Our Games escrita por Magicath


Capítulo 14
Capítulo 14 — Crocitar dos Corvos


Notas iniciais do capítulo

DEUS COMO FOI DIFÍCIL POSTAR ESSE CAPÍTULO HOJE!!!

Oi gente, quase que vocês ficam sem capítulo essa semana pq eu esqueci que tinha q postar hashsadsahda Ainda é sábado, dá tempo.

Enfim, depois de problemas com o Google Chrome e mtas bad trips durante o dia, cá estou eu. Mas mesmo com essas coisas da vida, n desistiria de postar um capítulo pra vocês por nada (apenas em casos extremos).

Não gosto muito desse capítulo... Acho ele ligth demais. Enfim, ele é necessário, infelizmente. Mas o próximo... Aproveitem bem esse momento "ligth", porque o bicho vai pegar depois.



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XIV

Crocitar dos Corvos

 

O sol se esconde entre as nuvens cinzentas e se nega a aparecer. A tarde é sisuda, bruta e nos castiga com o vento gélido. Deixar que os pés afundem na neve é mais que um sacrifício. O vento esfria as orelhas e o nariz, irrita os olhos e flocos de neve ousam grudar no cabelo e no rosto, mesmo protegido com o capuz. Pelo menos ele aquecia as orelhas. 

O frio intenso da arena parecia retirar todo o calor presente em meu corpo. Pois bem, de acordo com as leis da natureza o calor é energia em movimento e sempre passa de um corpo de maior temperatura para um de menor. E sinto essa arena drenando toda minha energia, transformando-me em um cubo de gelo dentro de uma geladeira.

Já ouvi dizer que o frio é psicológico. Eu gostaria de poder fingir que sim. Bastaria dizer "ah não, é apenas fruto da minha consciência, está fazendo um calor danado aqui", mas não posso controlar os estímulos elétricos que meu cérebro recebe. É obvio que ele percebe que estou perdendo calor. Não é como se eu pudesse mudar isso. Ignorantes não pensam antes de falar asneiras. 

Minha respiração pesada solta baforadas no ar que se transformam em vapor condensado. Solto um longo suspiro, observando o vaporzinho se dispersar como um sopro gelado. 

A floresta agourenta parece conversar conosco enquanto andamos. O vento produz sons assombrosos entre as frestas das árvores. OS sussurros fantasmagóricos acompanham nossa caminhada. Ando de cabeça baixa, tentando limpar as pegadas profundas que deixamos na neve, fingindo não ouvir a garotinha sussurrando meu nome. Eu tentava me desvencilhar dessa lembrança, mas a atmosfera não contribuía. Talvez eu estivesse louca ao imaginar o fantasma ou o que resta dela me perseguindo, enchendo-me de culpa.

Levanto a cabeça rapidamente quando ouço a voz baixa e suave de alguém. Olho para Chris, ponderando se é tudo fruto dos meus medos e sentimentos.

— Você disse alguma coisa? — pergunto.

— O que? — ele retira o capuz para me ouvir melhor. — Eu não disse nada. 

— Pensei ter ouvido alguma coisa... 

— É só o vento fazendo barulho — ele diz como se não fosse nada. — Eu também estou ouvindo. 

Ah claro. Idealizadores. Brincando com nossas mentes. 

Andávamos, andávamos e andávamos e as árvores continuavam as mesmas, a neve monótona continuava a mesma. Até começo a questionar a criatividade dos idealizadores. Não há nada verde, as folhas agulhas que restam estão todas salpicadas com flocos de neve assim como os troncos e galhos das arvores. O branco chega a cansar os olhos.

Olho para a nuca de Chris, andando calmamente a minha frente com as mãos enfiadas dentro dos bolsos do casaco. O porrete improvisado pende do cinto dele, balançando de um lado para o outro. O tempo passava rápido enquanto caminhamos, indo em direção ao nada, nos distanciando cada vez mais do eminente perigo. Devemos ter andado por uma ou duas horas, mas parece que o tempo na arena não corresponde ao tempo que conhecemos fora dela, pois, por mais que tenha se passado poucas horas desde que acordei e desde que tivemos o acidente com a armadilha, o céu já estava escurecendo. E eu tinha certeza que o não era o momento certo para o sol se por.

— Você acha que eles estão manipulando a luz aqui dentro? — indago. 

— Sim — Chris responde imediatamente. Ele também deve estar pensando nisso. 

— Como eles conseguiriam fazer isso? 

Chris para. Ele para e olha para cima, ponderando e procurando uma resposta nos confins de sua mente esperta. As suas bochechas, encobertas pelos floquinhos de gelo, estão coradas.

— Bem, estou pensando numa possibilidade — diz ele. — Você lembra de edições que tinham algum campo de força envolvido, né? 

— Sim.

— Talvez tenha um por aqui, envolvendo toda a arena. Se tem um campo, eles devem ser capazes de controlar o que tem dentro dele — Chris apoia a mão no queixo, pensativo. Ele está concentrado e não vai sair desse estado até sanar a sua dúvida. 

