Ágda escrita por Maresia


Capítulo 20
Ciume




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                Ângela debruçada sobre o brilhante parapeito da sua pequena janela, observava o pequeno grupo que determinado adentrava pelo nobre Santuário, numa brecha de alegria e loucura interior reconheceu aquela beleza fascinante, sem igual, que caminhava fitando o chão de areia. A jovem quis correr ao seu encontro para o abraçar, para sentir de novo aqueles lábios que há muito não sentia, para lhe dizer quantos flocos de saudade caíram do seu peito durante a sua demorada ausência, para lhe dizer o quanto o amava. Porém, todas estas tentativas não concretizadas foram tristemente congeladas pelo dever e pelo seu estatuto de amazona, não era justo, pensou a ruiva seguindo teimosamente cada passo do dourado de Peixes. Este, por seu turno, levantou os olhos lindos para a pequena janelinha, vendo com tristeza o doce rosto da Cisne olhando para si com a sua habitual ternura azul, contudo seguiu o seu caminho, deixando nas suas costas um rio de saudade e solidão, banhado por brancas ondas de amor e carinho.

                               A jovem desviou o olhar para vislumbrar a sua amiga, contudo a sua boca abriu-se num misto de estranheza e revolta. Bianca sorria alegremente, caminhando com floreados, segurando pela mão uma criança, um menino muito bonito de lindos cabelos cor de mel e uns apaixonantes olhos verdes que dançavam ao sabor dos frágeis raios solares. O menino sorria timidamente, olhando com admiração o cavaleiro que seguia na sua frente abrindo caminho até às doze casas da paz.

— Agora vamos entrar na primeira casa, o templo de Carneiro. – Explicava Bianca em voz doce, sorrindo para a criança. – Quando te dirigires ao cavaleiro que protege esta casa fá-lo com o maior dos respeitos, percebeste Alex? – Informou a amazona mudando o seu tom de voz tornando-o mais sério.

— Sim, eu percebi. – Respondeu o menino em voz de açúcar.

                O pequeno grupo entrou no templo de Shion, desaparecendo do ângulo de visão da ruiva, que confusa tentava compreender o que se passava.

— Abre Ângela, sou eu! Quero apresentar-te uma pessoa! – Exclamava a voz bem-disposta da Leão Menor, dando várias pancadinhas entusiasmadas na porta da casa da ruiva.

— Já vou, já vou! – Respondeu a Cisne, tentando parecer o mais normal possível, mascarando a sua estranha confusão e ciúme com um falsamente cintilante sorriso, já se tornara hábito.

— Ainda bem que estás em casa, olha este é o Alex. – Apresentou animada, conduzindo o tímido menino para o interior da casinha. – Eu e o Albafica resgatamo-lo das mãos de um criminoso tirano, já falámos com o Grande Mestre Sage e ele vai ficar a minha guarda e do Albafica, não é fantástico? – Esclareceu numa tirada, só parando para respirar fundo.

— Olá Alex, sê bem-vindo ao santuário de Atena. – Saudou Ângela educadamente, sentindo o mostro do ciúme reaparecer das suas profundezas cálidas. – Onde ele viverá? – Perguntou, numa tentativa inútil de abafar o que sentia.

— Comigo claro. – Disse Bianca orgulhosa, passando a sua mão, onde a pulseira lilás ainda brilhava, pelos lindos cabelos do menino holandês. – Quando ele tiver idade, eu e o Albafica vamos treiná-lo a fim de o tornar um cavaleiro. – Anunciou divertida.

— Parece-me espetacular, tens fome Alex? – Questionou a ruiva, desviando o assunto do cavaleiro de Peixes.

— Um pouco. – Respondeu a criança em voz doce, sorrindo.

— Gostas de bolo de chocolate? – Perguntou a ruiva, fazendo sinal para que Alex se sentasse.

— Gosto muito. – Confessou o Holandês. – Obrigado. – Agradeceu enquanto Ângela lhe servia uma generosa porção de um bolo certamente maravilhoso.

— Alex não te demores, lembra-te que vamos fazer o reconhecimento do Santuário com o Albafica. – Preveniu a Leão Menor, aceitando a fatia que a ruiva lhe estendia.

— Parece que os cavaleiros de Ouro andam com muita disponibilidade, quem diria. – Comentou a Cisne com azedume na voz.

— O Albafica criou laços muito apertados comigo e com o Alex, somos grandes amigos. – Afirmou Bianca felicíssima com a sua nova e bela amizade.

                De súbito, alguém quebrou aquela conversa desconfortável com algumas batidas na porta, a Cisne levantou-se rapidamente da sua cadeira e espreitou à janela para reconhecer o intruso. O seu coração parou, os seus olhos brilharam mais do que nunca, o seu rosto iluminou-se num magnífico sorriso ao ver quem estava do outro lado.

— É o Albafica! – Afirmou em voz radiante, não olhando a sua amiga, dirigindo-se a grande velocidade para a maçaneta, rodando-a. No entanto antes que tivesse tempo de colocar um pé que fosse no exterior fresco, Bianca tirara-a arrogantemente do caminho.

— Vamos Alex estamos atrasados. – Proferiu em voz audível, disfarçando a falta de educação que acabara de cometer, puxando o menino de rompante atrás de si.

