Eu sou o inverno escrita por AleyAutumn


Capítulo 46
Quebrando a sobrevivência




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— Eu sinto muito. – abracei Bonnie que chorava sobre o caixão da avó.

— Eu sei. Obrigada por vir Sage. – ela se agarrou chorando em meu pescoço, vi que Elena e Caroline choravam abraçadas uma a outra e achei que eu deveria manter Bonnie em meus braços – Eu sei que você não tem motivo algum para estar aqui, e obrigada por vir.

— É claro que eu viria. Você precisa de todos nós.

~º~

Caminhei ao lado de Nik em silêncio tentando absorver as palavras de Gaspar, minha mente girava como louca e as lembranças que o elo me forçavam a ter só reforçavam a minha ideia de que eu não deveria mais estar viva. Era uma vida por três, eu estava tomando três vidas.

Olhei para longe evitando o olhar curioso e preocupado de Niklaus, dei um sorriso e segurei sua mão com força. Eu estava perturbada com as informações e sabia que a notícia poderia cair nos ouvidos de todos, mas jamais deveria cair nos ouvidos de Niklaus. Isso seria um problema enorme para mim.

— Tudo bem Sage?

— Sim Nik. - me olhou curioso.

— O que tem de errado?

— Eu vi um filme e fiquei pensando... Você seria capaz de dar a vida pelos seus amigos e deixar a pessoa que mais ama na vida sozinha? - olhei para o horizonte - Principalmente quando deve sua vida e felicidade a elas?

— Se eu fosse correspondido eu tentaria não deixar. A vida tem um ciclo Sage. Se alguém tem que morrer ele morre, independente se escolhe ou não. Eu poderia escolher ficar com quem eu amo e meus amigos viveriam ou eu poderia deixar quem eu amo para salvar eles, mas se eles tivessem que morrer... morreriam. - me lançou um olhar desconfiado.

— Algo como o tal efeito borboleta?

— Destino.

— É destino estarmos aqui hoje?

Me olhou atentamente tentando decifrar meu olhar.

— Foi um destino eu ter vivido 1200 anos até te encontrar, foi o destino que te deu essa personalidade incrível, foi o destino que te colocou nos meus braços quando nos conhecemos, foi o destino que colocou Tyler em nossas vidas me fazendo finalmente aceitar o que eu sentia por você, foi o destino que fez com que houvesse alguém para me livrar de um sono eterno. Foi o destino que fez eu me apaixonar e finalmente conseguir um pouco de paz depois de mais de mil anos.

Deixei as lágrimas correrem livremente pelo meus rosto e me aproximei beijando seus lábios, me afastei o olhando atentamente sem saber como fazer o uso de suas palavras. Eu tinha a chance de decidir se viveria ou os traria de volta, só poderia dar certo de uma única forma. Ou eu vivia ou eles viviam. E eu me senti verdadeiramente atormentada mais do que nos últimos anos, eu finalmente havia encontrado a paz e havia dado paz a alguém. E agora eu tinha que decidir entre acabar com tudo isso e dar uma chance para outras pessoas a qual eu devo muito, ou continuar vivendo ignorando o que acontecia com eles.

Apertei o braço de Nik e me pendurei em seu pescoço enquanto engolia o meu medo .

~°~

— Um mentiroso, é isso sim que ele é! – ri da careta de Oliver enquanto andávamos pela rua escura da cidade.

— Não acho que seja, Dr.House é o sincero dos sinceros. – defendi meu personagem favorito – Não tenho culpa se ele gostar de ajudar os pacientes inventando uma mentirinha para salvar a vida deles.

Oliver me puxou para seu corpo me escondendo de baixo da própria jaqueta me protegendo das gotas geladas da chuva.

— Mentirinhas, pequenas mentirinhas. – ironizou carregando minha mochila.

— Ué, parece até que você nunca mentiu. – ri da sua cara.

— Hum. – resmungou e nós paramos de frente para o grupo que nos encarava.

— A bolsa. – um dos jovens pediu apontando uma arma para nós.

