O Cupido escrita por Mits


Capítulo 6
Pessoas


Notas iniciais do capítulo

Não, Nyah, eu não abandonei a história.



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O ginásio estava uma bagunça!

As caixas que antes eram ocupadas por diversos tipos de flores silvestres agora estavam espelhadas em um canto isolado das arquibancadas, o aroma agridoce rodopiava no ar numa dança metódica com o oxigênio. Apesar da aglomeração dos alunos em um único espaço, o diretor de bigodes grossos e careca reluzente soube dividi-los em grupos de quarenta pessoas, onde as ordens eram: colocar as flores nos lugares mapeados pelas professoras, montar a mesa de som no final do ginásio, assim como limpá-lo e lustrá-lo. Retirar as grades que dividiam as quadras de basquete, vôlei e futebol – isso para triplicar o tamanho e, por fim, a decoração e iluminação.  

O ginásio principal era o orgulho da Escola Francis, seu tamanho exagerado — que custara algumas boas notas verdinhas —, facilitava as atividades extracurriculares, físicas e até mesmo artísticas. Os quatrocentos e sessenta metros quadrados eram cobertos por arcos de ferro suspensos pelas colunas nos quatro cantos, camadas de madeiras cambará faziam o acabamento do telhado. O chão era coberto por uma manta sintético laranja com círculos e linhas retas desenhadas para demarcar os espaços do jogador durante as partidas. No lado esquerdo, onde os equipamentos de ginástica e esporte ficavam guardados, duas traves armadas seguravam as redes de futebol. No meio do ginásio, uma rede a 2,24 metros do chão era responsável pela divisão dos times nas partidas de vôlei. Do lado esquerdo, as bolas vermelhas de basquete chiavam quando batiam no chão e eram socadas dentro das cestas, uma em cada lado.

Alguns alunos diziam que aquele lugar não passava de uma arena da idade média, isso porque as arquibancadas rodeavam todo o ginásio, dando uma visão periférica de tudo que pudesse acontecer ali.

— Hayley, mais duas — disse o garoto depositando as caixas no chão e sumindo dentro do amontoado de flores.

— Obrigada, Michael. O diretor disse quantas ele quer em cada canto da quadra? — Os cabelos castanhos de Hayley estavam presos num rabo de cavalo, alguns fios insistiam em cair sobre seu rosto. Era sábado à tarde e ela estava na escola ajudando a organizar o maldito evento das flores. Tédio, cansaço e raiva eram as melhores palavras para serem usadas naquele momento.  

— Sei lá, trinta e cinco em cada canto, tirando duzentas no teto — a voz de Michael soou dentre as flores, como um vulto na meia-noite.

Hayley revirou os olhos com desdém. Mais trabalho.

— Ótimo.

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Aproveitando a ausência temporária do diretor, os alunos dos segundo ano iniciavam uma curta partida de futebol, dividindo os times em “com bandana” e “sem bandana”. Eram onze garotos ao total chutando a bota pela quadra e, entre eles, Peter corria em direção ao gol. Os cabelos ondulados brincavam com o vento, enquanto sua pele tomava um tom rosado nas bochechas e na ponta do nariz. A blusa branca do uniforme servia como bandana — consequentemente, seu “peitoral” pálido ficava a mostra, assim como os pequenos músculos.

Numa tentativa fracassada de marcar um gol, Peter tropicou pela quadra e rolou no chão sujo. As garotas da arquibancada soltaram risinhos abafados, enquanto cochichavam sobre quanto o garoto de cachinhos dourados/alaranjados era uma graça – normalmente seus amigos usavam aquele apelido como piada, mas Peter não se importava, contanto que chamasse a atenção das garotas —, ele obviamente tinha feito de propósito. Um homem gosta de agradar as mulheres... Bom, alguns.

Principalmente quando sua virgindade esta em jogo.

Dentre as garotas do primeiro ano que insistiam em usar shorts-saia e blusas que realçam os seios, coisa que elas não eram tão bem dotadas quanto imaginavam, Hanna brincava com as penas de um pássaro empalhado, ignorando qualquer movimento contrário à sua interação com o enfeite. As cores azul, vermelha e verde desenhavam todo o charme do belo e antes vivo animal. Os cabelos ondulados de Hannah caiam soltos pelos seus ombros pequenos, o ruivo fazia uma boa combinação com a regata que usava por baixo do macacão xadrez. As sardas se espalhavam em seu rosto como pipoca em festa junina, a boca fina desenhava um sorriso tímido direcionado ao pássaro, suas íris negras brilhavam com a iluminação da quadra.

— Me passa a bola — Peter, já de pé, gritou para um dos amigos, que obedeceu sem entender qual era a intenção do novato.

