Não escrita por Yokichan


Capítulo 3
Ressaca, perguntas e pocky de chocolate




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/662096/chapter/3

Sakura acordou no outro dia atrasada para a escola e sentindo a cabeça badalar como os sinos de Notre Dame. Seu corpo estava esquisito — de repente havia se tornado difícil mover as pernas para fora da cama e caminhar até o banheiro — e sua boca mais seca do que um deserto. E o mais estranho de tudo era que ela estava em seu quarto sem ter a mínima idéia de como havia chegado até ali. Mas Sakura iria perder a primeira aula se não se mexesse logo — e, bem, ela estava realmente precisando de nota em matemática —, então enfiou-se dentro de seu uniforme como que na velocidade da luz e correu até a cozinha na esperança de encontrar algo pronto e prático que ela pudesse ir comendo no caminho.

Deu de cara com a mãe tão logo desceu as escadas. E a mulher estava com aquele olhar de quem tem um longo sermão para passar. Sakura sentiu a fome evaporar de súbito e resolveu que o melhor mesmo era ir andando.

— Oh, mãe. — e abriu um sorriso meio capenga. — Eu já vou indo pra escola.

— Não antes de me explicar por que encontrei você dormindo do lado de fora essa madrugada.

Sakura congelou a meio caminho entre a mãe e a porta da rua.

Droga.

— Dormindo? — ela piscou confusa. — Do lado de fora?

— Eu faço as perguntas aqui. — a Sra. Haruno cruzou os braços. — Você responde.

— Bem, é que...

Pense, Sakura. Pense.

— Eu perdi a chave de casa.

— Oh, é mesmo? E por que será que havia cheiro de bebida na sua roupa?

— Viraram em mim. — e foi abrindo a porta devagar. — Sabe... Sem querer.

— Quero saber onde é que você andou. E quem é aquele...

— Oh, meu Deus! Eu estou atrasada!

E antes que a mãe pudesse fazer mais uma pergunta que ela não saberia responder — porque, pelos diabos, sua mente estava trabalhando tão devagar! —, Sakura disparou porta à fora como se o mundo estivesse acabando. Enquanto corria, ainda ouviu a mãe gritar seu nome e prometer-lhe mil castigos de arrepiar os cabelos, e pensou que se não fosse uma garota problema e não estivesse com tanta vontade de matar alguém, estaria realmente preocupada com aquilo.

Mas agora só o nome Uchiha Itachi queimava dentro dela.

O maldito a havia deixado dormindo na varanda!

__________________________________________________________________________

A primeira coisa que Sakura fez ao chegar na escola foi sentar-se em seu devido lugar e aturar o blablabla de Kakashi sensei sobre atrasos e indisciplina por uns quinze minutos. Havia perdido a primeira metade do período e explicações valiosas sobre gráficos e polinômios, e enquanto o professor discursava sobre o comportamento inaceitável de certos alunos, ela pensou que se daria muito mal na próxima prova.

Oh, sim, Sakura estava ferrada.

Ino jogou-lhe um pedaçinho de papel dobrado e redobrado mil e uma vezes e ela esperou que Kakashi sensei se virasse outra vez para o quadro para ler o bilhete. Em meio a uma enxurrada de coraçõezinhos e coisas do tipo, havia uma pergunta escrita com caneta cor de rosa.

“Isso não tem nada a ver com aquele cara, tem?”

Sakura praguejou baixinho e soube que estava duplamente ferrada.

____________________________________________________________________________

A segunda coisa foi caçar Itachi pelo pátio no horário do almoço. Encontrou-o no terraço da escola, aproveitando a sombra de uma parede e seu pacote de pocky sabor chocolate. Quando a viu se aproximar como uma locomotiva desgovernada e furiosa capaz de atropelá-lo, ele simplesmente abriu um sorriso que claramente zombava dela e esperou a tempestade começar.

Sakura parou bem diante dele e fuzilou-o com o olhar.

— Seu cretino filho da mãe.

— Parece que já está recuperada de ontem.

— Você me deixou na rua!

Itachi mordeu mais um pocky — oh, como era crocante e maravilhoso — e ofereceu a caixinha a ela. Sakura a fez voar longe com um tapa e ele deu de ombros. Estava vazia mesmo.

— Não deixei você na rua. Deixei você na sua própria casa.

— Mas do lado de fora!

Ele ergueu uma sobrancelha.

— O que você queria? Que eu te empurrasse por uma janela?

— Você poderia simplesmente ter tocado a campainha.

— E ter levado um tiro do seu pai? — ele riu. — Não, obrigado.

Sakura bufou e sentou-se no chão ao seu lado, apesar da vontade imensa de chutá-lo. Ficaram em silêncio por um momento, olhando para o céu azul sem nuvens. Um burburinho incessante de vozes pairava no ar morno do meio-dia e as copas verdes das árvores balançavam devagar.

— Eu poderia ter sido assaltada. — disse ela.

— Quem diabos iria querer te assaltar?

— Caras idiotas como você, por exemplo.

Itachi soltou uma risada pelo nariz — se é que aquilo podia ser considerado uma risada — e recostou-se melhor na parede. Então fechou os olhos e Sakura se perguntou se ele havia dormido. Ele era suficientemente estranho para isso.

Ela flagrou a si mesma admirando seus braços pálidos cujas veias transpareciam sob a pele na altura do cotovelo — ele havia dobrado as mangas da camisa por conta do calor — e sacudiu a cabeça, afastando o pensamento. Então abraçou os próprios joelhos e tentou parecer normal.

— Vai ter uma festa amanhã. — ele disse de repente. — Quer ir?

— Uma festa de gente estranha?

— Uma festa de gente como você e eu.

— Gente estranha. — ela deu de ombros.

O sinal para as aulas da tarde tocou e Itachi levantou-se. Sob a luz ofuscante do sol, as tatuagens em seus braços eram apenas uma mancha negra. Sakura ficou olhando por tempo demais e seus olhos começaram a arder, obrigando-a a refugiar-se outra vez na sombra da parede.

— Te vejo mais tarde.

Quando ela ergueu o rosto novamente, ele já tinha ido embora.

____________________________________________________________________________

Naquela noite, esparramada sobre a cama enquanto a música de Balzac* enchia o quarto, Sakura não conseguiu mais guardar aquilo só para si — ela precisava contar pra alguém — e mandou uma mensagem de celular para Ino.

“Itachi me chamou pra ir numa festa com ele amanhã.”

Segundos depois, Ino respondeu. Ela vivia grudada no celular.

“Que tipo de festa?”

“Eu não sei.”

“Você vai?”

Sakura rolou sobre a cama, ajeitando-se melhor.

“Sim.”

A última mensagem de Ino demorou mais para chegar e Sakura rolou os olhos, imaginando o sermão que a amiga provavelmente estava escrevendo naquele momento. Mas, meio chocada, percebeu que na mensagem só havia um NÃO e um pedido que ela esqueceria assim que colocasse o pé para fora de casa.

“Não faça coisas proibidas.”

Então Sakura afundou o rosto do travesseiro e sorriu, desejando que o amanhã à noite não demorasse demais pra chegar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Balzac: banda de horror punk japonesa.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.