Os Jogos de Johanna Mason escrita por Tagliari


Capítulo 12
Capítulo 11 ― Impasse


Notas iniciais do capítulo

Aooooooooo!!! Uma segunda recomendação, já? Bom, muito obrigado pelas palavras doces que acalentaram meu coração, Senhorita Baelish. Esse capítulo é para você.
E então, curiosos para saber o que acontece entre Silas e Johanna? Então o que estão esperando?
Boa leitura, cambada!

OBS: LEIAM AS NOTAS FINAIS [AVISO IMPORTANTE]

REVISADO EM 16.04.2017



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APESAR DE ESTAR PORTANDO dois machados afiadíssimos e ser uns bons trinta centímetros mais alto do que eu, Silas Underwood não parece uma ameaça. Afinal, se realmente quisesse me matar, acho que já o teria feito no lugar de ficar me observando em silêncio por sabe-se lá quanto tempo. Além do mais, ele não tem uma das mãos. Talvez eu possa usar isso como vantagem.

Mesmo se ignorar o membro recentemente decepado, dá para ver que o tributo não está em um de seus melhores dias. Acho que nunca o vi tão pálido e abatido. Os círculos arroxeados embaixo dos olhos me faz questionar qual foi a última vez que o garoto dormiu. É como se Silas fosse um cadáver, só que ainda não sabe disso.

Esperando que o garoto não perceba, sem tirar os olhos de seu rosto, seguro o cabo da frigideira sutilmente com movimentos lentos. Se acertá-lo com a força necessária, eu devo conseguir tempo suficiente para desestabilizá-lo e surrupiar um de seus machados. Separar-lhe a cabeça do corpo será fácil depois disso. Mas, claro, preciso que ele baixe a guarda primeiro. Porém, imagino que Silas nunca o faria na companhia de uma garota selvagem e perigosa. Uma abordagem mais sutil é o que preciso. Tenho que mudar meus planos.

― Oh, Silas, é você ― suspiro após largar a frigideira e levantar-me do chão pedregoso. Lanço-me à sua frente e envolvo sua cintura em um abraço apertado sem lhe dar tempo para reagir. Finjo não notar o arquejo de dor que o tributo solta quando pressiono um hematoma. ― Eu estou com tanto,  tanto, tanto medo.

O garoto do meu distrito não se move enquanto enterro o rosto em seu peito nu ― afinal, onde está a camiseta? ― e ignoro o cheiro de sangue que sobressai ao de enxofre, que fica mais forte perto das lagoas de água quente. Arrisco alguns soluços para tocar até mesmo a alma mais fria da Capital. Questiono-me se obterei sucesso se tentar escorregar a mão até um dos machados.

Os segundos passam.

Não que esperasse um abraço apertado como resposta ou juras de amor de Silas, mas eu contava ao menos com um suspirar indignado ou um olhar de piedade. Entretanto, recebo nada disso. Muito pelo contrário, o lenhador continua imóvel como uma pedra. Sem desfazer o personagem, pergunto-me onde devo ter errado. Exagerei demais? Fui muito superficial? Ele nunca acreditou em minhas mentiras?

É então que sinto o roçar do objeto que reconheceria em qualquer lugar. Mesmo com tanto mormaço e vapor, a lâmina do machado mantem-se fria ao toque, a cunha metálica roçando em minha nuca.

― Tente algum truque e juro que corto sua maldita cabeça fora e a uso como assento ― a ameaça sussurrada de Silas é o suficiente para arrepiar os pelos de meu braço.

Se mover a cabeça para trás, a lâmina afundará em minha carne, portanto sou obrigada a manter o rosto colado ao peito descoberto do garoto. Penso em empurrá-lo para frente ou fazê-lo perder o equilíbrio para fugir, mas de qualquer maneira as chances são exorbitantes para eu acabar com um corte suficientemente profundo no pescoço e morrer em questão de minutos.

Então é isso? O fim de tudo? Estaria eu fadada à morte antes mesmo dos Jogos começarem? O choro, a nota propositalmente baixa nas avaliações individuais, o meu papel de estúpida quando entrevistada por Caesar Flickerman, tudo isso foi em vão?

Eu deveria estar triste agora, arrasada. Afinal, a morte é certa. Mas sinto nada disso. Apenas ódio. Ódio dos Jogos Vorazes, ódio da Capital, ódio de mim mesma por pensar que seria capaz de voltar para casa. Como pude ser tão idiota? Burra, burra, burra! Burra, estúpida e morta.

