Unspoken escrita por LelahBallu


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!!

1 - Então ao contrário das outras ones que geralmente posto em Give me Love, essa estou postando separada. Acontece que eu sabia desde que a ideia me veio a cabeça que até para "one" ela seria um pouquinho longa, eu espero que gostem!
2 - Escrevi essa fic sempre escutando "The Wind and The Wave - Chasing Cars" Cover de Snow Patrol. Caso queiram escutar também aqui está o link: https://www.youtube.com/watch?v=M-7A0g8Y0OA



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Acordei com o alarme soando em tom estridente, soltei um resmungo enquanto me virava e tentava ocultar o som insistente colocando um travesseiro sobre minha cabeça, mas não importava o quanto eu queria ignorar o alerta, eu precisava largar a preguiça e autopieade e me colocar de pé. Este seria um novo dia. Um recomeço. Tentaria sufocar a sensação de perda que sempre me seguia junto à de derrota e iria à tão aguardada entrevista de emprego.

Mais uma.

Essa vinha sendo minha rotina por um longo tempo, mais do que eu gostaria, eu costumava ter tudo, eu não era apenas rico, eu era Oliver Queen. Eu tinha minha própria empresa, eu tinha uma família que me adorava, eu tinha Felicity.

De todas as coisas que eu perdi nada fazia mais falta do que Felicity, estávamos noivos na época, éramos um casal apaixonado, ainda que alguns não fossem a favor do nosso relacionamento eu não ligava, nenhum de nós dois se importava com o que meus pais desejavam para mim. Tínhamos um ao outro e isso era tudo o que importava, ao mesmo era o que costumava ser.

Os pensamentos sombrios iam e vinham enquanto eu fazia minha barba.

Eu me lembrava da última vez em que rimos juntos. Uma piada idiota que contei apenas para fazê-la rir, ela estava triste, minha mãe havia dito que não estaria em nosso casamento, eu honestamente não me importava, mas Felicity disse que algum dia eu lamentaria isso e não queria ir ao altar sendo a razão de uma nova briga entre nós dois. Eu concordei em conversar com minha mãe apenas para deixa-la mais tranquila, eu sempre fui muito taciturno, nunca havia sido bom com as palavras, tentava demonstrar o que eu sentia por Felicity através de ações, por que nunca fui capaz de fazer longos discursos, dizer belas palavras e fazer lindas declarações de amor, já havia dito que a amava, mas saiu natural, estávamos deitados, conversando sobre tudo e nada, então eu disse, apenas uma linha, ela não fez um grande tumulto por que me conhecia, ela sorriu e deitou sua cabeça em meu ombro, poucos minutos depois ela dormiu enquanto eu me concentrava no som de sua respiração e lembrava-me da delicadeza por trás de seu sorriso, no brilho suave dos seus olhos. Voltei a dizer apenas quando a pedi em casamento, fui desajeitado e tinha quase certeza que se meu jeito fechado não a tinha feito desistir de mim, o desastre que eu estava sendo aquela noite faria com que ela saísse correndo, mas ela disse sim, e por um longo tempo nada foi capaz de interromper nossa bolha de felicidade.

Quando brigamos, “a briga” levou tudo o que eu tinha. Fui um idiota. Felicity trabalhava na Queen Consolidated, ela era para ser meu braço direito, era nela em que eu deveria ter confiado, mas confiei nas mentiras de Isabel Rochev, acreditei em sua suposta traição, estava tão irritado, sentindo-me tão traído que não dei ouvidos as suas explicações. Acabei sem empresa. Afastando-me de minha família por acreditar que eles estão por trás disso e me afastei de Felicity. Fui orgulhoso demais mesmo após cair em conta de que havia sido uma armação.

Distraído com meus pensamentos soltei um palavrão quando senti a lâmina arranhar minha pele e um filete de sangue surgir da pequena abertura, estava tão concentrando em minhas lembranças que acabei me cortando, providenciei um pequeno curativo com pressa, pois eu estava determinado a não chegar atrasado nessa entrevista, eu não podia perder tempo pensando na minha ex-noiva que não via há seis meses. Deveria me apressar se desejasse pegar o ônibus que pararia em frente ao prédio no qual ocorreria a entrevista.

Apesar da possibilidade atraso não resisti a tomar um café da manhã reforçado e só então desci as escadas do velho prédio em que eu morava, tinha dado apenas um passo para fora do prédio quando o senti deslizar no cimento fresco e em um segundo eu sentia o impacto de minhas costas contra o chão, eu não precisava forçar muito minha mente para imaginar o aspecto que eu teria agora, considerei retornar e trocar de roupa, dar uma desculpa válida para o meu atraso, mas no momento eu não poderia arriscar perder nada mais, então me ergui recolhendo meu orgulho junto e praticamente corri até o ponto.

