Our Games escrita por Magicath


Capítulo 20
Capítulo 20 — Parte I: Destruição Massiva.


Notas iniciais do capítulo

Galera, eu revisei esse capítulo umas 300 vezes. Eu escrevi e reescrevi e editei e reeditei e revirei de todas as formas possíveis; arruma isso, arruma aquilo... Tudo porque, bem, pelo título vocês já devem ter uma noção, não é mesmo? Ele é de extrema importância. É agora que as coisas tomam seu rumo final.

Espero MUITO que vocês gostem.

(Leiam as notas finais, please).



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XX

 Parte I: Destruição Massiva

 

 

Alguma coisa fria e dura me cutuca e me desperta. Eu me assusto e me encolho, pedindo para que não me machuque. Permaneço no mesmo lugar no qual fui deixada depois de ser espancada, sem conseguir me mover sem que tudo doa. Eu mal consigo mexer as pernas para me proteger.

Uma caixa branca é jogada ao meu lado junto de um cantil de água. Minhas mãos são desamarradas e sinto o alívio de poder mexer os braços. Eles permanecem num estado de dormência. Meus olhos, que antes se negavam a abrir, observam o tributo do Distrito 1 parado na minha frente, esperando uma reação.

— Você deve cuidar desse ferimento antes que perca mais sangue e morra — ele informa. Sua voz é grossa, rouca e profunda. — É melhor fazer isso antes que os outros voltem.

Com dificuldade, sentindo uma tremenda dor nas costelas onde fui chutada mais de uma vez, sento-me e examino a caixa que deduzo ser de primeiros socorros. Percebo que estou coberta de flocos de neve, consequência de ter dormido ou desmaiado perto da fogueira, em céu aberto. Estou com cheiro de fuligem, também.

— Se tentar fugir, não hesitarei em tomar medidas extremas — Tiberius prossegue. — Mas acho que você não sobreviveria a mais um nocaute ou ferimento.

O cara então se vira e caminha até seu canto, onde pega uma das facas para ficar talhando algo na parede da cornucópia.

Fugir não é uma opção mesmo. Duvido que eu consiga sequer me levantar.

Observo o restante do cenário, notando a falta dos outros carreiristas. Nem mesmo estão dormindo sob a proteção da cornucópia. Parece estar de manhã. O céu permanece claro, porém não como uma tarde de sol e sim como uma manhã cinzenta. O sol nem deve ter nascido por completo. Talvez nem haja sol realmente.

Devagar, tiro o casaco e as roupas até ficar apenas com uma camisa, a última peça de roupa por baixo de toda a proteção das numerosas blusas. Faço movimentos vagarosos, não querendo perder mais sangue do que já perdi. Estou sem forças, machucada, tremendo de frio e de fraqueza. A dor quando respiro ou me movo também me limita. Subo um pouco a camisa para ver o estrago. Todo o meu abdômen e tórax está uma combinação de roxo, vermelho, azul, verde e amarelo. Só espero não ter quebrado nada.

Não faço ideia de como tratar o ferimento, não sou boa nisso. Lembro apenas que é preciso limpá-lo antes de aplicar algum remédio ou fechá-lo com pontos.

Pego uma gaze molhada e começo a lavar o sangue envolta. Olhar a ferida me faz querer vomitar, mas eu prossigo com persistência. Derramo um pouco de água sobre meu braço, errando um pouco a mira por estar tremendo. Sinto um breve alivio. Seco rapidamente para que o vento não congele a leve camada de moléculas de água no meu braço. Acho que a agua atingiria seu ponto de fusão rapidamente com a ajuda do vento e da temperatura ambiente que, provavelmente, é menor que zero graus.

Em seguida, procuro por um antisséptico ou alguma solução que seja desinfetante e acho um frasco cujo rótulo o denomina como clorexidina. Deve servir.

Vou aos poucos pressionando o pano sobre a região. Meu braço ainda dói como se estivesse para sempre sendo perfurado, mas a aparência do corte está um pouco melhor. Só que o sangue ainda insiste em sair e não sei como fazer pra parar. Pressiono o ferimento, porém isso não é eficaz. Começo a ficar frustrada por não saber o que fazer.

— Você sabe suturar? — pergunta, de longe, o carreirista. Nego com a cabeça.

Ele caminha até mim e senta ao meu lado, remexendo a caixa de primeiros socorros, catando os acessórios necessários para o trabalho. Ele agarra um dos muitos potinhos brancos com tampas vermelhas e me entrega.

— Passe esse. É a base de aloe vera, é anti-inflamatório. Você deve conhecer.

