Não escrita por Yokichan


Capítulo 7
Aqueles que dizem NÃO




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Então Sakura começou a passar mais tempo na casa de Itachi do que na sua própria. Na saída da escola, ao invés de deixá-la em casa como fazia desde o dia em que se conheceram, ele tomava outro caminho e ela não fazia perguntas. Apenas agarrava-se às suas costas e deixava que ele os levasse para onde bem entendesse. O lugar não fazia diferença e Sakura pensava que até mesmo o inferno seria divertido com Itachi.

Nas primeiras vezes que viu o filho chegando em casa com uma garota — uma garota de cabelo cor-de-rosa, olhos pintados de preto e o mesmo ar de problema que ela conhecia tão bem —, Uchiha Mikoto apertou os olhos numa careta de mãe desconfiada e sentiu-se no direito de perguntar o que eles estavam pensando em fazer. Porque, bem, Itachi apenas pegava aquela garota pela mão e a arrastava até seu quarto. E trancava a porta. Então ele sorria um sorriso que deixava a mãe com o coração apertado — porque ela ainda era tão nova para ter netos! — e dizia que eles precisavam fazer um trabalho da escola.

Um trabalho de anatomia humana.

E a Sra. Uchiha não sabia se ele estava brincando ou simplesmente dizendo a verdade. Depois, com o passar do tempo e com a feliz constatação de que não havia barulhos estranhos e suspeitos no quarto, ela disse para si mesma que a garota era até bem bonitinha e parecia simpática. E já não se importava tanto quando Itachi passava horas fechado naquele quarto com ela.

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O quarto bagunçado de Itachi havia se tornado o lugar secreto deles, embora todos na casa soubessem que eles estavam ali. Sakura atirava os tênis num canto e jogava-se sobre a cama dele com a mesma intimidade com que se jogaria sobre a sua. Ela gostava de pensar que aquela agora era a cama deles. Então Itachi desfazia-se da camiseta — Sakura adorava essa parte — e colocava aquelas suas músicas pesadas pra tocar no computador.
Às vezes, ele ia enroscar-se a ela na cama. Cobria-lhe o corpo de beijos e depois ficavam ali, abraçados, conversando baixinho sobre qualquer coisa. Sakura deitava a cabeça em seu ombro e ele gostava de sentir o cheiro de xampu no cabelo dela. Ficava brincando com os dedos finos e pálidos dela nos seus enquanto sua voz monologando sobre outros mundos o envolvia como num feitiço. Nesses momentos, Itachi sentia os braços dela ao seu redor e seus pés frios tocando-lhe as pernas e pensava que poderia matar qualquer um que ousasse levá-la embora.

Às vezes, ela ficava vendo-o tocar. Ele pegava o baixo* encostado na parede, um Fender* todo negro como a noite, apoiava um pé na poltrona para dar melhor suporte ao instrumento e tocava solos que a deixavam arrepiada. Come as you are, do Nirvana, e Seven nation army, do White Stripes, simplesmente a deixavam fora de si. Então ela sentia vontade de pular no pescoço de Itachi e devorá-lo, porque, droga, ele era aquela coisa pálida cravejada de piercings e ela precisava saber o que mais ele sabia fazer com as mãos.

Às vezes, eles simplesmente se divertiam expulsando Sasuke dali.

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Sua mãe havia lhe dito para não incomodar seu irmão mais velho, principalmente quando ele estava estudando no quarto com aquela garota. Sasuke revirou os olhos, cheio de ódio, pensando que se alguma vez na vida Itachi havia estudado, era um maldito manual mecânico de como consertar motos. E, pelos diabos, era ele quem não estava conseguindo estudar de verdade com o barulho infernal que eles estavam fazendo naquele quarto.

Então Sasuke abriu a porta sem bater — porque eles não iam escutar mesmo — e encarou-os com sua típica careta de desprezo. Sakura estava sentada diante do computador — ele reparou num vídeo aberto no Youtube — e Itachi de pé atrás dela, espiando por sobre seu ombro e com aquela porcaria de baixo pendurado no corpo. O irmão mais velho parou de tocar e os dois o encararam como se Sasuke fosse um picolé de abacate no meio do deserto.

Ele ainda não havia entendido por que Sakura agora parecia morar ali.

