Os Jogos de Johanna Mason escrita por Tagliari


Capítulo 30
Capítulo extra: A primeira vítima


Notas iniciais do capítulo

Eu não acredito. Enfim o último capítulo, o fim decisivo de Os Jogos de Johanna Mason... Eu realmente não sei o que esperar após isso, mas bola para frente.
Agora eu tenho que agradecer a extrema generosidade de Beatriz Rozeno, Marjorie e Nina por terem recomendado a fic com palavras tão amistosas. Sério. Muito obrigado mesmo!
Acho que é só, por ora. Então aproveitem o capítulo e até lá embaixo!

Obs: LEIA AS NOTAS FINAIS.

REVISADO EM 30.04.2017



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ESTOU CORRENDO O MAIS rápido que posso, ciente de que os Pacificadores estão atrás de mim. Se eles me alcançarem, serei feita prisioneira em minha própria casa na Aldeia dos Vitoriosos até tudo acabar. Mas não corro para ver-me livre dos homens uniformizados. Longe disso. Corro para salvar a vida de uma pessoa, de alguém inocente. Tenho que fazer isso porque sei que não me perdoarei se falhar. Correr. Apenas correr e correr. Avançar, esforçar meus músculos até eles atingirem o máximo de sua capacidade, até que meus pulmões explodam.

Falta muito pouco para eu alcançar a Praça Principal. Sei disso porque as ruas e ruelas de pedras cinzentas dispostas em pequenos quadradinhos bem organizados estão ficando gradualmente mais lotadas conforme prossigo. Durante o percurso, consigo desviar de algumas pessoas que estão em meu caminho. Outras não têm a mesma sorte e esbarro violentamente nelas aos encontrões.

Uma voz abafada grita o meu nome atrás de mim e diz que se eu não parar imediatamente, será autorizado que abram fogo contra mim. Se eu não estivesse tão empenhada em salvar a vida dela, com toda certeza teria me virado e rido na cara dos Pacificadores. Porque sei que eles nunca atirarão na vitoriosa da septuagésima primeira edição dos Jogos Vorazes. Afinal, tirar a vida de um vitorioso é basicamente um pedido para ter uma morte lenta e agonizante nos confins da Capital.

Viro no final de uma ruela, finalmente chegando à praça onde são colhidos os tributos anualmente. Mesmo não havendo câmeras ou o espaço estando lotado de crianças esperançosas de que seus nomes não serão anunciados, a atmosfera de terror é praticamente palpável. Basta estender as mãos e acariciar o manto negro do medo.

Há um aglomerado no centro da praça onde estão fincados os Postes da Vergonha ― cinco troncos fixados no chão onde os transgressores são amarrados, castigados, acoitados ou mortos. Mesmo com tantas pessoas, tudo está silencioso, apenas o choro que reconheço ser da minha mãe ecoando em algum lugar perto de mim. Não olho para trás para ver se consigo localizá-la, pois isso pode me fazer perder minha única chance de salvá-la.

Sou obrigada a diminuir o ritmo drasticamente quando chego ao local onde todos os cidadãos estão reunidos e cabisbaixos, assim diminuindo a distância entre eu e os Pacificadores que estão me perseguindo desde quando consegui fugir de onde estavam me mantendo aprisionada há poucos minutos, pois a última coisa que eles gostariam é que o fuzilamento fosse atrapalhado por uma vitoriosa enlouquecida.

Chuto, xingo, empurro e estapeio qualquer um que esteja na minha frente, abrindo caminho para o centro do aglomerado o mais rápido possível. Eu tenho que alcançá-la antes que seja tarde demais. Tenho sim.

Finalmente alcanço meu objetivo. Há um pequeno círculo vazio de pessoas ao redor dos Postes da Vergonha, com exceção de um único sujeito no centro. Dezenas de Pacificadores formam uma espécie de barreira humana para que a multidão não atrapalhe a execução, mas tal procedimento de segurança não é necessário, porque ninguém fará nada para impedir tal atrocidade. Porque todos são covardes demais para reagir, para salvar a vida de alguém inocente. Mas eu não. Eu não sou essas pessoas.

Jogo meu corpo o mais violentamente que consigo para romper a parede de guardas, mas eles são fortes demais. Mas eu também estou mais forte por causa do jato de adrenalina que corre em minhas veias assim que encaro a figura diminuta encolhida com as mãos amarradas ao redor de um dos troncos. Na segunda tentativa, consigo furar o bloqueio. Oscilo por um segundo, quase caindo, mas recupero o equilíbrio. Dou um passo em direção à vítima e mãos fortes seguram meus braços.