Assinto, passando a substância sobre o machucado. Conheço a planta, era normal passarmos esse tipo de remédio quando eu me ralava toda no distrito 3. Vem de uma planta tóxica, mas aplicada em pequena quantidade é benéfica. Eu a vi no Centro de Treinamento, também. Além de anti-inflamatória, ela tem funções coagulante, regeneradora celular, cicatrizante e muitas outras. O que mais acho interessante sobre isso é como sempre podemos usar a natureza ao nosso favor. É claro, sem prejudicá-la.

Ele segura brutalmente meu ombro, o que me faz reclamar de dor. Ele não parece se importar com o quanto me machuca. Porém, felizmente, suas mãos fazem um trabalho perfeito que eu não seria capaz de fazer. Elas são enormes, mas traçam os pontos e manuseiam a agulha com precisão. Sinto agonia quando ela entra em minha pele, mas termina tão rápido quanto começou.

Porque ele estendeu o remédio para mim e ainda ousou explicar suas funções? Porque ele deduziu que eu conhecia a planta que deu origem ao remédio? Ele disse como se soubesse que possuo esse conhecimento, como já tivesse me observado para chegar a tal conclusão. Quero dizer, não parecia ser um julgamento prévio só por saber que venho do Distrito 3. E como ele sabia tais informações sobre aloe vera? Porque esse carreirista é tão estranho, mas ao mesmo tempo tão semelhante aos outros?

E ainda mais intrigante: Porque raios está me ajudando?

Ele parece notar minha indignação e entender o meu questionamento, pois logo em seguida ele diz:

— Se te incomoda não saber o porquê disso, foi Matt quem ordenou. — Guardados os utensílios dentro da caixa, ele levanta, limpando a neve das calças. — E não tente entender as razoes dele. Ele não tem a mínima noção do que faz.

— Obrigada... — agradeço antes que ele vá embora. Minha voz sai rouca e seca, em decorrência aos gritos da noite passada e à sede.

Tiberius me encara com seus olhos negros e profundos. Ele não sorri e nem se pronuncia. Não parece ter um pingo de emoção.

Antes de se afastar e voltar para seu canto, ele retira uma lata de comida e uma colher e joga para mim como se eu fosse um cachorro vira-lata. Coisa que de fato não duvido ser no momento.

— Não se engane. Eu preferiria que já estivesse morta.

Se eu não estivesse emocionalmente esgotada, eu esboçaria alguma reação espontânea.

Cuidando para não fazer esforço demais, abro a tampa da lata e checo o conteúdo. É uma sopa cremosa. Com um desespero voraz, jogo longe a colher e viro a lata, tomando tudo como se estivesse bebendo água em um copo, ignorando os pedaços de milho, ervilha e lentilha que passam pela garganta e pelo esôfago sem serem mastigados. Mesmo estando fria e meio aguada, o gosto é maravilhoso.

Os carreiristas voltam depois de uma hora aproximadamente. O céu não muda, mas a demora foi evidente. Deviam estar fazendo a ronda matinal, procurando por vítimas.

Matt passa por mim ignorando minha existência. Saphire agarra meu braço — infelizmente o esquerdo, o qual contém o ferimento. Solto um grunhido ao ser arrastada até a cornucópia, temendo que os pontos arrebentem. Preparo-me emocionalmente para minha execução ou para a próxima surra. Contudo, ela apenas me larga na boca da cornucópia e senta nas diversas caixas espalhadas pelo lugar. Matt chuta uma delas enquanto queixa-se sobre algo.

— Essa arena não tem nada de interessante além de neve!

— Sem êxito na sua busca? — Tiberius pergunta.

— Nada, nenhum sinal de tributos nem de animais — Matt se queixa sentado em sua caixa. — Esse jogo vai durar mais tempo do que espero.

— Do jeito que você hesita em matar certas pessoas... — Saphire resmunga baixinho, mas Matt não a escuta.

— Vocês não acham estranho? — Heather comenta, espreguiçando-se sobre sua caixa. — Na boa, é uma arena de gelo. Não é surpreendente que não aconteça nada? Tipo, cadê as catástrofes, cadê os bestantes?

— É, mas você ouviu os barulhos de noite né? — Saphire questiona. — Eles estão por aí, em algum lugar, esperando pra atacar.

— É disso que estou falando. Esperando. Alguma coisa grande tá pra acontecer, vocês não acham? Não é à toa que eles tão só zanzando.

Todos ficam calados. A concordância paira sobre o ar, posso sentir. E de uma forma estranha, até eu acredito em seu discurso.

