Dancing on my own escrita por The Stolen Girl


Capítulo 1
Sua esquina é meu abrigo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/662102/chapter/1

No dia que você me deixou, estava certo de que minha decisão tinha sido o melhor pra nós dois. Lembro-me de ter pedido desculpas pela, sei lá, milésima vez, quando você finalmente concordou com a cabeça, sussurrou um “tudo bem” e foi embora. E apesar de ter tido vontade de te abraçar, eu estava bem com toda aquela situação. Como se um peso tivesse sido retirado das minhas costas e eu pudesse finalmente caminhar livremente.

Eu não queria festas, nem várias garotas. Queria apenas a liberdade de pertencer a mim mesmo, de não precisar pensar no que você acharia caso eu fizesse algo errado. Era a fase de querer um tempo pra mim mesmo, de não me prender a ninguém, a não ser a minha cama e minhas fotografias. Por sinal, dei um tempo nelas ultimamente, me lembravam demais você.

Eu sei, de alguma forma, que você me entendeu. Que apesar de ter chorado na minha frente quando te pedi pra ir, entendeu as minhas razões. Sempre soube que você era boa demais pra mim, entende? Nossa, quem mais sairia da minha vida depois de tantos momentos, sem nem reclamar, só porque eu estava cansado de ser de alguém? Você fez isso. Mas, infelizmente, você não saiu só da minha casa. Saiu da cidade, do país. Sumiu por um bom tempo.

As coisas foram perdendo o sentido aos poucos. Pequenos detalhes que comecei a perceber no meu dia a dia. Como por exemplo, eu não querer mais sair de casa, porque o céu sempre me parecia escuro sem você por perto. Ou quando meus amigos me ligavam chamando pra sair e eu lembrava de como você odiava aquele lugar, e acabava inventando alguma desculpa pra não ir.

Daí teve aquele dia, que eu estava arrumando as louças no armário e organizando-as exatamente da mesma forma que você gostava de fazer. Foi nesse dia que eu percebi: continuava te pertencendo, mesmo tendo te mandado ir embora.

Te procurei então nas redes sociais, encontrando uma foto ou duas, você sempre discreta, não é? Reconheci a paisagem ao fundo, lamentando a distância que nos separava e lembrando que fui eu quem a criei. Então lá estava você, em Londres. Vi seu imenso sorriso na foto, recordando as vezes em que sorrisos como aquele eram dirigidos a mim. Suas bochechas estavam rosadas, acho que pelo frio, e estava feliz. Mesmo por uma mísera foto, notei que estava feliz. Os anos que estivemos juntos me fizeram te conhecer tão bem que bastou observar a foto apenas uma vez pra perceber a felicidade que emanava de você.

Decidi que tentaria fazer o mesmo. E tentei, mas em vão. Em todos os relacionamentos que entrava, seu fantasma ia comigo, me mostrando a qualidade que fulana não tinha ou o defeito que faltava nela e que eu amava em você. Depois de várias tentativas, acabei por desistir. Nenhuma delas era você.

E assim se passaram oito meses, em que vivi no automático, às vezes pensando em como fui tão idiota por te deixar ir. Mesmo depois desses oito meses, seu cheiro ainda preenchia minhas narinas quando me deitava pra dormir. Sua voz ainda parecia cantar todas aquelas canções enquanto eu as ouvia. Seu toque ainda mexia comigo a cada sopro de vento que tocava minha pele e eu desejava que fossem sua mãos.

Porém, em vários momentos sorri por saber que você superou. Sorria quando passava em frente da sua casa, que eu sabia, você não tinha vendido antes de ir embora. Sorria quando encontrava fotos suas na internet, quando ouvia falarem de você por acaso. Sorria quando entrava na cafeteria em que você trabalhou, pra logo em seguida querer chorar quando meu café com leite chegava e não estava tão bom, porque não havia sido você a prepará-lo.