Peter exibiu seu sorriso de canto e posicionou-se para chutar, pé esquerdo na frente e direito atrás, pronto para o ataque. Seu corpo curvado estava direcionado ao gol, porém, seus olhos castanhos esverdeados fitavam um alvo mais interessante. Ser bom de mira era uma de suas maiores qualidades. Ter ideias idiotas, também.

A bola voou em direção à arquibancada, as garotas dos shorts-saia e peitos pequenos gritaram e correm na direção contraria de um futuro hematoma. O movimento chamou a atenção de Hanna, e numa tentativa fracassada se virou para ver o que estava acontecendo, antes que seu cérebro pudesse alertá-la de perigo, a bola acertou seu nariz em cheio, fazendo a ruiva cambalear e cair desajeitadamente sobre os outros pássaros empalhados, sua cabeça explodiu de dor, enquanto uma quantidade enorme de sangue manchava a arquibancada e o chão.

A dor repentina fez seu rosto queimar, enquanto seu nariz latejava. Ela sentia o sangue escorrer por seu queixo como uma torneira aberta, pingando em seu macacão. Ao tentar levantar, suas pernas vacilaram e sua visão virou um borrão, obrigando seu corpo a voltar para o chão. Algumas vozes zumbiam ao fundo, mas ela não conseguia entender o que estavam dizendo. Antes que ela pudesse tentar levantar outra vez, sua mente se tornou escura.

Tudo acontecendo ao mesmo tempo.

                                             x

Na parte mais isolada da quadra, perto dos equipamentos de ginástica, Megan estava sentada com as pernas estiradas e pés livres das botas de camurça — presente feio de aniversario que era obrigada a usar. A loira dividia sua atenção em dar vida às unhas com um esmalte verde escuro e a musica que saia dos fones brancos. Ugly Heart.

Diferente do que muitos pensavam Megan não era uma garota rica superficial — apesar de seus interesses se resumirem no mundo pop, tipos de beleza, cuidados com a pele e cabelos, festas e, uma pequena parte do seu cérebro, estudos. De qualquer forma, ela era apenas uma adolescente comum, despreocupada com certos assuntos. O conceito de alienada estava bem longe de ser verdade. Gostos são gostos, e as diferenças entre eles não faz de ninguém melhor.

— Ei, Meg — um aluno curioso do primeiro ano disse se aproximando bruscamente sem se importar com espaço pessoal. Ele tinha cabelos castanhos, um nariz pontudo e o rosto marcado por espinhas. — Meu amigo ali esta perguntando se você quer ficar com ele — disse rindo e apontando para uma roda deslocada de garotos no inicio da puberdade.

Era só o que me faltava, Megan reprimiu esse pensamento e sorriu para o garoto com gentileza.

— Escuta, é... – inclinou a cabeça para frente e arqueou as sobrancelhas, indicando que o garoto informasse seu nome.

— Marco.

Que nome horrível — Marco, eu não estou a fim de ficar com ninguém, entende? Já tive muita dor de cabeça com garotos mais novos — riu, tentando parecer afetada — Agora eu quero tranquilidade, quem sabe numa próxima — nem agora, nem nunca.

Megan, com a realeza de uma abelha, as garras de uma pantera negra e o veneno de uma cobra cascavel. Odiá-la ou amá-la era relativo.

O garoto de pele machada deu um sorriso luminoso antes de sair fazendo sinal negativo para os amigos, que resmungaram.

Será que se eu usar uma placa escrita “a titia não esta a fim” eles se tocam?

— Bonitinha, você vai ficar sentada até quando?

Junto a um amontoado de papel crepom, a professora de educação física chiava. Seus cabelos grisalhos com manchadas negras estavam presos em um rabo de cavalo bem no alto de sua cabeça, algumas rugas insistiam em contornar seu rosto de quarenta e nove anos. Ela era aquele tipo de professora meia idade que tenta parecer juvenil, ou seja: para, professora, só para.

Megan lançou um olhar indiferente pelo canto do olho, seus lábios se curvaram em um sorriso sarcástico. Ela observava a professa gesticular algumas broncas enquanto assoprava o esmalte úmido das unhas. Por cima dos ombros da jovem senhora, duas silhuetas chamaram a atenção da loira, a diferença de tamanho dos dois era engraçada e até bonitinha. Megan percebeu que se tratava de uma menina e um menino. Os dois levavam caixas cheias de flores e alguns pedaços de madeira, o garoto parecia à vontade em conversar com ela. Fofinhos, pensou consigo, ele queria muito fazê-la dar risada, e estava tendo sucesso com isso. Depois de longos quatro minutos observando o casal, a loira reconheceu os cabelos negros e a pele rosada.

Hayley e Alex…?

