sabia que era de Hayley, ela estava curvada sobre um pequeno berço sentada em uma poltrona enquanto brincava com o bebê que estava lá dentro, ela me olhou e sorriu se levantando vindo em minha direção e me abraçando.

Quando se afastou o mundo escureceu e voltou a brilhar e eu tive apenas um vislumbre de sua barriga aberta e o pescoço quebrado, fora as marcas de sangue em casa um de seus membros, não bastava ela estar morta, eles a destroçaram para ter certeza disso.

— Você salvou a minha filha Sage. Embora eu esteja furiosa por você não ter nem olhado para ela. – sorriu meigamente – Mas eu entendo que não teve tempo e fico feliz que tenha sido muito rápida.

— Sim.

— Obrigada. – sorriu olhando para o bebê no berço – Se você nunca tivesse a tirado  de mim, eu nunca teria sido capaz de ver como ela realmente era, eu não saberia se o rosto que eu veria aqui seria o verdadeiro ou um inventado – me olhou de novo – Cuide dela por mim, eu sei que agora ela não pode parecer grande coisa aos seus olhos, mas deixe eu pensar que eu te dei um presente. E traga sempre noticias dela. – pediu.

Ela sorriu e foi para o outro lado do berço.

— Quer ver? – me aproximei e antes que eu pudesse chegar o ambiente mudou

Me virei vendo que estava em um imenso jardim e me perguntei como cheguei lá, eu não pedi por isso. Eu realmente não pedir por isso.

— Ela te trouce aqui. – Phoebe apareceu ao meu lado e novamente que vi que o local ficava embaçado.

— Ela quem?

— Anellise. – sorriu – Eu não posso ir com você, eu não tenho sua força, embora Anne possa sair ela não gosta disso e nós só a achamos por que ela quis Sage. Você só pode chegar aqui se ela quiser, foi o método que ela aprendeu para fugir de Esther.- acenei com a cabeça e avancei caindo de joelhos assim que entrei.

Mesmo o sol sendo intenso o frio estava terrível, provavelmente eu havia enfraquecido muito. Suspirei me levantando com dificuldade e quase chorei ao sentir dor, eu estava no mundo dos mortos e com dor. Não me parecia nada bom. Ergui os olhos e vi Anellise vestida em roupas atuais e discretas, ela tinha um olhar doce e um sorriso delicado, seus olhos transmitiam uma paz imensa e eu tive certeza que ela era a única duplicata de Ibis com um pouco de juízo.

— Oi Sage, fico feliz por saber que aquela mulher não era eu... e por ter salvado meus irmãos. – ela se aproximou sorrindo – Eu sinto muito se...

— A culpa não foi sua.- novamente a claridade oscilou e eu a vi completamente queimada, algo que me fez fechar os olhos dolorosamente.

— Eu sei que dói ver isso, mas infelizmente é preciso para percebermos que não é um invasor. Eu te trouce aqui por um motivo simples, soube que pegou meu diário e ele contém coisas muito importantes.

— Sim, contém.

— Você já estudou sobre algo?

— Ainda não, quer dizer... eu li muitas coisas, mas não cheguei no importante.

— Camuflagem. Acho que será melhor você aprender isso comigo aqui, tenho certeza que pode se recuperar facilmente por lá, afinal venceu Ibis. – sorriu – Vai precisar aprender isso Sage, nem mesmo a Ibis conseguiu aprender. É uma forma de se manter invisível aqui e lá fora, Esther vai sair e a primeira coisa que vai fazer vai ser te caçar. Você pode aprender a bloquear o fluxo da sua energia e impedir que ela absorva.

— Eu sei... quando começamos?

— Depois que você se recuperar completamente. – sorriu – Como eles estão?

— Bem. Eles sabem se virar. – dei um sorriso pequeno.

— Você vai passar por isso. Volte. – ela estalou os dedos.

Acordei olhando para Eleonor que se afastou um pouco me deixando respirar, ela estava suada pelo uso de seus poderes e me olhou sorrindo. Ela me lembrava Anellise, tão doce...

