Ágda escrita por Maresia


Capítulo 6
Renasce uma constelação




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O pequeno coração de Ângela palpitou de ansiedade, quando viu Dégel sentar-se a seu lado, sacudindo a sua longa e bela cabeleira verde da sua cara bem definida. A menina olhou para ele de forma interrogativa, contudo nenhuma resposta lhe deu alento, o cavaleiro serviu-se de uma generosa quantidade de batatas com frango feitas no forno, colocou um pouco de água num brilhante copo e sem uma única palavra ou explicação iniciou a refeição. Ângela, apesar de estar bastante indignada e triste com aquela atitude repleta de desprezo e indiferença, seguiu-lhe o exemplo sem pestanejar, não se deixaria afetar por aquele momento menos bom.

O rosto, habitualmente calmo, frio e inexpressivo do dourado, agora contorcia-se num misto de arrependimento, desespero, culpa e tristeza que lhe desfiguravam as finas e bonitas feições aristocratas e inteligentes. A resposta do sábio Grande-mestre Sage trouxera-lhe um enorme e descomunal peso ao seu coração de gelo, um peso que o sufocava, que o afogava perigosamente naquelas correntes geladas e mortais, que lhe destruía a alma arrependida e confusa. Talvez aquela difícil decisão o perseguisse para todo o sempre assombrando a sua vida, todavia o que estava feito, estava feito e agora não havia nada a fazer e apenas o futuro podia escrever nas suas difusas e traiçoeiras linhas a sentença daquela criança.

– Senhor Dégel! – Chamou Ângela, observando os movimentos preocupados que o cavaleiro executava enquanto comia apressadamente. – O senhor está bem? – Arriscou.

– Sim, eu estou óptimo, obrigado. – Respondeu, não olhando para aqueles lindos olhos azuis que tanto carinho lhe davam, porém carinho esse impossível de aceitar. – Já terminaste a tua refeição? – Perguntou, fitando sem importância um canto vazio da sala de jantar.

– Sim eu já terminei. – Respondeu a menina, apesar de não conhecer Dégel há muito tempo, sabia perfeitamente bem que algo afligia o seu nobre coração, algo relacionado com ela. – Senhor Dégel, eu gostaria de saber se…

– Sim eu já tenho uma resposta. – Interrompeu Dégel numa voz gelada imersa em tristeza e sofrimento. – Falaremos quando estivermos a passear. – Disse ele levantando-se.

– Pode só esperar um pouco, preciso de trocar esta roupa. – Pediu, apontando para uma mancha de sujidade que lhe cobria o vestido vermelho.

– Claro. – Respondeu Dégel distante.

Ângela correu até ao seu pequeno e acolhedor quarto, colocou umas calças de ganga e uma t-shirt azul-turquesa, estava pronta para o passeio pelo santuário.

– Aqui estou eu! – Anunciou, reentrando na sala.

– Então vamos. – Disse o aquário, começando a andar.

Caminharam sem interferências até à oitava casa, de escorpião, onde uma voz zangada e arrogante lhes chegou aos ouvidos.

– Eu já disse que não vou suportar mais faltas destas! – Gritava o proprietário daquele templo. – Onde é que isto já se viu, não haver maçãs para o almoço, isto só pode ser brincadeira, uma brincadeira de muito mau gosto! – Berrava Kardia, dando valentes murros na mesa da sua cozinha. – Vão buscar as minhas maçãs, do que é que estão à espera, vão agora! Agora! – Ordenou, saindo aos tropeções da cozinha quase chocando com o melhor amigo.

– Tem cuidado Kardia. – Repreendeu Dégel aborrecido. – Mas que barulheira é esta? – Perguntou.

– Estas servas incompetentes deixaram terminar o stock das minhas frutinhas, achas isto justo? – Desabafou o escorpião, fingindo falsas lágrimas. – Eu não mereço tal castigo. – Disse, abraçando o aquário.

– Kardia, larga-me. – Ordenou o cavaleiro, afastando o zangado dourado de escorpião. – Parece que estás demasiado ocupado para a nossa visita. Por isso, voltamos mais tarde. – Decidiu.

