Ágda escrita por Maresia


Capítulo 22
Ágda




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                Um tremendo e assustador cosmo pairou sem aviso sobre o sagrado reino de Asgard, lançando a sua população num tremendo temor, nunca antes sentiram tal energia maligna, nunca antes sentiram tal energia malévola, nunca antes sentiram tal energia negra. Um espírito vagueava perdido, enfurecido, através de uma infindável prisão de gelo, contudo incapacitada de travar a sua maldade, a sua ganância, a sua loucura.

— Maldita miúda! Maldito destino! Maldito Ódin! Maldita Atena! Pensei que estarias morta, contudo enganei-me, enganei-me! – Gritava em pensamentos rancorosos. – Naquele dia, durante aquela propositada tempestade eu pensei que chegara a minha altura de vingar sobre as ordens incondicionais de Ódin, aproveitei os caprichos de uma rapariguinha mimada, uma discussão banal, para colocar os meus planos em marcha. Aticei os poderosos ventos nórdicos, aticei o violento gelo contra ela, aproveitei-me da fragilidade que possui quando sai das redes de Asgard, quando sai da proteção do supremo Deus, era a minha derradeira chance, esta miúda sem querer, sem imaginar cultivou a minha ascensão ao poder. Tudo correria às mil maravilhas, a vida dela estava presa por um fino fio de luz, a morte aguardava-a com os seus braços estendidos, o meu trono já gritava o meu sagrado nome. Foi então que aquele maldito cavaleiro de Atena apareceu, resgatando-a das garras da morte, salvando-a de mim, deitando por Terra todo o meu plano. Porém, ao longo do tempo fui-me apercebendo de que ela não voltava a Asgard, algo no resgate correra mal, não estava tudo perdido para mim, ainda havia uma pequena réstia de esperança. Então, esperei pacientemente que a praga da protecção de Ódin desvanecesse, sem a sua representante na Terra não existiria maneira da barreira se fortalecer, Asgard cairia em desgraça, em desolação, cairia finalmente nas minhas mãos, eu governaria como senhor soberano sobre o manto branco. Hoje, mais uma vez esta miúda cruzou o meu caminho, derramando os meus projetos num mar negro e profundo, agora apesar de possuir a protecção de Ódin, tornou-se uma amazona de Atena, o que lhe garantiu a proteção de mais uma Deusa, não sou louco ao ponto de enfrentar alguém que partilha a vida e o coração com dois Deuses. Enquanto ela brinca aos governantes, eu fortaleço-me e da próxima vez eu não falharei! Sou paciente, sei esperar, e quanto mais espero mais a minha raiva floresce, mais o meu rancor arde, mais a minha maldade prospera, mais a minha sede de vingança aumenta, espera por mim Thor, espera por mim Ódin! Espera por mim Asgard! Eu não tardo! – Um riso violento vindo das profundezas abismais da Terra invadiu agressivamente os corações dos habitantes do sagrado reino.

                Uma elegante montada cor de algodão galopava a tremenda velocidade através do gracioso tapete sagrado, no seu dorso erguia-se um jovem de lindos cabelos cor de ouro, uns cristalinos olhos azuis que faziam lembrar dois diamantes luminosos, trajava uma jaqueta de couro que enaltecia a sua divina figura. O enorme cavalo de seis patas estancou a escassos centímetros do local onde Ângela jazia inconsciente, ladeada por Dégel e por alguns curiosos aldeões.

— Isto só pode ser uma bênção dos céus, um milagre de Ódin, uma dádiva do sangue sagrado que corre nas suas veias. Ágda minha querida irmã, sê bem vinda ao nosso reino! – Aclamava o jovem Deus, derramando várias gotas de neve dos seus diamantes cristalinos. – A quem devo agradecer tal milagre? – Perguntou, dirigindo-se cordialmente a Dégel.

— Dégel cavaleiro de Ouro de Aquário, um dos defensores da deusa Atena. – Respondeu o dourado, fazendo uma vénia, símbolo de respeito incondicional. – Então é Ágda o nome dela. – Pensou, fitando aqueles lindos cabelos de fogo que contrastavam perfeitamente com o branco puro da neve.