Oliver ficou na minha frente e passou a mochila para nós, era mais do que obvio que não iria ficar por isso, nós tínhamos visto o rosto deles e eles não fizeram nem menção de sair da nossa frente. Eu havia ouvido falar dos assaltantes que assombravam Mystic matando suas vitimas friamente, nós iriamos morrer. Meu gêmeo ficou a minha frente levando os três primeiros disparos, então vi apenas a caminhonete laranja passar por cima dos três corpos me fazendo saltar para trás. Matt saiu do carro quando o corpo de Oliver caiu e Caroline correu para fora cortando o próprio pulso e colocando nos lábios dele vendo ele se curar.

Oliver daria a vida para me proteger, mesmo que soubesse que provavelmente eu morreria logo depois. Ele queria me dar um tempo para fugir.

— Ei Sage. – Caroline apareceu de ante de meus olhos e segurou meu rosto – Você não vai...

~º~

— Parem com isso. - gritei os chutando para longe extremamente irritada - Me deixem em paz.

Puxaram meu cabelo novamente e eu gritei de dor quando algo afiado passou rasgando em minha pele cortando a lateral da minha saia. Chutei a perna de um garoto com força e gritei quando ele caiu por cima de mim enfiando o estilete em meu estômago fazendo toda a lâmina entrar. Meu grito foi sufocado por uma porção de sangue que saiu de minha boca, tossi sujando todo o chão e eles se olharam preocupados.

— Sage... garota. - um menino me chocalhou.

—Não podemos deixar ela aqui. - ouvi a voz de um deles.

— Essa garota é uma fudida. Não vou levar ela para o hospital.

— Chama a ambulância. - um deles pediu.

— Não mesmo. Não vou mesmo. Se ela sobreviver ela vai contar para todo mundo, é por isso que é uma fudida, não sabe controlar a boca. - ele agarrou meu cabelo - É por isso que está morrendo.

— Não podemos deixar ela aqui. - um deles me pegou no colo e me colocou na traseira da caminhonete.

— O que vai fazer?

— Jogar o corpo por ai. - gritou exaltado.

— Ela ainda está viva.

— Não por muito tempo. – eles gritavam e eu não sabia dizer quem era quem.

— Será que é uma hemorragia?

— Você não viu ela vomitando sangue?

Eles se calaram e eu percebi que o carro se movia. Era incrível, em menos de um ano eu quase havia sido assassinada diversas vezes, parecia carma. Provavelmente ninguém nunca havia sido vitima de tantas tentativas de homicídio quanto eu.

— Ei garotinha. - algum deles falou comigo.

— Garotinha é você e seu pai seu merda. - resmunguei tossindo mais sangue.

Mantive o estilete no lugar quando percebi que ele impedia que eu sangrasse até a morte, provavelmente o modo como entrara era o que me mantinha viva. Ainda.

Percebi que o carro parou e logo fui retirada de dentro dele, eles foram extremamente descuidados já que nem se deram ao trabalho de me matar, apenas me jogaram no meio do cemitério e desapareceram em seguida. Caia uma fina chuva e o frio era intenso, eu usava apenas o meu uniforme de líder de torcida que estava rasgado. Agradeci por nunca me separar de meu celular quando o senti vibrar em minhas meias, com dificuldade sobrei a penas ainda deitada e tentei pegar o celular, mas foi em vão. Eu não sentia os braço.

Algum tempo depois já estava escuro e eu me assustei ao ouvir passos próximos a mim e me surpreendi ao ver Bonnie e Matt surgirem do nada correndo em minha direção. A morena tocou meu rosto e eu senti o quanto ela estava quente.

— Temos que tirar ela daqui logo. Deve ter atingido algo importante, se eu conheço bem essa garota... já era para ela estar em casa, ainda bem que percebemos isso logo. - Matt me pegou no colo.

— Eu sabia que ela estava aqui. - Bonnie suspirou aliviada.

— Liga para Damon e pede para ele nos encontrar no caminho da mansão. Ela está ficando azul. - o loiro me colocou em seu carro e o acelerou - Aguente firme Sage. Estamos aqui.

Fechei os olhos por breves minutos e acordei assustada quando senti o gosto de sangue em meus lábios, abri os olhos surpresa vendo Damon me olhar preocupado. Ele retirou o pulso e arrancou o estilete o olhando debochado.

