Não escrita por Yokichan


Capítulo 10
Dois




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Então numa dessas manhãs em que você acharia ótimo poder simplesmente continuar dormindo, Ino flagrou a melhor amiga aos beijos — beijos longos e desesperados que só poderiam levar a um fim se eles estivessem num quarto — com aquele cara estranho no estacionamento e pensou, mais uma vez, que eles não deveriam namorar. Porque um dia Itachi iria embora daquela cidadezinha sem graça onde não havia nada para ele e Sakura ficaria para trás, pensando em tudo o que poderia ter sido.

Pensou em dizer aquilo a ela.

Mas então viu-a abrir um sorriso tão grande e se pendurar no pescoço dele antes de saírem caminhando de mãos dadas e deu de ombros, sabendo que era tarde demais. Nada do que ela dissesse adiantaria, e além do mais, eles até que faziam um casal bonitinho.

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Sakura e Itachi passaram as férias de verão colados como chiclete.

Ele havia saído de casa depois de uma discussão calorosa com o pai e alugado um quartinho no quinto andar de um prédio de reputação duvidosa — o entra e sai de caras mal-encarados, dançarinas de boates e todo tipo de criatura esquisita havia, pelo menos, baixado o preço do aluguel. Então Sakura praticamente se mudou para lá também.

Era o canto só deles.

Passavam os domingos jogados na cama de mola que rangia toda vez que eles se viravam, escutando música, conversando besteiras e comendo o que quer que desse pra pedir por tele-entrega. Às vezes, ficavam ouvindo a mulher do apartamento de cima brigar com o marido e acabavam concordando, depois de rirem até a barriga doer, que aquele homem não podia ser lá muito feliz. Às vezes apenas ficavam se olhando em silêncio até que um dos dois pegava no sono. Sakura gostava de vê-lo dormir, de observá-lo de perto, com calma — as linhas de seu rosto, os dedos das mãos, o desenho das tatuagens descendo pelos braços, uma mecha de cabelo caída sobre o rosto, o sobe e desce do peito enquanto Itachi respirava. Só então se aconchegava junto a ele e dormia também.

Outras vezes, conversavam sobre coisas das quais não gostavam de falar.

— Como vai ser depois? — ela perguntava.

— Depois do quê?

— Depois que você terminar a escola.

— Eu não sei. — silêncio. — No que você está pensando?

— Em nós.

Então ela escondia o rosto no pescoço dele e Itachi ria baixinho.

— Nós estamos aqui. Não vê?

— Até quando?

— Não importa. — e lhe roubava um beijinho. — Só pare de pensar bobagem.

E ainda havia as vezes em que, bem, as coisas esquentavam. Tudo começava sem querer, um beijo longo demais, uma mão subindo pela cintura, um abraço que não terminava, os pelos do corpo se eriçando porque alguém havia tocado acidentalmente algo que ficava numa zona perigosa... E então qualquer limite ficava para trás. Itachi ainda tentava se afastar antes que fosse tarde demais, mas era difícil quando Sakura não ajudava.

E se tornou impossível na noite em que ela lhe pediu para não parar.

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O mundo desabava numa chuva pesada do lado de fora quando ela se deu conta de que estava sem a camiseta e com a calça jeans meio aberta. E que, por Deus, a mão de Itachi estava escorregando lá pra dentro enquanto ele beijava-lhe o pescoço feito um vampiro. E ela não queria mesmo parar. Não daquela vez, não agora, quando todo o seu corpo parecia estar pegando fogo e o único que aparentemente poderia apagá-lo — ou reduzi-la às cinzas — a estava devorando por inteiro. Então Sakura simplesmente puxou-o para cima de si e gemeu baixinho em seu ouvindo quando sentiu que os dedos dele haviam chegado .

Depois disso, não houve mais volta.

Ele beijou-a e mordeu-a e apertou-a como se fosse quebrá-la. E quando ele foi para o meio de suas pernas e ela sentiu aquele volume rígido e — oh, meu Deus! — grande pressionando sobre o tecido de sua calçinha, Sakura não soube se queria gritar ou pedir que ele fosse logo com aquilo, porque ela simplesmente não aguentava mais esperar. Então ele livrou-a do sutiã e abocanhou-lhe um seio e depois o outro, e agora sim ela estava quase gritando enquanto gemia.

E pedindo.

— Oh, Itachi... Por favor, por favor, faça isso!

Ele mordeu-lhe o lábio inferior e ela viu o desejo nos olhos dele.

— Você quer? — a voz ofegante. — Você quer mesmo? Se não eu...

— Sim, eu quero! — ela afundou-lhe as unhas nos braços. — E eu quero agora.

— Então peça.

