Our Games escrita por Magicath


Capítulo 9
Capítulo 9 — Ação e Reação


Notas iniciais do capítulo

A HISTÓRIA CHEGOU AOS 100 COMENTÁRIOS SEUS LINDOS!!! EU AMO VOCÊS!!!

Notas finais importantes

OBS: Os GIFs contidos nos capítulos são APENAS representações cinematográficas. As características da pessoa nos GIFs não são necessariamente as mesmas das personagens originais da história.



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IX

Ação e Reação

Você é só mais uma.

Ninguém vai querer um lixo como você.

Sentada em minha cama, segura dentro do quarto do terceiro andar, repasso o que eu ouvi naquele elevador. É duro escutar um pouco da realidade. É difícil saber que há coisas que não são suficientes para agradar todo mundo.

Eu já ouvi muitas dessas palavras. Você nunca vai ser nada na vida. Você não deveria ter nascido. Já as ouvi da boca daquele que deveria chamar de pai. Já as ouvi da boca do meu irmão, da minha mãe, até de Chris. Elas são todas deixadas de lado quando perdoadas, são apenas ímpetos impulsionados pela raiva momentânea. Entretanto, é difícil não lembrar delas em momentos como este. É como se tudo o que é bom fosse dissolvido quando alguém joga as cartas na mesa, expondo a realidade e te comparando com lixo. E eu não sei por que isso afeta tanto. Se não foram intencionais as palavras, então por que eles a pronunciam?

Quando se sente raiva, você solta aquilo que realmente pensa. Mesmo que por impulso, sabe que naquilo há um pouco de verdade. Mas nunca foi dita. Porque não houve coragem para tal.

Eu não queria estar tão apegada, só que achei o vestido amarelo da minha mãe na gaveta, perfeitamente lavado e dobrado e o sentimento de saudade, antes afastado e esquecido, retorna para me assolar. Em minhas mãos, ele faz as lembranças do núcleo problemático do qual eu vim atingirem a minha vidraça. Minha mãe, quem mais sofreu nas mãos do meu pai… E agora, Matt é uma perfeita imagem espelhada dele. Eu sei que há pessoas passando por coisas piores, porém as marcas que aquele homem deixou na minha vida são sensíveis, ainda que as cicatrizes de suas surras não sejam mais visíveis.

Ouço uma batida na porta e autorizo a entrada. Chris aparece e entra no quarto, sentando na beirada da cama. Escondo o vestido de volta na gaveta.

— Nós estamos te esperando na sala — ele informa. — Tem uma cadeira sobrando na mesa e um jantar incrível sobre ela.

— Não estou com muita fome agora — é a única desculpa que tenho. O ronco da minha barriga confirma a mentira.

Na televisão, Caesar comenta o quão elegante está Claudius Templesmith, o outro comentarista do programa que exibe os Jogos. É mais um dos programas bestas que passam antes do tão esperado momento. As notas serão transmitidas dali uma hora.

— Tá tudo bem Lara? — Chris pergunta pela milésima vez. — Certeza que ele não te machucou?

— Sim, Chris, eu já disse que sim — repito impaciente.

— Você não precisa mentir pra mim — ele insiste. — Por que continua dizendo que está bem quando não está?

Passo a mão por onde Matt me tocou. Chris presenciou o final da infeliz conversa no elevador. Depois do ocorrido, ele veio até mim, perguntando o que tinha acontecido. Eu tentei explicar, mas nenhuma palavra saía e me descontrolei. Finalmente as emoções explodiram e eu despejei lágrimas pelo chão e pelos móveis até Hector chegar e pedir um chá para me acalmar.

