O Cupido escrita por Mits


Capítulo 4
Perspectiva


Notas iniciais do capítulo

Desculpem erros, tô que nem uma coruja.



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Calor.

Os ponteiros azuis do relógio rodopiavam em meu pulso enquanto íamos em direção ao pior lugar do mundo, uma viagem longa e quase sem volta onde o passaporte era minha prestigiada dignidade. Gostava de dizer “viagem ao centro do inferno”, mas meu pai, apesar de concordar, não gostava tanto quanto eu — a casa da vovó e do vovô, querida, da vovó e do vovô… Ele dizia. Meus avós nunca foram presentes na minha vida e do meu pai, isso porque não tinham interesse em um arqueólogo sonhador de trinta e seis anos, casado com uma enfermeira viúva e a filha estranha de outra mãe também estranha, era chato demais para eles, careta. Pobre.

“Curtis deveria ter se tornado um médio, ou quem sabe um advogado, com um futuro de verdade, com família de verdade. Pobre Sam, pobre Sam. Olhe para Henrique...” Esse era o discurso de um senhor fascista de setenta e três anos que vivia perambulando pela casa como um andarilho, cujo eu chamava de avô.

Quando criança me perguntava qual era a visão que minha família paterna tinha sobre mim, foi então no meu aniversário de doze anos finalmente matei a charada: eles simplesmente não tinham visão alguma, porque eles não enxergavam um futuro. Meu provável destino seria ter uma vida de merda assim como a do papai — casar com uma pessoa incrível, ter o emprego que eu amo e descobrir o que realmente é a vida. Parece ruim? Não? Bom, para a minha família era, é, e sempre será.

Eu conseguia enxergar uma longa fileira de nuvens acinzentadas se juntarem no horizonte, provavelmente alertando sobre a chuva naquela tarde. Do I Wanna know? Saia pelo rádio, o som se espalhava por todo o pequeno espaço abafado, seria sufocante se a musica não fosse boa, Curtis — meu pai — adorava Arctic Monkeys. Os cabelos castanhos rebatiam-se com o vento, seus óculos de armação preta escorregavam pelo nariz pontudo, e aquilo o incomodava de uma maneira absurdamente engraçada — cacete de óculos, resmungava. Taylor e eu costumávamos chamá-lo de Leonardo Ramos, o vocalista de Supercombo, já que a semelhança entre os dois era assustadora, inclusive os olhos levemente esbugalhados.

— A Semana Colorida já acabou, querida? — com uma voz calma e doce Taylor perguntou, seus curtos cabelos negros estavam presos num rabo de cavalo, a pele morena parecia mais brilhosa aquela manhã.

— Ainda não. Na verdade ela ainda nem começou, acho que falta um mês ainda. Ou duas semanas, sei lá. Eu deveria estar ajudando eles hoje. Bom, deveria.

— Nada como um passeio em família para melhor a rotina, não é? — Meu pai me olhava pelo reflexo do espelho, sorrindo.

— Sim… Família…

— Escute, Rei — o carro passou em frente a um rio, as águas cristalinas escorriam pelo barro e juntavam-se para formam uma pequena cachoeira. Taylor e Curtis me olhavam pelo espelho retrovisor, sérios. — É provável que o divórcio seja questionado, então… Rei tenta não perder a cabeça de novo.

O criador do apelo Rei fora o meu pai quando eu tinha doze anos, vinha de Hayley, meu péssimo nome de protagonista fresca. Somente ele podia usá-lo, eu detestaria ouvir alguma das minhas amigas ou qualquer outro idiota da escola me chamando assim, tínhamos ciúmes dessa pequena demonstração de afeto.

— Divórcio, divórcio. É uma palavra irritante, vocês não acham?

— Sim, querida, sim — murmurou. — E também, sobre o Henry.

— Eles não vão falar sobre isso, pai.

— Não temos certeza de nada, Rei. Se o assunto surg...

— Não vai, ok? Não vai. Eu não vou deixar isso acontecer, falar sobre o divorcio já é doloroso o suficiente.

— Você quem sabe. É apenas um breve aviso para evitar futuras dores.