— Saia daqui, Sasuke. — disse Itachi, voltando a dedilhar o baixo.

— Por quê?

— Porque você é um pirralho.

Sasuke apertou os olhos com raiva. Ele já tinha dezesseis anos — e Sakura também, além de ser sua colega de turma na escola.

— Ela também é.

— Eu sei. — disse o mais velho.

— Então por que ela pode ficar e eu não?

Sakura o ameaçou com o olhar e Itachi apenas abriu um daqueles sorrisos malvados enquanto dedilhava qualquer coisa estúpida no baixo, os cabelos caindo sobre o rosto e um ar de “foda-se” pairando ao seu redor. Sasuke odiava o irmão mais velho por ser tão delinquente e no fundo só queria ser como ele.

— Porque ela é uma garota e você é só meu irmãozinho tolo.

Irmãozinho tolo.

Sasuke se lembraria daquilo quando Itachi viesse lhe pedir que fizesse seu dever de química.

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Nem mesmo Ino, sua melhor amiga, estava satisfeita com... Bem, a aproximação deles. Então numa tarde de domingo em que haviam combinado de se encontrar no shopping para bater um papo de mulher e essas coisas, Sakura resolveu levar Itachi consigo. Disse a si mesma que era “só pra ver a cara da Ino”, embora na verdade quisesse mesmo que a amiga aceitasse o cara de quem ela estava gostando. Além do mais, Itachi não era assim tão insuportável.

A idéia, obviamente, não deu certo.

Sakura sentiu que Ino ia realmente lhe bater quando se encontraram na praça de alimentação e escondeu-se atrás de Itachi. A amiga o olhou de alto a baixo, aquele cara de aparência desleixada, jeans surrado e coturnos de motoqueiro que andava sempre com um cigarro pendurado na boca e um rótulo indicando perigo bem no meio da testa, e deixou os ombros caírem com um suspiro que prometia sermões. Então Sakura abriu um sorriso amarelo e Ino puxou-a pelo braço.

— Por que ele está aqui, Sakura?

— Porque ele quis. — ela deu de ombros.

— Oh, é claro. E por que você não disse que tinha marcado comigo?

— Eu disse, oras.

Ino bufou como se a causa estivesse perdida e perguntou-se por que sua melhor amiga precisava ser tão irritante. Estava prestes a começar o sermão ali mesmo, quando Itachi aproximou-se por trás de Sakura e envolveu-a com um braço. E falou-lhe ao pé do ouvido de uma maneira que respondeu todas as perguntas de Ino. Sakura estava terrivelmente apaixonada.

— Vou dar uma olhada na loja de CDs, ok? — ele disse.

— Sim...

— Você vai ficar bem? — e lançou um olhar desconfiado à Ino.

— Sim...

— Eu volto logo.

E deu-lhe um beijinho na curva do ombro antes de se afastar das duas. Sakura ainda estava pensando no calor dos lábios dele sobre a pele quando Ino a arrastou para uma das mesas e despertou-a daquele sonho com um peteleco na testa. Só então Sakura se deu conta de como a amiga parecia assustadora com aqueles olhos duros e gelados fincados em seu rosto.

— O que foi?

Sim... Sim... Sim, meu amor. — a outra rolou os olhos. — Francamente, Sakura.

— Pare de me arremedar. — cruzou os braços. — Não tem graça.

— Não tem graça mesmo. Só você que ainda não percebeu.

Sakura apertou a boca num bico e desejou que Itachi voltasse logo para que ela pudesse fugir dali. Não estava gostando nada do tom daquela conversa.

— É sério, Sakura. — Ino suspirou. — Eu fico preocupada com você.

— Preocupada com o quê? Você acha que ele vai me matar e me atirar num buraco?

— Algo assim.

Sakura ficou se perguntando se deveria rir ou não. Acabou ficando em silêncio.

— Ele não é assim. — resmungou. — Você não o conhece.

— Basta olhar pra ele.

Não, não basta. Você está sendo preconceituosa.

— Ah, estou? — Ino ergueu uma sobrancelha. — Então me diga o que vocês fizeram no sábado passado.

— Bem, nós... Onde está o garçom? Minha boca está seca.

— Sakura.