Olhei ao redor vendo que estava no carro de Matt no meio de uma estrada deserta.

— Sage estou decepcionado. Já vi você sobreviver a coisas piores. - girou o objeto - Vamos garota. Reaja.

Ele olhou para meu estomago que surpreendentemente começou a se curar sozinho, isso não pode ser normal. O olhei chocada e ele me encarou intensamente, suas pupilas dilatando.

— Me diga quem são... logo você não lembrará de mais nada.

~°~

— Deus não, não, para por favor! - puxei os meus cabelos com violência gritando.

— Sage. - senti as mãos de Hayley em meus ombros - Se acalme. Por favor eu já liguei para Klaus, se acalme. Ele está vindo. – ela estava tremendamente nervosa.

— Eu não aguento mais Hayley. - a abracei - Eu descobri. Eu descobri... a pedra... eu preciso morrer para eles voltarem. – falei rápido me afastando dela e me levantando do chão gelada enquanto andava de um lado para o outro agitada.

— Eu... eu sinto muito. - a senti ficar tensa.

— Não conte para Klaus. - implorei - Se ele descobrir...

— Ele pode ajudar. Essa pessoa que te contou isso pode te ajudar de outra forma, pode saber mais do que disse. - chorei me agarrando a ela tentando manter as lembranças longe.

Lembranças de Klaus invadiam minha mente, lembranças de Elijah, Caroline, Stefan... Elena, Damon, Bonnie e Matt. O elo me dividia por completo e a situação em que eu estava apenas facilitava isso, se eles estivessem acordados eu não estaria sofrendo tanto. A minha mente estava se dividindo, se dilacerando. Me separei de Hayley e corri para o elevador, antes que eu chegasse no térreo senti um mal estar e desci no segundo andar entrando no apartamento de Nataniel que estava vazio. Ele também procurava incansavelmente por algum método em que eu não precisasse morrer.

Peguei o telefone dele e disquei para Elena sabendo que provavelmente ela estava com, Caroline já que elas não desgrudavam mais. Ignorei a tristeza que me afligia e tentei me controlar o máximo possível, eu precisava me despedir de minhas amigas. Me levantei passando em frente ao espelho e vi o reflexo de Damon sumir aos poucos, eu sabia que tinha pouco tempo até Klaus me achar ou Hayley ligar para Elijah.

Ei Bird.— Caroline cumprimentou risonha, pude ouvir que Enzo fazia algum comentário safado - Achei que não iria me ligar mais.

— Eu descobri.

O que?— a voz de Elena soou.

— Eu descobri como tirar eles do sono. - chorei enquanto pensava em Klaus.

E como fazer? — ela perguntou agitada e eu comecei a chorar - Sage como fazer?

— Eu amo vocês tanto... se eu pudesse eu faria esse elo mil vezes. Eu faria tudo de novo... tudo bem que eu mataria a desgraçada da Estella antes... mas eu não me arrependo. Eu só não quero... eu só não quero que ele fique sozinho de novo. Não é justo. - solucei - Isso não é justo Elena. Não o deixe sozinho. – me referi a Klaus – Eu sei que é pedir demais e que você não tem nenhuma relação com isso, e nem Caroline.

Você... você... é.

— Eles não estão aqui, porque eu estou viva. - admiti.

Não.— pude ouvir Elena se afastando chorando.

~°~

— Você é minha melhor amiga. É minha irmã. - Elena chorava agarrada a mim enquanto olhava os caixões baixando - Não me abandone nunca, por favor. Não me deixe nunca Sage, não me abandone como eles. Não vá embora por favor

Passei a mão em seus cabelos tentando a confortar, eu me sentia dilacerada por ver Elena tão mal. Eu sempre fui apoiada, nunca soube apoiar ninguém. Se eu pudesse pegaria toda a dor dela.

— Eu vou estar aqui para você, assim como você esteve por mim.

— Por toda a nossa vida. - complementou.

~°~

— Eu sinto muito Elena. - pedi - Eu não sabia Care.

Eu sei que não. Não tem como reverter isso Sage? - Caroline chorava.

— Não.

Nem se você virar uma vampira?

— O problema é justamente esse, o ciclo da vida acaba. Eu preciso deixar de existir no mundo dos vivos... e vampiros não vão para o mundos dos mortos nem durante a transformação.