Se bem que a cornucópia é uma zona de conforto longe das áreas perigosas da arena. Ou estavam facilitando as coisas para os carreiristas quando estes iam caçar ou a garota meio careca estava realmente certa. Já era de se esperar algum desastre natural, mas seria só isso? Bem, Chris e eu enfrentamos uma chuva de passarmos mutantes, um lago mortal e uma tempestade de neve. Talvez os carreiristas não tenham passado por muitas dificuldades mesmo. Então Heather está errada. Mas nunca se deve subestimar a criatividade dos idealizadores, então…

Com o assunto encerrado, os outros se dispersam e se distraem com suas próprias coisas. Estou sentada, lutando contra a dor que é sentir os pulmões e os músculos intercostais se expandirem e pressionarem minha caixa torácica a cada respirada. Olho para minhas unhas, desinteressada, tentando tirar a sujeita impregnada nelas. Vejo o contorno fora de foco de Matt logo a frente. Dou uma espiada nele, reparando no olhar matador me encarando. Não é possível entender o que está pensando por meio dos seus olhos; são frios e inexpressivos. Quando percebe que o estou encarando, ele sorri.

— Você fica linda de olho roxo — provoca ele.

Toco meu rosto até encontrar a parte sensível. Nem notei que havia um hematoma no lugar.

O comentário de Matt me faz sentir raiva. Uma raiva massiva, que queima dentro de mim. Uma raiva que me faz querer enterrar as mãos em seu pescoço, um sentimento que não me torna mais diferente dele. Uma sensação divergente àquela da noite anterior, na qual senti vontade de desistir de tudo. Uma sede de sobrevivência que nunca senti antes, uma sede de me provar e confrontar todos os pensamentos dele. Eu sinto que devo, que preciso vencer os jogos e isso é o suficiente para restaurar minha esperança.

Faço questão de fazer essa sensação maravilhosa queimar pelos meus olhos e incendiar o ambiente até que ele perceba, que ele sinta. E assim que o faço, à medida que o meu sorriso aumenta e o confronta, o dele desaparece.

 *

— Ei Matt — alguém grita e me desperta do meu meio cochilo. — A água acabou.

— O que? — O carreirista levanta do chão, irritado. É incrível como ele é susceptível demais, mudando de um cara tranquilo, deitado sereno no seu canto, para um cara aborrecido por causa da água. — Mas vocês já acabaram com ela?

— Calma aí estressado, é só ir lá buscar mais — Heather diz.

— Tá bom — Ele suspira, desapontado. Matt se espreguiça e alonga seus músculos. — Heather, você fica aqui. — A carreirista abre a boca para protestar, mas Matt a silencia. — Sem reclamações.

Eles colocam os casacos e recolhem os cantis de água para reabastece-los. E é claro que não deixam de se armarem.

— Levanta — ele aponta para mim —, vamos dar uma volta.

Faço uma cara de interrogação, perguntando-me se ele realmente fala sério. Matt chega perto, estendendo a mão para me puxar, porém me afasto.

— Não me toque — repudio-o, ríspida. — Eu consigo levar sozinha.

Com pesar e com dor, apoio-me na parede da cornucópia até ficar de pé. Ao me movimentar, instantaneamente me sinto enjoada. Minhas pernas começam a doer no mesmo instante, principalmente por terem de enfrentar a grande quantidade de neve envolta da cornucópia. Meu corpo pesava sobre os músculos das coxas, como se a gravidade estivesse exercendo uma força anormal sobre mim, puxando-me para o chão que parecia uma cama tão confortável…

Matt me empurra, quase me fazendo cair. Tenho que segurar nele para recobrar o equilíbrio. Ele aproveita para apontar o dedo em frente ao meu rosto, advertindo-me.

 — Nem pense em tentar fugir.

Resmungo e gemo baixinho. As dores são tantas que tentar fugir está completamente fora dos meus planos. Se eu pudesse mesmo fugir, já teria dado um jeito.

Mas acho que eles têm plena noção disso.

Eles adentram na floresta em fila, uma atrás do outro. Tiberius está na liderança, com Saphire logo em seguida e Matt e eu na retaguarda, respectivamente.

Tento focar em respirar direito. Só uma mera caminhada faz meu coração acelerar, meus pés doerem e a respiração dificultar. O meu ritmo não é capaz de acompanhar o grupo, mas não é como se eles fossem me deixar para trás.

Olho para o chão, focalizando num ponto fixo tentando não ficar tonta. As botas de Matt e dos outros fazem marcas profundas no chão. Continuo encarando suas pernas por motivo nenhum. Percebo então algo estranho: o modo oscilante dele caminhar, o jeito que se inclina quando encosta a perna esquerda no chão. Ele está mancando.

Algo deve ter ferido ele. Uma pena que isso não o matou.

