Não escrita por Yokichan


Capítulo 11
Blackout




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Sakura ficou ali parada olhando-o como se esperasse pelo resto da história. Porque, é claro, não podia ser só aquilo, podia? Tinha que ter mais um pedaço, a parte em que ele abria um daqueles sorrisos tortos e dizia que estava brincando, que não iria para lugar nenhum. Voltar para Tóquio... Que bobagem. Não tinha graça nenhuma. Então ela esperou pelo final em que Itachi daria de ombros, porque, tudo bem, era só uma mentira idiota mesmo, e faria tudo voltar ao normal com um beijo de tirar o fôlego.

Mas tudo o que ele disse foi:

— Depois do Natal.

E ela sentiu que o mundo havia começado a desmoronar.

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Havia sido uma coisa estúpida a se fazer, ela sabia, mas não conseguiu pensar em mais nada além de dar-lhe as costas e sair correndo feito louca do apartamento. Porque não queria que ele a visse chorar e porque simplesmente não conseguia mais olhá-lo nos olhos. Estava morrendo de raiva — aquele cretino, como ele era capaz de pensar em deixá-la depois de tudo o que tinha acontecido entre eles? — e de alguma outra coisa que ela não soube definir, mas que a estava rasgando por dentro.

Uchiha Itachi era um maldito filho da mãe e ela era uma tola.

Enquanto descia correndo as escadas do prédio, xingando baixinho e soluçando, ela o ouvia gritar seu nome. Ouvia os passos pesados dele tentando alcançá-la e o próprio coração batendo tão forte como se fosse quebrar. Mas não importava. Agora nada importava. E quando atravessou a rua sem conseguir enxergar direito um palmo diante do nariz porque os olhos estavam cheios de água, Sakura nem mesmo se importou com a possibilidade de ser atropelada e ter o cérebro esmagado por uma porcaria de carro.

Que se danassem Itachi e o resto do mundo.

— Sakura! — ele berrou atrás dela. — Dá pra parar e me escutar?!

Não!

Ela não tinha a mínima idéia de para onde estava indo, mas não fazia diferença.

— O que pensa que está fazendo?!

— Saindo de perto de você!

— Mas que droga... — ele quase cruzou por cima de um garoto de bicicleta. — Por quê?!

— Porque eu quero!

Sakura soltou um grito — ou talvez tenha sido um choramingo ou um soluço ou algo meio berrado e meio chorado — quando ele a agarrou por um braço e a puxou de volta. Tentou soltar-se, mas foi em vão. O máximo que conseguiu foi arranhar-lhe um pouco os braços e atrair os olhares curiosos das pessoas que passavam por perto. E sentir o sangue gelar quando ele gritou de verdade pela primeira vez.

Pare com isso!

Então ela o olhou com olhos arregalados e a boca apertada numa careta de quem se esforça para não chorar e soube que também estava sendo difícil pra ele, que estava sendo difícil pra caramba. E, por Deus, tudo o que Sakura mais queria naquele mundo era descobrir que aquilo não passava de um sonho ruim.

Itachi soltou o ar devagar e fechou os olhos como se estivesse muito cansado.

— Está me machucando. — ela choramingou.

Só então ele pareceu perceber que ainda apertava-lhe o braço com força e soltou-a. E ficou olhando como que melancólico para as marcas vermelhas que seus dedos haviam deixado.

— Desculpe.

Silêncio.

Ela olhava para o meio da rua e ele se perguntava como iria fazer aquilo.

— Sakura...

— Se vai me dizer que gosta muito de mim e que sente muito, mas que acabou, pode poupar saliva. Eu realmente odeio todo esse...

— Você poderia simplesmente calar a boca e me deixar falar?

Ela apenas encarou-o com aqueles olhos verdes e perigosos que fuzilavam.

— Claro.

— Obrigado.

— E então?

— Depois do Natal eu volto pra Tóquio.

— Isso eu já sei.

— E eu amo você.

Sakura engoliu qualquer palavra afiada que pudesse ter na ponta da língua e sentiu que aquela coisa havia ficado entalada no meio da garganta. Sentiu que a coisa se transformava num nó que doía e machucava e, droga, ela nem mesmo conseguia mais respirar direito. Sentiu que os olhos se enchiam de água outra vez e logo o rosto de Itachi ficou como papel molhado.

Ela só queria abraçá-lo bem forte e nunca mais soltá-lo, mas seu corpo estúpido simplesmente não se movia e, oh, que diabos estava acontecendo ali?

— Então... — ele ergueu uma sobrancelha. — Essa não é a hora em que você diz que me ama também?

— Oh, Itachi, eu...

Sim, ela queria muito dizer que o amava. Que o amava tanto que às vezes pensava que poderia morrer de amor. Queria dizer que amava seus olhos negros como a noite e suas tatuagens macabras. Queria dizer que amava o modo como ele enganchava um braço em sua cintura enquanto caminhavam por aí e como a acordava com uma mão passeando pelas costas. Queria dizer que amava seu cheiro de cigarro e suas risadas que assustavam. Queria dizer que fazer amor com ele era como arder no melhor dos infernos e que nenhum outro cara poderia fazê-la tão feliz. Queria dizer que, sem ele, nunca seria a mesma coisa.

Mas não conseguiu.

— Tudo bem, não importa. — e enxugou-lhe as lágrimas com um polegar. — Só pare de chorar como uma criança.

— Mas você vai...

