Um beijo? Eu podia esperar de tudo, mas um beijo? Não éramos amigos? Talvez Hermes estivesse confuso, e tudo aquilo poderia ser uma armação de Afrodite. Ela precisava conhecer limites!

Depois disso, deu um aceno rápido e desapareceu. Tá, eu até que tinha gostado. Na verdade, eu não me importaria se ele voltasse e ficasse mais um pouco. Até podíamos dançar mais um pouco. Sim, era uma boa ideia.

— Onde você estava, senhorita Emma? – ops, fui pega no flagra. Droga!

Charles estava sentado no sofá, usando um roupão e lendo um livro. Ligou o abajur, e pude ver que parecia realmente contrariado. Parecia uma cena de filme, quando o pai preocupado espera a sua filha chegar em casa.

— Fui dar uma volta. – é, isso poderia funcionar.

— Às 23h da noite? – eu teria que arranjar uma desculpa mais convincente. – Em Nova York? Você poderia se perder!

— Eu... Eu não estava sozinha! – o meu fim havia chegado. Ele iria dar um pití em um, dois, três e...

— Como você pôde fazer uma coisa dessas?! Sair por aí, com estranhos! Você poderia ter sido violentada, ou morta, ou... Ah! Mal posso pensar nisso!

— Mas eu conhecia a pessoa. Eu saí com Hermes.

— Hermes? – ele fez uma pausa dramática. – Você está dizendo pra mim que o Deus dos ladrões...

— E das corridas, não se esqueça. – emendei rapidamente.

— Te chamou pra sair? – fingiu que eu não havia interrompido. – E você aceitou? Assim, de mão beijada?

— Para a sua informação, ele é muito gente boa. E foi bem divertido.

— Ah, claro. Imagino. E o que mais vocês fizeram, hein? Do jeito que você é oferecida, tenho certeza que ficou se pegando com ele em algum canto, não é? – ah, você mexeu com a semideusa errada...

— É, isso mesmo. Nos pegamos loucamente. E quer saber? Foi muito bom. – tirei meu blazer e fui na direção das escadas. – Pelo menos ele tem coragem de dizer o que sente, ao contrário de um certo filho de Hefesto.

E voltei para o sótão, tentando ignorar o mal-estar que aquelas palavras haviam me causado.

.

Na manhã seguinte, recebi mais uma das costumeiras visitas da Deusa do amor.

— Aquilo foi lindo! Vocês ficam muito fofos juntos! – ela bateu as mãos, animada. – E aquela dança... Pareciam dois imãs!

— Afrodite, pensei que você quisesse que eu ficasse com Charles.

— Eu ainda não me decidi, mas de uma coisa eu tenho certeza; eu ainda vou me divertir muito com vocês três...

— Por favor, não faça isso. Eu não sei se quero um relacionamento de verdade agora...

— Deixa disso! – jogou o cabelo longo para o lado. – Vai ser interessante. Talvez eu faça algumas cenas mais quentes... E é claro que Hermes adoraria isso.

— Você é muito cruel, sabia?

— Ora, não é verdade. Eu sou muito boazinha, viu? Agora... – ela deu uma olhada nos meus shorts. – Você poderia usar roupas melhores, não é? Raramente te vejo usando um vestido...

— Mas eu estou confortável assim. Não preciso estar cheia de joias e babados...

— É, acho que é por isso que Hermes gostou de você. E ainda mais com esse corpo.

— Afrodite! Não me envergonhe desse jeito! – e meu rosto ficou vermelho... De novo!

— Querida, sabe que é verdade. Agora, eu tenho que ir. Te vejo em breve?

— É claro. – e eu tinha escolha? Ela me seguiria até o Tártaro...

Logo que ela foi embora na sua nuvem de perfumes, voltei a pensar nas palavras de Charles. Ele me achava oferecida? Mas o que eu havia feito? Mal me conhecia, e já tinha falsas ideias sobre mim. Pois eu não deixaria isso barato.

Ele não sabe do que Emma Brown é capaz de fazer.

Alguém bateu na porta. Será que mais um Deus resolveu fazer uma visita? Talvez Hefesto, ou Ártemis. Só podia torcer que não fosse meu pai. Ele não ficar nem um pouco feliz...

— Bom dia, Emma! Como vai? – ufa, era só o Hermes. – Dormiu bem?

— Muito bem.

— Eu também. Como um anjo... Ou um Deus, nesse caso. – ele riu da própria piada. – Posso entrar?

— Claro. – deixei que ele passasse por mim, e vi que ainda usava os seus tênis. Era incorrigível... – Pensei que estivesse muito ocupado.

— É, mas eu consegui arranjar um tempo pra te visitar. E então, o que achou da noite passada? – só conseguia pensar no beijo, mas desviei o assunto.

— Eu acho que você é um dançarino nato. Espero que tenha a chance de dançar novamente na festa.

— Vou garantir que a primeira dança seja minha. – sorriu. – Mas quando eu fiz a pergunta eu pensei em uma parte mais específica da noite. – o fim, é claro.

— Vou ser sincera. Eu... Adorei o desfecho. De verdade. – suspirei. – Mas não sei se foi uma boa ideia.

— Por que não?

— Meu pai não vai gostar nem um pouco. Se ele descobrir...

— Ora, mas isso é fácil. Apolo não é tão atencioso assim.

— Será?

— É claro! Eu o conheço muito bem! – chegou mais perto. – E além do mais, ninguém passa a perna em mim.

— Não tenho certeza... – pisquei os olhos dramaticamente.

— Vamos fazer um acordo. – desde quando se faz acordo com o Deus das trapaças? – Nós podemos ser amigos... Com benefícios. Eu posso dar um jeito de ninguém descobrir, vai ser fácil. O que acha?

— Eu acho... Uma ótima ideia.

— Então está combinado. Te vejo mais tarde?

— Sim.

Me pegou nos braços e me beijou com vontade. Meu corpo amoleceu, e eu até teria caído se ele não tivesse me segurado. Depois foi embora, prometendo me ver a noite. Uau. Aquilo foi intenso.

E eu tinha certeza que aquela seria uma experiência inesquecível.