                                                                  x

O carro seguia por uma estrada de terra extensa, uma grossa camada de poeira marrom rebatia-se no ar, árvores medianas rodeavam nosso caminho, algumas folhas atrevidas se suicidavam nas janelas que permaneciam entreabertas. Como amava aquele lugar, não meus parentes, mas sim o lugar. A cada dois anos eu fazia a mesma trajetória com minha família até chegar à residência Duvall — dizer residência ao invés de casa deixava a situação bem mais engraçada. Ou menos chata —, então minha única opção era aprender a gostar daquilo, aturar algo detestável. A última vez que demos a cara ali fora… Depois do divorcio.

Maximus, meu vira-lata, repousava a cabeça sobre meu jeans preto, seus pelos amarelados sacudiam juntamente com o carro. Tanto ele como eu adorava andar sobre rodas.

                                                                    x

— Minhas crianças! — exclamou minha tia vinda em nossa direção, sua longa saia espalhava-se pelo jardim como as penas de um pavão, enquanto os brincos dourados sacudiam no ar. Minhas narinas já queimavam com o sufocante perfume francês Classique, de Jean-Paul-alguma-coisa-não-me-importo-mesmo. — Que adoráveis! — embalou minha madrasta num forte abraço, os seios avantajados espremiam o rosto rosada da pobre Taylor, ela me olhava desesperada.

— E essa é a tia Helena… — murmurei para mim mesma cruzando o jardim.

A mansão Duvall era incrível: ao entrar pelos portões de ferro maciço um jardim de orquídeas azuis e brancas dava boas vindas, o chão embrulhado por grama artificial aquecia os pés, pisos de mármore travertino abriam caminho em direção à porta principal. Nos fundos do estacionamento duas cerejeiras cresciam, suas folhas rosadas contornavam os muros de pedra da mansão. Branco e dourado, essas eram as cores que descreviam o grande casarão por dentro.

Maximus forçou a fechadura do carro com o focinho e passou correndo por entre minhas pernas, seu rabo chicoteava o ar. As patas ligeiras iam em direção à janela. Logo o cachorro de vinte e quatro quilos estava escalando e pulando uma janela de madeira, próxima a cozinha. Consequentemente sua entrada triunfal assustou as crianças, provavelmente meus primos saqueadores de bolo de cenoura — minha avó fazia todos os anos.

— Alguém tira esse sarnento daqui — Mia, minha prima, gritou correndo da cozinha para a sala, seus cabelos crespos estavam presos por duas tranças, as sardas pingavam em seu rosto como formigas em busca de pão. — Sai, sai, sai.

— Max, fora! — Dona Antônia ordenou, os fios cor de chocolate escorriam por seus ombros, a longa saia remexia em direção oposta ao vento. Mãe de sete filhos, casada com um ex-deputado e dona da melhor receita de pudim, essa era minha vó. Doce nos primeiros dois dias, irrelevante com o tempo. — Olá, meus amores — cumprimentou cada um de nós com um forte abraço, ela cheirava a molho inglês.

Ao entrar na casa e afundar meus dedos no tapete dourado que cobria metade da sala, pude ver Mia, Gusto e Matt brincando de pega-pega ao redor do sofá, os dois irmãos vestiam o mesmo modelo de blusa com heróis diferentes. Gusto tinha o desenho de uma aranha vermelha e azul nas costas, enquanto Matt cutucava o morcego negro em seu peito. Ao total eram dezessete netos comigo, mas para ser sincera não lembrava o nome da metade dos meus primos, uma lista muito grande e tediosa — a não ser por Carmen, a pré-adolescente de catorze anos que vivia comendo bolo de chocolate e reclamando dos seios pequenos.

Meu pai encostou seu ombro no meu, o nariz rosado reluzia com os lustres, ele tinha um olhar fixo no chão, como alguém que alimenta um pensamento, sendo ele bom ou ruim. Isso significava uma coisa: conselho.

— Não vamos comentar sobre a prova de psicologia, ok?

— Nem sobre o divorcio — retruquei, meu pai suspirou.

— Nem sobre o divorcio…

— Imagino que Henry também é assunto proibido — senti um peso cair sobre meus olhos, estávamos mesmo falando sobre aquilo?

— Filha... — fomos interrompidos por um som estridente vindo do porão, Maximus se encolheu debaixo do sofá.