Chris ficou furioso e quebrou um vaso quando eu finalmente contei e repeti tudo dito pelo carreirista. Ayla teria nos punido se não fosse uma questão delicada. Era um vaso muito caro de porcelana, uma peça rara, dissera ela. Eu mandei ela ir catar os pedaços e enfiar naquele lugar ou comprar outro, já que ela tinha dinheiro. Foi uma confusão total. Hector teve de segurar Chris para ele não sair apertando os botões do elevador para procurar Matt e cumprir a promessa de quebrar a cara do desgraçado. Ayla ficou exasperada pelo meu comportamento inoportuno, dizia que deveriam me enjaular e eu retrucava mandando ela se ferrar. Acho que o prédio inteiro foi capaz de ouvir toda a discussão.

Foi só depois de uma conversa civilizada que Hector acalmou os nervos de todo mundo. Alguns carreiristas desenvolvem transtornos mentais pelo que passam na academia onde treinam, foi a explicação dele. E ainda nos aconselhou a não cruzar mais o caminho daquele maluco, ou qualquer outro carreirista.

Eu não queria admitir isso, mas Matt me deixou realmente horrorizada. Com medo. O trauma de lugares apertados, o nervosismo pela apresentação e o susto que levei ao vê-lo fincando as unhas no meu braço foram o mínimo para me assustar. Eu me senti tão... incapaz.

Ele me fez realmente pensar que é impossível eu ganhar esse troço.

Depois de ouvir tudo de ruim possível, admitir que eu não estava bem por isso era ainda pior.

— Isso tudo me deixou realmente pra baixo — confesso, finalmente. — Eu não queria que isso estivesse me afetando… de novo.

— Você lembrou do seu pai, não? — Chris pergunta. Eu afirmo com a cabeça.

— Olha, eu sei que você passou por uma porrada de coisas com ele, mas... você não pode ficar se rebaixando desse jeito por causa de alguns idiotas.

— O que?! Não sou eu que... — eu me queixo. Chris, porém, levanta as sobrancelhas, duvidoso. — Tá, eu sei. É só que... Isso ressalta minhas inseguranças de certa forma. Alguma vez você já sentiu isso? Como se não fosse...

— Bom o suficiente — Chris completa minha frase. Nós nos olhamos. Sabemos que nos entendemos, compartilhamos o mesmo sentimento. Nós nos identificamos. É isso que uma amizade deve significar.

— Eu começo a pensar que Matt tenha razão. — Deito na cama com as pernas para fora e Chris faz o mesmo, ficando um em cada lado, pensando na vida. — Acho que ninguém ia mesmo querer...

— Para, você sabe que não é verdade — Chris contesta. — Um monte de gente adora você Lara. Um monte de gente tá esperando você voltar, sério. Hector me disse que nossa popularidade sobe um pouco a cada dia. Você só precisa pegar essa merda toda que jogam em cima da gente e provar que eles estão errados.

— É meio difícil acreditar que eu consiga — desabafo.

— Você precisa de alguém pra acreditar em você?

Permaneço deitada com o braço sobre a cabeça. Mordo o lábio, tentando fazer as lágrimas retrocederem. Sim, eu preciso mais do que tudo alguém pra acreditar em mim e para restaurar minha esperança e autoconfiança.

— Eu acredito — ele declara. — Acredito mesmo.

Eu sorrio. Isso é mais do que suficiente.

Sinto Chris levantar e sentar novamente na beirada da cama, procurando algo nos bolsos.

— Lembra disso? — Ele pergunta, mostrando-me uma pulseira de prata — Eu achei no meu bolso hoje de tarde. Fiquei lembrando...

— Parece que foi há uma eternidade... — comento.

— Pois é. Bem... isso pode soar meio brega, mas quero fazer disso um símbolo. Você tem que prometer acreditar em mim e que você vai vencer essa merda, tá? Enquanto você usar isso e se lembrar de mim, eu vou sempre acreditar em você. Promete?

Continuo calada, sem saber o que dizer. Isso foi uma surpresa, não esperava algo do tipo, tão sentimental e significativo e motivador.

— É incrivel como tudo sempre se resume a uma promessa — digo mais para mim mesma do que para ele.

— Eu já lhe fiz uma e estou aqui me matando pra cumprir. Agora é sua vez — ele desafia, cruzando os braços. — Se você não aceitar, vou ser obrigado a fazer isso — ele pega um travesseiro e joga na minha direção. O objeto acerta minha cabeça.

