Inexpressável amor escrita por Belle Princesse


Capítulo 1
One shot


Notas iniciais do capítulo

Somente a madrugada é capaz de produzir pérolas rs. Espero que gostem!



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É no silêncio da noite que as coisas realmente acontecem. Afinal, quem nunca desejou falar sem que as palavras pudessem ajudar? Elas ardem no silêncio barulhento da minha mente, e eu só poderia gritar. Conter-me é o que faço, pois não quero assustar todo o Santuário com coisas que não sei dizer nem a mim mesmo.

Talvez escrever ajude a colocar as palavras em ordem, num fluxo constante, que assim como o rio poderia ser capaz de acalmar minha alma. O papel em branco mais agoniza do que salva. As palavras, tão sábias, foram embora. Não há como ficar por aqui, se nem eu mesmo o quero.

E então a única coisa que resta é me entorpecer. Dentro de mim, deitar no seu colo e aproveitar o conforto do seu abraço. Imaginar que podemos dizer coisas pelo vento. Que o simples respirar basta para o entendimento, naquele conforto delicado da ausência de palavras entre nós.

O seu silêncio também me angustia, mas me acalma. Assim como teu amor me alimenta, e também me fraqueja. É assim que é com a gente, e também não o é. Assim como as palavras que me salvam sem estarem presentes. Desse nosso jeito único e particular de ir levando as coisas que não levam a lugar algum.

Não, realmente não faz sentido. Mas ouvi dizer que o amor não faz sentido algum e, se fizer, não é amor. Talvez seja por isso que o ame. Por não fazer sentido algum amar alguém como você... Como eu poderia? Não fui feito pra isso, não. Meu sangue corre para lavar a injustiça do mundo. Meu corpo, feito de espada e escudo. E o seu também. Quem poderia esperar que ousassem fazer outra coisa?

É... Acho que me entorpeci. Talvez seja por isso que tudo faça sentido sentir e nada faça sentido pensar. Talvez seja por isso que meu coração grita e minha mente se cala. Como dar voz ao desconhecido? Como expressar o inexpressável? Como falar sem dizer?

Você é melhor nisso do que eu, confesso. Seu andar, seu olhar, seu falar.... Tudo em você transparece o que não é. Tão estranho pensar em quão contraditório é um dos homens mais racionais do Santuário. Mas eu já devia saber que assim as coisas funcionam para você. Conheço-te há tanto tempo! Conheço-te mais do que a mim mesmo. E esse, sem dúvida, foi o meu maior erro.

Não é razoável esperar de alguém algo mais do que se é capaz de fazer, mas é bem assim que a roda do amor gira. Você costumava dizer de suas obrigações, e eu costumava ralhar por isso. A verdade, entretanto, é que eu também não seria capaz de fazer diferente do que você fez. Embora a gente goste de pensar que somos totalmente diferentes, Aquário, a verdade nua e crua é que somos bastante iguais. Constrangedoramente iguais.

E não é pela batalha, nem pela Sagrada Armadura, nem pelo dever, tampouco pelo gosto acentuado por vinhos antigos. Embora em meu sangue corra um grego espirituoso e caliente e no seu, um francês elegantemente blasé.... Somos iguais naquilo que mais interessa: O coração.

E não, não se trata de tolas palavras de um bêbado solitário, embora possa parecer. São apenas expressões do inexpressável. Verdades que surgem à tona nos momentos mais inoportunos. Clareza que surge em meio à escuridão. Como o amanhecer que ilumina o céu, tão lindo e radiante, é a verdade que surge. Que amanhece a minha mente de consciência.

É uma lástima que eu já não possa mais compartilhar com você tudo o que aprendi, tudo o que sinto e percebo. É uma perda que eu nunca tenha feito isso de verdade. Anseio pelo dia em que eu possa fazê-lo. Desesperançoso de poder fazê-lo, sinto que a essa altura da vida você já deve ter congelado o próprio coração enquanto eu derretia o meu.

Não o julgo por isso, ou correria o risco de julgar a mim mesmo. Resta-me novamente me entorpecer, esquecer e - quem sabe - conhecer ainda mais, esclarecer as ideias. Resta-me escrever coisas que não sou capaz de dizer, ansiando que jamais conheça tais ideias. Não saberia dizer caso me interpelasse cheio de suas razões tão racionais.

Não me julgue por isso, ou corre o risco de julgar a si mesmo. Resta-te também entorpecer-se, esquecer e – quem sabe – conhecer ainda mais também, esclarecer as ideias. Resta-te escrever coisas que não é capaz dizer, coisas essas que adoraria desejar conhecer. Mas não. Quem sabe assim o amanhecer de sua mente não se junta ao meu. Assim, não seria preciso expressar o inexpressável.


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