Mas quando eu morri... Jeremy me viu... eu estava no mundo dos mortos. Elena explicou.

— Você estava entre o mundo dos mortos e dos vivos Elena. Você poderia até estar... morta, mas ainda estava presa entre as duas realidades. Esses passam para cá, no mundo dos mortos você é apenas um nada no meio do nada. Você fica preso com a solidão e não tem contato com outros mortos.  - lembrei das palavras de Gaspar - Eu amo vocês.

Nós também te amamos, e vamos achar a solução. — Caroline chorava - Nos espere.

~°~

Abri os olhos os fechando fortemente devido a claridade, abri novamente de forma cautelosa e olhei para o lado vendo os cabelos loiros vibrantes de Caroline e o preto de Bonnie, senti o cheiro de éter e reconheci o perfume favorito de Matt.

— Care. - chamei baixo tossindo e sentindo uma dor alucinante em meu quadril.

— Sage! - ela se lançou sobre mim - Como você está? Meu Deus por favor... não faça mais isso Sage, nunca mais. - me abraçou com força me sufocando.

— Caroline deixe ela respirar. - Matt pediu a afastando de mim.

— Seu pai disse que foi atropelada. - confirmei com a cabeça.

Eu havia sido atropelada, realmente. Durante a manhã enquanto ele testava o motor ele pediu para que eu retirasse um skate de Blayke de baixo do carro pois não queria quebra-lo, eu prontamente fui para a traseira do e me abaixei para o puxar e no mesmo instante ele deu ré me acertando e me fazendo cair, passou com o carro rapidamente e saiu me olhando com um semblante sério ao me ver estirada no chão. Ele não havia conseguido passar por cima de mim e em seus olhos eu vi que essa era sua intenção.  Ele fez uma careta quando viu Bonnie vindo correndo em minha direção, ela estava em seus 15 anos e estava tremendamente nervosa. Misael me olhou com desprezo e foi em direção a casa, me remexi e gemi de dor ao ver que eu não conseguia me levantar. A morena me deu um sorriso triste enquanto seus olhos inundavam de lágrimas.

Despertei da lembrança sentindo ela colocar um pequeno par de brincos em minha mão.

— É um amuleto, eu sou uma bruxa. Você sabe. É para sua proteção, ele não é tão forte quanto o que minha avó faz... mas eu fiz para você. Por que eu gosto de você.

~°~

Abri os olhos me sentindo desprezível por ter a feiro pensar que a odiara, eu nunca a odiei. Tive ciúmes e não sabia o que era. Toquei minha orelha sentindo o brinco que ela havia me dado a três anos atrás, eu nunca havia os tirado. Sempre usara e de certa forma acredito mesmo que me protegeram até o quanto o poder que estava neles pudesse aguentar. Eu tinha uma mente impenetrável, e talvez devesse isso a Bonnie, a garota que fingi odiar por simples ciúmes.

Senti um vento gelado em meu ombro direito e me levantei desligando o celular, passei as mãos pelo cabelo olhando o apartamento de Nataniel que só fez eu me sentir mais triste ainda. Mais uma pessoa que eu abandonaria. Suspirei me abraçando e me levantei pegando uma faca que estava jogada pelo balcão, eu cortaria meu corpo até ter certeza que não havia nenhum sangue de vampiro em mim.

Assim que pressionei a lâmina em meu braço ela fora lançada para longe voando por todo cômodo até parar na cozinha, senti um toque gelado em meu rosto e desabei de joelhos no chão sentindo o impacto cruel da verdade que me assolou. Eles não deixariam isso acontecer.

— O que vou fazer? Acham que eu vou passar a vida aqui sendo culpada pelo que fiz com vocês?

A porta se abriu e eu reconheci o som das botas de Katerina.

— Sage se acalme. Pense com coerência por favor, tudo pode ser resolvido. Existem bruxas bem mais fortes que essa do amuleto. Eu acho. – ela estava com a voz dura – Isso não é um problema para uma sobrevivente.

— Foi por isso que ela não se importou com a maldita pedra, porque ela já tinha uma vingança preparada pra mim. Por isso ela não ligou por ter sido morta. Ela sabe que a medida alternativa para os trazer de volta havia sido tirada.