– Oh inferno! – Gritei quando observei o ônibus se afastar, apesar de saber que era inútil segurei minha pasta firmemente e corri atrás dele enquanto gritava para que o motorista parasse, cheguei a colar com ele e bati na lateral do ônibus, quando olhei para a janela acima parei bruscamente fazendo com que eu me questionasse se não havia sido produto de minha imaginação, por breves segundos olhos azuis me encararam do alto da janela, seu olhar tão perplexo quanto o meu, encarei a traseira do ônibus desaparecer na próxima esquina e mais uma vez senti a sensação de perda que costumava ser minha companheira nos três primeiros meses.

Assustei-me com ao buzina de um carro, o motorista gritava chamando-me irresponsável, ainda alheio caminhei até a calçada enquanto recuperava meu fôlego que havia se esvaído com a mera visão de seus olhos azuis em seu rosto aflito, respirei fundo e encarei meu relógio de pulso.

– Mais que merda de dia. – Resmunguei enquanto buscava com os olhos algum táxi. Não estava em meus planos gastar dinheiro com táxi, mas a essa altura eu estava aflito, com minha súbita onda de azar demorou alguns minutos para que eu finalmente conseguisse chamar a atenção de um táxi e quando finalmente o fiz ainda perdi alguns minutos a mais negociando um preço justo pela corrida, mas acabei cedendo, sem dúvida nenhuma o taxista podia sentir meu desespero e estava se aproveitando disso.

– Está um belo dia, não é mesmo? – Perguntou olhando-me através do espelho retrovisor, eu sabia que puxava conversa para me distrair do taxímetro, ou talvez por passar tantas horas por trás do volante tivesse a necessidade de conversar com seus passageiros, mas no momento meu humor não estava nem um pouco bom, eu não estava nem perto do sociável.

– Sim. – Menti, o dia estava horrível, e mal havia começado, eu não estava pronto para o que quer que seja que ele tenha preparado para mim. O taxista pareceu finalmente notar minha expressão fechada, pois assentiu e não voltou a dizer uma palavra mais, concentrei-me em listar em minha mente quais as perguntas mais prováveis que me fariam e quais respostas eu poderia dar que fizesse com que me considerassem um bom candidato, era melhor do que voltar a pensar nela, estava tão concentrado tentando criar uma resposta forte para “O que te atraiu na Palmer Technologies?” Que levei alguns segundos para perceber que havíamos parado.

– Por que você parou? – Perguntei preocupado e voltando minha atenção uma vez mais para o relógio de pulso. – Não podemos parar agora. Temos que ir!

– Desculpe senhor, mas parece que teve algum acidente mais a frente. – Franzi o cenho enquanto afastava meu olhar e me concentrava no aglomerado de pessoas, algumas saiam dos carros a nossa frente, o tumulto impedia que eu pudesse enxergar além, Fyers como havia se apresentado esticou seu pescoço. – Parece que um ônibus virou. – A principio sua informação não me chamou atenção, até que por um momento, muito breve, considerei a possibilidade, a imagem de quando eu bati na lateral do ônibus chamando a atenção feminina me voltou à mente e lentamente o medo se infiltrou em meus ossos.

– Você disse um ônibus? – Perguntei negando-me a entrar em pânico, o que não faltava nessa cidade era ônibus, não poderia ser justamente o dela.

– Sim... Senhor, você não pagou a corrida! – Escutei seu grito soar as minhas costas enquanto eu saia do carro e avançava por entre os outros, eu não entendia por que ninguém estava correndo para ajudar até que notei o quão crítico era, meus olhos passearam rapidamente pela cena a minha frente, o carro que parecia ter sido o motivo do acidente estava destruído e fumaça saia dele, o ônibus que tinha virado de lado mais parecia um novo acidente prestes acontecer, as chances de explosão era enorme.

– Alguém chamou por ajuda? – Perguntei a mulher que exibia um celular colado a sua orelha. Ela assentiu e pude notar que informava o endereço, voltei a encarar o ônibus e meus olhos encontraram rapidamente os números, perdi o fôlego quando a confirmação veio. – Não. - Esse era o ônibus que eu deveria ter entrado. – Não! – Balancei a cabeça, o desespero tomando conta de mim. – Não ela. – Murmurei antes de avançar correndo, escutei os gritos de protesto da mulher, mas tudo o que eu tinha em mente era que precisa encontra-la, ela não podia estar morta, não ela.

