Ágda escrita por Maresia


Capítulo 11
Gelo fervilhante




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A fúria e a descrença dançavam implacavelmente nos olhos de água de Ângela, transformando a atmosfera repleta de doces flocos de açúcar em milhares de gomos de limão amargo e choroso. Dégel e Unity jaziam inconscientes no tapete branco manchado de escarlate. A figura encapuzada caminhava insolentemente desprezando aqueles dois à mercê da incontestável e pérfida morte fria e escura.

– Espera! – Ordenou a jovem aprendiza, embalada pelo seu poderoso cosmo nórdico. – Ouviste espera! – Repetiu, vendo que a misteriosa figura negra não lhe prestava a mínima atenção. Compreendendo que não obteria resposta alguma, pegou sem dificuldade num enorme e afiado pedaço de gelo mortal e atirou-o ao ser encapuzado. Todavia o resultado ficou muito a quem nas expectativas desejadas pela jovem de lindos cabelos de fogo flamejante. Aquele misterioso ser, sem olhar para trás, sentiu o gelo afiado aproximar-se, repleto de raiva e ódio, esticou uma mão e apanhou-o desfazendo-o em milhares de diamantes reluzentes.

– És muito fraca! – Rosnou a figura de forma arrogante e superior, observando a menina que corria desesperada através da estrada de neve e sangue quente. – Dessa forma terás a mesma sorte desses inúteis aí. – Disse, apontando para os corpos gelados e inertes do cavaleiro e do jovem aristocrata.

– Vais pagar. – Ameaçou Ângela, atirando-lhe com uma enorme e gelada onda de cosmo. – Irei vingar o meu mestre e o meu amigo. – Prometeu, empurrando a criatura escondida pela escuridão negra, todavia o empurrão foi-lhe caprichosamente devolvido com o dobro da força que ela exercera. Ângela caiu a cruéis centímetros do Aquário, uma lágrima pulou das profundezas marinhas do seu olhar desesperado.

A jovem com dificuldade ergueu-se enterrando os seus pés no delicado e sangrento manto amargo. Caminhou até Dégel, tomando-lhe carinhosamente o pulso.

– Ainda está vivo, aguente. – Pediu. Contudo a aproximação iminente do inimigo fê-la despertar das amarras do desespero.

– Tanta coragem, sabes que não deves voltar as costas a um adversário quando estás no campo de batalha? Parece que tal como tu o teu querido mestre não passa de um inútil pomposo e fracassado. – Zombou o ser, lançando uma enorme onda de cosmo envenenado que atirou Ângela de novo nos braços da neve de prata. – Não precisas de implorar, brevemente juntar-te-ás a estes vermes, a morte é suficientemente poderosa para vos transportar a todos. – Afirmou convicto, vendo a linda aprendiza de joelhos sobre o manto de linho, esforçando-se por se reerguer de novo. A sua voz estava imersa num escarnio desprezível e nojento que irritou a jovem profundamente. – Todavia, eu sou bastante amável e dar-te-ei a morte que tão desesperadamente anseias. – Afirmou, enchendo a silenciosa Bluegard com um riso malévolo e doentio.

– Já chega! Não digas nem mais uma palavra! – Respondeu a aprendiza ruiva. – Quem és tu? – Perguntou corajosamente. – O que fazes aqui? Porque atacaste o meu mestre e o Unity? Responde! – Gritou furibunda, principiando um implacável ataque ao desconhecido feroz e arrogante.

– Quem me obriga a responder? Ah espera, já sei, uma aprendiza de amazona sem quaisquer qualidades significativas! Sim eu acho que devo recear pela minha vida. – Voltou a Zombar aquela voz sarcástica e trocista vinda das profundezas pútridas daquele capuz negro.

– Gela meu cosmo, gela até ao infinito! – Apelou a menina, intensificando a sua energia de diamante. – Pó de diamante! – Gritou enraivecida. Ângela nunca tinha atingido aquela velocidade surpreendente, mal podendo acreditar no que estava a fazer.

– Este ataque! – Murmurou a figura escura, tentando-se esquivar do punho repleto de vingança e dedicação, imerso em milhares de diamantes inquebráveis, coberto de vínculos muito apertados. Desta vez o ataque não alterou a sua direção, embateu perigosamente contra o corpo oculto do inimigo.

– Eu serei uma amazona, e não serás tu e a tua maldade que me vão impedir! – Afirmou, preparando uma nova e fatal ofensiva.

– Bem, acho que me vais dar mais trabalho do que o inútil do teu mestre e o verme desse aristocrata vaidoso. – Constatou o ser.

O cenário que se seguiu rivalizou com um autêntico campo de guerrilha fervilhante e feroz. Os ataques dos dois combatentes voavam em todas as direções, os seus cosmos repletos de fúria, calor e gelo cobriam o vasto universo distante e observador.

