Our Games escrita por Magicath


Capítulo 12
Capítulo 12 — Chris


Notas iniciais do capítulo

Sumida de novo? Bem, vocês já sabem o motivo. Isso mesmo, viagens.

Agora vamos agilizar as coisas!! Pois é pessoal, agora dois capítulos por semana. Um hoje pq to afim. TALVEZ, outro sábado. Aí começa a programação certa que é: um na segunda, outro na sexta. E assim prossegue, se eu conseguir manter a rotina.

(NOTA DA AUTORA DO FUTURO: quem já concluiu a história sabe que essa de postar 2x por semana não funcionou).

Tivemos imprevistos. E AGORA TÁ TODO MUNDO SAINDO DAS FÉRIAS!! E sabe o que isso significa? Menos tempo para ler. E ninguém quer isso, não é mesmo? Pois todos amamos Our Games e queremos perder tempo lendo as coisas que essa incrível autora escreve.

Capítulo dedicado à Raquel (Annie Azeite). Obrigada por me ajudar a completar esse capítulo (agosto de 2015) e muitos outros também.


CHEGA DE ENROLAR, VAMOS LÁ!

Ah, capítulo narrado pelo Chris.



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Ainda não parece real. Anos assistindo a edições e ainda assim foi pior do que eu esperava. Tanto o sangue e desespero… Meu corpo não estava nada preparado para isso. Observar uma televisão é diferente de estar presente no momento. Ainda mais com tanta adrenalina correndo no corpo.

Agora, ver Lara estirada no chão, sangrando, enquanto tento acorda-la de volta, traz-me ainda mais desespero. Os carreiristas estavam na nossa cola, sem dúvidas, e Lara desabara numa hora mais do que inconveniente para morrer. Ela não podia ter cedido tão rápido, não poderia ser morta logo no começo. Não depois de tudo o que passamos.

Tento manter o controle. Ainda não é hora para surtar.

As baixas começaram a ser contadas. A chacina acabou rápido. Ao todo, são nove canhões anunciando o fim da vida de nove jovens. Com medo de que Lara esteja entre eles eu pego seu braço para checar a artéria radial do pulso, esperançoso de sentir alguma pulsação. Fico surpreso ao ver tanto sangue escorrendo do corte diagonal no antebraço causado pela carreirista loira que ameaçava matá-la durante as lutas. Abro às pressas a bolsa que peguei na cornucópia para procurar alguma coisa que sirva de curativo. Dentro encontro bandagens e um rolo de esparadrapo que uso para limpar e enfaixar o ferimento. Não há fio nem agulha para suturar, então deixo assim, improvisado. Só espero que isso não se torne letal para a saúde dela.

Ouço o som de pés raspando nas pedras lisas e sinais de conversa. Espiando por trás das rochas, vejo aqueles dois carreiristas do Distrito 2. Abaixo-me, puxando Lara comigo torcendo para que eles não nos vejam. Tranco até a respiração e comprimo as costas contra a superfície da pedra que nos esconde, espremendo-nos na pouca terra presente no chão.

O tom de voz deles vai ficando cada vez mais claro. Parecem estar discutindo.

— Cale a boca. Por aqui! — ouço o cara dizer quando chega mais perto. — Eu vi eles correndo pra cá.

— Não tem ninguém aqui, Matt — alguém diz em tom de reclamação. É uma voz feminina. — Desista.

— Eu só quero confirmar.

Os dois ficam em silencio por alguns segundos. Só ouço o som de seus pés batendo no chão.

— Você acha que ela sobreviveu? — a garota pergunta de novo.

— Você e Náutilo, dois imprestáveis — Matt diz, ignorando a pergunta da loira. — Deixaram os dois escaparem. Era para eles estarem mortos agora! Eu deveria ter pego ela primeiro.

Os pelos do meu corpo se eriçam ao ouvir a conversa. Tenho certeza de que falam sobre nós. Náutilo era o tributo que tentou me ferir no banho de sangue. Consegui me desvencilhar dele por pouco, quase levando uma facada nas costas. Infelizmente, ele sabia muito bem como bater em alguém. Os hematomas aparecerão em questão de horas.

Os carreiristas resolveram nos perseguir. Somos o alvo principal deles. Lembro-me dos carreiristas persuadindo Lara durante o treinamento e da implicância de Matt com ela. Achei que ele queria apenas fazer cena para os idealizadores, implicando conosco assim, mas seu tom de voz é preocupado. Parece haver algo a mais...

— Não fui culpa minha! — a carreirista debate. — Eu ia matar ela, estava quase lá, mas aquele rato de laboratório atrapalhou. Culpe Náutilo, não eu.

