Ágda escrita por Maresia


Capítulo 3
Ângela




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A madrugada floresceu clara e tranquila, deixando nas suas costas o rasto branco da poderosa tempestade que devastara a graciosa aldeia de Bluegard. As rajadas de vento tinham sessado quase por completo, transformando-se em suaves e deliciosas brisas geladas, a imensa torrente de neve terminara, dando lugar a uma maravilhosa dança de novelinhos cor de linho branco e macio.

Na nobre e respeitada mansão já se sentiam alguns movimentos, empregados corriam apressados pela enorme cozinha, revestida com azulejos cremes, preparando a perfeita confeção de pão caseiro e único. Dali, a poucos minutos o cheirinho agradável daquele pão já corria alegremente pelo palacete, para maravilha de todos. Outros servos preparavam enormes cafeteiras de cobre, afogadas em leite muito branco, pousando-as ruidosamente sobre os descomunais fogões de lanha. Tinha que estar tudo magnífico para quando a família se levantasse.

Um belo e reluzente enxame de velas já pairava nos seus elegantes castiçais prateados, iluminando uma comprida mesa decorada com uma antiga toalha de cambraia fina. Sobre ele diversos pratinhos de ouro e umas belas canecas feitas do mesmo metal precioso demostravam toda a grandiosidade e riqueza daquela família real. Uma serva entrou na magnífica sala, colocando sobre a mesa uma travessa de prata, repleta de cheirosas e quentinhas torradas. Uma outra serva seguia-a de perto, transportando um requintado jarro prateado, a transbordar de leite fervilhante. Uma terceira mulher fez a sua entrada na real divisão, trazendo consigo uma bandeja antiga, repleta de compotas de diversos sabores, morango, pêssego, maçã, amora, ananás, para delícia de todos.

– Luísa! Espero que não te tenhas esquecido da compota de maracujá, o menino Unity adora-a. – Perguntou a mulher que transportara a travessa com as torradas.

– Ah! – Fez Luísa assustada. – Desculpe, Amélia vou já buscá-la. – Disse.

– Mais uma dessas e vais para o olho da rua, aqui não se toleram incompetências! – Ameaçou Amélia irritada.

Serafina caminhava já vestida com um elegante vestido branco adornado com continhas azuis pelos corredores que conduziam ao quarto de Dégel. Deu algumas pancadinhas suaves na porta castanha, trancada com uma fechadura dourada onde se via gravado um belo cisne de bronze, Porém apenas o som da louça na cozinha e algumas vozes vieram ao seu encontro.

– Ele não regressou. – Disse ela, virando-se, pois tinha escutado paços. – Bom dia meu irmão.

– Vejo que Dégel ainda não regressou. – Afirmou o belo rapaz, assombrado com aquele pensamento. – Vamos tomar o pequeno-almoço, depois caso ele não tenha voltado reunirei alguns homens, e procederemos às buscas. Juro que não regressarei sem ele, juro Serafina. – Garantiu Unity, fitando decidido a sua doce irmã.

– Obrigada Unity. – Agradeceu ela, seguiram até à sala de jantar, onde a comida e seu pai os aguardava.

Na pequena e pobre cabana de Gabriela, Dégel fora acordado pelo crepitar maravilhoso das labaredas que dançavam contentes na velha lareira de tijolo. A ternurenta senhora já estava de pé junto ao fogão, mexendo energicamente uma tachola ferrugenta.

– Bom dia Gabriela! – Saudou Dégel, esfregando os olhos. – Oh! Ela ainda está a dormir. – Disse ele, olhando para a pequena menina profundamente adormecida, enroscada nos fofos cobertores.

– Bom dia Dégel! Pensei apenas acordá-la quando a comida estiver pronta. – Sussurrou Gabriela, deitando um pouco de açúcar na tachola fumegante. – Ela passou por muito, acho que merece descansar. – Afirmou, sorrindo a Dégel.

– Sim tens razão. – Respondeu o cavaleiro. – O que é o pequeno-almoço? Tem um cheirinho muito agradável! – Perguntou.

– Bem, são papas de aveia. Em nada se compara com a comida que estás habituado na mansão, claro. – Disse ela timidamente.

– Nada disso! Está perfeito! – Disse Dégel sinceramente para alívio daquela amável senhora.

– E já está! – Anunciou ela, retirando a tachola do fogão e colocando-a em cima da pequena mesa, onde se via três taças muito desgastadas.

O perfume adocicado da comida penetrava pelas pequenas narinas da criança fazendo-a despertar do maravilhoso e encantado mundo dos sonhos. Ela ergueu-se e olhou em redor, saboreando aquele calor agradável.

– Bom dia senhor Dégel! Bom dia Senhora Gabriela! – Cumprimentou ela docemente, caminhando até à mesa onde eles já estavam sentados.

– Bom dia minha querida! Dormiste bem? – Perguntou Gabriela dando-lhe um beijinho no rosto infantil.

– Sim dormi, obrigada. – Respondeu ela.

– Bom dia! Então como está a tua memória? – Perguntou Dégel, indicando-lhe a sua tigela.

– Vazia. – Respondeu ela, começando a comer.

Terminaram rapidamente a refeição, agradeceram e despediram-se, partindo em direção ao palacete imaculado.

– Que bonita aldeia! – Comentava a menina enquanto percorria o povoado branco.