— Acho que deve ir para casa Sage.

— Vou ficar mais um pouco.

Senti o peso da morte de Matt, eu poderia o ver constantemente.... na medida que meu corpo aguentasse, mas isso não fazia sua morte menos dolorosa, ele estava bem e feliz.... mas isso não me confortava em nada. Eleonor me puxou para a sala e nos sentamos no sofá, ela veio correndo com pizza gelada e tirou os saltos dos meus pés colocando uma meia, ligou a tv e se jogou ao meu lado pegando o controle e colocando em um filme.

— É o máximo que eu sei fazer e é a única coisa que eu posso fazer, você não parece bem nem nada normal. Sage, você se alimentou direito? – mordi a pizza.

— Não. – me referi ao sangue, eu ainda sentia sede.

— Pois faça isso aos poucos, não deixe crescer muito ou vai piorar. Eu entrei em transição, logo serei uma vampira...

— Eu te desejo sorte. – resmunguei.

— Vamos todos precisar.

Levei um susto quando Akio passou pela porta da varanda e Elliot invadiu o apartamento por uma das paredes de vidro a quebrando completamente. Olhei para eles mal humorada e Scarlet entrou pela porta fazendo o maior barulho possível.

— Gaspar vai me matar. – o loiro se jogou ao lado dela – Capotei o carro e ainda bati no outro carro dele.

— Não sei o por que deles insistirem em dar carros para vocês, cabemos que o resultado é horroroso. – Scarlet resmungou.

— Não fui eu quem fiz o motor de uma carro pegar fogo. – Akio resmungou e eu me levantei.

Não dá.

~º~

Cheguei por trás no castelo e vi Elijah sentado em um banco no jardim, ele segurava  a pulseira enquanto brincava com ela, pensei em passar direto, mas ele me viu e me chamou com um dedo. Analisou meu rosto e então mais do que depressa me puxou para um abraço encostando minha cabeça em seu peito.

— Eu sinto muito Sage. – ele falou dolorosamente.

— Todos nós perdemos alguém aqui. Me desculpe por Camille, eu não tive a intenção. - sussurrei e ele me apertou.

— Todos sabemos que foi um acidente, em meses de transição e você não tinha mordido uma única pessoa Sage. Nós sabemos que você é boa. – ele esfregou minhas costas.

Fiz uma careta, eu era tudo, menos boa. Eu estava bem longe da redenção. Suspirei e ele se afastou beijando minha testa e tocando minha bochecha.

— Não vou mentir e dizer que Klaus está bem e feliz, pois ele não está. Eu sugiro que não se aproxime muito dele por enquanto, ele podia não ser apaixonado pela Camille, mas o via como uma amiga e você sabe como ele é.

— Sim eu sei.

— A Morce vai sair em viagem comigo, não é Morce? - Damon se aproximou ainda vestido com a roupa do velório, Stefan vinha logo atrás.

Imediatamente me lembrei de Matt e meus olhos se encheram de lágrimas, olhei para o outro lado disfarçando. Eu não queria ter que dar a notícia, eu não queria precisar dar a noticia e não precisou, Caroline veio como um furacão ao lado de Elena e se jogou nos meus braços gritando enquanto se desmanchava em lágrimas, a morena apenas foi abraçado por Damon que encarava tudo em surpresa assim como Stefan.

— Matt morreu ontem a noite.  - os dois se olharam bastante surpresos e Damon se virou enquanto Elena vinha até nós nos abraçando com força enquanto chorava.

Eu sentia um peso tremendo da responsabilidade e torcia para que tivesse pelo menos um mínimo de paz, olhei para cima e vi a cortina do quarto balançar, ignorei completamente me concentrando apenas em confortar as duas, Stefan já abraçava Damon enquanto Elijah nos encarava com o olhar perdido. Eu sabia que Matt estava bem, assim como Hayley e Phoebe...  mas isso não me confortava em nada, por que não? Seria pelo fato de eles estarem vivendo uma ilusão?