Grito e esperneio, mas sei que é em vão.

Aqueles ao meu lado fazem nada. Os que se atrevem a agir, são apenas para abaixar os olhares e murmurar que a culpa não é minha. Porque todos já estão acostumados a isso, pois execuções são tão naturais no 7 quanto as árvores são na floresta. Mas eles estão errados. Ela é inocente! Dahlia é inocente! Será que eles não conseguem ver isso?

Um dos pacificadores se coloca também no centro do espetáculo. Ele está sem capacete e consigo ver de longe a lustrosa cabeça sem cabelo refletir o sol. É o chefe.

― Roubar é um crime hediondo punível com morte nas imediações do Distrito Sete e não deve ser tolerado! ― ele esbraveja para que todos na praça ouçam. ― Nem mesmo os mais jovens e aparentemente inocentes devem escapar da justiça de Panem. Portanto, que a justiça seja feita. Preparar!

Cinco Pacificadores materializam-se em um canto enquanto o chefe afasta-se de Dahlia, os olhinhos cobertos por uma tira imunda de pano. O choro de minha mãe acentua-se ainda mais, ecoando nas paredes do comércio. Outra pessoa se junta ao coro choroso. Imagino ser minha irmã recém-casada, Aggie.

― Apontar!

Os guardas erguem suas armas mortíferas e miram na cabeça da Dahlia Mason, que se encolhe com a ordem. Lágrimas escorrem por suas bochechinhas rosadas, os lábios tremendo. Sei que ela está lutando para conter o choro, porque minha irmã mais nova se parece até nisso comigo. Nós não somos do tipo que chora, nem mesmo perante a morte.

A culpa é minha. Tudo isso está acontecendo e a culpa é exclusivamente minha. Porque Dahlia nunca roubou nada nem mesmo em nosso tempo de pobreza, então sei que ela não cometeria esse delito agora que temos tanto dinheiro que nem sabemos o que fazer com tudo. O Presidente Snow também sabe disso. Ele tinha deixado bem claro o que iria acontecer se eu não cooperasse. Mas eu não cedi, sequer acreditei, e agora estou pagando por isso. “Eu não costumo dar segundas chances, senhorita Mason”, ele tinha dito antes de eu sair de seu escritório na mansão presidencial durante a última festividade da Capital na Turnê da Vitória. E agora ele está cumprindo o que prometeu.

É essa lembrança que me trás de volta para a realidade. Dahlia desistiu de controlar as emoções e soluça atada ao tronco, chorando e dizendo para não fazerem isso, que ela nunca roubou aquelas ameixas do Pacificador Chefe. Ela tenta se soltar das amarras, mas a corda está bem presa aos seus pequeninos pulsos.

― Não! ― grito, tentando desvencilhar-me do aperto dos homens de branco atrás de mim. ― Parem! Não façam isso! Não façam isso! Ela é inocente, seus bestantes! Não toquem nela. Não façam isso! Dahlia, você vai ficar bem. Eu não vou deixar isso acontecer. Abaixem as armas!

Então é tarde demais.

― Fogo! ― o Pacificador Chefe grita.

Simultaneamente, ouço o estrondo de cinco armas disparando em sincronia. Apenas uma contém balas reais e as outras disponibilizam apenas cartuchos de festim. No segundo seguinte, Dahlia não chora mais, tampouco está assustada. Porque há um pequeno buraco em sua testa, a cabeça pendendo doentiamente para o lado.

Em apenas uma palavra: morta.


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Notas finais do capítulo

AGRADECIMENTOS:

Sim, eu acabei de matar Dahlia Mason hehe
Espero que tenham gostado desse capítulo bônus, cambada, aliás, espero que tenham gostado de toda a fic.
Eu quero agradecer a todos que comentaram (mesmo que não em todos os capítulos), favoritaram, acompanharam, recomendaram e também aos que leram, mesmo não aparecendo. Porque foi graças a vocês que eu nunca pensei em desistir de "Os Jogos de Johanna Mason". Muito obrigado mesmo por todo o apoio!

E agora eu gostaria de pedir para que vocês escrevessem algo aqui embaixo, dizendo o que gostou da fic, o que não gostou, o que poderia ser melhorado, e se você é tímido, passa só pra dizer oi mesmo. Mas o mais importante é que apareçam, até mesmo os fantasmas, porque se você chegou até aqui, acho que custa nada escrever um "D+".
Bom, acho que é só isso mesmo, então, até logo!

Atenciosamente,
Tagliari