Sakura gemeu alto e enlaçou as pernas na cintura dele quando sentiu-o pressionar aquela coisa outra vez sobre sua calçinha de um modo que a estava deixando louca.

— Oh, meu Deus... Cale logo a droga da boca e...

Peça.

Então ele afastou-lhe a calcinha com um dedo e a coisa já estava lá, tocando-a, quente e pronta, pronta para invadi-la, para mergulhar dentro dela. Sakura mordeu o próprio lábio, as unhas deixando marcas vermelhas nos braços e costas dele, e pensou que se não fizessem aquilo agora, ela poderia chorar. Porque, diabos, era a sensação de maior desespero que ela já havia experimentado na vida.

E Itachi era realmente um cara cruel.

Então ela agarrou-o pelos cabelos e obedeceu.

— Faça amor comigo. — ofegante, num sussurro. — Uchiha Itachi.

E ele fez.

Afundou dentro dela de uma só vez, tão molhada e tão apertada, de sua garota-problema ali derretendo debaixo dele, gemendo de uma maneira que poderia fazê-lo perder o controle e estragar tudo num segundo. E, droga, ela era tão linda... Suas pernas de dar água na boca, sua pele tão branca, tão macia, e aqueles olhos verdes que, ele soube desde a primeira vez, seriam sua perdição... Tão linda e tão sua.

Sakura.

Ele sentiu-a riscando suas costas com as unhas e penetrou-a com mais força. Os seios dela tremiam a cada estocada — aqueles seios redondos que ele só queria colocar na boca e devorar — e os pelos de seu corpo ficavam de pé toda vez que ela murmurava o seu nome. Ele estava queimando por dentro e ela pedia mais. Então ele deu tudo o que tinha. E quando derramou-se dentro dela, o rosto afundado em seu pescoço e a respiração suspensa, Itachi a sentiu soltar um suspiro trêmulo e pensou que a amava.

Sakura. Ele amava aquela garota.

E quando deitou-se ao lado dela no meio daquela madrugada chuvosa e ficou encarando o escuro sem conseguir dormir, ele pensou que nunca havia tido tanta certeza de alguma coisa na vida.

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Naquela noite, Sakura sonhou que ele a estava deixando. Sonhou que ele lhe dizia adeus e que ela agarrava-se a sua roupa como louca e pedia, implorava para que ele não fosse embora. Sonhou que caía de joelhos e o via caminhar para longe, para um lugar onde ela não poderia ir também. Sonhou que chorava e que o mundo era uma droga sem sentido. Sonhou com a tristeza e com a escuridão.

Sonhou com um dia em que Itachi não estaria mais por perto.

Mas quando acordou sobressaltada no meio da noite, a chuva batendo no vidro da janela e os trovões balançando tudo lá fora, viu que ele ainda estava ali. E percebeu que tinha os olhos molhados e o coração apertado de um jeito estranho. Tinha sido só um pesadelo, só um maldito pesadelo, ela repetiu para si mesma antes de enroscar-se nele outra vez e sentir a pele de seu ombro contra os lábios.

Itachi estava ali.

Então ela fechou os olhos e voltou a dormir.

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Quando abrisse os olhos no outro dia e se desse conta de quem era e de onde estava, Sakura pularia da cama num grito e perceberia que teria duas coisas muito importantes a fazer — porque simplesmente não haveria a opção de não fazê-las.

A primeira seria correr para casa na esperança de que os pais não tivessem chamado a polícia por causa de seu sumiço e contar uma mentira muito boa e convincente que explicasse por que diabos ela havia passado a noite fora — e isso incluía explicações sobre não ligar avisando o que quer que fosse e sobre todo o movimento do universo que pudesse ter influenciado no processo.

Ela só esperaria que a mãe não inventasse castigos bizarros além da conta.

A segunda seria comprar a bendita pílula do dia seguinte na primeira farmácia que encontrasse pela frente.

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Na medida em que o tempo foi passando — e que eles foram se tornando uma coisa só —, acabaram percebendo que não conheciam realmente um ao outro. E, bem, no começo aquilo não tinha mesmo importância. Era tão fácil simplesmente subir naquela moto barulhenta e sair riscando a cidade feito o vento, rindo de coisas sem sentindo e curtindo a noite como se ela fosse uma criança.

Mas então houve um momento em que ele se perguntou quem era mesmo Haruno Sakura e que ela se perguntou quem era mesmo Uchiha Itachi. E, a partir daí, começaram a prestar mais atenção em certas coisas.

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Itachi não gostava de camarão.

Na verdade, ele odiava camarão. Sempre que comiam juntos, Sakura reparava que ele catava todos os camarões da comida e os amontoava num cantinho da embalagem — porque não era como se eles tivessem pratos no apartamento — como coisas estragadas ou algo do tipo. Então ela se perguntava como diabos ele podia não amar camarão, uma coisa tão divina e deliciosa, e acabava comendo todos os que ele deixava de lado. Porque era simplesmente um pecado não comê-los.