— Exatamente isso vadia. Abra um sorriso. Ele está aqui?

— Todos. - Katerina se ajoelhou puxando minha cabeça.

— Eu ganho uma amiga e ela morre. Ótimo. - riu amarga - Posso ir atrás do seu irmão?

Tentei, mas não consegui. Acabei rindo com ela.

— A vontade. Só não o meta em problemas. - pedi.

— O problema está aonde eu estiver. - acariciou meu cabelo - Precisa continuar viva, eu ainda não vi Klaus chorando pra te pedir em casamento. E vai ser divertido um casamento dele, imagina. Klaus casando. - rimos.

— O que te ilude achando que Klaus quer se casar comigo?

— Eu quero. - ergui os olhos vendo ele me encarando sério - No momento existem duas coisas que eu quero. Você bem e você comigo.

Klaus se ajoelhou trocando de lugar com Katerina.

— Eu odeio que isso esteja acontecendo amor. - me abraçou.

— Acredite... eu odeio mais do que qualquer um de vocês.

— Você me esconde algo.

— Talvez eu conte.

— É sobre eles?

— Sim. - o olhei perdida.

~°~

Mordi os lábios nervosamente sem saber o que fazer, droga eu estava completamente perdida. Fudida. Que merda. Olhei desesperada para os lados, graças a Misael e a surra que ele me dera eu não dei conta de terminar meu trabalho, e isso me fodia completamente.

— Sage tudo bem? - Matt e Stefan me cutucaram.

— Não. - falei séria mesmo nervosa - Eu não pude fazer o trabalho.

Eles me olharam como se vissem por baixo de minha blusa e suspiraram fazendo uma careta, e então me passaram dois trabalhos imensos. O de biologia e o de geografia, os olhei confusa e então entendi.

— De forma alguma não posso ficar com seus trabalhos.

— Pode e vai. Eu não preciso de tantos pontos como você.

— Nem eu.

— Vão levar suspensão. - os olhei me sentindo um pouco emocionada - Fora que terão que fazer a recuperação no fim do ano.

— Vale a pena. - piscaram.

Graças a eles eu havia tirado as maiores notas, e eles sofreram consequências perdendo pontos, o direito de fazer a prova e ainda ganhando uma suspensão. Eu nunca havia sido tão grata aos dois como agora, eu teria apanhado até a morte se tivesse ficado de recuperação .

~°~

— Então você quer casar? -Klaus vasculhou o local com o olhar e o parou um ponto fixo.

— Com a minha rainha? Como não? - percebi que seus olhos continuavam no mesmo lugar.

— Quem você está vendo?

— Bonnie. - sua expressão endureceu - Ela disse que tem algo para me contar.

Era óbvio que via, ele tinha um pé no mundo sobrenatural, era mais fácil que ela se comunicasse com ele do que comigo, ele pelo menos poderia a ouvir.

—Como você a vê?

— Ela está usando todo o seu poder para se comunicar comigo, era para estar no mundo dos mortos. Mas de alguma forma ela conseguiu ficar entre os dois.

— Creio.

— O que tem para me dizer? - perguntou para ela.

— Ela acha que você pode resolver o problema? - o olhei atentamente e ele voltou os olhos para mim.

— Sim, mas não tem certeza. Me pediu para contatar Dianna.

— Entendo.

— Sage... não enrole. Fale logo. - ele estava irritado.

~°~

Aspirei o ar com força e fechei os olhos abrindo os braços sentindo o vento gelado me atingir com força, o sol esquentava a minha pele suavemente enquanto eu tornava a abrir os olhos vendo o pôr do sol. Eu tinha apenas 12 anos na época. Apenas 12 anos.

— Porque comigo? - sussurrei - Eu não consigo mais. Existem pessoas mais fortes.

Dei alguns passos para frente me aproximando do penhascos com os olhos marejados, eu estava pronta para saltar. Assim que meus pés deixaram de encontrar o chão senti um aperto forte ao redor de meu estômago e ouvi o grito de Elena em meu ouvido.

— Pai. Pai. - ela gritava - Pai socorro.