Cheguei ao ônibus escutando alguns gritos de desespero e o escalei pela parte traseira, ajoelhei-me tomando cuidado para não colocar meu peso sobre a janela, apenas sobre a superfície de metal.

– Todos estão bem? – Gritei tentando chamar a atenção, notei que havia poucas pessoas, mas nãos consegui encontra-la de imediato.

– Por favor, nos ajude! – Uma garota pediu chorando.

– Está bem, eu vou ajuda-la. – Tentei tranquiliza-la. - Eu preciso que se afastem e cubram os olhos. Você me entendeu? – Perguntei. Ela murmurou um sim hesitante e esperei que fizesse como eu havia pedido. – Falei em tom firme tentando acalma-la. Tirei meu terno e o envolvi em meu braço, reunido toda a minha força quebrei o vidro recebendo algumas exclamações assustadas.

– Eu vou levantar as mulheres. – Um homem falou. Estendi meu braço recebendo primeiramente a garota que não parecia ter mais de quinze anos, ajudei-a a sair e quando fui ajuda-la a descer notei que outros homens haviam se aproximado, e a passei para seus braços, voltei a fazer o mesmo com cada um até que o homem que estava me ajudando de dentro segurou minha mão e saiu.

– Ainda falta uma mulher. – Murmurei inquieto.

– Foram-se todas já. – Comentou. – Temos que sair daqui cara. – No momento em que ele falou labaredas de fogo começaram a consumir a frente do ônibus. – Vamos! – Chamou-me uma vez mais, mas segurei seu braço impedindo que descesse.

– A mulher loira, olhos azuis. – Murmurei. – Ela desceu em algum ponto?

– Muitas mulheres desceram. – Retrucou olhando para o fogo. – Precisamos ir.

– Ela desceu? – Insisti.

– Eu não sei quem é ela. – Respondeu. – Mas tem uma loira lá dentro, ela está presa, não há tempo. – Não esperei sua resposta, com pressa entrei pela janela enquanto ele murmurava “É sua morte”, quando meus pés atingiram o chão cheio de vidro eu já estava dominado por adrenalina e mais do que isso, por puro desespero.

– Felicity? – Gritei seu nome enquanto avançava pelo ônibus. Escutei um murmuro fraco que me fez caminhar até quase a dianteira do ônibus, a encontrei entre duas cadeiras, estava presa, seus olhos me encaram perplexos, o brilho de lágrimas atraindo toda minha atenção.

– Oliver? – Perguntou com voz tremula.

– Está tudo bem. – Murmurei tentando acalma-la. – Estou aqui. – Seus olhos piscaram incrédulos e novas lágrimas deslizaram por seu rosto. – Eu vou morrer?

– Não enquanto eu estiver por perto. – Prometi.

– Socorro. – Escutei a voz masculina chamar, afastei-me de Felicity apenas para olhar em direção a voz, era o motorista, com alguns passos pude chegar até ele, também estava preso e o fogo logo o consumiria.

– Eu volto. – Prometi, antes de retornar até Felicity. – Eu vou tira-la daqui.

– Você precisa ir embora. – Seus olhos correram até meu braço que apesar da proteção do casaco eu tinha ferido. – Você está machucado.

– Eu não vou a lugar nenhum sem você. – Murmurei enquanto tentava erguer o banco que prendia, ela gritou de dor quando tentei puxa-la, e sua mão foi de imediato a sua barriga que até o momento não havia tido minha atenção, com a respiração em suspenso notei que estava grávida e essa informação teve o poder de por um breve momento me chamar atenção.

– Oliver vá embora! – Exigiu tomando fortes respirações. – Não há necessidade de ambos morremos.

– Você já tem um nome? – Perguntei a distraindo. Ela piscou sem entender no começo até que notou que do que eu estava falando. Ela assentiu.

– Olivia. – Murmurou com novas lágrimas. – Eu ia chama-la de Olivia.

– Você vai. – Afirmei. – Você não vai morrer Felicity, eu preciso que você me ajude, por Olivia, você precisa me ajudar, por favor. – Seus olhos me encaravam repletos de lágrimas. - Por mim, por que eu não vou a nenhum lugar sem você. – Repeti. Ela assentiu ainda chorando. – Pronta? – Ela voltou a assentir, forcei o banco para cima enquanto ela tentava afastar seu corpo, com esforço consegui espaço suficiente para ela sair, soltei um suspiro de alívio quando conseguimos, mas ainda havia muito perigo, logo o ônibus poderia explodir, eu precisava tira-la daqui, escutei novos gritos de socorro do motorista e me apressei em sustenta-la contra meu corpo enquanto retornava até a janela que eu havia quebrado, estava pensando qual seria melhor opção: subir e puxa-la ou ergue-la, quando uma voz masculina se elevou me chamando.