— Sim, eu vou enfrentar os seus pais e espero não levar nenhum tiro.

Sakura pestanejou sem entender.

— O quê?

— Você acha que eu devo ir sem os piercings?

— Ainda não entendi.

Então Itachi abriu um sorriso que a fez estremecer — porque era óbvio que ele estava aprontando alguma — e a puxou para mais perto. E deu-lhe um beijinho num canto da boca.

— Não posso roubar uma garota de casa e levá-la para Tóquio comigo.

Sakura precisou agarrar-se a ele para não cair dura para trás.

Tóquio, você disse?

— Sim, foi o que eu disse.

— Oh, meu Deus...

— Pare de chamar pelo seu deus. — ele sorriu. — Já estou cheio disso.

— Então você... — ela engoliu a seco. — Não vai me deixar?

E enquanto Itachi ria como se aquela fosse a coisa mais absurda que já tinha ouvido na vida, ela afundou o rosto em seu peito e chorou. Chorou como a criança que ele havia dito que ela era. Chorou porque ele não a deixaria mais sozinha e porque as coisas não acabariam ali. Chorou porque havia sentido tanto medo como nunca antes. Chorou porque Itachi era um idiota e era o cara que ela amava.

Quando finalmente não houve mais nada para ser chorado, Sakura só conseguia pensar em uma coisa.

— Sim... — ela disse.

— Sim o quê?

— Você deveria ir sem os piercings.

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Mas antes disso...

Houve o momento meio louco e desesperado em que ele precisou pegá-la nos braços e levá-la às pressas de volta para o apartamento porque, se continuassem se beijando ali daquela forma tórrida e obscena, seriam presos por atentado ao pudor. Então Itachi a jogou sobre a cama, arrancou-lhe a roupa do corpo com os dentes — Sakura adorava aquele seu lado selvagem — e a fez gemer pelo que restava daquela tarde de sábado.

Só depois foram pensar no resto do mundo. E nos pais de Sakura.

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Ao longo daquela noite na casa dos Haruno, Itachi sentiu várias vezes que levaria mesmo um tiro. Como quando a mãe de Sakura abriu a porta e deu de cara com eles ali. Ou como quando o pai dela ergueu os olhos do jornal que estava lendo e deu-lhe uma boa olhada. Ou mesmo quando ele deixou escapar um palavrão durante o jantar no momento em que a Sra. Haruno lhe perguntou se estava gostando da comida, e ele disse que estava “boa pra caralho”.

Sakura apenas baixava os olhos para o prato e engolia a vontade de rir.

Tudo foi muito sistemático. Primeiro, foram os olhares. Os pais dela ficavam olhando-o de longe, sem se aproximarem muito daquele cara estranho que a filha havia trazido para casa e apresentado como seu namorado. Eram olhares pesados que analisavam, desconfiavam e incomodavam, e Itachi não gostou nada daquilo. Porque, droga, ele havia até mesmo tirado os piercings e usado uma camiseta de mangas compridas para esconder as tatuagens!

Depois foram as perguntas.

— Então, você mora por aqui? — o Sr. Haruno quis saber.

— Sim.

— Com seus pais?

— Até pouco tempo atrás. Mas agora estou morando sozinho.

Sozinho, é claro. Aquilo chegava a ser uma ironia.

— Quer dizer que já trabalha.

— Bem... — Itachi levou algum tempo mastigando a comida. — Eu tenho umas economias.

— Então não trabalha?

— Não.

Silêncio.

Sakura teve certeza de que seu pai estava pensando que Itachi não passava de um vagabundo pervertido com aquele cabelo comprido e sentiu que deveria falar qualquer coisa para desviar o rumo da conversa.

— O irmão mais novo de Itachi é meu colega na escola.

— Oh, é mesmo? — sua mãe abriu um sorriso. — Ele se parece com você, Itachi-kun?

— Não exatamente. Ele é meio...

Itachi torceu a boca numa careta e Sakura soube que ele diria alguma besteira.

— Ranzinza.

— Oh.

— Sabe quando você está com dor de barriga? Sasuke é assim o tempo todo.

Então a mãe de Sakura ficou olhando-o sem saber o que dizer e o Sr. Haruno com uma cara de poucos amigos, bem poucos, porque o maldito garoto, além de parecer um encrenqueiro desocupado, também não sabia manter uma conversa decente. E, que diabos, era o namorado de sua única filha!

Sakura achou melhor servir logo a sobremesa.

E, finalmente, chegou a parte em que Itachi se sentava num dos belos sofás da sala de estar dos Haruno e dizia por que realmente estava ali. Tinha certeza de que seria, no mínimo, chutado porta à fora e achou melhor beber o seu chá antes de começar a falar. Mas então o pai de Sakura pigarreou impaciente e ela, sentada ao seu lado, deu-lhe uma cutucada discreta.

— Bem, eu vou direto ao ponto. — disse ele. — É um pedido que gostaria de fazer.

— Sim?

O Sr. Haruno empertigou-se em sua poltrona e Sakura começou a torcer nervosamente os dedos sobre o colo, pensando se não teria sido melhor simplesmente ter pulado aquela parte — porque era claro que seu pai nunca a deixaria ir embora com alguém que vivia de economias — e fugido com Itachi. Mas agora era tarde demais.

— Por favor, permita que Sakura vá viver em Tóquio comigo.

Foi como se o mundo tivesse parado de girar.


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