Não escrita por Yokichan


Capítulo 12
Por favor, não diga não


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo, gentes.



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O primeiro a começar a gritar foi o pai de Sakura.

NÃO!

O homem ergueu-se de repente com o peito tão estufado e o rosto tão vermelho que Itachi pensou que ele fosse explodir, literalmente. Mas a explosão foi outra. E uma explosão berrada.

— Sakura não vai a lugar algum! Muito menos com um moleque que anda por aí fazendo barulho com uma porcaria de moto velha! E não me olhe com essa cara de quem não está gostando! Eu sei muito bem o que marginais do seu tipo pensam das garotas do interior... — e apontou para Sakura encolhida no sofá — Que elas são bobinhas e inocentes e que vocês podem fazer o que quiserem com elas, não é?! Elas podem até ser, mas têm pais para protegê-las! Então FIQUE LONGE da minha filha!

Sakura pestanejou. Estarrecida.

Seu pai havia mesmo dito — gritado! — aquilo tudo? E ainda a chamado de garota bobinha do interior? Na frente de Itachi, que deveria estar se mordendo muito para não cair na risada? Oh, meu Deus.

Ela apenas fechou os olhos com força e respirou devagar.

E tentou contar até dez.

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Mas acabou parando no seis

GAROTA BOBINHA DO INTERIOR

e mandando tudo para o inferno. Seu sangue estava quente demais para pensar em números. Então foi a vez dela de gritar.

O quê? — e encarou o pai com aqueles olhos de arrancar uma alma do corpo — Você me chamou do que, velhote?! Que diabos você está pensando?! Eu não sou nenhuma garotinha idiota do interior, e se você pensa isso, era melhor mesmo que eu tivesse ido embora com Itachi! E aí vocês NUNCA MAIS IAM ME VER!

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Então quando a Sra. Haruno desmaiou e caiu dura para trás — talvez por que a filha tivesse ameaçado sumir no mundo para nunca mais voltar —, todos começaram a gritar ao mesmo tempo. E enquanto abanava desesperadamente a mãe com uma almofada, choramingando pedidos de desculpa e tremendo de medo que ela tivesse morrido do coração, e por sua causa, Sakura prometeu a si mesma que comeria salada de lula toda sexta-feira se a mãe acordasse — e ela odiava lula.

Ela arrependeu-se da promessa assim que a mãe abriu os olhos.

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Depois houve apenas o silêncio. Um silêncio estranho e nauseante que sufocava e dava à Sakura a sensação de ter borboletas batendo asas no vazio da barriga. Era como se tudo, inclusive ela mesma, estivesse fora do lugar.

Então ela reparou como todos pareciam perdidos em seus próprios mundos e sentiu vontade de chorar. Itachi apenas fitava o nada a sua frente como se nem mesmo estivesse ali, enquanto o pai encarava as próprias mãos e a mãe a olhava com aqueles olhos tristes como se só quisesse entender por que sua única filha os estava deixando. Sakura sentiu a dor de vê-los tão perto e ao mesmo tempo tão distantes de si, as pessoas que mais amava, e perguntou-se, os olhos cheios de água, se aquilo um dia passaria.

Ia abrindo a boca para dizer qualquer coisa, não sabia bem o que, uma súplica ou um pedido de desculpas talvez, só não queria mais continuar afogada naquele silêncio que parecia empurrá-la para baixo, quando Itachi deslizou do sofá ao seu lado e curvou-se à moda antiga diante de seu pai. As mãos espalmadas sobre o tapete, a cabeça baixa, a testa quase tocando o chão.

Então Uchiha Itachi falou.

— Por favor, Sr. Haruno, eu lhe peço. Deixe que Sakura venha comigo. Eu prometo não deixar nenhum desgraçado tocar num fio de cabelo dela ou coisa do tipo. Vou arranjar um emprego em Tóquio e darei a sua filha uma vida boa, uma casa pra morar e assim que Sakura fizer dezoito anos, darei a ela o meu nome. Eu a amo e sei que a farei feliz, então, por favor, não nos diga não.

Sakura ficou ali, pasma, o rosto branco feito um fantasma e a boca meio aberta de surpresa, olhando para a cabeça baixa de Itachi e se perguntando se aquilo estava mesmo acontecendo. Porque se havia alguém naquele mundo que ela jamais imaginaria que pudesse se curvar diante de alguém e suplicar por alguma coisa, esse alguém era Uchiha Itachi. O mesmo que agora estava ali derrubando todas as suas certezas e fazendo exatamente o contrário.

E fazendo por ela.

Sakura fincou as unhas nas próprias pernas enquanto o queixo tremia.