– Senhor, precisa sair agora mesmo. – O jovem paramédico exigiu.

– Tire-a daqui. – Pedi, mas ele já estava estendendo suas mãos para alcança-la. Quando ele a puxou inteiramente olhei para a direção do motorista. – Senhor?

– Leve-a. – Exigi. – Agora! – Ele assentiu e sumiu de minha linha de visão, eu estava a poucos passos do motorista quando tudo o aconteceu, em menos de um segundo tudo o que eu conhecia desse mundo já não me pertencia, todas as memórias, todos os sabores, todos os beijos, brigas. Todas as risadas, todos os lamentos, tudo o que eu já conheci como meu e o que ainda seria foi deixado para trás.

Supostamente antes de morrermos deveríamos ter um clipe em nossas cabeças, um inventário com nossos momentos mais importantes, tal como uma contagem regressiva, entretanto eu não vi esse vídeo, eu perdi o momento de vê-lo, eu apenas tinha um pensamento, que se resumia em apenas um nome. Felicity.

***

Quando abri meus olhos eu não sabia se minha mente estava pregando uma peça, uma peça de mau gosto, mas uma peça. Acordei no chão e olhei para o teto branco, confuso passei então a olhar para as paredes e então ao chão, tudo era branco, parecia uma enorme garagem ou balcão, o ambiente etéreo, o chão frio, tudo isso me confundia.

– Mas que mer...

– Eu teria cuidado com a boca, filho. – A voz masculina se ergueu em algum ponto atrás de mim, ergui-me rapidamente e encarei minhas roupas, sem nenhuma surpresa constando que eram brancas. Minha visão ainda embaçada demorou a focar o rosto em minha frente e quando fiz cheguei à conclusão de que havia enlouquecido.

– Pai? – Perguntei incrédulo. – Não pode ser, você está...

– Morto? – Perguntou inclinando sua cabeça e exibindo um sorriso divertido. – O que o faz pensar que você também não está?

– Eu estou? – Perguntei confuso. – Eu morri?

– Chega a ser irritante como vocês sempre fazem essas perguntas. – Murmurou se afastando, optei por segui-lo. – “Eu morri?” “Não, não pode ser”, “Isso é coisa da minha mente, eu tenho certeza que eu estou sonhando” “Eu não posso morrer, eu tenho muito que fazer, eu praticamente não vivi.” – Bufou. – Seres pretenciosos e egoístas todos vocês.

– Nós? – Perguntei cada vez mais certo de que havia enlouquecido. – Pai...

– Eu não sou seu pai. – Negou. – Vocês também tem essa mania, sempre assumo a forma de alguém próximo a vocês.

– Então quem é você? – Perguntei começando a me aborrecer. – Deus? – Cuspi a palavra, não por desrespeito ou algo do tipo, eu tenho quase certeza que Deus não seria um ser tão intratável como o que estava em minha frente, eu ainda não tinha descartado que esse não era apenas um sonho. Ele riu diante minha pergunta.

– Garoto, Deus tem muito com o que se preocupar do que está fazendo uma visita a você. – Deu de ombros. – Eu não sou Deus, se eu fosse não teria que está realizando pequenas tarefas como essa.

– Tarefas?

– Sim. – Assentiu. – Eu tenho que lhe dar um pequeno aviso antes que volte.

– Então eu não estou morto?

– Claro que você está, do contrário eu não estaria perdendo meu tempo aqui. – Resmungou. – Bem, aconteceu que você terá sua segunda chance.

– Por quê?- Perguntei hesitante.

– Não sei. – Deu de ombros. – Você é tão irritante que por mim já estaria de fato morto, você sabe de vez.

– Eu não entendo...

– Inteligência nunca foi seu forte. – Zombou. – Mas temos pouco tempo, você vai voltar, você terá sua chance, ele acha que você a mereceu por ter morrido por outras pessoas, mas existe uma única maneira de você ter uma vida longa e feliz. –Advertiu-me. – Você não poderá chegar perto daquele ônibus, ou tudo se repetirá e terá apenas gastado meu tempo à toa entendeu? E eu não gosto de perder meu tempo.

– Mas Felicity estava no ônibus.

– Sim. - Assentiu sem paciência.

– Se eu não for até o ônibus ela vai morrer.

– Um ponto para você. – Sorriu com ironia. – Agora feche os olhos. – Mandou. - Está na hora de voltar.

– Mas...

– Feche os olhos garoto. – Exigiu novamente.