— Mas porque é que a minha doce irmã não abre os olhos, o que se passa? Explica-te cavaleiro de Atena. – Ordenou o jovem preocupado, acariciando o lindo rosto da sua amada irmã. – E que trajes são estes que ela exibe? – Perguntou, analisando com pormenor a sagrada armadura de bronze protegida pela constelação de Cisne.

— Talvez possamos adiar esta conversa para um pouco mais tarde, ela precisa de cuidados, de um lugar mais quente, de comida e de um pouco de conforto, acha que é possível senhor…

— Thor o príncipe de Asgard. Sim é possível, irei providenciar um transporte. – Esclareceu o louro, fazendo sinal a um dos muitos aldeões que se aninhavam nas redondezas. – Meu caro Karl peço-te que vás rapidamente até ao nobre palácio e ordenes em nome de Thor que tragam a carruagem real para transportar a princesa Ágda. – Pediu educadamente.

— Considere-o concretizado. – Respondeu o aldeão prontamente, fazendo uma profunda vénia e partindo a grande velocidade.

                 Depois de alguns minutos em profundo e arrepiante silêncio, apenas quebrado pelas patas do forte cavalo quando raspava na neve, um som de uma carruagem irrompeu pelos atentos ouvidos dos presentes. O Aquário ergueu os seus inteligentes olhos para o firmamento platinado, mesmo a tempo de vislumbrar uma nobre carruagem recortada contra o horizonte cristalino, para enorme surpresa do cavaleiro esta era puxada por dois bodes.

— Finalmente! – Exclamou o Deus com alívio na voz, tomando a ruiva nos seus musculados braços, transportando-a até à real carruagem.

                Ágda jazia deitada numa cama de madeira de corte antigo e requintado, protegida por finos lençóis de linho branco, algumas servas ladeavam-na com devoção, acariciando-lhe ternamente o rosto doce e adormecido.

— Bem agora acho que chegou a hora das tuas explicações cavaleiro de Atena. – Afirmou Thor em voz sumida, sentado confortavelmente numa poltrona, perto de uma das altas janelas que iluminavam a vasta sala circular. – Porque é que não me trouxeste a minha irmã mais cedo? – Inquiriu, olhando Dégel com frieza nos lindos diamantes azuis.

— Não tinha como o fazer. – Respondeu o Aquário, pouco à vontade perante tal olhar de gelo. – Quando encontrei a Ângela, bem quer dizer a Ágda, ela estava perdida no meio de uma forte tempestade perto de Bluegard. Levei-a até á mansão do senhor Garcia e aí cuidei dela. – Explicou em voz baixa, relembrando cada detalhe daquele estranho encontro.

— E porque não a trouxeste para cá de imediato? Tens noção do perigo que ela correu? – Insistiu o nórdico irritado.

— Só há pouco tempo é que eu compreendi realmente o perigo que ela corria. – Lamentou-se o dourado em tom duro. – Ela durante a tempestade caiu e bateu com a cabeça numa pedra, o que originou uma grave perda de memória, eu não tinha como saber. Então treinei-a para se tornar uma amazona ao serviço da Deusa Atena, foi seu desejo tal treino. – Esclareceu, apercebendo-se que o olhar de gelo patente nos olhos de Thor se intensificava gradualmente. – Eu durante muito tempo tive esperanças que a memória dela retornasse a qualquer momento, porém tal nunca aconteceu. – Continuou. – A alguns meses o senhor Grande Mestre Sage, representante de Atena na terra, deu-me um pergaminho estelar muito antigo, eu analisei-o com extremo cuidado e perícia, por fim descobri o que teimosamente me fugia por entre os dedos, Ângela a amazona de bronze de Cisne era na verdade a representante de Ódin na Terra. Os dias que se seguiram foram dolorosos para mim, vagueava perdido entre dúvidas, incertezas, indecisões e suposições que não me levaram a lugar nenhum. Numa tentativa absurda de Ágda recuperar a memória entreguei-lhe o pergaminho celeste para ela o analisar, ela fê-lo com grande e exemplar distinção, descobriu cada mistério, cada detalhe, cada verdade escondida pela grandiosa muralha das estrelas, mas nem assim a sua memória regressou. – Dégel respirou fundo. – Depois de algum tempo sem saber o que realmente devia fazer, fez-se luz, a tão difícil decisão veio ao meu encontro. – Concluiu amargamente.