De repente tudo começa a girar e sinto meu cérebro sendo esmagado por uma força invisível. Respirar torna-se um fardo muito pesado e é como se eu estivesse saindo do meu próprio corpo. Minha mão instantaneamente procura por apoio e agarra inutilmente o casaco de Matt. Eu despenco e afunda na neve, que, por milagre, amortece a queda.

É uma sensação de fraqueza muito estranha.

Será que estou morrendo?

Eu não me importaria se estivesse. Se morrer for assim tão tranquilo, então eu aceito ir numa boa. Mas é claro que os carreiristas não permitiriam.

— É sério?! — Matt resmunga, irritado.

— Eu disse para não trazer a garota — Saphire diz, vangloriando-se.

— Talvez você devesse deixar ela aqui para morrer. Ela está fraca demais para continuar — sugere Tiberius.

Ninguém responde por um breve momento. Matt parece estar confuso, sem saber o que fazer. Por que ele simplesmente não me deixa morrer logo?

Porém, não é assim que deve ser. Se é isso que ele quer, se é essa fraqueza que ele deseja, não é o que obterá. Com o máximo de força que consigo reunir, apoio o braço no chão para me levantar. Mordo o lábio e seguro as lágrimas quando sinto tudo arder. Meus tendões podem estar sendo arrebentados, mas persisto em levantar.

Contudo, quando olho para Matt, ele está nem um pouco surpreso.

— Tudo bem, leve ela de volta ao acampamento — ele pede a Tiberius. — Se ela não aguentar até lá, mate ela. Já estou cansado disso.

Então lá vou eu — com todo o incentivo do mundo para continuar — seguindo o grandão. Meu corpo precisa aguentar. Não posso desistir.

No meio do caminho, algo estranho acontece. Nuvens pesadas dominam o céu e a arena escurece do nada, limitando um pouco a visão, como uma rua mal iluminada. Tudo fica com um ar meio sombrio de tempestade. Tiberius desacelera até parar. Ele coloca o braço na minha frente como um ato de proteção. Provavelmente um ato involuntário, já que nem presta atenção em mim. Ele mantém o olhar fixo em algo logo à frente.

Então ouvimos um som incomum, parecido com trovões, mas não são trovões. O chão treme um pouquinho. Sob pequeno vulto da montanha, próxima o suficiente de nós, é possível observar uma quantidade imensa de rochas e neve rolando e devastando tudo a frente. A avalanche avança sem parar, até desaparecer de nossa vista.

Muitas coisas começam a acontecer. Uma poeira branca e nevoenta cobre o ar. O chão começa a tremer. As árvores dançam de um lado para o outro incontrolavelmente. Tenho que agarrar uma delas para não perder o equilíbrio. Meus pés não conseguem se manter estáveis no chão, o solo parece estar subindo e descendo, sofrendo oscilações.

Eu conheço esse fenômeno. Terremoto.

Tiberius dispara como um louco, deixando-me para trás. Eu penso em fazer o mesmo, mas o máximo que consigo fazer é dar pequenos passos rápidos. Meus pulmões não suportam uma corrida. Minhas pernas também não. Mantenho esse ritmo, tentando me afastar o máximo possível da ameaça.

Não posso ficar parada aqui. Preciso correr.

Mas não consigo correr.

O chão a minha volta começa a se abrir, causando severas rachaduras. Continuo olhando para trás, observando a destruição se aproximar. A arena vai aos poucos sendo consumida pela catástrofe. O chão se parte em vários pedaços. Das rachaduras, algo começa a sair.

Bestantes.

Ouço um grito. E então o primeiro tiro de canhão.

Meu coração acelera. Sinto minhas artérias, veias, capilares e muitos outros vasos trabalharem, conduzindo o sangue cada vez mais rápido. Meu tempo está acabando. É uma questão de segundos até ser liquidada pelo caos atrás de mim.

Esse não será meu fim. De jeito nenhum. Eu cheguei muito longe para ver o fim agora.

Então corro com o resto das forças que me sobram. Lágrimas irrompem dos meus olhos. Ignoro elas. A adrenalina toma conta de mim, eliminando toda a dor, deixando-me entorpecida. Meu coração bate forte contra o peito, quase escapando dele.

Mais rachaduras vão surgindo no caminho, atrapalhando. Desvio de todas elas com dificuldade, escorregando próximo da beirada na maioria das vezes. Contudo, mais a frente há um buraco enorme. Não há como passar por ele sem pular.

Entretanto, eu pulo. Voo por cima dele e caio do outro lado, rolando. Atinjo o chão com tudo e sinto parte dos meus ossos receberem a força do impacto. Não há como me levantar de novo.

