Ágda escrita por Maresia


Capítulo 16
Beleza envenenada




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                A jovem dos lindos cabelos flamejantes perscrutou a silenciosa e prateada noite, buscando a fonte daquela voz calma com trago a frescura dourada. Alguns passos abafados pela areia fluida misturaram-se com a melodia azul do rio de cristal valioso, aproximando-se com sabedoria da jovem que transbordava de sal e confusão.

— Quem está aí? – Perguntou Ângela educadamente, recordando com pesar a primeira abordagem que fizera a Asmita de Virgem.

— Não tenhas medo, eu sou um Cavaleiro de Ouro, Shion de Carneiro. – Respondeu a voz reduzindo a ínfima distância que o separava da amazona de Cisne.

— Shion de Carneiro, o amigo do Dokho? – Perguntou a ruiva timidamente.

— Sim sou eu. Porque é que os teus olhos derramam essa torrente imensa de lágrimas? – Questionou Shion, sentando-se na areia junto da jovem.

— É muito complicado. – Respondeu Ângela em voz baixa, preenchida pela tristeza e pelo sofrimento.

— Até para as coisas mais complicadas e aparentemente inexplicáveis existem justificações plausíveis e bastante credíveis, acredita nas minhas palavras, talvez eu te possa ajudar de alguma forma. – Sugeriu o Carneiro sabiamente, elaborando distraidamente um pequeno montinho de terra.

— Eu acho que ninguém me pode ajudar, desculpa Shion. – Afirmou Ângela, observando aqueles olhos inteligentes e promissores recortados no imenso e distante firmamento estelar.

— Bem, eu não quero parecer metediço, nem algo do género claro, contudo eu assisti a tudo o que aconteceu. – Confessou o dourado, ligeiramente envergonhado.

— Então deves estar a pensar que eu sou uma estúpida? Era mesmo do que estava a precisar! – Lamentou-se a amazona, sentindo mais vergonha do seu comportamento do que o próprio Cavaleiro de Ouro.

— Longe de mim ser possuidor de tais injustos pensamentos, eu compreendo a tua atitude, e compreendo igualmente o que sentes ao seres rejeitada por Albafica de Peixes. – Principiou Shion em tom sincero, para enorme surpresa da ruiva. – A beleza de Albafica tem o incrível poder de cativar e amaldiçoar todos aqueles que caiem no seu involuntário encantamento, tu foste mais uma, apenas mais uma. – Afirmou com ar pensativo e longínquo.

— Eu não compreendo porque é que ele me evita a todo o custo, definitivamente não compreendo. – Disse Ângela.

— O teu mestre nunca te contou a história do Cavaleiro de Peixes? – Interrogou Shion mantendo o mesmo estado pensativo.

— Nunca. – Admitiu a amazona de Cisne curiosa.

— Então talvez seja melhor eu te contar, antes que caias num sofrimento sem retorno. – Decidiu o Cavaleiro. – Não penses que existe algo de errado contigo, tu és perfeitamente normal, não és a única pessoa que Albafica de Peixes evita. – Esclareceu amargamente.

— Quem mais ele evita? – Perguntou a jovem.

— Todos nós, todos aqueles que cruzam o seu caminho, todos os seres humanos. - Respondeu Shion com o tremendo pesar a toldar-lhe a voz habitualmente serena.

— O que há de errado com ele? – Questionou a amazona assustada com a explicação que atentamente escutava.

— Na minha opinião nada. – Continuou o dourado. – Porém Albafica é portador de um sangue extremamente venenoso, que uma única e insignificante gota seria capaz de matar o mais poderoso dos homens. Devido a esse facto, ele julga-se uma ameaça mortal para todos nós, então desde muito jovem que abraçou corajosamente a solidão, isolando-se do resto da humanidade, vivendo apenas na companhia das suas rosas, garantindo assim a segurança de todos os que o rodeiam. – Terminou o Carneiro, experimentando a amargura terrível do limão.

— Nunca poderia imaginar. – Afirmou Ângela em voz triste, sentindo o mais puro e valioso carinho e apreço pelo cavaleiro. – Mas será que ninguém é capaz de lhe dizer que ele não é perigoso? Será que ninguém neste lugar consegue quebrar a barreira que ele ergue em seu redor? – Perguntou, com a indignação a percorrer-lhe os olhos sofredores.

— Todos nós já tentámos, todavia as convicções de Albafica são plenas e intransponíveis. – Proferiu Shion, recordando todas as tentativas que foram realizadas para desfazer a solidão que prendia o Cavaleiro de peixes à sua dor mortífera.

— Eu não vou desistir dele, disso podes ter tu a certeza. – Garantiu Ângela determinada.

— Nada posso fazer para te impedir, contudo devo-te avisar de que estás a perder o teu precioso tempo. – Avisou o dourado.

— Não faz mal, o meu tempo será muito bem investido na tarefa de dar ao Albafica um motivo que seja para sorrir. – Disse a amazona, lembrando aquele rosto atraente onde a tristeza já reinava há tempo de mais.

— Nada do que eu te possa vir a dizer alterará a tua maneira de pensar, pois não? – Questionou o Carneiro adivinhando a resposta mais do que evidente.

— Desculpa mas não. – Assumiu a jovem sem rodeios.

— Já compreendo porque é que tu e o Dokho são tão amigos, porque partilham uma teimosia incontrolável. – Constatou Shion.

— Sim, talvez seja por isso, no entanto eu não me importo com isso. – Respondeu Ângela, orgulhosa da sua personalidade recentemente moldada. - Shion desculpa a ousadia, mas existe mais alguma coisa sobre o Albafica que eu devesse saber? – Perguntou a amazona de bronze.

— Sim, de facto existe uma outra coisa, contudo, na minha opinião, acho que se conseguires a amizade de Albafica, devia ser ele pessoalmente a contar-te. Desculpa mas é um assunto demasiado sensível para ser relatado sem ele estar presente ou sem ele dar a sua permissão. – Respondeu o dourado sem se alongar mais do que os seus princípios morais lhe permitiam.

— Certo, obrigada Shion. – Agradeceu delicadamente Ângela, erguendo-se elegantemente para retornar ao santuário sagrado. – Shion só gostava de fazer uma última pergunta, qual é o motivo pelo qual Albafica se faz sempre acompanhar de uma bela rosa? – Perguntou Ângela com algum temor de ser mal interpretada.

— As rosas, tal como Albafica são portadoras de uma beleza sem igual, contudo a beleza esconde um tremendo perigo fatal para quem defrontar o cavaleiro de Peixes. – Respondeu Shion enigmaticamente. - Eu acompanho-te. – Ofereceu-se cordialmente, colocando-se ao lado da bela amazona de bronze. – Mas sinto-me no direito de te dizer uma última coisa e talvez a mais importante de todas as que proferi esta noite, todos os sentimentos que te ligam a Albafica para além do companheirismo devem ser completamente erradicados da tua mente. – Disse categoricamente, seguindo determinado o seu caminho.

— Sim eu tenho consciência disso, todavia recuso-me terminantemente a esquecer o que me liga ou ligará a Albafica de Peixes. – Pensou Ângela irredutível, caminhando rapidamente ao lado do defensor de Carneiro.

                Estará Ângela pronta para enfrentar os árduos passos que cruzam a imperfeita perfeição do amor? Será Ângela capaz de ultrapassar e de vingar perante a chegada iminente de cruéis e injustas privações? A fita temporal de gelo que prende o seu passado brevemente derreterá, estará a amazona pronta para abraçar as suas memórias? Como reagirá Dégel de Aquário a todas estas inesperadas mudanças?


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