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Ele também não gostava nada quando ela xingava sua moto.

Tudo bem que era uma moto velha e meio enferrujada e que às vezes os deixava na mão no meio do caminho — como quando resolveram ir a um festival de fogos de artifício na cidade vizinha e acabaram empenhados uma tarde inteira numa maldita estrada onde nunca passava ninguém —, mas, que droga, era uma bela Harley Davidson 69 e ele adorava aquela moto.

Adorava o guidão alto, o banco de couro e toda a sua lataria meio capenga.

E quando Sakura a resumia a uma “porcaria de lata velha e barulhenta” em uma de suas crises histéricas e irritantes, Itachi morria de vontade de dar-lhe as costas e deixá-la sozinha no meio da estrada para gritar e xingar à vontade.

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Mas, bem, ela era sua garota e havia coisas nela que ele gostava bastante. Como a cor de seus olhos, a mania de apertar a boca num bico quando ficava brava e de mexer no cabelo quando estava irritada, o jeito de cruzar as pernas e ficar balançando um pé no ar e o modo de se maquiar. Não exatamente o modo, mas todo o processo.

Ela se sentava diante do espelho do quarto e ele ficava observando-a da cama, os braços cruzados debaixo da cabeça e os olhos grudados no reflexo do rosto de Sakura. Ele achava-a sensual enquanto se maquiava. O modo experiente e elegante como pintava os olhos de preto, como passava o lápis rente aos cílios, como se parecia mais com uma mulher do que com uma garota de dezesseis anos. Então antes que ela terminasse, Itachi a puxava de volta para a cama e eles acabavam ficando o dia todo ali.

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Quando Ino começou a comentar sobre suas olheiras, Sakura se deu conta de que havia sempre dois problemas em dormir no apartamento de Itachi. O primeiro era que simplesmente não dormiam antes das duas da madrugada — e ela desconfiava de que também não deixavam os vizinhos dormir enquanto, bem, estavam se divertindo a dois. O segundo era o maldito computador de Itachi.

E, oh, como ela odiava aquele computador.

Ficava a noite inteira se virando na cama e resmungando sozinha — porque geralmente Itachi dormia feito uma pedra — sem conseguir pegar no sono por causa da droga da luz do computador ligado do outro lado do quarto. Tudo porque Itachi sempre se esquecia de desligá-lo e ia pra cama sem se importar que aquela porcaria pegasse fogo durante a madrugada ou que simplesmente não a deixasse dormir. Então quando ficava com ódio o suficiente para jogar as cobertas para um lado e sair de uma cama quentinha e dos braços de Itachi, Sakura ia desligá-lo.

O problema do computador foi resolvido quando ela teve a brilhante idéia de dizer a Itachi que passaria a dormir na própria casa — uma mentira, é claro. A partir de então, ele nunca mais foi juntar-se a ela na cama sem antes desligar o computador e tirá-lo da tomada.

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Sakura passou a perceber que gostava dos pequenos detalhes daquela vida a dois, de coisas que talvez não tivessem tanta importância, mas que sempre a faziam se sentir meio flutuante.

Como quando andavam de mãos dadas pela rua. Ela gostava das mãos grandes e quentes de Itachi e do modo como as suas desapareciam dentro delas. Gostava da sensação de segurança que aquilo lhe dava, de sentir-se protegida e invulnerável — não que ela fosse uma garota frágil por natureza. Gostava quando ele lhe pegava pela mão e a puxava para um canto solitário da escola. E então a fazia sair de lá com a boca meio inchada e com a respiração fora de ritmo.

Ou como quando ele a mordia. Na orelha, no pescoço, no braço, no peito, na barriga ou nas coxas... Enroscados sobre uma cama desfeita, ele mordia-lhe um seio e ela gemia baixinho. E chamava-o de canibal num sussurro antes de “morder-lhe” um beijo ela própria. Sakura gostava de olhar-se nua no espelho no outro dia e ver as marcas vermelhas das mordidas dele pelo corpo, por mais doentio que aquilo parecesse.

Ou como quando Itachi fazia-lhe surpresas. Mesmo surpresas bobas como dar-lhe um chocolate barato de presente ou esperá-la na porta da sala de aula na saída da escola. Ela gostava de pensar que ele sentia a sua falta quando não estavam juntos durante as aulas, que mal esperava para vê-la outra vez — embora sentimentalismo parecesse não fazer parte do perfil de Uchiha Itachi. Gostava quando ele a deixava de boca aberta, sem saber o que pensar.

Bem, gostava. Até que o dia em que ele lhe disse que voltaria para Tóquio.


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