— Ei!

Pego o outro travesseiro e jogo nele também, rindo feito uma idiota. Ele está em vantagem e recebo mais um ataque severo até aceitar a proposta.

— Tá bom, eu prometo!

— Beleza, agora vamos jantar, porque eu só vou ter jantares desse tipo uma última vez na vida e não quero desperdiçar.

*

Sentamos na mesa de jantar enquanto os avoxes nos servem. Os estilistas estão presentes dessa vez para acompanhar o anuncio das notas. Eles e Ayla discutem sobre as novas novidades da moda e sobre a concorrência, pautando-se nas pesquisas — que dizem ser confidenciais, informações exclusivas dos estilistas — sobre as roupas do Desfile. Stanley e Athena, a estilista de Chris, comentam sobre o sucesso que foi a ideia deles. Não só apontam o benefício disso para eles, como também falam em como aquilo nos afeta positivamente. A conversa segue assim até Hector cortar o assunto perguntando o que nós aprontamos nas avaliações.

— Bem, com toda essa confusão não tive tempo de ouvi-los. Então, contem para nós.

Chris e eu nos olhamos, esperando quem vai começar. Fiquei tão distraída com esse dia maluco que esqueci a avaliação.

— É... Eu não fiz muito — Chris responde inicialmente, dando de ombros. — Como você disse, acho que Lara merece a atenção aqui, então eu só passei pelo circuito de obstáculos só pra mostrar que sei fazer algo prático.

Franzo o cenho. Quando foi que eles tiveram uma conversa sobre isso, principalmente sobre “Lara merecer a atenção”? Bem, não importa. Conto a eles o que fiz e acrescento que a ideia foi de Chris. Não dito todas as palavras do meu discurso, principalmente porque não lembro, mas não deixo de mencionar que utilizei algumas metáforas para persuadir a plateia.

— Bem, a ideia foi minha, mas quem fez funcionar foi você. Deu certo? — Chris pergunta com brilho nos olhos.

— Acho que sim...

— Isso deve ter sido lindo! — Ayla exclama, tentando se entrosar na conversa. Ela mal deve ter entendido minha explicação sobre a “reação explosiva” que descrevi a ela. Deve pensar que tem algo a ver com purpurina voando para todo lado e não só açúcar e sal queimando. — O que eles acharam?

— Não sei exatamente — respondo. — Eles ficaram surpresos, mas não sei se acharam algo incrível e digno dos Jogos Vorazes.

— Foi algo inovador, eu penso — Hector diz. — Não há com o que se preocupar, sua nota não será uma das piores.

Sorrio para ele, agradecendo. Ele retribui, erguendo a taça de formato estranho para mim.

Então, após essa pequena celebração, o programa começa. Todos sentam no sofá de veludo para assistir. Tento não ficar nervosa e agarro a minha própria perna, fixando as unhas na pele, respirando bem fundo. Todos tagarelam eufóricos até Caesar Flickerman, o elegante apresentador vestido de dourado, fazer sua entrada com piadas e narrativas emotivas. Chris nota meu nervosismo e segura meu braço, aparentemente sentindo o mesmo. Apertamos reciprocamente a mão um do outro em um ato mútuo de apoio para dispersar a tensão.

As primeiras notas, obviamente, são a dos Carreiristas. O primeiro, o menino negro e robusto que estranhamente gosta de brincar com ciência e não esboça reações o tempo todo, esse recebe um ostentado onze. Ele é realmente um mistério e não quero descobrir o porquê de uma nota tão alta, sendo que mal mostrou suas habilidades brutais no treinamento. Talvez queira passar despercebido por enquanto.

Ou ele tem um jeito bem peculiar e diferente de matar suas vítimas.