– Espere. – Pedi. – Por que você não está de branco? – Perguntei notando que se vestia de negro, um claro contraste com todo o ambiente.

– Feche os olhos. – Exigiu novamente sem nenhuma paciência agora. Acatei sua ordem esperando que algo de extraordinário acontecesse. – A morte não usa branco, filho. – Escutei a voz sussurrar mesclando-se ao som irritante do meu despertador.

Soltei um resmungo e me virei na cama com o intuito de ignora-lo, mas o eco da voz em meu sonho fez com que eu me erguesse de vez sentindo o lençol molhado em minha pele, aquilo não havia sido um sonho, havia sido um pesadelo, meus olhos rapidamente encontraram o calendário e dei-me conta de que hoje seria a entrevista para a Palmer Technologies e me apressei em ir até o banheiro, o pesadelo tomou toda minha energia, eu passei cada momento dele tentando o entender, fiquei tão concentrado nisso que acabei me machucando ao fazer a barba, não seria o rosto que eu queria apresentar na entrevista, mas tentaria os surpreender em suas perguntas que eu vinha estudando por toda a semana.

O estranho sonho tinha deixado apenas pedaços, mas foi o suficiente para me deixar inquieto e sem fome, não perdi tempo tomando café da manhã e me apressei em descer as escadas, momentos antes de sair do prédio um homem me gritou.

– Cuidado! – Alertou-me, parei momentos antes de pisar no cimento, ele ainda estava terminando e exibiu um sorriso. – Essa foi por pouco chefia.

– Sim. – Concordei inquieto. – Muito pouco. – Murmurei, ainda com a sensação de déjà vu, caminhei cada vez mais apressado até o ponto de ônibus. Demorou alguns minutos até que o meu ônibus finalmente aparece na minha linha de visão, estava prestes a erguer a mão para pedir que parasse quando a frase veio até a minha mente.

“Você não poderá chegar perto daquele ônibus, ou tudo se repetirá.”

Então eu percebi, não havia sido um sonho, não havia sido um estúpido pesadelo. Iria acontecer, o ônibus ia virar, comigo nele ou não, mas eu estava pouco me importando comigo, eu não ligava se tinha morrido antes, tudo o que me importava era que se tudo era igual, Felicity estava naquele ônibus e que ela havia sobrevivido, se eu não entrasse nele, ela estaria morta. E com isso eu não podia lidar.

Ergui minha mão com o ônibus a poucos metros em frente ao ponto, apesar de ter parado o motorista me lançou um olhar rabugento, flashes de seu corpo ensanguentado pedindo por socorro veio a minha mente, paguei ao cobrador enquanto com o olhar buscava pelo rosto feminino, quando finalmente meus olhos tocaram os seus fui atingido por uma onda de emoção, eu precisava mantê-la salva. Ela me encarava assombrada, e sua mão automaticamente foi para sua barriga inchada, me aproximei a surpreendendo e sentando ao seu lado.

– Felicity. – Murmurei a cumprimentando.

– Oliver. – Devolveu o cumprimento. – Eu... Você... Nossa. – Tentou se controlar. – Tem sido um longo tempo. – Murmurou por fim.

– Sim. – Concordei. – Por que você não desce comigo? – Sugeri. Estava ansioso por tira-la daquele ônibus. – Eu descerei no próximo ponto. – Menti. – Podemos tomar algo e conversar.

– Eu não estou interessada em conversar com você Oliver. – Negou. – Você pode tomar seu café sozinho.

– Nós precisamos conversar. – Murmurei, encarei sua barriga tentando convence-la. Olivia era um assunto do qual eu queria falar, quando tivéssemos em segurança, só estava levando isso à mesa agora por que precisava tirar ela urgentemente desse maldito ônibus.

– O bebê não é seu. – Declarou com voz trêmula.

– Você está mentindo. – Retruquei. – Ambos sabemos que eu sou pai.

– Não, não é. – Voltou a negar. – O que você quer Oliver? – Perguntou inquieta, então olhou para frente.

– Sua barriga claramente é de mais do que seis meses. – Dei de ombros. – Ela é minha.

– Eu nunca falei que era uma garota. – Murmurou confusa, então voltou a ficar séria. – E eu posso muito bem ter te traído não é mesmo? Afinal não foi disso que você me acusou antes? Apenas não com outro homem, mas ainda assim foi traição. – Antes que eu pudesse dizer algo mais, pedir desculpas e insistir para que descêssemos, ela me encarou apontando para fora. – Seu ponto.

– Eu não vou sem você. – Murmurei decidido, ela piscou como se as palavras tivesse causado alguma reação nela, estava desconcertada, mas logo o seu semblante fechou.

