The Time Child escrita por Boo


Capítulo 2
Terra


Notas iniciais do capítulo

Segundo/ultimo capítulo, weee.



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— Londres, junho de 2015. Inglaterra, Terra – disse o homem engraçado, ainda se segurando nos controles da TARDIS, mal haviam aterrisado e os olhos de Boo se aregalavam em excitação.

A menininha sonhara tanto com a Terra! Seus pais haviam dito-a que era um lugar maravilhoso, com crianças como ela, só um pouco menos espertas, e desde então ela queria conhecer aquele lugar.

Outra olhadela rápida entre criança e adulto, e então os dois correram para a porta da nave, saindo da mesma bem em meio ao Hyde Park, perto de um lago.

— Essa é a Terra mesmo Doutor? – indagou a menininha e o sorriso do homem se alargou ainda mais em seu rosto.

— Claro que essa é a Terra mesmo, criança. Confie em mim, eu sou o Doutor.

Boo segurou um comentário mal educado e saiu correndo pelo gramado que se espalhava a sua frente. Finalmente estava na Terra! Correu se braços abertos, fechados, em círculos, em retas, desviou de pessoas, viu crianças e cachorros a seguir, enquanto ria uma felicidade que não cabia no peito.

Enquanto isso o homem da gravata borboleta se ajeitara em um banco e observava ao longe as crianças indo chamá-la para brincar. A garotinha era encantadora mesmo, com os cabelos curtinhos e o sorriso com dentes pequeninos, e infelizmente o lembrava da família que nunca mais iria rever.

O Doutor odiava esperar, mas ficava feliz ao ver alguém tão contente por simplesmente estar num park, em um dia de verão com outras crianças de sua idade. Aliás, qual era a idade dela afinal? Se aparentava com uma criança de cinco anos, mas agia como se já tivesse visto coisas suficientes para uma vida, seus olhinhos pareciam sofridos para alguém tão pequeno.

Perdido em seus devaneios ele sequer notou quando a garotinha desapareceu. Num momento ela estava lá, e no outro via apenas as crianças com quem brincava antes, agora brincando entre si.

O homem se levantou alerta. Para onde ela fora? Droga, ele só a perdeu de vista por um momento e a menina sumiu?!

— Boo? Boo! – ele gritou andando a passos largos pelo parque, seguindo a direção onde o grupinho de crianças estava rindo e brincando, e pararam ao ver o homem com cara de insano se aproximar – Para onde a garotinha que estava aqui foi? Vocês viram ela? Para onde ela foi?

As crianças não tinham tempo de responder, o homem olhava para todos os lados e apontava a chave de fenda sônica em todas as direções, tentando encontrar algum sinal de vida. Nada, para onde a garotinha fora?

— Me respondam! – gritou exasperado e as crianças se afastaram assustadas, correndo para seus pais que olharam para ele de cara feia. Resignado ele soltou o ar e deu as costas as crianças. Era óbvio que elas não tinham visto para onde Boo tinha ido.

Era só o que lhe faltava agora, nesses mil e duzentos anos de vida, perder uma criança Time Lord que sequer devia estar viva, na Terra. Ele não sabia nem porque o Tempo ainda não dera indícios de que algo estava errado, mesmo que agora uma criança estivesse viva e perdida num futuro bastante distante, em outra galáxia com ele, o Doutor, o sinônimo de problemas.

— Boo? Boo! – gritou novamente correndo em círculos de maneira alucinada, tentando encontrar qualquer vestígio da criança que estivera sob sua responsabilidade.

Mil possibilidades passavam por sua mente, desde a garota ter sido capturada por um de seus inimigos, até ela ter voltado para Gallifrey sozinha com seu teletransporte. Mas de modo algum ele imaginou o que de fato acontecia com a garotinha.

O Doutor olhou tanto em volta que sequer se preocupou em olhar para a frente, no lago, onde uma garota pulara a cerquinha que separava a grama e o lago, e agora estava lá dentro, da água barrenta, com o vestido completamente encharcado por ter se jogado de barriga na água fria.

— Alguém tira essa criança do lago! – gritou algum adulto que a notou, e só então o Doutor a viu lá dentro, encharcada da cabeça aos pés, rindo com seu modo infantil.

— Boo! – gritou em alivio – Saia daí! Não é permitido entrar nos lagos!

— Qual é a graça de ter um lago se não pode entrar? – murmurou indignada e se recusou a sair. Agora uma dúzia de pessoas a encarava divertindo-se com a situação.