Um senhor de cabelos grisalhos cobertos por uma boina azul e bermudão subia as escadas velhas de madeira segurando uma espingarda. O corpo flácido movimentava-se lentamente em nossa direção, as pantufas amarelas deslizavam no chão de uma forma irritantemente. Senti meu pai estremecer ao meu lado, algumas gotas de suor brotavam na ponta do seu nariz, boca ressecada e olhos intensos, era como um filme de terror, onde a criatura mais aterrorizante estava cara a cara com o mocinho.

Curtis balbuciou algumas palavras para minha madrasta, que sorriu. Um gesto reconfortante.

— Oi, pai.

— Maurício, Hayley, Samantha, olá — meu vô sorria, era raro vê-lo sorrir. Junto a ele, os dois irmãos mais velhos do meu pai conversavam sobre assuntos políticos. Aquele era o único assunto dos homens daquela família. E sim, meu avô trocou o nome da minha madrasta pelo da minha mãe.

— O senhor disse Samantha? — O tio loiro cujo tinha esquecido o nome exclamou indo em direção a Taylor. — Quanto tempo, Sam! — Ela tentava falar alguma coisa, mas os olhares pesados caiam sobre si, como se a culpa do que tivesse acontecido fosse inteiramente dela.

— M-meu nome é…

Curtis interviu.

— Eu e Sam não somos mais casados — os olhos de meu pai prendiam-se nos meus, ele teria que falar.

— Oh, me desculpe... — ele deu um leve tapinha nas costas de Taylor, soltando-a. — Mas o que aconteceu irmão? Você não é do tipo que abandona as mulheres.

Meus olhos deslizaram pela sala, todos estavam ali, parados, nos olhando. Uns sentados nos sofás e nos divãs, alguns fingiam falar no celular e outros simplesmente estavam de costas para a sala, como se fôssemos acreditar que não tivessem escutando. Éramos o centro das atenções, o circo particular daquela família. Minha garganta fechou e meus olhos se encheram de lágrimas, eu odiava a maneira como eles fingiam que nada estava acontecendo, como se eles não soubessem da verdade. Era uma amnésia geral ou minha família era apenas idiota e cretina? Acho que a segunda opção era a mais provável.

— Ela foi embora quando eu tinha quinze anos.

— Oras, Hayley, você tem dezessete. O mestre aqui não espera nem dois anos para arrumar outra. — O tio loiro ria, mas ninguém achava graça.

Você estava lá, qual é o seu problema? Vocês todos estavam, como não podem se lembrar?

— Não é bem assim — eu conseguia ouvir a voz do meu pai morrer aos poucos.

Foi a vez de Taylor tentar explicar. Meu avô havia sentado na poltrona central, aquela em que o dono da casa fica nos dias de verão. 

We were born to die

— Não foi bem um divorcio.

— Então o que...

— Minha mãe morreu, porra! Ela está morta, você sabe disso, você foi à droga do enterro dela, a família inteira foi. Até quando vão agir como se nada tivesse acontecido?

Minha respiração estava acelerada e todos os olhares surpresos e repreensivo estavam presos em mim. Dizer divórcio era menos doloroso do que aceitar que minha mãe tinha ido embora para sempre. Eu sabia que meu pai sofria tanto quanto eu, ele merecia mais consolo daquela família do que qualquer um ali.

Minha vó arrumou o avental na cintura e tocou no meu ombro. Ela não parecia querer me consolar ou me acalmar, apenas me tirar dali, evitar que minha sinceridade estragasse sua tarde.

— Venha me ajudar na cozinha, Hayley.


                                                                x



A espuma rosa borbulhava na panela, o cheiro de frango recém-feito invadia a cozinha. Minha tia Helena, vovó, Taylor e eu estávamos cuidando dos últimos preparativos antes de servir o almoço — muito sal, minha vó murmurava. As crianças corriam de um lado para o outro com Maximus no quintal, eles pareciam se divertir. Papai e os quatro irmãos jogavam pôquer na sala, já as duas irmãs discutiam sobre artesanato e apartamento na mesa de jantar. Meus dezesseis primos estavam espalhados pela casa.

— O almoço está pronto — minha vó avisou enquanto colocávamos os pratos na mesa. O aglomerado de pessoas agora se espalhava pela sala.

O sol é cinza, o mar é esgoto.

Sai desse corpo que não te penteia.