– Você não teve problemas antes. – Retrucou. – Quando Isabel tomou sua empresa e fez com que tudo parecesse minha culpa, você me deixou, me acusou de ter te traído e me deixou, você tem ideia do que passei?

– Eu sinto Felicity, eu fui estúpido. – Murmurei tenso. – Eu preciso falar com você, mas não aqui.

– Aqui é tudo o que você terá. – Murmurou fria.

– Não diga isso. – Pedi. – Eu não posso aceitar só aqui. – A fitei ciente de que estávamos cada vez mais próximos do local do acidente. Então tive que aceitar que eu não teria chances de tira-la do ônibus antes de tudo acontecer. Analisei as pessoas que estavam no ônibus, apenas mais dois pontos e aconteceria, pelas minhas contas 7 pessoas desceriam antes, eu poderia levar Felicity para outro banco, para que ela não ficasse presa, pelo o que eu sabia o fogo começaria na parte da frente, olhei para trás analisando minha melhor opção, quando o ônibus virou as duas portas ficaram contra o chão ficando bloqueadas, eu precisava leva-la para algum banco do lado direito.

– Você não está na posição de escolher. – Murmurou chamando minha atenção.

– Podemos mudar de lugar? Vamos para o banco de trás. – Sugeri atraindo seu olhar reprovador. – Aqui está quente.

– E por que estaria frio lá atrás? – Retrucou.

– Por favor, Felicity. – Pedi não me importando como soava desesperado, escutei o apito de pedido de parada. – Eu aceito apenas o agora, mas vamos conversar lá atrás.

– Por que você está tão estranho? – Não esperei por seu consentimento, levantei-me e puxei seu braço a forçando a se levantar, ela desequilibrou a primeiro momento e me lanchou um olhar rabugento enquanto me acompanhava. Antes que ela pudesse se sentar no banco da janela me interpus em seu caminho fazendo com que ela me encarasse ainda confusa. – Brigando pela janela?

– Você me conhece. – Dei de ombros. Ela sentou ao meu lado e me encarou com expectativa.

– Eu confio em você. – Falei por fim. – Sobre o bebê. – Expliquei. – E sobre todas as outras coisas, eu sempre confiei em você. E é por isso que quando ela me apresentou suas assinaturas nos documentos, quando falou aquelas coisas todas tão cuidadosamente encaixando-se... Quando ela fez isso, me quebrou, você é a única pessoa em que confiei cegamente, e parecia que você tinha me traído, eu me senti traído, eu fui idiota, estúpido e me arrependo, há muitas coisas que eu queria dizer a você Felicity. – Murmurei olhando brevemente pela janela tentando avaliar quanto tempo eu tinha, mas já estávamos quase lá. – Muitas coisas que talvez não pudesse mudar nada do que você pensa de mim, mas honestamente a única coisa que quero que você sempre tenha em mente é que sempre amei você, e que nada, nem mesmo a possibilidade de uma morte iminente tem o poder de alterar isso, eu te amarei além da morte. – Seus olhos me encaram perplexos com a intensidade do que havia escutado, eu sabia que faltava pouco, eu sabia que estava prestes a acontecer e sabia que usaria toda a força que eu tinha para tira-la de lá uma vez mais.

– Oliver...

– Eu te amo. – Murmurei segundos antes de envolvê-la em meus braços e sentir uma forte freada seguida da enorme pancada, protegi sua cabeça enquanto o ônibus virava, minhas costas sentiu o impacto da janela quando no chão, gritos dominaram o ambiente, e por alguns segundos o pânico me dominou, respirei fundo tentando por um tempo assimilar o estrago, com exceção de alguns cortes eu estava bem, encarei Felicity em meus braços e ela me encarou assustada. A ajudei a se erguer e verifiquei como ela estava. – Você está bem? – Perguntei preocupado, ela assentiu ainda tremula, quando me dei por convencido que ela estava bem a soltei.

– Precisamos sair daqui. – Murmurei. – Todos fiquem calmos. - Gritei tentando acalmar o tumulto. – Eu preciso que você me ajude a tirar as mulheres. – Apontei para o homem que ainda estava curvado tentando controlar a dor do impacto, ele era o mesmo que antes havia me ajudado. – Precisamos abrir a janela, não temos muito tempo. – Ele assentiu e procurou pela alça de emergência.

– Não abre. – Murmurou. – Essa porra não abre.