Eu tinha que me soltar de Elena, ou ela morreria comigo. Puxei seu braço com força e me soltei e novamente senti o aperto em meu braço. Fui puxada para cima e senti a terra sob meus pés, olhei para o lado e vi Elena sendo segurada por um homem. Pisquei confusa tentando entender como eles haviam chegado ali tão rápido.

— Lexi faça esquecer. - o homem que me segurava gritou para a mulher - Droga essas crianças de Mystic sempre em confusão. Ei garota... olha aqui... - olhei em seus olho verdes - Ainda está cedo pra acabar não é? Tio Stefan está te dando outra chance. - piscou um olho.

~°~

— Eu não queria que você soubesse. Estou me sentindo mal por esconder isso.

Senti que ele ficava tenso.

— O que foi? - ele se controlava ao máximo.

— Eu descobri como acabar com o feitiço que mantêm eles lá.

— E vou adivinhar que é um sacrifício de duplicatas? Ótimo, matamos Katherine. - anunciou animado.

— Nik sou eu. Eu toquei na pedra. Eu tenho que morrer para eles voltarem.

Olhei em seus olhos e vi ele desmoronar aos poucos, sua felicidade abandonava rapidamente seu rosto. O sorriso desapareceu e ele ficou extremamente pálido, seus olhos se tornaram opacos para logo se tornarem vermelhos. Klaus estava vulnerável e isso me cortava o coração por completo.

— Você decidiu. - decretou.

— Sim. Eu estou roubando três vidas.

— E vai roubar a minha.

— Não me faça escolher. -implorei - Isso já é doloroso demais Nik. Não faça ser pior do que já é. - meus olhos marejaram - Eu te amo mais do que tudo, mais do que qualquer coisa... e eu não posso passar o resto da vida sentindo essa culpa.

— Sage eu gostaria de trancar em uma cela e não te deixar sair nunca mais na minha vida. Isso não deveria ser tão difícil assim. Não deveria. - beijou minha testa - Você não vai.

— Eu vou Nik.

— Fique comigo, você não vai. Me dê um mês, se Bonnie me disse para procurar Dianna, é por que ela tem respostas. - senti um fio de esperança.

Bonnie nunca erraria e Damon estava com ela. Os dois sabiam se virar sozinhos.

— Um mês. - sorri amarga me jogando em seus braços - Eu espero.

— Eu vou conseguir. - prometeu.

~°~

Quando a morte e todos os seus anjos te encontrarem

Você vai chamar

Você vai chamar

— Ai meu Deus cala a boca sua peste demoníaca. - reclamei com Kol - Eu já disse que eu não estou falando com você seu traidor... puxa saco do Marcel do inferno. - peguei a porcaria da caixa e coloquei as roupas do bebê.

— Quer dizer que hoje você está boazinha? Ainda mais com a Hayley? Desde quando é tão prestativa Sage? - fiz cara feia para ela.

— Desde quando te interessa o que eu faço?

— Desde quando você é minha irmã.

— Que eu seja liberta de um irmão doente como você seu psicótico de merda. Já que vai me encher o saco faz pelo menos o favor de desmontar a porcaria do berço seu babaca. - bati nele com um sapato de bebê, infelizmente ele não morreu.

— Sage você não manda em mim. - cruzou os braços - Não me diga o que fazer na minha própria casa.

Quando a morte e todos os seus anjos te pegarem

Você vai chorar

Você vai chorar

Me aproximei de Kol e lhe dei um tapa no rosto, puxei seu cabelo e o joguei na frente do berço chutando sua lombar e o lançando no chão.

— Eu não estou com paciência. - gritei chutando o berço que despencou, peguei um pedaço de madeira e bati em sua cabeça - Agora não precisa mais seu inútil. Vai comprar comida pra mim.

Gritei nervosa e Kol despareceu em segundos assustado. Me virei e gritei frustrada ao ver Elijah me olhando com uma sobrancelha arqueada.

— Bem eu não esperava por isso aqui Sage... onde está Niklaus?

— Está rondando. Foi atrás de Gaspar pra descobrir mais sobre a pedra. - começou a me ajudar colocando as roupas dentro das caixas.

— Gaspar... o médico?

— Exatamente Elijah.