Atrás da mesa de jantar, próxima a ultima cadeira, uma porta de vidro que dava para a rua movimentada estava aberta, era a única da casa e eu nunca entendi o porquê dela existir. Carros apressados passavam como vultos por ali, donas de casa sapateavam pelas calçadas juntamente com os filhos cabeçudos. Lembro-me de quando eu era novo, planejava dominar o mundo com o pessoal da creche, e mãe cortava meu cabelo ignorava qualquer senso de estética que eu poderia vir a ter. Não pensava em qualidade de vida, eu só queria sal, açúcar e aromatizantes.

Dentre essas pessoas, um senhor de cabelos crespos se aproximava da casa, as roupas sujas de barro e grude, os sapatos extremamente desgastados e a barba longa indicavam que ele não tomava banho fazia meses. As mãos secas formavam uma concha em frente às outras pessoas que passam. Era um morador de rua em um bairro rico. Ele atravessou a rua e parou em frente à porta. O cheiro dele parecia encaixar perfeitamente com aquela família.

Três batias foram suficiente para chamar a atenção de todos, inclusive de Wanessa, minha tia e irmã mais velha do meu pai, que se levantou e seguiu até a porta. Os três mais novos membros da família — Gusto, Mia e Matt —, observavam a cena, curiosos. Todos os primos passam por aquilo: presenciar um ato de estupidez vindo dos mais velhos. No começo, eles ficam chocados e receosos, achando aquilo algo absurdo, mas com o passar dos anos e a convivência, se torna algo normal. Foi a mesma coisa com os outros treze primos.

Mas tudo bem, nem sempre estamos na melhor.

Tia Wanessa foi até porta.

Moça, ninguém é de ferro, somos programados pra cair.

— Aqui não é caridade, sinto muito — sem esperar por uma resposta, a porta se fechou diante do senhor. Ao virar-se de costas, ele voltou a bater, mas ela o ignorou e continuou caminhando para a mesa. — Ignora que ele vai embora.

Ele não foi.

— Da logo um pão velho pra ele e manda embora — meu avô resmungou, suas mãos estavam sujas de molho.

Era impressionante como ninguém se importava de verdade, todos sentados em volta da mesa apenas observavam e voltavam a comer. As crianças olhavam com pena e nojo. Afastei meu prato com as mãos e, ao apoiar os pés no chão frio, levantei murmurando um eu resolvo isso. Curtis e Taylor me fitavam com um sorriso de canto — Isso, manda esse parasita embora, minha prima disse.

— O que o senhor deseja?

— Apenas um pouquinho de água…

Conseguia sentir os olhares sobre mim. Em cima da estante, meu celular vibrou, provavelmente alguma mensagem idiota.

— Está com fome?

— Oh, minha querida, muita. Mas eu não quero incomodá-la, só um pouquinho de água já faria esse pobre velho feliz.

— Entra e almoça com a gente… Quero dizer, comigo — disse, sorrindo. Pude ver um brilho surgir em suas íris castanhas.

— Não, não posso aceitar, não quero incomodar. Mas muito obrigado.

— Então entre e espere enquanto eu faço um prato para o senhor.

Encostei minha mão em seus ombros magricelas, eu iria tratá-lo como alguém de casa, parte da família. Abri passagem para que ele entrasse, meio receoso ele me seguiu até a mesa. Puxei uma cadeira para ele, tentando esconder meu receio com o cheiro. Minha família estava boquiaberta e visivelmente irritada. Eu sorri internamente, tentando fingir para meu eu interior que minha felicidade era por estar ajudando um necessitado, e não por estar irritando profundamente meus parentes.

Meu avô franziu o cenho e lançou um olhar de reprovação para minha vó, algo como:

“Disse para não convidá-los”.


                                                                     x

Ao abrir a porta do quarto me deparei com Carmen deitada sobre minha cama, os olhos esverdeados perdidos na tela do celular, seus dedos ágeis digitavam uma mensagem. Ela usava um vestido florido extremamente curto, mas não parecia se importante com aquilo, eu pelo menos não me importava.