Me soltei delas e me arrastei para o meu próprio quarto, quando entrei Niklaus estava sentado encarando o nada enquanto bebia, fui em direção ao quarto e comecei a juntar algumas pequenas coisas, eu viajaria e aproveitaria para aprender mais ainda sobre a bruxaria. Era um momento que eu precisava ter, e procuraria pela madeira de carvalho branco, eu precisava limpar minha mente da minha vida caótica. Senti que era observada e meus olhos se ergueram na direção da porta de onde Niklaus me encarava com uma expressão descontente com os braços cruzados.

— Vai embora? - ele tinha os olhos vermelhos.

— Vou viajar. - murmurei.

— Para onde Sage? - ele se agachou - Onde você precisa ir?

— Matt morreu. - eu não queria dizer onde iria, pois nem eu sabia então dei a entender que iria para Mystic, mesmo sabendo que eu logo contaria que não era bem isso.

Ele ficou completamente em silêncio enquanto eu continuava a guardar minhas coisas, ele segurou meus dois braços com força e me olhou, desviei os olhos sentindo seu aperto aumentar e então finalmente o olhei vendo o quão triste ele estava e isso me surpreendeu, eu nunca havia o visto dessa forma, tão pesado e tão desanimado.

— Não deveria estar feliz? Eu matei a sua amiga e o meu morreu sem você precisar fazer nada.

— Obvio que não estou feliz Sage, que tipo de homem você acha que eu sou? Eu estou vendo você sofrer a um par de dias e acha que eu sou capaz de ficar feliz com isso?

— Nenhum Nik, eu não acho nada. - sussurrei e ele desviou os olhos.

— Por que eu não senti a marca? - sussurrou - Por que eu tive que ficar três horas achando que você estava morta?

Me toquei da minha burrada, eu realmente estava morta.

— Por que eu morri Nik. - ele me olhava com cuidado - Para ver Hayley... Phoebe... Matt, em uma atitude de me livrar da culpa.

— E conseguiu? - me questionou.

— Ela só piora. - fechei os olhos e ele tocou meu rosto.

— Vamos dormir. – ele decretou, mas eu vi que nem ele e nem eu iriamos dormir, nossas mentes não paravam nunca.

— Não. – sussurrei e ele se ajoelhou no chão relaxando o corpo.

— Eu não estou te odiando Sage, obviamente não tem ninguém feliz por aqui. – eu sabia que ele se culpava pelo meu estado, por não estar lá quando acordei, ele tocou meu rosto – Se levante, nós estamos precisando um do outro. – ele me abraçou.

— Nik. - me levantei e ajeitei meu cabelo e segui em direção ao quarto do lado.

Abri a porta e entrei silenciosamente no local, o bebê se remexia de um lado para o outro enquanto fazia barulhos baixos. Me aproximei do berço e estiquei os braços o pegando com cuidado, e pela primeira vez eu a olhei de verdade e entendi o que Hayley quis dizer.

Hope era uma coisinha minuscula, cheirosa e rosada, ela tinha os cabelos claros de Nik e os olhos de um verde intenso. Olhar para eles era como viajar em um mundo sobrenatural, era como entrar em fantasias, era como estar em um mundo perfeito livre de qualquer crueldade, era como se... uma vida nova iniciasse. Hope seria a coisa mais bela e pura do mundo sobrenatural, das nossas vidas.

Olhei para Klaus e percebi que ele tonha um sorriso discreto no rosto, me aproximei da varanda e ele veio junto passando um braço em volta de minha cintura. Hope fez um barulho alto chamando a atenção de todo o reino que estava do lado de fora em um burburinho descontrolado, olhei os rostos deles esperando ver ódio e desprezo, mas eles apenas tinham sorrisos estampados no rosto e carinho nos olhos.

— É um começo Sage. Estamos cansados das perdas amor, nós finalmente ganhamos algo para nos felicitar. – ele sussurrou em minha orelha.

Hope me olhou com intensidade como se soubesse exatamente quem eramos e o que eramos. E naquele momento eu decidi que eu a protegeria com a minha vida.


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