— Estou falando com você! — a voz ácida da professora interrompeu os pensamentos de Megan e sua fisionomia encorpada tampou a visão. Droga — É inaceitável os alunos se esforçarem para fazer um bom trabalho enquanto a senhorita fica bancando a dondoca.

— Esta vendo aquele arco de luzes ali? A mesa do DJ montada na outra quadra? Exato, fui eu – talvez a Hayley tenha me ajudado, mas ela não precisa saber disso... — Só estou descansando, é justo.

Os olhos da professora brilhavam de raiva e seu pé batia repetidamente no chão. Ela cruzou os braços sob os seios de meia idade.

— Dez minutinhos, eu prometo — disse Megan cruzando os dedos e sorrindo falsamente.

A professora chiou.

— Cinco, e depois quero ver você ajudando o pessoal.

Até parece — Sim, senhora.

Megan esperou a doce senhora ganhar distância para se espreguiçar e relaxar. A curta distância entre ela e a parede fez sua cabeça bater em uma pequena porta de ferro, a qual a garota não tinha ciência de sua existência até o momento. A estrutura pequena e discreta era escondida pela tinta branca do lugar, a maçaneta tinha um tom de cobre velho, provavelmente enferrujado. Apesar de curiosa, a porta era extremamente discreta, alguém tinha a colocado ali de propósito e com a intenção de mantê-la sigilosa.

Ao aproximar sua orelha da porta gélida, vozes abafadas pela provável distância saiam por entre a fechadura.

Legal...  Seu corpo pendeu para o lado e acabou caindo na porta, abrindo-a abruptamente. Do outro lado, um corredor empoeirado e estreito dava inicio a uma passarela sinistra. Megan olhou em volta discretamente e como ninguém havia percebido sua pequena descoberta, ela arrastou seu corpo pelo minúsculo espaço. A porta fechou-se de repente atrás de si e um silencio mórbido tomou conta.

Ela percebeu pequenos buracos no corredor, e eles abriam passagem para finas linhas de luz que se chocava contra as paredes. Legal e assustador.

O trajeto não fora muito longo, porém, o final dele era melhor do que a encomenda:

— Só pode estar de brincadeira, a sala dos professores! — A loira reprimiu o riso quando a porta se chocou contra a parede e duas vozes tomaram conta do silencio.

Por sorte o corredor ficava atrás da maquina de café, protegida por grades de ferro semelhantes às de tubulação. Sua presença ali passaria despercebida. Megan procurou uma posição confortável e aproximou-se para escutar a conversa das vozes.

— Parece que aquela garota deu problema de novo. Meu Deus, eu ainda não sei por que o diretor não mandou essa garota embora. Duas suspensões em um mês, quatro ocorrências e suspeita de drogas.

— Drogas? — a segunda voz exclamou assustada. – Não, ela é problemática, mas não nesse nível. Jennifer Collegan é uma boa garota.

Jen? Jen com drogas? Isso está muito errado.

— Não temos mais certeza de nada, professora. Outro dia eu a vi sair do banheiro com os olhos vermelhos e fungando. Claramente ela estava escondendo algo, e é meu dever como educador descobrir.

Idiota. Passou na sua cabeça de educador que talvez ela só estivesse chorando?… De qualquer forma, se aquela vaca estiver metida com esse tipo de coisa eu vou pegar todo o arsenal dela e enfiar no buraco mais fundo que eu conseguir achar naquele monte de bosta que conhecemos como Jennifer. Tsc. Jen, sua idiota, o que esta acontecendo com você dessa vez...?

Era uma voz feminina e outra masculina. Desta vez a voz masculina tomou a frente.

— Boa garota não é o termo correto. Desculpe-me se vou parecer meio rude, mas essa escola não é lugar para cotas, ainda acho que foi uma escolha errônea do diretor aceitar essa gente aqui.

Que cara nojento…

 Seus pensamentos foram interrompidos por um mar de vozes vindas do inicio do corredor — ou seja, do ginásio. No inicio pareciam apenas conversas histéricas, como uma torcida vibrando pelo time, mas o volume e o desespero das vozes tomaram um impulso maior e aterrorizante que fizeram a loira estremecer.

 Megan refez seu trajeto, engatinhando de costas, dessa vez com mais pressa e ansiedade. Ao chega ao inicio ela tocou a fechadura da porta e a empurrou bruscamente. Como nada aconteceu, jogou seu corpo contra ela. Nada de novo, a porta não abria. A essa altura, as vozes se tornavam cada vez mais graves e nítidas.

 Com uma força maior, ela se chocou contra a fechadura mais uma vez. A porta fez um barulho de vidro raspando no ferro e se limitou a formar uma passagem grande o suficiente para Megan contorcer seu corpo e alcançar o chão do ginásio. Merda de porta enferrujada.