A menina do seu Distrito tira um nove. E então Matt, assim como a tributo do distrito 2, Saphire, tira nota dez. Imagino Matt agora irado por causa da nota e por seu aliado, também oponente, ter sido melhor. O maníaco parece ser alguém que não aceita os outros sendo melhores que ele. Provou isso hoje mesmo naquele elevador.

Então a foto de Chris aparece na televisão. Todos prendem a respiração.

— E agora, um momento que todos esperávamos. Christopher, o voluntário da dupla do Distrito 3 recebeu... — Caesar faz uma pausa dramática. Por uma fração de segundo vejo uma expressão de decepção e surpresa em seu rosto, mas logo ele se recompõe. — Seis.

Os estilistas e Ayla o parabenizam, o exaltando com palavras de conforto. Ele não parece muito feliz em recebe-las. Hector fica calado no seu próprio canto, encarando. Eu suspeito que os dois tenham algum segredo, alguma coisa planejada que não querem me contar. Pergunto a Chris por que ele está fazendo uma comunicação psíquica com o mentor.

— Não estou fazendo isso — ele responde, franzindo o cenho.

— Parece que está. Vocês têm um pacto secreto que não podem me contar, é isso? — Eu me queixo.

— Não, relaxa — ele me tranquiliza, fazendo um sinal com a mão para eu esquecer. — Só queria dar a entender que não preciso dessas condolências. Eu sei que eu poderia ter feito melhor se quisesse.

— É uma nota boa, Chris — Ayla diz. — Eu apostaria em você, principalmente pelo seu rosto bonitinho.

Chris lhe devolve um sorriso sem graça, visivelmente constrangido. Eu me seguro para não soltar uma gargalhada.

Sinto um pouco de pena de Ayla por não estar tão inclusa nos assuntos desse “time”. Resolvo ignorar e deixar a mulher de fora. Torno a olhar a televisão. É a minha vez.

— A doce Lara Watterson recebeu... — novamente a pausa, o silencio, a tensão, o suspense. Mordo o lábio, esperando ansiosa pelo momento. — Oito!

Ayla solta um grito, assustando todo mundo. Ela me abraça, muito contente, e todos nós rimos.

Um oito.

— Parabéns garota — Hector me parabeniza, afagando meu ombro. — Eu sabia que conseguiria.

— Estou tão orgulhosa! — Ayla diz.

— Fico feliz em saber que não desperdicei meu emprego escolhendo o distrito 3 — Athena comenta e faz o pessoal rir. Não foi algo tão bonito para se dizer, mas não estragarei a felicidade dela. Stanley sorri para mim e bagunça meu cabelo.

Fiquei surpresa com a nota. Eu realmente não esperava por isso. Um oito! O momento foi... gratificante. É bom saber que algo que fiz valeu a pena.

— Viu só, eu não disse? — Chris murmura sarcástico. Reviro os olhos e bato nele de leve no ombro.

Bem… Talvez isso prove que Matt está errado e que Chris esteja certo. Alguns elogios das pessoas que eu aprecio valem mais que meras palavras de alguém como Matt.

Contudo, para compensar, minhas preocupações não deixam de se extinguir.

— Você não acha que isso vai nos afetar negativamente Chris? — questiono. — Atenção nunca é bom demais.

— Hm, você tem razão — ele pondera. — Mas estamos no jogo, somos alvos, de qualquer forma. Não adianta mais desviar da mira.


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Notas finais do capítulo

Para os leitores da antiga versão que sentiam falta da inesquecível pulseirinha.... Aí está ela.

Então galera, acho que eu vou ficar um tempinho sem postar. Não sei se volto na sexta, antes ou se vou demorar mais de uma semana. É que algo está acontecendo entre Our Games e eu, algo que eu não consigo entender, então vou dar um tempinho. Eu amo minha fic e amo vocês, mas me deu uma enjoada da rotina. Tá super difícil escrever um final bombástico pra história também. Se quiserem, mandem ideias do que fazer no final ou o que vocês acham e querem que aconteça na arena e tals, pode ser que eu receba um empurrãozinho.

Obrigadão adiantado p vcs mores

Att,
Magicath