Teve aquela época também, que comecei a sair a noite e a beber. Mas mesmo fora de mim eu tinha vontade de catar os cacos das garrafas de vodca que vez ou outra ficavam quebradas no chão, só porque você tinha mania de limpar e arrumar tudo que estivesse fora do lugar. E enquanto eu dançava a noite toda, terminava pensando em como você não sabia dançar, mas sempre saia comigo pra isso.

Naquele oitavo mês, houve a primeira vez que ouvi falarem de você e não consegui sorrir.

— Ela está voltando, acredita? – disse aquela mulher que continuou trabalhando na cafeteria depois de você ter ido embora – Disseram também que tem alguém vindo com ela.

“Tem alguém vindo com ela”.

Essa frase não saia da minha cabeça. E apesar de não saber quem seria esse alguém, não era difícil deduzir que tinha encontrado um cara melhor que eu. Um cara que te ame melhor do que eu fui capaz.

Não demorou muito pros boatos surgirem. Em uma cidade pequena como a nossa, as notícias correm rápido, e logo estavam falando aos montes do seu noivo londrino. Ou em como você era sortuda por ter arrumado um cara “bonito e simpático”, como diziam aqueles que já haviam te visto por aí com ele.

Por motivos que não controlo, o destino não queria que eu te encontrasse, mesmo depois de quase um mês da sua volta. O ar da cidade estava novamente diferente, e em todo lugar que eu pisava, seus pés poderiam ter passado algumas horas atrás. Porém, não é preciso ver pra saber. Já tinha quase a ficha completa: voltou a morar na sua casa, aquela pela qual eu passei várias vezes enquanto estava vazia; estava dando aulas noturnas na faculdade, como sempre quis fazer; carregava no dedo um lindo anel, delicado e discreto; e ele trabalhava no laboratório de medicamentos da cidade.

Foi então que, mesmo sabendo ser estupidez, decidi ver com meus próprios olhos. Meus pés me levaram até sua rua, logo cedo, e eu esperei. Quando o relógio marcou 6h30, sua porta se abriu e ele saiu. E não era mentira o que todos diziam, ele era mesmo muito bonito, até mesmo um homem deveria admitir. No entanto, meus olhos logo mudaram de foco. Você ali, atrás dele, nem tão igual nem tão diferente.

Quando li uma vez que as mulheres sempre voltam melhores, mais independentes e seguras de si, achei a maior besteira. Até eu ter a minha própria mulher que se foi, e agora percebo a verdade. Puta merda, como você voltou mais. Mais bonita, mais sorridente, mais feliz. Seus cabelos continuam grandes e brilhantes, adquirindo tons avermelhados quando em contato com o sol. Está usando roupas coloridas e alegres, uma extravagância da qual não gostava muito antes. E mesmo sem trocar uma palavra com você, Robin, eu soube que muita coisa mudou, além das aparências. A segurança que emanou de você naquele momento preencheu os metros que nos separavam e eu te senti. Senti que ganhou experiência, que viveu e se realizou, que caminhou enquanto eu... Enquanto eu fiquei parado, pensando em como poderia estar caminhando ao seu lado e triste demais pra dar meus próprios passos.

E nesse dia, a esquina da sua casa me serviu de abrigo. E enquanto seus lábios tocavam os dele, eu chorei porque você não me veria. Vendo aquela cena, chorei mais ainda porque sabia que nunca seria o cara a entrar naquela casa e dormir do seu lado. E nesse dia eu soube que estava destinado a dançar sozinho a partir de agora.

E sem perceber já era noite e as luzes dos postes se acendiam, enquanto eu permanecia de pé na sua esquina. De pé e sozinho, pensando em como eu daria tudo pra ser o cara que você leva pra casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O nome dela não tem nenhuma relação com a Robyn que canta essa música, até porque escrevi a história na visão de um homem, pois amo escutar a música na voz do Calum.
Muito obrigada a você que leu, espero que tenha gostado *-*