– Eu não vou perder! – Gritou a jovem decidida, assertando um valente pontapé no estômago do seu inimigo mortal.

– Não te iludas com a sorte que não existe! – Respondeu o encapuzado, devolvendo furtivamente o ataque que lançou Ângela por terra. – Como arde o meu coração com esta luta, parabéns miúda. – Parabenizou o oculto e misterioso ser. – Como arde através dos saborosos caminhos da vitória!

– Cala-te! – Retorquiu Ângela com a raiva a pulsar tragicamente nas suas veias geladas. – Um cavaleiro não se avalia pela armadura que traja nem pela classe que ocupa, mas sim pelos valores que preenchem o seu coração e pelos princípios que domam o seu espírito. Por isso, alguém como tu jamais receberá o jubiloso sorriso da vitória. – Pré-fraseou com perfeição as palavras sábias do seu mestre.

– Vamos ver se esses lindos ensinamentos te salvam da morte certa, miúda. Prepara-te! – Ameaçou o encapuzado, elevando perigosamente o seu cosmo envenenado.

– Eu lutarei até não me restar um raio de força! – Exclamou a linda ruiva.

– Agulha escarlate! Pó de diamante! – Duas vozes quebraram insolentemente a calmaria branca da graciosa Bluegard, num misto de calor e frio. O choque dos dois ataques formou uma enorme cratera no manto antigo e valioso. Os dois adversários caíram exaustos por terra.

– Já chega! – Uma voz fria e inexpressiva cobriu o ar. Dégel de Aquário erguera-se caminhando até os dois reféns do cansaço. Ambos olharam-no com surpresa. Unity também se erguia nas costas do cavaleiro.

– Mestre Dégel, Unity. – Disse Ângela em voz fraca e confusa. – Mas eu pensei que ele vos tinha morto. Eu não compreendo o que se passou.

– Explicar-te-ei tudo em pormenor Ângela. – Respondeu o Aquário, ajudando a sua aluna a colocar-se de pé. – Podes retirar o capuz. – Disse, virando-se para o suposto inimigo. O homem ergueu as duas mãos de forma teatral e baixou lentamente o capuz para apresentar Kardia de Escorpião.

– Tu? – Indagou a jovem incrédula, reconhecendo aqueles olhos azuis repletos de arrogância e traquinice absoluta.

– Sim claro que sou eu, quem querias tu que fosse? – Perguntou mordazmente o cavaleiro. – A fada madrinha, talvez? Já agora, desculpa a minha ousadia, estás cada vez mais bonita, tens a certeza que não existe uma oportunidadezinha para nós os dois? – Perguntou, com a malícia a turvar-lhe a voz.

– Claro que não, seu estúpido convencido. – Respondeu, dando-lhe um enorme murro.

– Porra que ela é brava, tal como eu gosto! – Exclamou Kardia.

– Parem com essa luta infantil. – Ordenou Dégel maldisposto. – Existem coisas que Ângela deve saber. Em primeiro lugar, quero pedir-te desculpa por esta emboscada vergonhosa, todavia eu só pretendia que tu libertasses todo o teu cosmo. Em segundo lugar, parabéns, tu passaste os testes de admissão a amazona. E em terceiro e último lugar, amanhã resgataremos a tua armadura. – Finalizou o Aquário orgulhosamente.

– Parabéns Ângela. – Disse Unity, não cabendo em si de tanta felicidade.

– Isso, miúda, parabéns. – Reforçou o dourado de Escorpião.

– Obrigada a todos. – Respondeu Ângela, controlando as lágrimas, recordando o seu passado esquecido e imerso em lembranças brancas e sombrias, repletas de esquecimento e vazio, tristemente perdidas naquela injusta e brilhante tempestade de gelo e emoções.

– Vamos para casa. – Disse Dégel cansado. – Ficas connosco ou partirás para o santuário? – Questionou, dirigindo-se ao seu amigo cavaleiro.

– Talvez volte apenas quando vocês dois regressarem, preciso de férias. E não consigo imaginar melhor sítio do que este onde o inverno reina para sempre, que local agradável e paradisíaco. – Respondeu ele ironicamente.

Nessa noite, Ângela dormiu numa almofada de rosas, esperança e luz. Imaginando como seria a sua armadura e onde ela repousava. Pensando intensamente no cavaleiro de peixes e nas poucas e injustas horas que faltavam para ela vislumbrar aquele porte elegante e majestoso novamente. Porém as sombras de um passado vazio e de um futuro desconhecido voavam através dos seus confusos solitários e tristes sonhos.

Como será a vida de Ângela no santuário de Atena? Conseguirá ela o tão desejado amor de Albafica de Peixes? Conseguirá contornar o seu misterioso destino?


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