— Ok. — deu de ombros. — Nós invadimos uma casa abandonada e nos divertimos muito, se quer saber. A gente jogou aquele jogo do copo e...

Sakura!

O que é?!

Ino inclinou-se sobre a mesa para pegá-la pelos ombros e chacoalhá-la e Sakura encolheu-se, pronta para começar a apanhar. Mas então as mãos da amiga relaxaram e um silêncio estranho se abateu sobre as duas.

Depois de algum tempo, Sakura ousou abrir um olho e espiar.

E viu que Ino estava realmente preocupada.

— Mas que droga, Ino. Eu gosto mesmo dele.

— Só gostaria de ter certeza de que ele também gosta assim de você.

— Você não confia em mim?

Ino sacudiu a cabeça e abriu um sorriso que era mais uma careta.

— Não é questão de confiar em você, Sakura. É que...

— Tudo bem. — e levantou-se. — Se vai ficar com essa cara de bosta toda vez que ver a gente junto, então é melhor fingir que nem me conhece mais.

— Não seja idiota!

— Não seja idiota você!

Itachi estava achando realmente divertido vê-las discutir como crianças até quase ao ponto de se engalfinharem no chão do shopping, mas seu cigarro havia acabado e ele estava a fim de jogar Sakura sobre um ombro e levá-la dali. O cheiro enjoativo de fritura também o estava incomodando.

— Problemas, garotas?

Ele quase recuou um passo com o olhar ferino que a amiga de Sakura lhe jogou no rosto feito uma bofetada. Então ela avançou na sua direção e ele se perguntou que diabos estava acontecendo ali. E, principalmente, que diabos havia dado naquela garota.

Ino enfiou-lhe um dedo em riste no peito e ele ergueu uma sobrancelha curiosa em resposta.

Você é o problema, idiota. — disse ela. — Mas Sakura é minha melhor amiga e eu não vou deixar você ferrar com ela. Então se alguma coisa acontecer e ela sair machucada disso tudo, pode ter certeza de que eu acabo com você.

Sakura estava observando aquilo tudo com a boca meio aberta de espanto.

Entendeu?

— É claro. — ele sorriu. — Mais alguma coisa?

— Por enquanto, não.

Então Ino jogou a bolsa sobre um ombro e saiu desfilando pelo shopping sobre aqueles saltos impossíveis e com uma cascata de cabelos louros balançando atrás dos ombros. E Sakura pensou, estupidificada, que quando crescesse queria ser uma mulher tão assustadora e deslumbrante quanto Ino.

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À noite, escorada no portão de casa e com os braços de Itachi ao seu redor, ela apóia a cabeça naquele ombro coberto por tatuagens que ela não sabe entender e suspira pesadamente. O corpo todo amolece e então aqueles braços quentes a apertam mais. Seus dedos estão fechados sobre a camiseta sem mangas dele e, sem perceber, eles respiram juntos.

— Ninguém quer que eu fique com você. — ela diz baixinho.

— Eu quero que você fique comigo.

A luz da sala se acende e ela fecha os olhos por um momento, amaldiçoando a mãe que com certeza está espiando da janela. A mãe que também não gosta dele. Quando, porém, volta a abrir os olhos, ele está extremamente perto. Então ele a beija. Não um selinho de boa noite, mas um beijo de verdade.

Sakura se pendura em seu pescoço e sente o portão ranger atrás de si. Itachi a está pressionando e apertando tanto naquele abraço que ela geme baixinho durante o beijo e o deseja mais do que tudo naquele mundo. Não há mais mãe nenhuma espiando pela fenda na cortina. Não há nenhuma Ino tentando mantê-la afastada do “cara mau”. Não há nenhum Sasuke para odiá-los até a morte. Não há mais nada que possa ficar entre eles.

E ela sabe que aquele é o modo que ele tem de dizer que a quer.

— Eu também quero você. — ela sussurra ofegante.

Então Itachi caminha de volta até a moto e a deixa ali, parada na beira da calçada fitando o escuro, se perguntando quantas horas ainda faltam para que ela o veja outra vez.


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Notas finais do capítulo

*Baixo: refere-se a contrabaixo.

*Fender: um dos maiores e mais importantes fabricantes de guitarras, amplificadores e contrabaixos.



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