— Foi então que decidiste trazê-la para cá? – Perguntou Thor

— Sim, não havia outra saída, as forças do mal iam acabar por a detetar, e eu não podia permitir que tal poder sagrado caísse em mãos erradas, eu não podia deixar que uma menina tão valiosa fosse arrastada para as trevas. – Respondeu o dourado, vendo no interior do seu coração gelado aquele sorriso lindo, repleto de calor e esperança. – Acho que tenho o direito de fazer umam única pergunta apenas. – Sugeriu. – Porque é que a representante de Ódin vagueava sozinha e perdida através dos perigosos subúrbios de Bluegard?

— Porque fugiu no dia dos seus anos. Eu sempre gostei muito dela, sempre vivi com o único propósito de a proteger, de a manter em segurança absoluta, nesse dia ela queria festejar o seu décimo aniversário com alguns dos aldeões numa das antigas praças do reino, eu não autorizei, se eu soubesse teria feito tudo diferente. Depois do recolher, ela fugiu, conhecia bem cada recanto do palácio e escapou com facilidade aos guardas e às servas que sempre vagueiam pelos corredores. – Explicou Thor com peso na voz, sentindo aquele gelado arrependimento cortar-lhe o peito. – Mas agora está tudo bem, ela está de novo em casa, e eu serei mais permissivo, mais benevolente, mais tolerante, serei menos pai e mais irmão, tudo será diferente. – Prometeu, fitando a doce Ágda que ainda imóvel deambulava pelo imaginário universo das recordações. – Será que quando ela acordar se lembrará de tudo? – Perguntou.

— É o mais provável. Desculpe a minha tremenda ousadia, irá ter em consideração a opinião de Ágda sobre o cumprimento do seu destino? – Questionou Dégel, finalmente fizera a pergunta que tanto lhe ardia na mente.

— Ela adora o seu destino e a bênção que lhe foi gentilmente ofertada por Ódin, ela ficará e cumprirá a sua missão com real vocação. – Retorquiu Thor, ligeiramente indignado.

— Parece que não aprendeu nada, as coisas mudaram com o passar dos anos, ela conheceu novos costumes, novas culturas, novas sensações, novos sentimentos. Onde está a tolerância que falava há poucos minutos? – Confrontou o dourado com pura irritação.

— Não dou permissão a um forasteiro que fale nesse tom arrogante e presunçoso. Não penses por seres um defensor da Deusa Atena que tens direito de julgares as nossas tradições. – Gritou o Deus embalado pela branca fúria do Norte.

                Alguns movimentos na elegante cama da linda e justa princesa de Asgard fê-los parar, olhando com esperança e curiosidade aqueles olhos cor do mar que se iluminavam docemente com a luz dourada do sol, finalmente acordara.

— Tu. – Murmurou em voz fraca, fitando Thor com interesse.

                Será que Ágda voltará a viajar tranquila pelo belo e florido jardim das suas lembranças? Qual será a sua decisão? Quem prevalecerá: Ângela amazona de bronze de Cisne? Ou Ágda representante de Ódin na Terra e princesa de Asgard?


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Notas finais do capítulo

O nome Ágda, referente ao título da fanfiction e ao nome da personagem principal da história significa bondosa e pura nos países nórdicos.

O cavalo de seis patas mencionado no capítulo refere-se à montada de Ódin Sleipnir.

Os dois bodes também mencionados denominam-se Tanngrisnir e Tanngnjóstr, que puxam a carruagem real de Thor na mitologia nórdica.



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