— Me pergunto a mesma coisa, mas regras são regras, venha – ele pediu se aproximando da cerca sem entender como uma criança daquele tamanho tinha conseguido pular a cerca.

— Não – retrucou irritada. De repente humanos não pareciam mais tão divertidos.

— Por favor, criança, vamos – chamou impaciente – não me faça ir ai.

A garotinha se levantou de onde estivera sentada no lago e cruzou os braços, com uma expressão enfezada. Birra, era o que ela fazia, e Boo era a rainha da birra.

Irritado, o Senhor do Tempo arrancou o paletó, deixando-o sobre a cerca e a pulou com certa facilidade pelas longas pernas, depois foi marchando até a garotinha que permanecia onde estava, encarando o mais velho.

Sem mais uma palavra, o Doutor entrou no lago e a pegou por debaixo das axilas, e a levou afastadas de seu corpo como fizera mais cedo, a diferença era que agora ambos estavam carrancudos e a garotinha mesmo sendo carregada mantinha os bracinhos cruzados.

— Criança mimada – ele murmurou colocando-a no chão em frente a TARDIS para poder abrir a porta da cabine azul. Havia deixado para trás seu melhor paletó por culpa dela, então estava realmente irritado – vou te levar para casa agora.

O Doutor abriu a porta da TARDIS e Boo entrou batendo os pezinhos.

— Não vou pra casa – disse ela.

— Vai sim, a Terra não é lugar para uma Criança do Tempo.

Era a primeira vez que ela o escutara dizer aquela palavra, mas a ouvira muito em Gallifrey, geralmente era uma palavra de orgulho sabe? Ser uma Criança do Tempo, nem todos de Gallifrey eram “Do Tempo”, alguns eram apenas comuns, mas ela era uma dessas Crianças do Tempo, porém não se sentia nada orgulhosa com aquele título. Se ela fosse uma criança comum não seria obrigada a fugir, como o fez.

— Eu não vou voltar para Gallifrey – ela disse do topo da escada da central de comando. A TARDIS estava quieta. As TARDIS tinham alma, era o que dizia seu pai, e elas podiam compreender o que seus passageiros queriam ou sentiam, então era provável que aquela TARDIS soubesse exatamente o que ela passara. – eu vou ficar aqui e ninguém vai me impedir.

— Isso não é um assunto a ser discutido! – ele gritou enfezado de vez. Seu resto de paciência se fora – Você vai voltar e ponto final!

A explosão dele obviamente afetara a garotinha, que se encolhia mais a cada grito dado, com lágrimas brotando nos olhos.

— Você é como eles! Eu pensei que não fosse, mas é como qualquer adulto que eu conheço! – ela acusou irritada e correu para o interior da nave, deixando um rastro de água por onde passava.

Então a TARDIS deu sinais de vida, soltou ruídos e estalos como se o repreendesse.

— Ah, você não comece também! – disse para a nave que continuou com sua série de ruídos. – Ela estava errada! Ela ficou no lago quando eu disse para sair!... Pare de defendê-la!

A TARDIS se calou também e ele olhou para o grande cilindro acima do painel de controle.

— Ah, agora você vai parar de falar comigo também? – sem resposta – Ótimo! Mas eu preciso levá-la embora mesmo assim, ela não devia estar aqui e você sabe muito bem por que.

Então ele se viu perdido, como ficara em poucas vezes na vida. Ele sabia onde ficava Gallifrey, mas não sabia como voltar para lá quando tudo estava lacrado por causa da Guerra, não fazia nem a mínima idéia de como a garotinha havia saído de lá. Ela dissera que o planeta estava tranqüilo quando se foi...

— Boo? – ele chamou adentrando o corredor de sua nave. Precisava saber exatamente como ela tinha conseguido ir parar ali – Boo?!

Chamando-a sem resposta, ele continuou a procurar a garotinha pela TARDIS, e essa por sua vez se recusava a respondê-lo onde a menininha estava. O Doutor entrou em cada quarto, sala, área de lazer de sua TARDIS, e já estava ficando louco com aquilo quando ao virar num corredor ouviu um fungo e voltou alguns passos. Praticamente escondida atrás de uma coluna, estava a menininha tão encolhida que ele passara por ela cerca de três vezes sem a ver.

— Boo – ele chamou num tom suave, se agachou e tocou o joelho dobrado da garota que estremeceu, fazendo com que o homem se afastasse um pouco – olha, me desculpe por ter gritado com você ok? Eu não queria fazer aquilo, só que você me preocupou tanto quando achei que estivesse desaparecido, e depois não fez o que eu pedi, só... Me desculpe ok?