– Nossa visita? – Perguntou Kardia, olhando em redor, só então os seus lindos e traquinas olhos azuis pousaram sobre Ângela. – Quem é ela? – Disse, lambendo os lábios. – Espera, eu já sei! – Afirmou deliciado, com um sorriso ainda mais traquina a dançar-lhe no bonito rosto aguçado. – Dégel, tu arranjaste uma NAMORADA! – Exclamou alegremente

– Kardia ela não é minha namorada. – Respondeu friamente o cavaleiro do gelo, olhando o amigo com reprovação. – O nome dela é Ângela, eu resgatei-a numa tempestade de neve lá em Bluegard. – Explicou Dégel.

– Ela é linda! – Exclamou o dourado de escorpião, olhando Ângela de sobrolho franzido. – E mesmo linda. Se ela não é tua namorada, então está disponível. – Constatou Kardia sabiamente.

– Sim eu estou disponível, mas não sou para o teu bico, seu escorpião convencido. – Respondeu Ângela, irritada com aquela atitude.

– Ela tem personalidade, uau! – Disse Kardia maravilhado, com a resposta da menina ruiva. – O cabelo dela é tão vermelho como as minhas deliciosas maçãs, ela é perfeita! – Disse, com ar sonhador.

– Kardia, acho que já chega desses devaneios sem fundamento e repletos de estupidez! – Ralhou Dégel

– Tu não devias ser cavaleiro de ouro de escorpião. – Brincou a menina, com um sorriso tão traquina como o de Kardia.

– Então devia ser cavaleiro de quê, minha maçãzinha! – Perguntou o dourado, atirando-lhe um beijo.

– Kardia! – Gritou Dégel, exaltando-se mais do que era necessário.

– Devias ser cavaleiro de BURRO! – Exclamou ela.

– Sua miúda impertinente! – Vociferou o escorpião, pegando na menina e atirando-a ao chão fazendo-lhe um grande ataque de cócegas. Os risos agudos de Ângela enchiam a oitava casa de alegria e diversão. Todavia, Dégel não estava a achar nenhuma graça no comportamento do seu melhor amigo. Sem hesitar arrancou a menina dos fortes braços do cavaleiro, levando-a para bem longe.

– Foi má ideia termos vindo aqui, vamos embora. – Decidiu zangado, puxando a ruiva pela mão em direção à saída.

Caminharam em silêncio, a curiosidade e a ansiedade ainda brotavam agressivamente do pequeno coração de Ângela, qual seria o seu futuro? Qual fora a decisão do Grande-mestre? Pensava ela enquanto saíam das doze casas. Finalmente chegaram ao lugar pretendido. Um belo e florido jardim estendia-se em toda a sua plenitude a seus pés.

– Chegámos. – Anunciou o dourado, fazendo sinal para Ângela se sentar num banco de pedra junto de uma bonita e alegre cascata.

– Senhor Dégel, desculpe a minha teimosia e persistência, mas eu gostaria de saber qual a…

– Tu treinarás em Bluegard, tu serás uma amazona. – Desvendou Dégel, olhando nas profundezas azuis daqueles maravilhosos olhos. – Eu serei o teu mestre. – Disse.

– Que fantástico! – Exclamou a menina, batendo as palmas, fazendo com que um bando de andorinhas levantasse voo em alarido.

– Não te entusiasmes assim dessa forma, o que te espera não é fácil, e muito menos divertido, a morte espreitará em cada gelada esquina, em cada floco de neve que cai, em cada tenebrosa brisa, tu tens que ter inteligência e coragem para te conseguires libertar dela. – Explicou Dégel com ar dramático, porém Ângela não se deixou assustar com as evidências desfavoráveis e inóspitas.

– Quando retornaremos a Bluegard? – Questionou a menina, distraída com alguém que se aproximava.

– Talvez amanhã de manhã, temos que começar rapidamente o teu treino. – Respondeu. – Boa tarde Régulos! – Saudou, vendo um menino de cabelos cor de mel, reconhecendo o mais jovem dos cavaleiros de ouro. – Ângela este é o Régulos, cavaleiro de Ouro de Leão. – Apresentou. – O nome dela é Ângela e será futuramente uma amazona. – Anunciou, dirigindo-se ao doce menino.

– Olá! – Disse o pequeno Leão dourado.

– Olá! – Respondeu Ângela, fascinada com aquele menino.

– Queres vir brincar comigo? Preparei uma partida para o Manigold. – Perguntou Régulos feliz por ter conhecido alguém da sua idade, alguém que gostaria certamente de brincar com ele.

– Quem é o Manigold? – Perguntou Ângela interessada na proposta.

– Alguém com quem vocês dois não se devem meter. – Avisou Dégel, ele conhecia muito bem o feitio complicado do cavaleiro de Caranguejo.