— Tudo bem, acho que entendi — digo, desviando o assunto e recomeçando a andar.

— Não, espera! — Ele me puxa pelo braço. — Espera, eu li sobre isso... Existe um campo eletromagnético que sustenta outro. Ele é tipo...

— Um escudo? 

— Em cheio! — Ele está sorrindo, mas logo volta à expressão normal e pensativa. — Mas talvez ele seja forte ao ponto de desviar radiação que vem de fora e isso envolve luz... 

— Então eles deram um jeito de reproduzir luz aqui dentro e agora eles podem fazer com que seja noite quando eles bem quiserem — concluo sua tese. Ele bate na própria perna, em êxtase. 

— Isso isso isso! Essa é a explicação mais plausível! — ele ri, comemorando. Sua empolgação lembra tanto uma criança. Mas eu entendo, não sei se está no sangue, na alma, no gene ou só na mente, mas geralmente nós do Distrito 3 sentimos um orgulho por esse tipo de coisa. É fascinante descobrir como as coisas funcionam, conseguir manipular qualquer coisa por meio da tecnologia. Se ao menos isso fosse usado para o bem...

— Caramba, não sabia que isso era tão importante pra você. Agora que você descobriu os segredos do universo, podemos ir andando? 

Chris ama esse tipo de coisa. Eu sempre o pegava lendo algum livro quando o encontrava no nosso ponto de encontro. Os livros avançados normalmente eram proibidos, mas Chris dava um jeito de adquiri-los. Pelo menos ele os devolvia depois. 

Então ele me contava o que estava lendo, não parava de falar sobre como e para que as coisas funcionavam. Nós conversávamos sobre tudo e muitas vezes debatíamos sobre os mais diversos assuntos. Eu sempre gostei de ler também, sempre fui uma boa aluna na escola, com ótimas notas, mas Chris era um destaque. Era incrível como sempre aparecia com algo novo em mente. Ele era incrível, quando eu tinha dificuldades, era ele quem me ajudava nos deveres de casa. Foi ele quem me ensinou a enxergar o mundo de maneira mais aberta, a ser mais solta, a escalar muro e pular deles sem ficar com um arranhão.

São mentes como essa que o futuro precisa. Uma pena que mundo é injusto. Tudo isso desperdiçado por causa dos Jogos Vorazes.

Estou recomeçando meus passos quando de repente algo me ocorre.

— Esse tal campo, ele precisa de uma baita energia, não? — questiono.

— Com o que você acha que a Capital torra o dinheiro que eles tiram da gente? — Chris respondeu, rindo com escárnio. 

— Então... o que aconteceria se nós déssemos de cara com ele? Assim, se estivéssemos andando e de repente... PÁ!

— Acho que a diferença de potencial seria tão grande que levaríamos um choque danado. Se você jogasse uma pedra ele apenas ia repeli-la, mas nós não aguentaríamos uma descarga de energia tão grande. Imagina quantos milhões de volts isso tem?!

— Bem, espero não comprovar esse fato para nosso publico. Não curto muito um churrasco — finalizo o assunto. 

— Eca. 

É tarde e é preciso achar um lugar seguro para dormir antes que fique mais escuro do que já está. Não quero arriscar minha vida em uma caminhada desorientada pela noite na arena. 

Observo Chris ao meu lado, fitando a neve enquanto apaga as pegadas. Eu me pego pensando no passado, quando era eu e ele contra o mundo planejando um futuro esquecido agora no tempo. Foram tantos planos, tantos sonhos que reproduzimos para nós, desde os mais simples aos mais impossíveis... Isso é tão distante, tão nostálgico...

Não consigo deixar de pensar naquele tempo, onde a inocência ainda fazia parte da nossa vida. Onde as preocupações eram outras. Onde a neve servia para formar bolinhas para atirar nos outros. Olho para meus pés, de volta para a realidade, e penso na vontade de formar uma bola de neve em minhas mãos, mas aqui não é lugar para isso. Desmancho minhas vontades assim como desmancho a neve em meu caminho.

— Ei Lara — Chris chama —, não acha que está ficando um pouco... estranho?

— O que? 

Estava tão distraída que não notei o ambiente no qual estamos. E a preocupação de Chris é plausível. Entramos em uma parte da arena cujas árvores parecem ter sido carbonizadas. Elas são negras e quase sem folhas. A névoa envolve as raízes que aparecem para fora da terra. É estranho a mudança repentina no cenário, passando de uma floresta comum e silenciosa para um cemitério árboreo. 

E aqueles sussurros que ouvi horas atrás retornam, dessa vez mais consistentes, como se houvessem mesmo pessoas escondidas naquelas sombras. 

— Chris... Vamos sair daqui — eu peço, aproximando-me dele. Vejo seu pomo de adão descer e retornar. Uma gota de suor desce pelo canto do rosto, deixando um rastro. Embora sua agitação seja perceptível, ele está sério e pensativo. 