Trinco os dentes. Posso até morrer agora, mas me recuso a cair sem lutar. Eu sei que qualquer movimento que fizer resultará em um corte fatal na nuca, mas talvez possa demorar algum tempo para que eu caia, flácida e molenga. Acho que terei forças o suficiente para empurrar Silas, fazê-lo oscilar e aproveitar esse momento para tomar um de seus machados e cravá-lo em seu crânio. Eu morro, mas levo alguém comigo. Mesmo que seja do mesmo distrito que eu.

Levo as mãos lentamente até tocar o peito de meu oponente. Suspiro fundo, canalizando toda a força que tenho para meus braços. Só terei uma chance. Por um segundo, lembro-me da entrevista de Silas e a piada que Caesar fez sobre montanhas mau-humoradas. É um tanto irônico, sendo que eu tentarei empurrar uma montanha.

É quando Silas se pronuncia. 

― Tire as mãos de mim e vire-se de costas ― o lenhador do 7 fala com autoridade.

Eu deveria agir agora, mas uma força externa me impede. É o meu instinto, ladrando ordens, dizendo para eu obedecer, ver aonde isso vai dar. Eu obedeço, giro nos calcanhares. Silas abaixou o machado que ameaçava degolar-me, entretanto continua alerta. Sinto as baforadas de sua respiração no topo da minha cabeça.

― Ande. Dez passos.

― E porque eu fari... ― começo a questionar, mas a voz poderosa me interrompe:

Agora!

Pensando em como seria agradável se o Vulcão Sul entrasse em erupção nesse instante e uma bola de fogo despedaçasse Silas, faço o que me foi ordenado. Em um ato de rebeldia, dou onze passos.

Na minha frente, pouco mais de quinze metros adiante, está o fim do pequeno cânion onde estamos. Os degraus rochosos que desci poucos instantes atrás parecem quase chamar-me. Preciso de apenas uma chance para fugir, subir os degraus do pequeno cânion onde me encontro e me esconder no abrigo da floresta. Sou rápida. Acho que consigo recorrer à proteção das árvores se deixar a mochila e a frigideira ― minha única arma ― para trás. Sei que cada segundo é crucial e que tenho nada a perder se falhar.

― Nem pense nisso, boneca ― Silas rosna friamente atrás de mim como se pudesse ler minha mente.

― Fazer o quê? ― pergunto com doçura. Sou novamente a própria Senhorita Inocência.

― Fugir. Com certeza você deve ser mais rápida do que eu, e sobre isso não há dúvidas, mas ainda tenho dois machados. Acerto suas costas antes mesmo de alcançar a escada. E o melhor de tudo é que, se eu errar o primeiro arremesso, ainda tenho o segundo.

Certo. Talvez eu tenha subestimado meu companheiro de distrito um pouco. Acontece que ele não é tão idiota como pensei.

― Juro que isso nunca passou por minha cabeça ― minto. Tento outra abordagem: ― E o que te faz pensar que eu poderia ser uma ameaça? Nós dois sabemos que já estou morta de qualquer jeito. Seria mais humano se você fosse embora e me deixasse morrer por conta própria.

Ouço um som seco que se parece com uma risada.

― É exatamente isso que você quer, não é? Que eu te deixe viva, não para morrer na floresta, mas para me matar quando nos encontrarmos de novo. Você deve se achar muito esperta, certo, Johanna? Com todas essas lágrimas e a choradeira. Mas eu sei a verdade. Não sou burro como os outros para engolir aquele teatrinho. E é isso que me faz pensar que você é uma ameaça, talvez ainda maior do que os outros tributos. Sacou?

Então é isso? Nunca consegui enganá-lo. Acho que os Jogos Vorazes realmente teve sorte com os tributos do Distrito 7 esse ano, ambos sagazes e espertos demais para cair em armadilhas. Agora, a questão mais importante é: como faço para continuar viva?

Suspiro.

― Olha, eu realmente não sei de onde você tirou isso. Mas posso garantir que está errado, certo? Eu não quero matar ninguém. E com certeza não sou uma boa mentirosa. Nem consigo convencer minha irmãzinha de que existem leprechauns* na floresta, quanto mais enganar todo mundo. Eu só estou com medo, entendeu? E se vai me matar, que seja logo. Não vou ficar ouvindo essas mentiras.

Três segundo de silêncio. Ouço passos atrás de mim, Silas se aproxima.