– Certo, Dégel, então vamos apenas brincar, prometo. – Garantiu o jovem dourado, pegando na mão de Ângela e começando a correr para longe da supervisão do Aquário.

O resto da tarde foi muito agradável e divertida na companhia do leão. O seu novo amigo apresentou-a a todos que cruzaram o seu caminho, Sísifo de Sagitário, El Cid de Capricórnio, o famoso Manigold de Caranguejo, Shion de Carneiro e Dokho de Balança, com quem ela simpatizara imenso. Quando ela retornava a décima primeira casa, encontram o bondoso Aldebaran de Touro.

– Então Régulos arranjaste uma amiguinha nova, como te chamas minha querida? – Perguntou, sorrindo alegremente.

– Ângela. – Respondeu, olhando para todo o tamanho do cavaleiro de touro.

– Não tenhas medo dele, ele é bastante simpático. Era amigo do meu pai. – Explicou Régulos, com alguma tristeza impressa nas suas palavras.

– Anda cá, dar um abracinho ao tio Aldebaran! – Disse o amável touro, pegando a menina ao colo.

– Hei, grandalhão eu já sou muito crescida para estar ao colo. – Disse Ângela, sentada no ombro da grande estrela afagando-lhe o cabelo.

– Sim claro que és. – Respondeu o touro, colocando-a carinhosamente no chão.

– Espero que não estejam a aborrecer o Aldebaran. – Disse uma voz fria e penetrante, Dégel acabara de chegar.

– Claro que não Dégel, tu sabes o quanto eu adoro crianças. Quem é ela? – Perguntou o ternurento dourado.

– Ela será minha aprendiza, chama-se Ângela. – Respondeu o aquário com orgulho.

– Tens aqui um grande mestre Ângela. – Disse Aldebaran, olhando para Dégel, ele sabia que apesar do cavaleiro aparentar ser gelado e insensível era muito competente a desempenhar as suas tarefas e deveres, aquela menina estaria muito bem entregue, Dégel era um grande e poderoso Cavaleiro.

– Bem Ângela vamos temos que preparar a nossa bagagem para partirmos amanhã bem cedo. – Disse o dourado.

– Certo. – Assentiu a bela aprendiza. – Adeus senhor Aldebaran. Adeus Régulos. – Despediu-se tristemente.

– Adeus minha querida. – Disse o touro dando-lhe um beijinho.

– Adeus, eu vou esperar por ti. – Disse Régulos, ele não queria permitir que a sua amiga fosse embora, porém ela regressaria sem dúvida mais forte e mais bonita do que já era.

A noite correu a uma velocidade impressionante através da bela e antiga Grécia, despontando numa calma e fresca madrugada. A doce voz de Benedita penetrou como uma arpa no mundo dos sonhos, acordando Ângela. Ela vestiu-se e escovou os seus longos cabelos de fogo. Chegada à cozinha, encontrou o cavaleiro de Aquário bebendo à pressa um copo de leite.

– Bom dia. – Disse ele. – Come alguma coisa. - Ângela retirou uma banana do cestinho de verga castanha.

Por fim, a nobre e prateada carruagem já os aguardava recebendo todos aqueles beijos de orvalho e brisa fresca, pronta para os transportar até ao seu gelado destino. Ao subir o pequeno degrau Ângela deu uma última olhadela ao antigo santuário. Um lindo homem deslizava elegantemente pelo terreno, uma bonita cabeleira azul voava nas suas costas ao sabor do vento, uma linda rosa vermelha encaixava-se na perfeição nos seus finos lábios. A boca da menina abrira-se num misto de espanto e surpresa.

– Nunca vi um homem possuidor de tal beleza! – Pensou ela enquanto o seu coração quase lhe saltara do peito. – Ele é lindo, oh meu Deus!

– O que se passa Ângela? – Perguntou Dégel vendo o comportamento da menina.

– Quem é aquele cavaleiro? – Questionou ela, apontando para as costas do belo homem.

– Albafica de Peixes. – Respondeu o Aquário confuso, não compreendendo aquele estranho interesse. – Ele é muito solitário e não muito simpático. – Disse.

– Talvez tenha os seus motivos. – Pensou a menina, passando a mão nos seus lindos cabelos de fogo. – Espera por mim Albafica.

Como decorrerá o perigoso e árduo treino de Ângela? Qual a influência do belo Albafica no seu desempenho? Qual a sagrada armadura que a aguarda?


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