Fui acordada com a usual sirene. Puxa, mas será que não tem um jeito mais... Civilizado de acordar? Só para confirmar minhas suspeitas, dei uma olhada no relógio. Sim, eram 7h da manhã.

— Vamos, vamos! Pessoal, café da manhã!

— Cala a boca, Bella! Eu quero dormir! – coloquei minha cabeça debaixo do travesseiro, mas fui puxada pelo pé. – Ei!

— Deixa de preguiça, Emma!

Desajeitada, desci do beliche. Meus irmãos e irmãs já se alongavam, e abriam as cortinas. A luz entrou pela janela, me cegando parcialmente. Depois de passar quase vinte minutos na fila para o banheiro, coloquei a camisa laranja do acampamento e saí do chalé.

— Saudações, ó grande Apolo! – dissemos em uníssono, nos curvando para o sol que nascia.

Acho que ainda não me apresentei, não é? Sou Emma Brown, conhecida com Emm, filha de Apolo e vice-líder do chalé. Claro, posso dar mais alguns detalhes sobre mim. Sou linda, maravilhosa, talentosa, charmosa... E humilde.

— E aí, Emm? Como foi a conversa com David ontem à noite? – minha melhor amiga e irmã Bella perguntou, quando chegamos ao refeitório.

— Nada boa. Ele acha que deveríamos dar um tempo. – respondi, fazendo uma careta.

— Deixa eu adivinhar; você o ama e acha que os dois deveriam passar o resto da vida juntos. Acertei?

— Não... Não completamente. – ela levantou uma sobrancelha. – Tá, eu disse isso mesmo. Mas é verdade, eu amo ele!

— E ele disse que...?

— Disse que queria dar um tempo, para “conhecer novos amores”. – fiz o sinal de aspas com os dedos.

— É isso que dá namorar filho de Afrodite. Ainda acho que aquele garoto do chalé de Dionísio é gato. Não sei por que não saiu com ele...

Ninguém entendia porque eu ainda estava com David. Ora, claro que ele era um pouco fútil, e distraído, e canalha, e... Ah, nem pensem nisso leitores! Ele tem qualidades! Eu só não lembro agora... Tá?!

— Pessoal, pessoal! Um minuto de atenção, por favor! – depois de alguns segundos, o refeitório silenciou para ouvir o que Hope, uma filha de Atena, tinha a dizer. – Tenho um comunicado a fazer.

— Como se alguém quisesse te ouvir, sua sabichona! – uma pessoa do chalé de Ares gritou.

— Continuando... As inscrições para o intercâmbio começam hoje, e terminam amanhã ao pôr-do-sol. Aos que se interessarem, a lista ficará no quadro de avisos.

Poucos gostavam dessa história de intercâmbio. Afinal, além de ter que sair do acampamento por tempo indeterminado, você ouviu bem, INDETERMINADO, ainda teria que dar aulas de sobrevivência para outro semideus por aí. Imagina se te mandassem para o quinto dos infernos?

— Ah, e mais uma coisa. Há uma nova regra, e agora cada chalé deve ter pelo menos um candidato.

Começaram os protestos. Aquilo se tornaria um banho de sangue, sem dúvidas. Olhamos uns para os outros, receosos. Nossa líder, Bonnie, pareceu indecisa. Claro, ela escolheria qual de nós iria. Cruzei os dedos, rezando silenciosamente.

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Estava treinando tiro ao alvo com meu arco e flecha quando ELE apareceu. Cabelos ruivos, olhos claros, sorriso encantador. Com um sobressalto, reparei que quase acertei um sátiro sem querer. Gritei minhas desculpas apressada e fui atrás de David.

— Oi. – falei, sorrindo de orelha a orelha.

— Oi, gatinha. Tudo bem?

— Melhor agora.

— Olha, eu preciso conversar com você.

— Não se preocupe querido, eu entendo. Sabe, se você quiser dar um tempo, tudo bem. Acho até que vai fazer bem para a nossa relação...

— É sobre isso que eu quero falar. Não quero dar um tempo.

— Isso é maravilhoso! – me joguei em seus braços, o abraçando com força. – Nós podemos fazer tantas coisas juntos! Que tal assistirmos ao pôr-do-sol hoje, hein? Vai ser divertido!

— Eu quero terminar com você.

— O quê?! – o soltei na mesma hora.

— Olha, eu gosto muito de você. Mesmo. Mas estou afim de explorar novos horizontes, sabe como é. – deu tapinhas na minha cabeça, como se eu fosse uma criança. – Você supera isso. Até mais, Emma.

Fiquei parada, estática. Meu queixo estava no chão, e alguns caras riram de mim ao longe. Depois de quase um ano de namoro, ele simplesmente chega e termina?! Não sabia se ria ou chorava, e Bella deu um tapinha nas minhas costas.

— Emm, você sabe que ele não presta. Foi melhor assim.

— Mas eu já tinha feito planos! Nós iriamos nos casar na primavera, teríamos dois filhos, moraríamos numa linda casa... Já tinha até escolhido as músicas que iriam tocar na cerimônia!

— Você tem que parar de se iludir assim! Sempre soube que isso não iria durar muito tempo.

— Mas... Mas... Isso não é justo! – tá, eu parecia uma criancinha de cinco anos chateada porque não poderia comer a sobremesa antes do almoço, mas era revoltante! Eu amava ele, de verdade! – Vou para a minha cama. A gente se vê mais tarde.

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Querido leitor, entenda que eu posso ser bem dramática às vezes. Simplesmente faz parte de mim, e não posso evitar ter reações exageradas. As cenas a seguir apresentam depressão, tristeza e dor.

— Mas que droga é essa, Emma?! – era hora do almoço, e Bella foi me visitar no chalé. Eu estava tocando Teardrops In My Guitar no meu violão, e havia fechado todas as cortinas. Do meu lado, repousava um pote de sorvete. – Onde achou isso?

— O sorvete? Comprei dos irmãos Stoll.

— Não acredito no que estou vendo...

— Estou em um momento triste, tá legal? Tenho que desabafar.

— E assim que vai desabafar? Tocando Taylor Swift e chorando dramaticamente?

— Ei, não fale assim! Estou passando por um momento muito difícil, tá?

— Tá, tá. Agora desencarna a Maysa. – ela bufou, mas sabia que estava controlando o riso. Rá! – Tá todo mundo te esperando no refeitório.

Depois do almoço, tivemos mais algumas atividades. E até o final do dia, eu já havia superado o lance com o David. Que foi? Eu tenho muitos pretendentes, não preciso correr atrás de ninguém! Afinal, eu sou linda, inteligente e superior! Quem era aquele filho de Afrodite? Um zero a esquerda, um zé-ninguém, um bastardo...

— Miserável! – murmurei.

— O que foi agora?

— Olha ele ali! Tá se agarrando com aquela vagabunda da Alice! – acho que “agarrando” não define bem. Eles estavam se comendo, no meio do jantar! – Eu vou matar esse desgraçado! Não me segura!

— Deixa disso! Não disse que já tinha superado?

— É, mas eu sou muito melhor que ela! Olha para esse rosto, esse corpinho! Ela nem tem um bronzeado legal! – apontei para mim mesma, exasperada.

— Emm, você me cansa às vezes.

— Tá, fica nessa! Quando você arranjar um namorado e terminar com ele, vou fingir que não te conheço!

Ela bufou, e foi jogar o resto da comida na fogueira. Droga, será que ninguém me entendia?