Uma fungada em resposta. Ele suspirou e se sentou ao lado dela, recostando-se na parede da TARDIS.

— A TARDIS estava falando comigo – ela murmurou depois de um minuto – ela disse que você estava me procurando.

— Eu estava.

— Mas você passou aqui tantas vezes e não me viu...

— Eu pensei que estivesse em um dos quartos, tem muitos por aqui – disse ele baixinho.

— Não foi isso, você não me viu porque eu sou pequena. E gente pequena é fraca – ela disse erguendo um pouquinho o rosto vermelho pelo choro. O Doutor se preocupou tanto com a chatisse dela, que se esqueceu que ela era apenas uma garotinha.

— Quem disse isso? – ele murmurou abraçando a menininha que fungou novamente – Pessoas pequenas não são fracas.

— Mas eu sou. É por isso que eles mentiram pra mim, é por isso que todo mundo briga comigo.

— Do que está falando? – o Doutor puxou mais a garotinha pra si e esfregou seus braços gelados pelo banho de lago. Nenhum dos dois ainda estava seco.

— Meu pai. Ele disse que ia voltar bem da Guerra, que tudo ia ser como antes quando os Daleks fossem derrotados, mas ele nunca voltou. – disse ela. Então o velho homem entendeu. Ela tinha mentido, a menina era como sua versão minimalista e em miniatura, talvez sua regra de “O Doutor mente” devesse se aplicar sua categoria inteira “Time Lords mentem”. – Depois foi minha mãe, ela sabia que papai estava morto e não quis me contar, ela disse só que ele não poderia voltar para casa e que ela ia ter que ir encontrá-lo onde ele estava. Ela também nunca voltou, ninguém quis me dizer por que mas eu ouvi minha vizinha dizendo que “encontraram o corpo dela com um Dalek”. Eu acho que ela se matou Doutor, acho que ela se entregou a um Dalek para que fosse morta...

Sua voz travou e o homem chocado pelo que lhe era contado só fez o que sabia fazer em momentos como aquele, abraçou a criança com mais força, dizendo “shhh” e beijando sua cabeça, o que pareceu funcionar já que logo ela se acalmava de novo.

— Então veio o pior, eles queriam me levar para um parente próximo, mas o único parente próximo era o irmão de papai, e eu não queria ir, ele é um homem horrível Doutor, não queria morar com ele... E no dia que iam me levar para a casa dele, uma mulher apareceu no meu quarto, ela não me disse seu nome, ela só me entregou o bracelete e disse que eu devia ir para a Terra.

Aquela história era mais louca do que ele podia imaginar. Alguém tinha salvado aquela garotinha, mas como? E porque?

— Mas como você conseguiu sair de Gallifrey? Eu me lembro muito bem da bolha... – ele disse baixinho, sem querer incomodá-la.

— Eu só desejei, do fundo do meu coração Doutor, que eu conseguisse fugir, e então eu estava aqui.

Não era tão simples assim, não mesmo, mas se essa explicação parecia boa suficiente para a garotinha, quem era ele para dizer que ela estava errada e que certamente tinha uma explicação muito mais complexa por trás daquilo tudo?

— Doutor? – ela chamou baixinho, chorar tanto estava deixando-a sonolenta – Você não vai me levar pra Gallifrey né?

Que pergunta difícil! Ele podia levá-la, até deveria, ela era alguém que não devia estar viva, toda sua raça havia morrido, e isso deveria incluir a garotinha, entretanto ali estava ela, quase adormecida em seus braços protetores, chorando por saber que estaria sozinha em seu planeta natal e não querendo de modo algum ir morar com seu tio. E depois do dia conturbado que tiveram, ele se sentia apegado a pequena. Havia tanto tempo que não convivia com uma Criança do Tempo que se esquecera de muitas de suas características, entre elas se esquecera do quão difícil era deixá-las. Como ele poderia mandá-la de volta para casa sabendo que ela iria morrer?

— Não, você vai ficar comigo, eu vou proteger você – ele prometeu depositando um beijo no topo da cabeça da menina, que sorrindo se entregou de vez ao sono.

Ele sabia que essa ação traria suas conseqüências, e se isso significasse enfrentar o Tempo se quebrando novamente, ele enfrentaria.


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Notas finais do capítulo

Moral da história: nunca deixe seu porquinho da índia a solta, porque ele pode ser capturado por soldados-cabeça-de-batata. Ah não, essa é outra história, esqueça.

Obrigada por ter lido!



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