— Calma Bianca, eu não te roubo o novo amigo. – Vociferou a Cisne, encarando aqueles brilhantes e apaixonados olhos do Dourado de Peixes, todavia este manteve-se imóvel, indiferente, ignorando o sorriso que desaparecia a pouco e pouco do lindo rosto da amazona.

— Sai da frente, estou atrasada. – Ordenou a Leão Menor em voz superior, fitando a guerreira do gelo com aqueles olhos de fogo, derretendo todas as esperanças de um promissor reencontro.

                Ângela deixou-se cair dolorosamente no velho sofá, que voluntariamente amparava as suas lágrimas de prata e dor. Talvez fosse tola em reagir daquela forma doentia, ciumenta, possessiva, contudo Bianca e a sua arrogância recente poderiam deitar por terra tudo aquilo que ela levara tanto sofredor tempo a conseguir, ela não queria perder aquele homem único e maravilhoso, a simples ideia fazia o seu espírito tombar sobre a mais escura frieza, sobre a mais pútrida tristeza, sobre a mais injusta desilusão. Depois ainda havia bem escondido no seu interior aquele maldito beijo gelado que nunca deveria ter acontecido, talvez ela merecesse aquela punição.

                Ao longo dos dias, a presença ausente do Dourado de Peixes atingia o coração da ruiva de uma forma aterradora, evitando-a em cada involuntário encontro, não comparecendo noite após noite no campo vigiado pelo calmo rio, ignorando cada apelo lançado pelo destroçado coração de neve.

— Nem imaginas os dias que passei com o Albafica, foram os melhores desde que cheguei ao Santuário, ele realmente é incrível, fascinante e muito, muito atraente. – Dialogava Bianca sozinha, enquanto a Cisne cultivava mais uma das suas maravilhosas braceletes, desta vez preta cor do ébano e das trevas. Cor injusta que pinta imperfeitamente o universo da ruiva. – Ângela estás a ouvir-me? – Questionou indignada.

— Não me interessa o que tu dizes. – Respondeu a Cisne sem rodeios. – Perdes demasiado tempo a olhar para o Albafica do que a cumprir o teu dever de amazona. – Atirou sem temer a retaliação mais que provável.

— Estás com ciúmes. – Constatou Bianca plena de verdade. – Tu querias ter a atenção dele. – Comentou em voz sarcástica.

— Nada disso, talvez te tenhas esquecido da tua função neste santuário. – Prenunciou Ângela com rancor.

— Nunca ponhas em causa a minha devoção à Deusa Atena! – Gritou a loura zangada, elevando drasticamente o seu flamejante cosmo.

— Azar o teu, já coloquei, e agora o que vais fazer? – Provocou a ruiva em tom desafiador, elevando o seu gelado cosmo fortificado pelo ardente ciúme. – Devias ter vergonha das tuas atitudes! – Berrou, perdendo o controlo e dando um valente murro no rosto da amazona de Leão Menor.

— Não queiras cobiçar o que não é teu! – Ripostou Bianca em voz enraivecida, devolvendo o golpe.

— Ele nunca será teu, nunca! – Garantiu a Cisne furibunda. – Pó de Diamante!

— Nããããooo! – Gritou uma voz masculina irrompendo furtivamente pela pequena habitação. Dokho de Balança estava imóvel no meio das duas guerrilheiras, segurando com as mãos o poderoso ataque Siberiano liberado por Ângela. – O que pensam que estão a fazer? – Interrogou irritado. – Estão loucas? – Insistiu, examinando os estragos causados pela pequena luta. – Se eu vos apanho outra vez nestas guerrinhas infantis, levo-as à presença do Grande-mestre Sage, estão avisadas. – Ameaçou o Balança em tom sério. – Têm sorte de eu estar bem-disposto. – Comentou.

— Dokho, eu posso explicar. – Principiou Ângela em voz sumida, toldada pela vergonha.

— Não quero explicações. – Retorquiu o dourado sem olhar para a sua amiga.

— Vou-me embora, não te voltes a aproximar de mim sua maníaca. – Afirmou Bianca com desprezo, limpando um grosso fio de sangue que escorria do seu nariz.

— É um favor para mim! – Retorquiu a Cisne no mesmo tom.

— Já chega, daqui a pouco têm que prestar as vossas explicações ao Grande-mestre, não volto a avisar outra vez. – Prenunciou o Balança em tom autoritário.

— Desculpa Dokho. – Pediu Ângela em voz triste, vendo Bianca sair e bater a porta com força.

— Não me peças desculpa a mim, pede à tua armadura. – Respondeu Dokho em tom compreensivo.

— O que querias? – Inquiriu a ruiva.

— O Dégel manda-te um recado, dentro de dois dias partem para Asgard em missão. – Anunciou Dokho, sentando-se no sofá junto da amazona que o olhava perplexa.

— Asgard, onde é que eu já escutei esse termo? – Cismou Ângela, vendo o reflexo do seu passado brilhar à tona da sua alma.

                Asgard, o lendário reino nórdico governado pelo supremo Deus Ódin, o que ligará a amazona de Cisne a esse mitológico local? Como culminará a relação de Albafica e da guerreira da neve?


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