– Sim de facto esta aldeia é belíssima. O seu poder de calma e serenidade é incrível e fascinante. – Disse Dégel pensativo.

No palácio do senhor Garcia o pequeno-almoço decorreu em silêncio, estavam demasiado preocupados para proferir qualquer palavra. Unity mal tocou nas torradas e no leite, quando o seu pai findou a refeição ele dirigiu-se à entrada principal da nobre mansão, onde alguns homens o aguardavam.

– Bem, vamos lá, temos que o encontrar, prometi a Serafina que o traria de volta, não podemos fracassar. – Informou o rapaz, temendo não conseguir cumprir a promessa que fizera.

Dégel e a menina cruzaram a planície coberta de neve até chegarem por fim à enorme porta que escondia o palacete. Bateu delicadamente à porta, esperando uma resposta. A criança olhava maravilhada para a grandiosidade daquele edifício e ainda ela não conhecia o interior.

– Esperemos que seja ele. – Disse esperançado Unity abrindo a porta. – Dégel! – Gritou deparando-se com o melhor amigo. – E quem é ela? – Questionou, olhando curioso para a menina.

– É uma longa história. Mais tarde contarei. – Respondeu o Aquário, conduzindo a criança para o interior confortável do palácio.

Serafina e o senhor Garcia ao escutarem a voz do dourado correram até ao vasto Hall iluminado por candeeiros abastecidos com petróleo.

– Dégel, estás vivo! – Exclamou Serafina, atirando-se ao pescoço do Aquário, envolvendo-o num forte e aliviado abraço.

O regente da antiga casa estava bastante feliz ao ver Dégel, todavia os seus sábios e examinadores olhos prendiam-se na menina.

– Quem é esta criança Dégel? – Perguntou ele

– Bem, eu resgatei-a do meio da tempestade. – Iniciou o cavaleiro. – Mas enquanto lhe conto toda a história pedia-lhe que deixasse esta menina tomar um banho quente e colocar umas roupas secas, talvez Serafina possa auxiliar nessa tarefa.

– Claro que sim, vem querida. – Comprometeu-se a jovem, não esperando a resposta de seu pai, pegou na pequena e fria mão da criança e saiu do hall só parando no seu grande quarto.

O senhor Garcia fez sinal a Dégel para que o seguisse até à enorme biblioteca, e ele assim o fez, seguido de perto por Unity. A divisão era vasta, todas as paredes estavam cobertas de armários, repletos de enormes e poeirentos volumes, recheados de preciosas informações, teorias e estudos sobre os mais diversos e inimagináveis temas.

– Então conta-nos por favor o que ocorreu durante a passada noite. – Pediu o Senhor Garcia educadamente.

– Quando chegámos a casa eu senti um pequeno e frágil laivo de um cosmo então…

Unity e o seu pai escutaram atentamente a narrativa descrita pelo cavaleiro de Ouro, assimilando cada pormenor contado

– E então decidi trazê-la para aqui, até encontrarmos a família dela. Eu não podia deixá-la por aí à mercê da sua própria sorte. – Explicou Dégel.

– Bem já compreendi, não se fala mais no assunto ela ficará connosco até notícias da sua família, ou até ela recuperar a memória. – Disse o Senhor Garcia não desapontando as espectativas do cavaleiro.

– Ganhei mais uma irmã! – Exclamou Unity feliz.

– Obrigado senhor Garcia. – Agradeceu o nobre e corajoso jovem.

Serafina ajudara a menina a tomar um quente e reconfortante banho, agora entravam na sala de estar onde Dégel e Unity já as esperavam.

– Tu vestias esse vestido quando eras pequena Serafina. – Disse Unity reconhecendo o traje que a menina exibia. Serafina emprestara-lhe um bonito vestido azul profundo, similar à cor do céu noturno, decorado com um fantástico laço. – Que linda que ela está! – Elogiou o jovem louro.

– Senhor Dégel… - Iniciou a menina, olhando confusa para o dourado.

– Não existe qualquer problema, tu podes ficar aqui. – Tranquilizo-a.

– Sem problema mesmo, não te preocupes nós cuidaremos de ti. – Disse docemente Serafina, levando a menina até uma confortável poltrona cor de tigre.

– Mas eu não tenho nada. – Lamentou a criança tristemente

– Em relação às roupas, não há motivo para preocupação eu guardei todas as minhas, agora são tuas. – Ofereceu a jovem ternurenta.

– Obrigada, muito obrigada. – Disse a menina, mal acreditando em tudo o que estava acontecer.

– Mas ainda existe um probleminha. – Anunciou Dégel, fazendo os dois irmãos olharem para ele assustados. – Ela não se lembra de como se chama. Temos que lhe arranjar um nome. Pensei que poderia contar contigo para essa tarefa. – Disse ele, apontando para Serafina.

– Claro que sim, é um enorme prazer. – Confirmou ela, bastante feliz por Dégel confiar nela para aquele propósito. – Tenho um nome ótimo, talvez gostem, Ângela que tal? – Sugeriu ela.

– Ângela! Eu gosto é perfeito! – Exclamou a menina com a felicidade a dançar-lhe nos inocentes olhos azuis.

– Acho que é magnífico. – Assentiu o cavaleiro.

– Eu também gosto, - Reforçou Unity.

– Então a partir de agora o teu nome é Ângela. – Finalizou Serafina orgulhosa.

Quais são as reservas do imprevisível futuro para a jovem Ângela?


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