Não escrita por Yokichan


Capítulo 1
O cara mau e sua Harley Davidson


Notas iniciais do capítulo

Gente, escrevi essa fanfic há tempos, postei em outros sites e esqueci de postar aqui. Agora que percebi isso. Estou chocada. Mas enfim, antes tarde do que nunca.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/662096/chapter/1

NÃO.

Sakura nunca soube o que essa palavra significava.

Quando criança, a mãe vivia brandindo-lhe um dedo autoritário diante do nariz e despejando aquele monte de nãos em cima dela. Não entre em casa com os sapatos sujos. Não coma sem antes lavar as mãos. Não risque nas paredes com giz de cera. Não corte os cabelos das suas bonecas. Não pise nos canteiros do jardim. Não aceite nada de estranhos. Não durma sem escovar bem os dentes. Não brigue com seus coleguinhas de escola. Não morda as outras crianças só porque elas riem da cor do seu cabelo. Não chegue perto de cachorros, eles mordem; nem de gatos, eles têm doenças. Não recorte o jornal do seu pai.

E, oh, não olhe assim pra sua mãe, garota.

Então Sakura abria um sorriso travesso e fazia tudo o que lhe diziam para não fazer. E não importava se o castigo fosse levar algumas palmadas no traseiro ou ficar um mês inteiro sem assistir seu desenho favorito, converter o NÃO em SIM era sempre mais divertido e compensava qualquer punição.

O proibido a atraía como a porta da geladeira atrai o imã.

Foi então que começaram a chamá-la de garota problema.

E, bem, até que ela gostava do apelido.

________________________________________________________

Então chegou um dia em que apareceu na cidade alguém que conseguia ser ainda mais problema do que ela — sua mãe murmurou uma prece pedindo socorro quando soube da novidade.

No início, Sakura apenas soltou uma boa gargalhada e dispensou Naruto com um gesto desdenhoso de mão — era claro que o boato viria através dele, o garoto mais tagarela e hiperativo da escola. Como as pessoas podiam acreditar naquela besteira? Era totalmente impossível haver dois como ela naquele mundo e em todos os outros. Mas então ela o viu, o cara terrível e assustador e marginal e fora da lei — e o que era mais que tinham dito dele? — que também não conhecia o NÃO e soube que era tudo verdade.

Oh, meu Deus, ele era mesmo um tremendo problema.

Um problema escandalosamente bonito.

O garoto apareceu nos portões da escola montado em sua Harley Davidson depenada e barulhenta, vestindo jeans rasgado, coturnos de couro e coberto de piercings e tatuagens, e Sakura pensou, de boca aberta, em quantos problemas eles poderiam aprontar juntos. Porque se ela sozinha podia fazer de Otsuki* um inferno, aquilo iria queimar até às brasas com os dois no comando.

Sakura acabou perdendo a primeira aula da manhã para descobrir o nome dele. E quando finalmente conseguiu arrancá-lo da mulher da secretaria, sentiu vontade de invadir a sala de aula e espancar Sasuke até à morte. Por que diabos ele não havia lhe dito que tinha um irmão mais velho e que o dito cujo agora estudaria ali, com eles?

De qualquer forma, ela passou o resto do dia repetindo o nome dele.

Uchiha Itachi.

________________________________________________________

Ela o perseguiu e o observou de longe pelos cantos da escola como uma sombra durante dois dias. Viu-o andar de uma sala à outra com as mãos nos bolsos, os coturnos pesados fazendo barulho e um ar de preguiça no rosto que indicava que Itachi estava pouco se lixando para aquilo tudo. Viu-o sentado pelo pátio com seus fones de ouvido e a mente em outro mundo enquanto deveria estar estudando álgebra ou qualquer outra coisa tediosa. Viu-o dar um peteleco com dois dedos na testa de Sasuke sempre que os dois se cruzavam pelos corredores — e viu a careta de ódio do mais novo mais de uma vez. Viu-o fumar escondido nos cantos mais isolados da escola. Viu-o subir em sua moto envenenada no final das aulas e sair acelerando pela rua até desaparecer. Viu-o comendo pocky e bebendo refrigerante.

Sakura o viu o tempo todo sem saber que ele também a via.

Então, no terceiro dia, ela ignorou o conselho de Ino — “não se meta com ele” —, sua melhor amiga desde sempre, e o esperou no estacionamento da escola depois de haver soado o sinal para o fim das aulas. Ela estava pensando se ele tinha um capacete reserva quando Itachi chegou, as fivelas dos coturnos tilintando e uma mochila surrada pendurada em um ombro.

Ele simplesmente montou na moto e disse:

— Suba.

Sakura se deu conta de que não havia capacete nenhum porque caras maus e garotas problema não usam capacetes. Eles apenas aceleram e saem voando por aí sem medo de morrer.

Sem medo de viver.

— Meu nome é Sakura.

— É mesmo? — ele procurou a chave em um dos bolsos e a encontrou.

E meteu-a na ignição.

— Achei que você gostaria de saber.

Itachi a olhou e ergueu uma sobrancelha.

— Eu gostaria que você subisse logo nessa moto.

Então Sakura ajeitou a mochila nas costas e empoleirou-se atrás dele na Harley. E abraçou-o. E percebeu, os pelos do corpo ficando de pé, que ele cheirava a cigarro e metal enferrujado — ou talvez a ferrugem fosse da moto. Itachi disse qualquer coisa que ela não escutou, os roncos do motor eram capazes de deixá-la surda, e antes que Sakura pudesse gritar um O QUÊ em seu ouvido, ele saiu cantando pneu numa velocidade louca.

Quando chegasse em casa e desabasse num sofá, ela decidiria que ele provavelmente havia dito “segure-se”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Otsuki: cidade da província de Yamanashi, no Japão.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.