Ouço um grunhido e o som de uma lamina batendo na pedra. Desejo que meu encontro com ela não seja nesse momento.

— Vá à merda Saphire — Matt xinga. — Agora com esses dois vivos vai ser ainda mais difícil.  

Uma porta parece ser aberta dentro da minha mente. É isso. Nós representamos uma ameaça para Matt. Se não fossemos, por que ele estaria tão obcecado em acabar conosco? É claro, ele tem medo. Tem medo pois eu e Lara podemos nos tornar oponentes fortes para ele, principalmente se a Capital estiver torcendo para nós e não mais para ele.

Equivocadamente, eles nos subestimaram.

— Por que você se preocupa tanto? — Saphire questiona. — Pode ser que sejam mortos por um bicho ou pelo frio insuportável.

Matt suspira, impaciente com a petulância de sua aliada.

 — Então tá — Matt se rende. — Mas se eu encontrar eles vivos e intactos, eu mato você antes de acabar com eles.

— Como quiser.

Sinto que eles estão dando meia volta. Porém, não ouso relaxar até ter certeza de que foram embora.

O cabelo de Lara faz cocegas no meu nariz e tento bem devagar tirá-lo antes que provoque um espirro ou um espasmo. Durante o movimento, acabo batendo meu cotovelo na pedra, uma péssima parte do corpo para bater em algum lugar. Sinto algo como um choque e acidentalmente solto um gemido de dor. Maldito nervo!

 — Espera — Matt diz, pedindo silencio. Meu corpo todo fica estático e não ouso mexer nem mesmo meus olhos. — Ouviu isso?

— Isso o que? — Saphire questiona. Agradeço por ela ser tão desligada. — Não ouvi nada, Matt. Você já está ficando paranoico. Se quiser, pode ficar aí procurando, eu vou voltar. Temos coisas mais importantes pra decidir. E eu estou morrendo de frio.

O local fica em silencio de novo, sendo o único som presente o vento chacoalhando os galhos das árvores próximas. Permaneço deitado no chão caso o carreirista ainda esteja espreitando. Lara está ao meu lado e, por mais que esteja desacordada, fico feliz que esteja comigo. Não nos jogos ou na arena, mas perto. Perto o suficiente para que eu possa protegê-la. Foi para isso que eu vim para cá, não foi?

Bem, não é hora de ficar pensando nisso. Toda vez que eu fico acabo entrando no mesmo dilema: os motivos errados que me levaram a arriscar minha vida. Mas, bem, enquanto ainda é possível viver, preciso achar uma maneira de sobreviver. E de nos levar para um lugar seguro.

Disperso meus pensamentos antes que outro tributo apareça para nos ameaçar. Percebo que aperto Lara contra meu corpo, quase sufocando-a por causa do nervosismo. Deixo-a ao meu lado, na neve, e levanto um pouco a cabeça para verificar o perímetro. Não há nenhum sinal de vida. Levanto e rapidamente arrumo as coisas. Coloco a mochila virada para frente e amarro na alça o cobertor que também catei na cornucópia. Com dificuldade, puxo Lara para que fique nas minhas costas. Então, adentro na floresta o mais rápido que posso.

*

A neve, em certas partes, está toda tingida de vermelho. Não há um lugar que não esteja marcado por sangue derramado, possivelmente por tributos feridos que fugiram. Os pinheiros e suas folhas agulha formam penumbras sombrias, a chegada da noite cria uma combinação azul com a neve. Ambos contribuem para que o ambiente se torne um cenário sinistro e fantasmagórico.

Paro assim que acho um córrego oculto entre árvores que divide a floresta ao meio. A garganta árida pelo esforço fica sedenta por água, porém, infelizmente, todo o líquido se solidificou. Ele é raso demais, uma pequena serpente de fina e escassa camada de água transformada em puro gelo. Não havia liquido por baixo da superfície. Apenas o maldito gelo. Coloco um pedaço dentro da garrafa vazia que encontrei na mochila, mas ele simplesmente parece não querer derreter. A temperatura devia estar muito abaixo do ponto de derretimento para que isso ocorresse ou as propriedades químicas e físicas do gelo foram alteradas. Obra dos idealizadores, provavelmente.

Andei bem menos do que eu esperava. Não sou alguém presenteado com uma estrutura fisiológica avantajada. Nem sempre vivi bem, por vezes passando a vida com falta de alimentos cujas vitaminas são essenciais para o desenvolvimento, moldando-me como uma criança raquítica até a adolescência. Alguns de meus ossos são tortos por isso, tornando a tarefa de carregar Lara difícil. Ela é magra, porém tem muito mais pesada que eu.

