O dia da decisão havia chegado. Sim, hoje era 21 de março, véspera do meu aniversário. Passei três meses treinando como uma louca, sem parar. Era um jeito de me distrair, de ignorar a saudade que eu sentia daquele garoto de olhos bicolores.

— Levanta logo, Emm! – Bella me agarrou assim que acordei. Dormi demais; só nós duas ainda estávamos no chalé. – Vamos, podemos comer bolo de chocolate!

— Não estou com vontade de comer bolo. Vou ficar mais um pouco na cama... – me cobri com o lençol, mas ela me puxou pelo pé e caí no chão. Droga... – Ei! Você é malvada!

— Está doente? Você não recusa comida, nunca. – franziu o cenho. – Na verdade, não tenho te reconhecido ultimamente. Acorda tarde, não cumprimenta o sol... Nem faz questão de ganhar no caça-bandeira!

— Estou preocupada, Bella. Tenho que fazer uma escolha importante. – já que não estava mais na cama, resolvi vestir minha camisa do Acampamento e sair para o refeitório. – Amanhã é o grande dia.

— Já sabe qual é minha opinião sobre o assunto. Se eu fosse você, largava tudo e voltava para Nova York.

— Não é tão simples... Desde pequena eu sonhei com isso. Eu sempre quis ficar aqui até o fim de meus dias.

— É, mas um cara lindo e interessante não estava na jogada quando você tinha sete anos. – sentamos no refeitório vazio. – Se precisar de um incentivo, faço suas malas agora mesmo.

— E depois? Nunca mais vou ver meus amigos, meus irmãos... Nem mesmo você!

— Ora, não é verdade. Vou ligar várias vezes, e pretendo fazer visitas.

— Mas... Mas...

— Isso não é desculpa, Emma. – suspirou, cansada. – Você é uma cabeça dura mesmo. Mas eu sei que vai descobrir a verdade.

E voltou a comer seu pedaço de bolo de chocolate.

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A noite chegou, e nada ainda havia passado pela minha cabeça. Notei, com um pouco de raiva, que a saudade estava aumentando gradativamente. Isso só podia ser coisa dela... Ah, que droga!

Enquanto assistia ao pôr-do-sol, senti uma mão no meu ombro. Virei-me, achando que poderia ser Naty, ou um dos meus irmãos. Mas, infelizmente, eu não tinha tanta sorte.

— Emma, minha querida. – David se sentou na areia, momentaneamente enojado com a areia sujando suas roupas. Depois sorriu. – Amanhã é o grande dia, não é?

— Isso não é mais de seu interesse. – rosnei para ele. Continuava com raiva dele, mesmo com o fim de nosso namoro. Desgraçado... – Vai ficar com a Alice e me deixa em paz.

— Para sua informação, é do meu interesse sim. Mamãe Afrodite passou lá no chalé e nos contou tudo. – seu tom era presunçoso. – Você está sofrendo por amor.

— É, estou, e daí?

— Vim aqui para clarear sua mente e ajudá-la a tomar uma decisão. – fez uma pose triunfante, como se fosse muito importante. Rá!

— Não quero sua ajuda, e não preciso de você. – estreitei os olhos.

— Ora, não seja mal agradecida. Vamos conversar. – cruzou as pernas e passou as mãos pelo cabelo. – Olha, se quer minha opinião, você deveria voltar para Nova York.

— Não pedi sua opinião.

— Mas eu vou falar mesmo assim, tá? – mostrou a língua. – Se você não voltar, sua vida vai se tornar um inferno. Mamãe poderosa não vai deixar barato.

— Eu tenho obrigações aqui, David.

— Não é verdade. Quais são os seus planos? Ter uma vidinha medíocre como treinadora aqui no Acampamento, e morrer sozinha? Que estimulante!

— Pare com isso! Eu morei minha vida aqui, não estou pronta para ir embora!

— É claro que está! Tenho certeza de que você não irá se arrepender.

— E como pode ter tanta certeza?

— Porque o amor cega, querida, e você não vai pensar em outra coisa senão nesse garoto... Qual é o nome dele?

— Charles. – era difícil pronunciar seu nome.

— É, isso. – se levantou, sacudindo a areia de seus jeans importados. – Não tenho mais nada para falar, agora é com você. Boa sorte, Emma.

— Obrigada, David. – não era sarcasmo; pelo menos ele tentou me ajudar.

— De nada. – deu tapinhas na minha cabeça e foi embora.

Agora minha decisão já havia sido tomada.

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POV Charles

22 de março. O aniversário de Emma finalmente chegou. Puxa, eu queria tanto vê-la novamente. Rir de suas caretas, admirar seu sorriso, abraçar seu corpo. Mas não tinha jeito, nunca mais a veria novamente. Ela tomou uma decisão, e provavelmente não iria voltar atrás.

Pedi uma pizza; de calabresa, a favorita dela. Eu provavelmente deveria ir para o trabalho, mas estava deprimido demais. E ultimamente, tudo me lembrava aquela garota; até o programa de culinária que passava na TV era nostálgico. Não conseguia fazer nem um ovo frito...

Eu nem treinava mais. Qual era a graça? Quem iria me incentivar, ou reclamar, ou me dar conselhos? De vez em quando, pegava o arco e passava os dedos pelas palavras escritas ali; “Para o melhor aluno do mundo”.

A campainha tocou, e tomei um susto. Visita? Ninguém me visitava, nunca; nem mesmo a minha mãe. Fui andando devagar até a porta. E se fosse um monstro? Ou pior, um Deus vingativo? Virei a maçaneta, mas ao invés de um cão infernal, uma moça loira e bem bronzeada me sorriu.

— Charles. – sua voz era uma melodia nos meus ouvidos.

— Emma... – minha cara era de espanto. – É você mesmo? Estou sonhando?

— Eu voltei, bobinho. – jogou suas malas no chão. – E dessa vez, não vou embora.

Não conseguir me conter; peguei-a nos braços e fomos juntos até o sofá. Ela deu uma risada cascateante. Cobri seus lábios com os seus, e fiquei com o corpo completamente colado ao dela. A sensação era boa, tão calmante... Me dava até algumas ideias.

Ops. Mas é claro que eu não vou contar pra vocês, né?