Tudo parece acontecer em câmera lenta. As árvores caindo, os canhões tocando. São três mortes, por enquanto. O contorno dos bestantes vai ficando mais nítido. São feras negras sob quatro patas, tão negras que é difícil enxerga-las. É por isso que fica escuro com frequência na arena. Para que elas possam atacar sem serem vistas.

Lembro-me do que Heather disse mais cedo. Ela estava certa.

Do outro lado, a pequena silhueta da cornucópia. Um lugar seguro, claro e intacto. Se eu pudesse ao menos dar mais uns passos até a luz…

Os rugidos dos bestantes chegam aos meus ouvidos. Vejo a fera mais próxima pular. Ela voa e vai lentamente se aproximando, preparada para cravar os dentes e as garras em mim.

Mas, novamente, a morte não vem.

Algo empurra a besta ainda no ar e a joga para o outro lado. Tiberius, sem parte da camisa e cheio de arranhões, agora luta contra o animal. Ele tem uma força descomunal, conseguindo afastar as patas mortíferas da fera do alcance de seu rosto.

Ele não olha nem nota que estou aqui. As bestantes todas estão indo para cima dele.

Não tenho tempo de deduzir o motivo disso. Olho novamente pela brecha entre as arvores e encaro a cornucópia. Almejo chegar lá e com o resto da minha vontade vou me arrastando. Finco as unhas no chão e me impulsiono para a frente. Solto um grito quando levanto as pernas e engatinho para completar os últimos passos.

E então, estou fora daquele tormento. Desmorono no chão, esgotada. Como se nada daquilo estivesse acontecendo do lado de fora, no lado claro. Uma faixa de escuridão separa a área da cornucópia da área da floresta. As bestas não ultrapassam essa linha.

Mais dois canhões. Um deles, eu acho, anunciando a morte de Tiberius.

Por favor, que o outro seja o de Matt…

Um terremoto em potencial que foi capaz de criar uma avalanche em questão de segundos, abrir o solo e fazer bestantes saírem dele. Os idealizadores estavam entediados.

 São cinco mortes. Sobram três.

Ah não.

Não não não não não!

Chris estava vivo. Chris estava por aí quando essa catástrofe começou. O desespero toma conta de mim e tira meu folego. Por Panem, ele precisa ser sobrevivido! Ele não pode estar entre os cinco mortos! Eu ao menos tive a chance de me despedir, de ver seu rosto pela última vez…

Uma risada interrompe meu devaneio. Vejo uma pessoa caída há alguns metros de mim, curvada de bruços, sustentando-se pelos braços. Sangue mancha o corpo todo. É possível ver cortes profundos em suas pernas e costas.

Só a voz é capaz de me fazer reconhecer quem é.

— Você é mais forte do que eu pensava — Matt diz, com uma voz fraca. Eu nunca o ouvi nesse tom. Um tom de desistência, debochando da própria idiotice.

Ele ri novamente, contorcendo-se todo. Beirando à loucura.

— Parabéns, vocês conseguiram o que queriam.

Não entendo o que ele quer dizer até seguir o seu olhar e encontrar o ponto que ele observa. Na frente da cornucópia, um corpo ensanguentado. De pé, ao seu lado, um tributo portando um machado pingando sangue.

É Chris.


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Notas finais do capítulo

Talvez vocês já imaginaram que restariam apenas Matt, Chris e Lara. Mas a forma como isso aconteceu, vocês gostaram? Ficou muito rápido, corrido, inesperado, impossível (levando em conta que a Lara está em péssimas condições)? Por favor, a opinião de vocês é essencial.

Tinhamos 8, morreram 5 (os demais carreiristas e os outros que tinham sobrado: tributo do 10 e do 11 - masculino e feminino respectivamente).

Antes desse teríamos um capítulo do Chris, mas abandonei a ideia. Então, caso não tenham entendido a aparição misteriosa: ele já estava perto da cornucópia antes de tudo acontecer.

E caso desejem formar teorias: nem todos as mortes foram causadas pela avalanche ou pelos bestantes :) #ficaadica

Estou postando hoje porque a partir de amanhã começo a maratona de estudos. Então vamos ficar um tempinho sem atualização (desculpa mesmo, sei que deve ser desesperador esperar o próximo capítulo depois dese final aí hahahaha), mas volto depois da semana de provas (que começa dia 26 e vai até dia 3, eu acho). Tempo suficiente pra quem tá atrasado repor e uns fantasminhas aparecerem.

Mandem energias positivas (principalmente pra prova de Zoologia e Química) e até lá.

Atenciosamente,
Magicath.



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