— Sakura. — o pai chamou numa voz que pretendia ser dura, mas que amolecia.

— O quê?

— Você quer mesmo ir pra Tóquio com esse cara aí no chão?

— É tudo... — falar agora era difícil. — É tudo o que eu mais quero.

— E se eu disser não, você vai acabar fugindo, certo?

— Certo.

Ela o viu apertar as mãos e olhar para um ponto qualquer na parede com uma expressão amarrada e durona naquele rosto que tentava se manter firme apesar dos olhos bem abertos e cheios de água, e soube que seu velho pai estava se esforçando muito para não desmoronar e chorar na frente de todo mundo como um menino de oito anos. Porque, bem, sua princesinha de cabelo cor-de-rosa estava saindo de casa para viver com um homem que era vários centímetros mais alto do que ela e dois anos mais velho e...

E sua Sakura o amava.

Ele soube desde que a filha começou a sorrir do nada no café da manhã.

Não havia mais nada que ele pudesse fazer.

— Vá para o seu quarto, Sakura.

— Mas pai...

— Vá arrumar as suas malas antes que eu mude de idéia.

O Sr. Haruno jamais se esqueceria do abraço que a filha lhe deu depois de ter gritado e chorado e pulado o suficiente, e tudo ao mesmo tempo. Porque foi o abraço mais longo e mais forte que ele ganharia em toda a vida, o abraço que o fez sentir como se o coração estivesse derretendo dentro do peito.

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Naquele Natal, Sakura ganhou presentes realmente estranhos. Começando pelo conjunto de panelas que a mãe lhe dera para inaugurar a nova casa — como se ela soubesse cozinhar qualquer coisa além de macarrão instantâneo —, passando pelo spray de pimenta do pai, para o caso de alguém tentar assaltá-la, é claro, e terminando pelo conjunto de lingerie de renda preta e cinta-liga, presente de Ino — e quem mais lhe daria uma coisa daquelas? —, para “apimentar as noites em Tóquio”. Não que Ino agora simpatizasse com Itachi, mas se tinha que ser daquele jeito, o que se podia fazer?

O melhor presente veio dele.

Estavam na calçada em frente à casa dela naquele fim de noite, a neve caindo devagar, flutuando na escuridão e cobrindo o banco da moto estacionada logo ao lado, dando os últimos beijos porque o Sr. Haruno havia praticamente mandado Itachi embora — “já não está na hora de você ir pra casa, Uchiha?” —, quando ele tirou um anel do bolso e colocou-o no dedo dela. Sakura ficou olhando aquela coisa dourada e reluzente brilhando no escuro da noite feito um vaga-lume ou um sonho bonito de se ter, e embora tivesse ficado grande demais, ela pensou que aquele anel era a coisa mais incrível que já tinham lhe dado. E que nunca mais se separaria dele.

Itachi soltou um tsc e torceu a boca numa careta.

— Droga. Ficou grande.

— Não importa.

— A culpa é sua por ter dedos tão finos.

— Oh, cale a boca, Itachi.

E inclinou-se nas pontas dos pés para beijá-lo. E enquanto ele a abraçava, passando os braços por debaixo do casaco dela, apertando-a e trazendo-a para mais perto daquele jeito que a fazia esquecer-se do resto do mundo, Sakura sentiu o peso do anel balançando no dedo — talvez pudesse pendurá-lo numa corrente no pescoço mais tarde — e sussurrou-lhe ao ouvido.

— Eu te amo.

— Eu também. — ele sussurrou de volta.

— Me beije.

Então ele o fez. E quando afastou-se, os dois estavam respirando estranho.

— Sakura.

— O que é?

— Eu preciso ir.

— Não... — ela resmungou e pendurou-se no pescoço dele. — Não vá ainda.

— Você não entendeu. Eu preciso.

Oh.

Sakura sentiu o volume debaixo das calças dele e soltou uma risadinha maldosa. Estava pensando em como seria bom — ótimo! — simplesmente esquecer sua promessa de passar aquela última noite em casa e se mandar dali com Itachi, quando a porta da frente se abriu e sua mãe espiou para fora. No segundo seguinte, Itachi já estava montado em sua Harley Davidson e o motor roncava como se tivesse pressa.

Derrotada, Sakura deu-lhe um beijinho de boa noite.

— Amanhã às oito. — lembrou-lhe.

— Amanhã às oito.

— Não se esqueça.

— Como eu poderia? — e abriu um daqueles sorrisos tortos que ela adorava antes de sair acelerando e jogando neve pelas sarjetas.

Sakura ainda ficou ali, sorrindo e sentindo-se como a garotinha boba do interior que o pai havia dito que ela era, se perguntando como diabos seria capaz de dormir aquela noite.


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