– Senhora eu preciso do seu guarda-chuva. – Murmurei para a mulher ao meu lado, ela parecia abalada e tinha machucado seu braço, ainda estava abraçada ao objeto como se fosse um bote salva-vidas, tomei de seus braços não querendo desperdiçar um segundo sequer. – Protejam-se. – Mandei antes de quebrar o vidro com rapidez. – Você. – Apontei novamente para o homem. – Você vai primeiro, preciso que me ajude a tirar até a última mulher entendeu? – Ele voltou a assentir e rapidamente subiu com minha ajuda, logo me virei chama-la. – Felicity.

– Oliver, você sabia. – Murmurou atordoada. – Eu não sei como, mas você sabia.

– Não temos tempo Felicity. – Murmurei. – Eu só quero que me prometa algo, você será feliz, terá nossa filha e será feliz. Prometa-me.

– Isso não é uma despedida. – Negou. Apressei-me a erguê-la temendo pela vida dos que ainda estavam aqui. Quando seu corpo foi inteiramente puxado ela se ajoelhou voltando a me encarar.

– Fique vivo. – Exigiu. – Só assim poderei cumprir essa promessa.

– Felicity. – A chamei uma última vez. – Eu gosto de Olivia. – Antes que ela pudesse dizer algo mais o rapaz se apressou em entrega-la aos cuidados de quem eu sabia serem os homens que haviam chegado depois, vire-me para a garota que me encarava aflita e me apressei a levanta-la também, um a um os ajudei, então novamente havia restado apenas o motorista, eu poderia ter deixa-o para trás, mas sem ter que me preocupar com Felicity presa ainda havia tempo para tira-lo. Corri em sua direção, e o puxei sem me importar com a dor que lhe afligia, no momento em que estávamos chegando à janela quebrada as mesmas chamas de antes voltaram a consumir a parte dianteira, eu sabia então que teria tempo para salvar sua vida, o paramédico estava lá tal como antes com Felicity e me ajudou a tira-lo, eu já estava ciente que esta não havia sido minha segunda chance para viver, esta tinha sido minha chance para dizer tudo que não foi dito a Felicity e salvar aquela vida que eu havia deixado para trás, quando o paramédico levou o motorista eu fiquei por minha conta, eu tinha poucos segundo para sair do ônibus, eu poderia desistir sabendo que jamais conseguiria, eu fiquei tentando.

“Fique vivo. Só assim poderei cumprir essa promessa.”

Sua voz ressoou em meus ouvidos me dando o que precisava para pular e me subir pela janela, me equilibrei enquanto me empurrava do ônibus e desci correndo, eu estava ainda há poucos metros do ônibus quando o pensamento inquietante me atingiu.

Acabou. Meu tempo acabou.

Longo a grande explosão se fez ouvida e me atingiu jogando-me longe, sequer dessa vez tive o direito ao clipe dos momentos importantes.

***

Quando abri os olhos tudo o que vi foi o teto branco.

– Oh merda. – Murmurei.

– Cuidado com a boca. – Escutei a voz masculina me adverti. Encarei confuso o moreno em minha frente. – Olá, eu sou Dr. Tommy Merlyn, você está no centro de traumas de Starling City. Tente seguir a luz. – Murmurou antes de ligar uma lanterna me cegando brevemente, mas fiz o que pediu. – Você lembra o que aconteceu? – Perguntou segurando minhas mãos. – Aperte. – Pediu. – Senhor, pode me responder? Lembra-se do que aconteceu?

– Onde está Felicity? – Perguntei ignorando sua pergunta.

– Procuraremos por ela em breve. – Prometeu. – Aperte minhas mãos, senhor. – Voltou a exigir. – Você pode fazer isso?

– Claro. – Murmurei antes de fazer o que pedia. – Agora posso procurar por ela?

– Desculpe a demora. – Uma voz feminina que infelizmente não era a de Felicity falar, ela entrou apressada e dirigiu um olhar rápido ao homem à frente. – Alguém pegou meu carro hoje.

– Você poderia ter vindo comigo. – Retrucou.

– Eu supostamente estou no meu horário de folga. – Respondeu enquanto olhava para o monitor e segurava minhas mãos. Sua atenção estava e não estava em mim. – Aperte. – Exigiu.

– Eu já adiantei isso. – Dr. Tommy a alertou. – E se está de folga, supostamente o carro estava livre.

– Você supostamente tem um. – Ressaltou. – Pode me dizer seu nome?

– Oliver Queen. – Murmurei absorto em sua pequena discussão.

– Quando casamos eu me lembro bem de lhe dizer que não abriria mão de cada um dirigir seu próprio carro. – Virou-se para o jovem ao seu lado. – Cisco peça uma TC, ele teve uma forte concussão e queremos ficar de olho nisso. – Voltou sua atenção para o médico. – Por que você ainda está aqui? – Ele sorriu. – Ele meu paciente. – Murmurou. O homem apenas sorriu ainda mais abertamente com o lado competitivo da esposa e inclinou-se para beijar seu rosto.

