— Esse é o último alvo. – apontei para um pontinho ao longe. – Se você acertar dessa vez, acabamos o treinamento.

— É impossível! Está a mais de cinquenta metros de distância daqui!

— Ora, não é impossível. Lembre-se do que eu te disse; os dois olhos abertos, pés distantes, mantenha-se focado. Um... Dois... Três... Já!

O tiro foi rápido; mal vi seus movimentos. Me aproximei da placa branca e vermelha, bem longe. Imaginei que talvez fosse difícil demais, mas ele conseguiu. Bem no meio!

— Parabéns! Você acertou! – o abracei com força. – Vamos comemorar!

— Comemorar? – seu rosto murchou. – Agora você vai ter que voltar para o Acampamento.

— Ah, é verdade. – o tempo passou tão rápido. – Mas veja pelo lado bom... Agora você pode se defender dos monstros. Esse era o objetivo.

— Eu prefiro ter você por perto. – seus braços se apertaram mais ao meu redor. – Será que não pode ficar?

— Não, não posso. Eu tenho que ir. Sou menor de idade, só faço aniversário daqui a três meses, e vou continuar trabalhando lá no Acampamento.

— Mas... Será que...

— Nem adianta, Charles. Não vai dar. – tentei sorrir, mas pareceu uma careta. – Eu prometo mandar cartas.

— Eu não quero cartas. Eu quero você. – ao mesmo tempo que a cena era romântica, era meio infantil. – Por favor... Fica.

— Deixe-me ir. – consegui me soltar de seus braços. Acho que ele ficou um pouco triste, mas eu tinha que fazer isso. – Vou fazer as malas.

E mesmo tentando parecer forte, algumas lágrimas caíram pelo meu rosto.

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Iria sentir saudades de lá. Da madeira rangendo, do frio congelante, até mesmo do meu sótão empoeirado. Não iria mais receber as visitas de Afrodite, nem de Hera, nem de Apolo. E passaria o resto dos anos tendo que aguentar David e sua namorada, Alice. Argh!

Naquela manhã de quarta-feira, eu queria sumir. Talvez se eu rezasse muito, Zeus atenderia aos meus pedidos e me faria desaparecer. Mas é claro que a sorte não estava ao meu favor, então tive que pegar minha mochila e descer para a sala.

— Emma, eu não vou te deixar ir.

— Não dificulte as coisas, Charles. – lágrimas, por favor, não caiam agora... – Me solta.

— Não posso te abandonar depois de tudo isso. – nunca vi tanta determinação em seu rosto. – Eu vou com você. Arrumo minhas coisas em três minutos.

— Seu lugar é aqui, não fale besteira! Não iria se adaptar. – suspirei. – Vou sentir tanto a sua falta. Promete que vai responder minhas cartas e atender minhas ligações de Íris?

— Prometo. – me abraçou com força.

Ficamos muito tempo ali, juntos. Uma pequena parte de minha mente sabia que eu iria me atrasar, mas ao mesmo tempo era muito mais fácil imaginar minha vida ali naquele subúrbio nos braços de Charles. Já podia até ver; nós dois fazendo bonecos de neve no quintal, ou aproveitando o sol... Seria tão bom.

— Adeus. – dei um beijo rápido no seu pescoço (ele era alto demais para mim), e fui andando.

Só que, como sempre, ele me puxou de volta. Seus lábios macios foram tão apaixonados, quase exigentes. Ah, eu queria tanto entrar em casa, subir as escadas e me enrolar nos lençóis... Poderíamos nos divertir tanto.

— Te amo. – ele falou, e aquela revelação me assustou. Amor? – Nunca pensei que falaria uma coisa dessas, mas é verdade.

— Eu... Eu... – será que eu o amava? Será que um dia eu seria capaz de amar novamente. E, sem nem pensar direito, respondi. – Você é o amor da minha vida.

— E você vai embora mesmo assim?

— Vou. Mas nós ainda vamos nos ver, não se preocupe. – tentei sorrir. – O sol voltará a brilhar.

E saí na rua gelada do subúrbio de Nova York.

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Fui recebida calorosamente por todos os meus irmãos. Claro, eu era a vice-líder do chalé, uma das mais influentes do Acampamento! E era óbvio que sentiram falta da minha beleza e simpatia.

— Emm, eu tenho tanta coisa pra te contar! – Bella ficou animada, querendo me deixar a par das novidades. – David brigou com Alice, Bonnie arranjou namorado e... Ah, consegui pegar um cara do Chalé de Momo! Foi incrível!

— Fico feliz por você. – meu tom foi murcho...

— Tá tudo bem? – franziu a testa. – Deveria estar feliz, você finalmente voltou!

— É, talvez, mas... Eu me acostumei. Foram os melhores meses da minha vida.

— Sério? E isso tem alguma ligação com um certo moreno?

— Não tem alguma ligação, tem TODA a ligação. – pausa dramática, pra fazer efeito. – Eu o amo, Bella.

— O quê?! Está de brincadeira! – começou a rir loucamente, até ficou com falta de ar. – Para... De... Inventar... História!

— Não estou inventando, estou falando sério. Eu me apaixonei.

— Está para nascer o homem que vai conquistar o coração de Emma Brown! Não sonha! – mas, aos poucos, a compreensão foi tomando conta de seu rosto. – Você não está brincando?

— Não, de jeito nenhum.

— Meus Deuses! Estou chocada! – seus olhos arregalaram. – Então por que voltou?

— Ué, eu sou menor de idade!

— Mas você pretende ir pra lá depois do seu aniversário, certo?

— Ahn... Não. Vou ficar aqui e ajudar no treinamento dos novatos. – isso parecia ridículo saindo da minha boca.

— Emma, me diz uma coisa... – ela colocou a mão no meu ombro. – Você é idiota?

— Não, não sou. Olha, essa é a vida que eu escolhi para mim...

— Deixe de ser estúpida, garota! Acorda pra vida! – ela começou a me chacoalhar. – Esse garoto pode ser a chave da sua felicidade!

— Que exagero, Bella!

— Não, não é exagero! Milhões de pessoas fariam de tudo para encontrar o amor, e você o dispensa desse jeito!

— Mas o Acampamento...

— Esquece isso! Concentra! – parecia estar treinando um time de futebol, não dando conselhos amorosos. – Você só vai ser feliz quando estiver ao lado dele. Acredita em mim.

— Eu... Eu não sei. Tenho que pensar!

— Então tá, pensa. Mas não se esquece que o tempo passa rápido, e a vida é curta.

E saiu dramaticamente do chalé, jogando o cabelo para o lado.