― Hum... Confesso que você é boa nisso. E também é um ótimo plano. Se você tivesse me enganado no começo, aposto que eu provavelmente estaria morto agora. Aliás, era isso que pretendia quando me abraçou, não é? Talvez pegar um dos meus machado ou simplesmente me apunhalar com uma pedra ― ele diz, cético.

Merda, penso. Acho que está na hora do plano B.

Viro nos calcanhares para encarar o tributo. O machado de Silas continua abaixado enquanto a segunda arma está jogada ao chão, perto dos pés. Não há chances de eu conseguir roubá-lo. O coto está pingando sangue. É só depois de uma análise mais minuciosa que descubro onde foi parar a camiseta dele ― ela está enrolada no que sobrara do braço esquerdo. Imagino que, se eu o distrair bastante, talvez ele morra por perda de sangue. Entretanto, aparentemente, não sou tão sortuda assim.

Encolho os ombros como se me rendesse.

― Ok. Você me pegou. Eu menti e enganei muita gente. E agora, vai fazer o quê? Me matar? Acho que não.

Talvez seja o cheiro de enxofre embaralhando minha mente, mas posso jurar que Silas está sorrindo. Um arrepio gelado percorre minha espinha.

― O que foi? Por acaso eu disse algo engraçado? ― questiono e arqueio uma sobrancelha.

― Sim. Você disse. Como pode estar tão convencida de que não vou te matar, garota?

― Se quisesse me ver morta, acho que você já teria enterrado o machado na minha cabeça. Mas, como Panem toda pode testemunhar, meu crânio está intacto. Então elaborei duas teorias. Quer ouvir? ― faço uma pequena pausa apenas para que Silas acene em concordância. Então começo a falar a primeira coisa que vem na minha mente: ― A primeira é que você é uma boa pessoa e não suportaria matar uma frágil garota como eu. Além do mais, o Distrito Sete inteiro te odiaria por me matar logo agora, no começo dos Jogos, sem pensar na possibilidade de uma aliança. A segunda teoria, a que julgo ser mais provável, é que você está ferrado e sabe disso. Então quer fazer de tudo para continuar vivo. Agora que infelizmente só tem uma mão, precisará de toda ajuda possível. E quando digo ajuda, me refiro ao final da primeira teoria: uma aliança. E então, cheguei perto?

A julgar por sua cara de incredulidade, acho que sim. Blye Lockheart deve estar orgulhosa de mim, aposto. Pois eu disse as coisas certas. E tudo o que tive que fazer foi dar um palpite de sorte.

 Ouço o lenhador maneta pigarrear, desconfiado.

― E o que você propõe, boneca?

― Oh, o que eu proponho? Enquanto estivermos nessa arena, somos apenas as peças de um jogo bem elaborado. Então acho sensato agirmos como todos esperam. Estabelecer uma frágil aliança que acarretará na sua ou na minha morte em algum momento, mas, claro, não vamos tocar nesse assunto porque é contra as regras. Que tal? Aliados, Underwood?

O garoto reflete por alguns instantes, mas já sei a resposta. Suas chances serão maiores comigo ao lado. No final do dia, tudo volta ao ponto de partida. Chances e probabilidades. As únicas coisas que temos.

― Certo. Aliados, Mason ― ele concorda. ― Mas saiba que tenho sono leve.

Abano a mão como se fosse para rejeitar a última frase.

― E então? É agora que damos um abraço de aliados e você me entrega uma dessas belezuras? Afinal, você só tem uma mão. Não vejo motivos para ficar com dois machados.

Ele grunhe.

No momento certo, Silas Underwood será apenas uma sutil lembrança na memória de Panem. Porque no final eu terei dois machados em mãos. E ele nenhum. 


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Notas finais do capítulo

Sobre o hiperlink: Para quem não sabe, leprechauns são duendes irlandeses conhecidos por serem os guardiões de tesouros exorbitantes no final do arco-íris. Por que eu coloquei isso? Só Deus sabe.
Só quero lembrar vocês que Johanna aliou-se ao companheiro de distrito por falta de escolhas. Afinal, ou ela participava do jogo ou acabaria morta. Vamos torcer para que o mesmo não aconteça com Silas hehe.
Agora vamos aos AVISOS IMPORTANTES.
Lamentavelmente irei ausentar-me por toda uma semana, então não entrem em pânico e não me xinguem por não responder aos comentários de imediato. Quando voltar da viagem, prometo que responderei todos.
Espero que entendam.
Até.