Não escrita por Yokichan


Capítulo 5
Perguntas sem respostas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/662096/chapter/5

Sakura acordou às quatro da tarde com alguém batendo furiosamente na porta do quarto e uma voz de mulher gritando do outro lado. E, por Deus, como sua cabeça doía. Era como se o próprio Monte Fuji* tivesse caído sobre ela e entrado em erupção. Tentou se levantar. Péssima idéia. Uma pontada de dor atravessou-lhe o cérebro feito uma lança incandescente e ela gemeu baixinho, deixando-se afundar na cama outra vez. Só então percebeu um braço de Itachi estendido sobre seu corpo e que a mulher ainda berrava contra a porta.

— Itachi! Até quando você pretende dormir?

Ela viu-o resmungar qualquer coisa com o rosto enfiado no travesseiro e achou graça de como a boca dele parecia meio torta naquela posição. Então ele suspirou como se pedisse que o deixassem dormir mais meia hora, ajeitou-se na cama e puxou Sakura para mais perto. Com o nariz colado ao peito dele, ela aspirou aquele cheiro de cigarro que era tão característico de Itachi e quase se esqueceu da mulher gritando lá fora.

Até ouvir aquela palavra.

— Itachi, eu sei que está me escutando! Não pode ignorar assim a sua própria mãe!

Mãe.

Oh, droga, a mulher histérica berrando e batendo na porta era a mãe de Itachi.

_____________________________________________________________________________

Ainda pesado de sono, ele abriu os olhos e viu-a andando nervosamente, meio afetada, de um lado para o outro do quarto, catando os tênis espalhados pelo chão e tropeçando nas coisas. O cabelo de Sakura era um emaranhado cor-de-rosa e, mesmo assim, ela era a garota mais bonita que ele já tinha visto.

Itachi abriu um sorriso pouco decente ao se dar conta de que ela havia acabado de sair de sua cama — apesar de não terem feito as coisas que ele gostaria de fazer com ela.

Então sua mãe gritou outra maldita vez e ele fechou os olhos, controlando-se para não amaldiçoar a própria mãe. Será que ela não entendia o quanto aquilo era irritante num sábado de manhã?

— Eu já vou! — ele gritou de volta.

Silêncio.

E quando ela voltou a falar, já não estava mais berrando enfurecida.

— Deixei o almoço no fogão pra você, querido.

Uchiha Mikoto era uma mulher bem estranha, Sakura pensou ao desabar na poltrona e suspirar como se o fim do mundo tivesse passado e ela sobrevivido.

_____________________________________________________________________________

Então eles saíram pela janela do quarto — depois, é claro, de Itachi tê-la puxado de volta para cama e a beijado sem parar por uns vinte minutos — e correram até a moto estacionada de qualquer jeito sobre a calçada. E quando Sakura agarrou-se às costas dele, rezando com toda a sua pouca fé para que a Sra. Uchiha não estivesse os espiando da janela, Itachi fez a moto roncar e os levou — rápido demais! — para longe dali.

Sakura sentiu o vento batendo no rosto e sorriu.

Ela havia ganhado muito mais do que um simples beijinho na bochecha.

_____________________________________________________________________________

À noite, ao invés de ligar para Ino e passar o relatório das últimas vinte e quatro horas — ou pelo menos a parte de que ela se lembrava —, como era de praxe, Sakura resolveu mandar uma mensagem para ele.

“Sua mãe viu a gente?”

Enquanto ele não respondia, ela ficou espiando as estrelas pela janela do quarto e contando os segundos. Havia contado até cinquenta e dois quando o celular finalmente se iluminou à mensagem de Itachi.

“Não.”

Ela rolou os olhos, pensando em como ele conseguia ser tão seco.

“Você tem certeza?”

Dessa vez ele não demorou tanto a responder.

“Sim.”

“Como?”

“Ela teria me xingado se tivesse visto você, é claro.”

Sakura imaginou a careta de tédio de Itachi dizendo “é claro” e abafou uma risada com o travesseiro. Rolou de um lado para o outro da cama, pensando no que deveria dizer agora enquanto tudo o que ela queria era que ele estivesse perto outra vez. Então lembrou-se daquela pergunta que estivera a alfinetando o dia inteiro e não pôde mais ignorá-la.

“O que nós somos agora?”

Porque certamente amigos não servia mais. Talvez ele dissesse que eram ficantes — aquela palavra ridícula na qual ela nunca acreditara. Talvez ele dissesse que eram namorados. Talvez ele simplesmente dissesse que não eram nada. Mas Itachi não disse nada.