No final da linha

Não há mais tempo

E você irá sozinho

Você nunca pode vir para casa

— Rebekah...

— Não. É melhor não. - engoli a raiva - Não vamos brigar por isso.

— Tudo bem Sage, mas pense com mais calma. - o olhei de cara feia e Elijah respirou fundo - Então Klaus está morando com você?

— Achei uma novidade também devo admitir, a casa está tranquila por incrível que pareça e ele ainda não a encheu de coisas antigas e nem deixou as paredes vermelhas.

— Sem estátuas?

— Sem estatuas e armaduras. - ri.

— Fico feliz por isso. - me olhou atentamente parecendo verdadeiramente feliz.

— Como você está? - sorriu.

— Eu vou bem Sage. - arqueei a sobrancelha - Eu juro. Acho que você já me provou o suficiente que não irá deixar Klaus independente do que fala.

— Ainda acha que está apaixonado por mim? - cruzei os braços.

— Não. Não acho.

— Então está por quem? - me pendurei em seu braço - Uma senhora rechonchudinha?

Ele engasgou.

— Não. Tchau Sage. - se despediu.

— Elijah! - ri o seguindo.

No final da linha

De pó e cinzas eu te chamei

E poeira você deve tornar-se

— Não me venha com as suas perguntas Sage.

— Você não me vê a duas semanas e está fugindo de mim. Que tipo de amigo você é? - ri.

— O tipo de amigo que preserva a sanidade.

— Que coisa horrível. - ri da sua acidez. - Me dá um abraço!

Elijah abriu os braços me recebendo e deu um beijo no topo de minha cabeça.

— Hoje eu vejo que meu tipo de amor estava errado. Você é mesmo minha irmã Sage. - abri um sorriso por perceber que ele tinha se encontrado, Elijah parecia relaxado - Eu espero que viva.

No final

De pó e cinzas eu te chamei

E poeira você deve tornar-se

Me despedi de Elijah que foi se encontrar com Rebekah no shopping e tornei a colocar as coisas na caixa, mexi em meu celular e retornei a ligação de Niklaus.

— Oi Nik.

Oi amor. Liguei para avisar que já estou voltando para casa.

— Foi rápido dessa vez. Descobriu algo?

Nada relevante. Ele disse que pode tentar os trazer na noite de solstício, se tiver a ajuda de Bonnie.

— Tempo demais.

Ninguém precisa morrer.

— Estou impressionada com sua dedicação Sr. Mikaelson. - ri.

No final

De pó e cinzas eu te chamei

E poeira você deve tornar-se

— É a sua vida. — suspirei – É isso que está em jogo.

— Para que precisamos de Dianna?

Não só de Dianna, mas de outra bruxa também. Eles iriam atravessar o portal pelo corpo dos bruxos, e cada bruxo só pode se conectar a uma única alma. É um feitiço de dias.

— Parece cansativo. - resmunguei derrubando uma caixa - Droga.

Onde está querida?

— Na sua mansão Nik. Vim pegar as coisas do bebê, Hayley me pediu. - olhei o tênis fofo em minhas mãos.

No final

De pó e cinzas eu te chamei

E poeira você deve tornar-se

Você pegando as coisas no meu bebê?— riu se deliciando.

— Nosso bebê. - corrigi - Sou mãe secundária só para você saber.

Ele riu e eu o acompanhei mesmo sentindo o peso nas costas de não consegui resolver o problema.

Eu fico feliz.

— Pode ser estranho... mas eu também. Uma família de vampiros recendo um bebê é novidade.

Sim. É. Eu estou chegando. - comentou animado— Vou te buscar ai.

— Ok. Beijos.

No final

Oh morte

Oh morte

— Sinto isso como se estivéssemos nos falando pela ultima vez. - comentou rouco.

— Eu também. Eu te amo.

Eu te amo.

Desliguei o celular e ele o tocou enquanto eu descia as escadas.

— Ei Care.

Oi Sage. Preciso ser rápida, Stefan está em New Orleans. Acabou de chegar, ele me ligou e bem... eu também estou indo. Por favor se esconda.

— Não se preocupe... - o telefone caiu de minha mão quando cheguei na sala.