— E se pra lá for seguro? — ele propõe. 

— Seguro? — engasgo. — Isso tem cara de seguro pra você? Deve ser o lar de mil bestantes! 

— Por que eles fariam um caminho tão assustador assim? Nenhum tributo pensaria em passar por aqui, estaríamos sozinhos. 

— Você realmente acha que estaríamos sozinhos? — retruco. — Chris, os outros tributos não são a unica ameaça. Quer mesmo arriscar sua chance de sobrevivência adentrando nesse fim de mundo?

Suas opiniões são substituídas pelo silencio. Eu intensifico a proximidade entre nós, apertando seu braço.

Um farfalhar violento nos chama a atenção. Nós gritamos assustados, virando para localizar a origem do barulho. Um grande e robusto corvo pousa no galho da árvore mais próxima. Seu olho brilhante fixa-se em nós, como se fossemos suas presas.

— Lara, mexa-se bem devagar... — Chris murmura, cauteloso, com medo de que qualquer movimento brusco atice aquela ave estranha. 

Assim que mexo meu pé para dar meio volta a ave grita. Ele não crocita como a maioria dos corvos comuns, é quase literalmente um grito. Ligeiramente alguns outros amigos aparecem para participar da festa, pousando nas outras aves. 

— Vamos sair daqui! — Eu suplico. Agarro a mão de Chris e começo a correr, colocando o capuz sobre o rosto para não ser atingida.

— E ir aonde? — Chris questiona.

— Sei lá, só corre!

E começo a correr antes que seja tarde demais. 

A aura purpura, escura e mórbida que preenche a arena atrapalha a visão. O caminho não é muito claro, é difícil de enxergar. Vários galhos me arranham durante o percurso. Não desisto, porém, de achar uma saída. 

Aparentemente os corvos não levantaram voo, mas eles estão por toda parte, parados nos galhos. Um deles mergulha, passando por mim. Preciso me abaixar para que ele não me arranhe com suas garras enormes e mortais. Eu e Chris nos arrastamos desajeitados pela neve, tentando desviar dos ataques. Eles parecem estar nos obrigando a seguir uma direção. É claro que é uma brincadeira dos idealizadores. Mas para onde querem nos levar?

Vejo, por entre os troncos das árvores, a luz, ou melhor, uma parte mais clara da qual estamos. Atravessamos, chegando a um tipo de clareira. Do outro lado, um grande paredão rochoso. Ele ergue-se metros acima, tornando-se parte da esplendora montanha oculta pelas nuvens.

Há pedras grandes espalhadas pelo chão e água acumulada entre elas, quase aparentando ter um pequeno riacho por ali. Os corvos ficam para trás, mas não cessamos nossa corrida. Nossas botas espirram água gelada para todo canto, molhando-nos. 

— Ali! — Chris anuncia. Ele aponta para uma das aberturas entre a estrutura rochosa. Uma caverna. 

Nos esprememos entre as pedras ásperas e geladas, caindo diretamente dentro do buraco. Jogo-me no chão, recuperando o folego. As nuvenzinhas de vapor formam-se rapidamente devido à respiração acelerada. Eu não sei se os idealizadores planejavam nos enfiar aqui, mas neste local permaneceremos. Parece seguro. Por um tempo, pois não há como ter segurança dentro dos jogos. 

Observo o local no qual estamos. As gotas de água que derretem do teto formam eco ao caírem nas poças no chão. O lugar é tão amplo e lindo. As paredes são de gelo e tem uma coloração azul intensa que de dia deve ficar lindo de se olhar e apreciar. Passo a mão pela superfície gelada, observando meu reflexo difuso. É uma pena que a natureza seja usada para atrocidade como uma matar jovens em um jogo idiota. 

Chris mexe na nossa mochila de provisões. Dela, ele retira a garrafa de água. Caminha até uma das poças, estendendo a mão no ar. Ele está checando o local onde as gotas caem. Então, quando acha o ponto exato, posiciona a garrafa e deixa ela lá. A gota acerta em cheio o alvo. 

— Pronto, teremos água daqui a pouco, não precisamos nos preocupar — diz ele, sentando-se novamente no chão pedregoso. — Então, quem fica de vigia primeiro?


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Notas finais do capítulo

Desculpem as linguagens técnicas demais, se tiverem algumas dúvidas, perguntem.

Reescrevi esse capítulo agora mesmo. E bem rapidinho. Se localizarem erros, avisem.

Então, o que têm a acrescentar? Opiniões, críticas, elogios? Todos são bem vindos.

GENTE, são 42 acompanhamentos!!! (Obrigada, é claro, amo vocês). Mas nem a metade (que é 24) comenta. Nem a metade da metade (que é 12) comenta também. Leitores fantasmas, se vocês estiverem na dúvida do que comentar, eu lhes dou um tutorial: Clique na caixa de comentários e digite: "Gostei!".

É isso.
Atenciosamente,
Magicath.