 Já no lugar antigo, ela levou as íris escuras em direção a um mutirão de pessoas, todas com o mesmo semblante de desespero. Entre o conjunto de hormônios femininos e masculinos, Alex surgiu carregando um corpo magro, pequeno e ruivo. Um rastro vermelho escuro seguia os dois, sujando não só o chão como a blusa e os braços do garoto. Era sangue. Atrás dele, Hayley tentava afastar os curiosos e manter a pessoa acordada. Megan estreitou os olhos e conseguiu reconhecer o azarado… Ou melhor, azarada.

— Ai meu Deus, Hannah!

A loira correu em direção à arquibancada.

— A culpa foi minha, desculpa. Alex me deixa carregá-la — um Peter preocupado e desesperado gesticulava bruscamente. Alex lançou um olhar de irmão mais velho e o afastou com o ombro.

— Você mal aguenta o seu próprio peso, Peter. Ajuda a arrumar as coisas dela – disse Hayley segurando a bolsa aberta de Hanna.

         — O que esse idiota fez? – Megan perguntou se aproximando. Hannah tinha uma fonte de sangue escorrendo por seu rosto e um nariz com ângulo esquisito.

— Deu uma bolada na cara dela — só então Megan percebeu a presença de Jen ao seu lado, ela estava com o olhar firme de uma mãe. Imediatamente Megan se lembrou da conversa dos professores.

Um problema de cada vez.

— Alguém aqui é maior de idade? — perguntou Hayley, sua voz estava tremula, assim como suas mãos.

— O Alex e eu — Jen disse se aproximando e pegando a bolsa das mãos dela, que estavam geladas. — Tudo bem com você?

— Sim… Eu só não sou fã de sangue.

— Então fique aqui, eu vou ajudar ficar com Alex até a ambulância chegar.

Megan encarou Hayley, depois olhou para Peter. – Ambulância, sério?

— Ela quebrou o nariz feio e está inconsciente – Alex disse simplesmente ajeitando Hanna nos braços e fazendo sinal para que Jen o seguisse para fora o ginásio

Megan reprimiu um sentimento desfreado de raiva e ciúmes, com uma pitada de inveja. A sua volta os curiosos observavam a cena, murmurando e dando conselhos do que fazer. Coloca o nariz dela no lugar, pelo amor de Deus. Estaca esse sangue. Algumas garotas pareciam assustadas, enquanto os meninos riam discretamente.

Ela imaginou que a bolada fora realmente engraçada, mas não podia dizer aquilo em voz alta.

Hayley parou ao seu lado, pálida como papel, encarando fixamente o rastro de sangue deixado por Hannah. Megan tocou delicadamente em seu braço e Hayley estremeceu com se tivesse levado um choque. – Tudo bem mesmo? – a loira perguntou tentando controlar a vontade louca de arrancar Hanna dos braços de Alex. Jen poderia muito bem levá-la, certo? Ou talvez o idiota de cabelo cacheado que estava ali parado como uma estatua.

— Vamos ver se a ambulância já chegou – Hayley respondeu com um fio de voz e puxou Megan ara fora do ginásio, Peter estava logo atrás.

 — Já não fez merda o suficiente? – Megan perguntou irritada, ele a olhou descrente.

— Estou preocupado – disse – Não queria ter machucado ela. E se essa menina morrer?

— Relaxa, rainha do drama, ela vai ficar bem – Megan não sabia se ela realmente ficaria bem, mas até onde ela sabia uma bolada na cara nunca havia matado ninguém.

Os três pararam em frente a um carro vermelho e branco com luzes das mesmas cores que piscavam repetidamente, seguidas de um som baixo, mas não muito convidativo.

— Só você — um dos paramédicos disse fazendo sinal para Alex, que se aproximou e entregou Hanna em seus braços rapidamente. Jen estava ao seu lado —  Quem vai acompanhá-la?

— Eu — disse Alex e Peter acrescentou logo em seguida. Megan sentiu vontade rir da audácia.  

Jen lançou um olhar de “se você entrar nessa ambulância, eu juro por Deus…”  que o fez se afastar.

Alex apertou o ombro do amigo e sorriu para ele como consolo antes de subir na ambulância. As portas de ferro se fecharam, deixando para trás adolescentes preocupados e inconsequentes.

— Vocês vão atrás da ambulância, não vão? — Jen perguntou, olhando para as duas amigas.

— Não tenha duvidas — disse Megan.

— Alguma de vocês tem carro? — Foi a vez de Peter perguntar. Megan deu um sorriso travesso e olhou para Hayley que sacudiu um conjunto de chaves no rosto do mais novo.

— A gente não, mas o diretor sim.

 


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Notas finais do capítulo

Próximo capitulo: Explicações.
Com o próximo capitulo, esse vai fazer todo sentido.