Encarei em choque vendo o sorriso sádico no rosto dele, fiquei tenso imediatamente enquanto o encarava. Aquele não parecia com ele, parecia completamente fora de si. Insano.

— Olá irmã. - Stefan sorriu malicioso - Saudades?

Sage?— ouvi a voz baixa de Caroline.

— Stefan eu... - fiquei sem saber o que dizer - Achamos a solução para trazer eles se volta.

— E por que eu confiaria em você Sage? - ele tinha um enorme sorriso, parecia louco - Você me tirou meus amigos, meus irmãos... acabou com a minha vida.

Eu tinha que fazer ele esperar mais, Klaus estava próximo. Logo chegaria e acabaria com isso, em hipótese alguma eu iria ferir Stefan... mais do que já feri. Deixei a caixa cair do chão e desviei de uma pequena miniatura que ele lançou em minha direção.

— Acabar comigo te deixou tão feliz assim Sage? Eu te acolhi.

— Como substituta. - soltei sem me controlar - Você nunca gostou de mim de verdade tanto que quando Estella se aproximou você se esqueceu de mim, se esqueceu de quem eu era. E não a matei por raiva ou ciúmes. Eu a matei por que aquela não era a sua irmã de verdade.

— Acha que eu não conheço minha própria irmã?

— Acho que você não conhece nem a si mesmo. Nunca se tocou que Anellise tinha morrido? Você está sentindo culpa e a jogando para mim? Como se eu tivesse matado a sua verdadeira irmã? - meus olhos se encheram de lágrimas - O que acha que eu ganho com isso? Acha que a sua dor me diverte Stefan... eu te devo tudo e muito mais. Eu nunca teria vivido tanto se não fosse por você.

Os olhos dele estavam lotados de lágrimas assim como os meus, ele se aproximou vagarosamente me encarando sério. Tentou me dar um soco e eu segurei sua mão usando toda a minha força, meus dias de ataques psicológicos haviam me esgotado fisicamente e mentalmente. Eu já não tinha mais forças para nada, e sinceramente estava acreditando que queria isso.

Onde está o teu aguilhão

No final da linha

Não há mais tempo

E você irá sozinho

— Eu me arrependo amargamente do dia que salvei a sua vida. - suas palavras foram cruéis - Eu deveria ter a deixado morrer.

Expulsei o ar de meu corpo quando senti sua mão atravessar o meu peito fazendo um imenso buraco bem abaixo do coração, seu braço havia atravessado completamente o meu corpo. Um turbilhão de pensamentos invadiu minha cabeça enquanto eu sentia a vida se esvair, não havia como fugir disso. Eu morreria, o sangue de Klaus nunca poderia curar um dano desses.

O sangue começou a descer pelos meus lábios descontroladamente, Stefan girou o braço me provocando uma dor excruciante me fazendo revirar os olhos. E então ele parou e olhou em meus olhos intensamente, algo o assustou e ele se afastou deixando o imenso buraco embaixo do elo que desparecia aos poucos. Olhei para Stefan e vi seus olhos se encherem de desespero, algo estava errado... muito errado com ele. Não me parecia Stefan, não me parecia o estripador, era de enlouquecer. O que aconteceu com ele? Quem fez isso?

Tentei puxar o ar, mas nada veio, apenas deixei um som alto escapar pelos meus lábios enquanto todo o meu sangue saia pelo imenso buraco. Meus olhos reviraram e vi que Stefan se jogava para uma parede encarando o nada parecendo tentar entender o que acontecia, então senti o toque quente em minha mão esquerda - a qual eu me apoiava - e senti o perfume suava quase imperceptível de Bonnie. Olhei novamente o loiro que enfiava as mãos nos cabelos, ele me olhou desesperado e então ofegante veio até mim, mas antes que pudesse se aproximar um estrondo soou pela casa e o perfume de Klaus me embriagou. Olhei para o rosto assustado dele, Niklaus era a ultima imagem que eu queria em minha mente antes de morrer.

— Nik... des... desculpe... eu... te amo. - falei com dificuldade.

— Sage não! - ouvi seu grito angustiando antes de finalmente me render a escuridão.

Você nunca pode vir para casa

No final da linha


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Notas finais do capítulo

E Sage está morta, mortinha.
:(



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