– Sr. Queen essa é a Drª Caitlin Snow. Ela é a melhor em neuro, você está em boas mãos. – Despediu-se com um aceno antes de sair.

– Parece que está tudo bem Sr. Queen, mas ainda quero alguns exames para termos certeza. – Ela falou mais calma. – Você foi um herói e tratamos bem os heróis aqui.

– Vocês são casados. – Murmurei quase em tom de pergunta. Ela estranhou, mas assentiu.

– Cada dia é um desafio, mas sim. – Voltou a se concentrar em suas anotações.

– Mas vocês não tem o mesmo nome. – Falei franzindo o cenho.

– Temos. – Murmurou. – Mas mesmo sobrenome aqui tende a trazer algumas confusões, no trabalho ainda sou Drª Snow, mas alguma pergunta Sr. Queen? – Sorriu. – Eu gostaria de fazer aqueles exames e encaminha-lo para um quarto.

– Sim. – Respondi. – Onde está Felicity? Ela está grávida, eu a tirei do ônibus, mas quero saber se está bem.

– Ela é sua esposa? – Perguntou preocupada.

– Eu espero que um dia sim. – Sussurrei.

– Então vou garantir que ela te encontre e que esteja bem, agora sem mais conversa Sr. Queen. Vamos fazer aqueles exames.

Quando voltei a acordar já era noite, eu tinha algumas dores e após os exames me deram algo para diminui-la, mas que teve o poder de lentamente me deixar inconsciente, eu ainda não havia tido notícias de Felicity e estava preocupado, lutei contra a sonolência, mas foi algo impossível de evitar. Agora eu encarava o teto branco, e temia olhar para algo além dele, temia me ver de frente com a morte novamente, ou apenas outro médico, qualquer opção que não fosse Felicity.

– Você parece encantado com esse teto. – Escutei sua voz murmurar, ergui-me com um gemido de dor buscando seu rosto e ela rapidamente veio até meu encontro.

– Você está bem. – Murmurei finalmente sentindo uma onda de alívio.

– Graças a você. – Sentou-se na beirada da cama.

– Eu acordei e ninguém me dizia onde você estava. – Falei sentindo todo o peso lentamente se esvair. – Ninguém sabia dizer sobre você.

– Eu estou bem Oliver. – Sua mão alcançou a minha sentando-se mais próxima de mim. – Eu estou bem, todos nós estamos bem, o caso mais sério foi o do motorista, ele passou por uma longa cirurgia, mas você salvou todos nós. – Sua mão levou a minha até sua barriga. – Inclusive Olivia. – Sorriu. – Eu não sei como você sabia, eu acho que você me contará eventualmente, mas obrigada, por nos salvar. Eu não pude vir antes por que assim como você precisei fazer alguns exames, mais pela gravidez. – Explicou-me.

– Eu não acho que você acreditaria. – Murmurei pesadamente concentrado em seu agradecimento e movi minha mão quase inconscientemente. – Sequer eu tenho facilidade em fazê-lo.

– Sim, eu acreditaria. – Meneou a cabeça. – Por que eu sempre acreditei em você.

– Felicity... – Comecei.

– Não. – Negou me interrompendo. – Não agora, não hoje, amanhã conversaremos sobre tudo o que aconteceu conosco, amanhã conversaremos sobe nossa filha e sobre o que aconteceu hoje, mas hoje... Vamos apenas ficar deitados, como antes quando precisávamos apenas disso para ser feliz, quando bastava apenas ficarmos deitados nos braços um do outro para esquecermos o mundo. Podemos? – Perguntou com ansiedade. Assenti recuando na cama e lhe dando espaço, ela subiu na cama e seu corpo encontrou o meu como se os meses de separação nunca tivessem ocorrido, eu sentia falta do quão bem ela se encaixava em meus braços, ela suspirou talvez tão emocionada quanto eu e descansou uma mão em meu peito.

– Você me assustou.

– Você também. – Sussurrei. – Espero nunca ter que passar por isso novamente.

– Eu também. – Murmurou contra meu peito. – Oliver? – Chamou-me. Eu já estava sonolento novamente, sua voz parecia vir de um local distante.

– Huh?

– Eu também te amo. – Sorri antes de dar boas vindas à inconsciência dessa vez, por que eu sabia que agora quando eu voltasse a abrir os olhos esse seria um dia completamente diferente, um futuro que eu sempre sonhei.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelo atenção e como sempre eu espero o feedback de vocês, espero que tenham gostado!! Xoxo LelahBallu