Joguei minha bolsa no canto do quarto, perto da janela entreaberta, pude ver um fina camada vermelha subir até o céu e, dela, uma chuva brilhosa se espelhar como um salgueiro — fogos? —, enterrei minha mão nos bolsos até encontrar meu celular, quando finalmente o encontrei “if this feeling flows both ways” saia pelos minúsculos buracos do fone. Desenhei a estrela de Israel na tela para desbloquear.

— Hmmm, mensagem nova — Carmen piou ao meu lado, seus cachos artificiais caiam sobre meus ombros, já que sua cabeça estava apoiada neles — você e seus namorados, né prima. Puta que pariu — a risada fina fazia um eco horrível nos meus ouvidos.

— Eu ainda nem olhei a mensagem… Deve ser só uma amiga.

— Que amiga que nada, é um macho bem gostoso — suas palavras me atingiam de uma maneira detestável. Aquela maldita fase de transição onde falar palavrão é algo "maduro" — olha logo.

— Olha você — sem me virar, estiquei o celular diante dela, que pegou e abriu o aplicativo de mensagens. Levantou-se.

— Alguém te mandou um link — me fitou — um cara.

— Exclui a mensagem e fingimos que isso não aconteceu.

— Qual é, ele é gato pra caralho. Não vai responder? — nossas íris se encontraram, eu a olhava com certo tom de ironia — o que foi?

— Sua mãe sabe?

— Sobre…?

— Sabe que você fala tanto palavrão quando está longe dela?

— Dãh, não. Você acha que eu sou idiota?

— A sua resposta é exatamente a mesma que a minha em relação a sua pergunta.

— O que?

— Esquece.

Carmen pigarreou e jogou os cachos azuis para trás.

— Vamos fazer uma aposta, prima? — alinhei meu tronco para ficar mais confortável. Eu adorava apostas — Bom, seu eu falar um palavrão na frente da minha mãe, você vai ter que responder o garoto.

Sorrimos uma para outra, obviamente ela não teria coragem o suficiente para fazer isso — ela pensava exatamente o mesmo sobre mim.

— Uma frase com três palavrões, dos mais baixos.

— Três? Puta merda.

— A escolha é sua.

Carmen largou o celular e abriu a porta, pude ouvi-la descer as escadas e chamar sua mãe. Arrastei-me até as escadas e, ainda de bruços no chão, estiquei a cabeça o suficiente para ter uma ótima visão da sala, onde vovó, o tio loiro — cujo, mais tarde, descobri ser o pai dela —, e outros parentes estavam principalmente os mais tradicionais. Fitei Carmen antes de me levantar, pegar o celular e abrir a caixa de mensagens. Deslizei meus dedos sobre o nome Alex e cliquei.

No andar de baixo, Carmen cumpria sua promessa.

“Alex: www.internet.com"

Sem perceber, eu estava rindo muito daquele link. Certo dia, quando eu e o tal de Alex estávamos na mesma aula de física avançada, nosso professor detestável lançou mais uma de suas perolas durante o sermão que, automaticamente, se tornavam piadas internas entre os alunos dele. Muito bem, hora de cumprir a promessa.

“Hayley: Muito empolgado durante as aulas e talz."

Foram-se dois minutos até a resposta.

“Alex: Um volume suspeito nas calças."

“Hayley: Vocês são doentes.”

“Alex: O vocês tem a prestigiada Hayley incluída.”

“Hayley: Eu não. Sou supernormal, por favor.”

“Alex: Duvido muito.”

O celular parou. Nossa conversa tinha acabo? Bom, foi legal enquanto dur…

“Alex: Eu sou gay.”

Aquilo realmente me deixou perplexa. Quem raios diz algo assim durante uma conversa com estranhos?

“Hayley: Parabéns, pega o diploma e cola na testa.”

“Alex: Quando eu terminar de imprimir eu colo.”

19h23.

“Hayley: Aqueles cachorros esquisitos, sabe?”

20h43

“Alex: Vai ter muita gente estranha nesse show.”

21h29

“Hayley: Você é um péssimo professor”

22h35

“Alex: Nossa como você é falsa.”

23h58

“Hayley: Tô ouvindo musica, e você?”

01h02

“Alex: Arruma um gato que o resto a gente resolve”

03h45

“Hayley: Morcegão.”

5h23

“Alex: Cara, eu ainda tenho que trabalhar”

6h08

“Hayley: Tá atrasado, amigão”

6h40

“Hayley: Alex?”


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