E ela ficou se perguntando que diabos aquilo significava.

___________________________________________________________________________

Quando o viu de longe na escola na segunda-feira, um olhar pensativo abandonado no rosto e as mãos enfiadas nos bolsos da calça, Sakura sentiu que alguma coisa não estava bem. Mas antes que pudesse alcançá-lo, o sinal para o início do período soou e ela foi arrastada por Ino para a sala de aula.

Durante toda a manhã, não foi capaz de prestar atenção em uma aula sequer e chegou até mesmo a esquecer-se de que Iruka sensei existia, respondendo sua pergunta sobre a estrutura dos átomos com um longo silêncio que fez a turma cair na risada. Então o professor ameaçou-a com a-prova-super-difícil da semana seguinte e ela bateu a testa na classe, perguntando-se se aquilo era um complô, afinal.

Tão logo o sinal para o intervalo tocou, Sakura correu até o pátio. Encontrou-o atrás de um dos prédios mais afastados, recostado à parede e fumando um cigarro. Ele a encarou, afoita e despenteada — porque havia apenas corrido pelos quatro cantos da escola onde ele costumava se esconder até chegar ali —, e ergueu uma sobrancelha curiosa.

— O que... — Sakura ainda estava ofegante. — O que você...

— Hum?

Então ela respirou fundo e se endireitou.

— O que você tem? — perguntou finalmente.

Itachi a fitou como se estivesse diante da raiz quadrada de três.

— O quê?

— É que você parecia estranho hoje mais cedo.

— Estranho?

— Sim. — uma pausa. — Pensativo.

Ele deu uma longa tragada e soprou a fumaça para o alto.

— Ah. Eu estava pensando em comprar um cano novo pra moto.

— Um cano? — Sakura piscou confusa.

— Sim. Cano de descarga.

Uma lufada de vento empurrou uma nuvem de fumaça até ela.

Na verdade, não havia cano nenhum. Itachi só não queria que ela soubesse que era nela que ele estava pensando e contou a primeira mentira que lhe passou pela cabeça. Ele não gostava de se sentir exposto, vulnerável.

— E você também não me respondeu ontem.

— Sério? — Itachi a olhou como se realmente não soubesse de nada.

— A mensagem. — ela estava brincando com os dedos, torcendo-os. — Ontem à noite.

— Oh. A bateria do meu celular acabou. — outra mentira.

Sakura estava a ponto de perguntar por que ele simplesmente não havia ligado a droga do celular no carregador, quando Itachi apagou o cigarro na parede atrás de si e foi até ela. Então toda a sua determinação em arrancar-lhe a verdade se perdeu como areia ao vento quando ele passou os braços ao seu redor e beijou-a. Não um beijo qualquer, mas um beijo que envolvia línguas e que a fez sentir como se as chamas do inferno a estivessem queimando por dentro.

Quando ele finalmente se afastou para poder olhá-la com aqueles olhos negros que agarravam e prendiam, Sakura já não fazia a mínima idéia do que estavam falando momentos antes.

— Quer sair daqui? — ele perguntou.

— Mas e as aulas?

Então Itachi abriu aquele sorriso torto que soava como um pecado.

— Que se dane.

E enquanto o seguia até o muro dos fundos da escola, sua mão dentro da dele, ela pensou que o dia estava mesmo muito bonito para ser desperdiçado dentro de uma sala de aula sem graça. E disse para si mesma.

Que se dane.

_________________________________________________________________________

Deitada ao lado de Itachi sob a sombra de um carvalho no Parque Saruhashi*, respirando o perfume das hortênsias e sorrindo enquanto ele enrolava uma mecha de seu cabelo num dedo, Sakura mandou uma mensagem de celular à Ino.

“Leva a minha mochila pra casa com você? Eu pego depois.”

Ela respondeu em questão de segundos.

“Oh, não, Sakura! Não mate aula com ele.”

Mas era tarde demais.

Então ela enfiou o celular no bolso do uniforme e esqueceu-se do mundo. Principalmente quando Itachi segurou-a pelo queixo e a beijou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Monte Fuji: é a montanha mais alta da ilha de Honshu e de todo o Japão. É também um vulcão ativo, porém de baixo risco de erupção.

*Parque Saruhashi: localizado na cidade de Otsuki, é um parque famoso pela grande quantidade de hortênsias e por uma ponte ali construída de maneira bastante peculiar, sem vigas. (Imagem da ponte Saruhashi: http://www.pref.yamanashi.jp/portuguese/report/2011/images/dsc00680.jpg)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.