A única vantagem é que morar e viver sozinho te ensina a se virar como pode. E desde que me conheço por gente eu tenho aprendido a escalar muros, paredes, pular sobre tetos, essas coisas. Isso me deu certa força nos músculos. E se preciso, eu sabia passar despercebido e tirar algo das pessoas sem elas perceberem. Era a maneira que eu encontrava para sustentar a mim e minha avó, antes de conhecer Lara. Mas é claro, nunca roubei de pessoas que tinham suas coisas de formas honestas. Para estas, eu apenas procurava ser uma boa pessoa. No final, eu era recompensado.

Só de pensar na única pessoa que sobrou da minha família eu lembro das minhas chances: nenhuma. O bom é que minha avó não sabe mais quem eu sou e não preciso mais me preocupar com ela, a mãe de Lara faz isso por mim. Sou eternamente grato por isso.

Enquanto ando, essa questão não deixa de me cutucar. Eu não vou voltar, disso tenho certeza.

Eu nunca me imaginei nos Jogos Vorazes. Nunca mesmo. Talvez nos momentos nos quais eu e Lara discutíamos a coisa certa a se fazer em certa situação dentro da arena, mas era uma brincadeira boba de criança. A coisa só se tornava séria quando eu ficava pensando o que eu faria se fosse escolhido ou... se Lara fosse escolhida. A ideia de me voluntariar já havia surgido, mas… Nunca pensei em torna-la real.

Agora estou aqui, sentindo insanamente a vontade de sobreviver, apesar de tudo.

Por Panem, eu nos enfiei num beco sem saída. Cavei minha própria tumba, literalmente, e ainda arruinei tudo para Lara e para mim. Eu, ela, ou os dois; essas são as opções. E não cabe a nós decidir. Se ela sobreviver, dever cumprido. Mas, de qualquer forma, as ações acabam se anulando. Ou Lara morre ou acaba por sofrer. Mesmo se precisar cometer suicido para salvá-la, apenas piorei as coisas para ela. E isso vem me importunando.

Balanço a cabeça e arranho a palma da mão. Preciso não pensar nisso, não é hora. Toda vez que penso fico confuso. E eu odeio ficar confuso.

Coloco Lara sobre o chão com cuidado, aliviando o peso em minhas costas. Abaixo de um pinheiro, cavo uma trincheira de neve funda para impedir a entrada do vento. A terra úmida e marrom aparece bem tímida, mas é aceitável. Acumulo a neve envolta, formando paredes e forro o chão com galhos. É um abrigo simples e amador, mas é o suficiente para nos proteger por uma noite. Eu espero. O bom é que o trabalho de cavar um buraco me manteve em movimento e acelerou meu coração, deixando-me aquecido.

A escuridão engole a floresta e consigo traz os mistérios da natureza noturna. A lua serve como uma fonte luminosa fraca, sendo possível enxergar apenas o vulto da minha própria mão, portanto não ouso ascender uma fogueira. Seria uma calamidade sobreviver ao Banho de Sangue e morrer por um desleixo como esse.

De repente, o hino da Capital toca e o brasão serve de abajur por alguns minutos. Os rostos dos mortos são exibidos no céu, todos os nove coitados — cinco meninas e quatro meninos.

As baixas são até previsíveis, sendo novidade apenas a carreirista do 4 ter perecido no primeiro dia. Após mostrar o garoto do 12, o ultimo cadáver, encaro as estrelas por um tempo. Ver os astros luminosos no céu negro é o mais próximo de casa que posso me sentir. No entanto, esse sentimento desaparece instantaneamente ao perceber que algumas constelações não estão nas devidas posições celestes. Falta uma estrela na Ursa Menor e a constelação de Órion está desalinhada. O céu é falso. Assim como, provavelmente, tudo aqui. Suspiro aborrecido com aquela falsa sensação de liberdade. Sou tão livre quanto um pássaro na gaiola.

Meu corpo tremula com a corrente fria que assola a arena, com a frialdade da neve e do ar. Lara, deitada ao meu lado e ainda adormecida, também treme. Aproximo-me dela e nos cubro com o cobertor conseguido na Cornucópia. Pensei que nunca diria isso na vida, mas sinto falta das reclamações insuportáveis. Uma conversa ou o som da voz dela seria bom para afugentar as inseguranças que me circundam. Ao invés disso, só me resta esperar que a proteção das árvores seja o suficiente para que não acabemos mortos pelas ameaças da arena e que possamos estar vivos no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Desculpem, foi o melhor que pude fazer.
Caso vocês não lembrem ou eu não tenha dito: a avó do Chris tem alzheimer. Os pais do Chris morreram. Detalhes mínimos que contribuem para a triste e dramática história de vida do personagem e seus traumas de infância.

Mortos no Banho de Sangue:
Distrito 4 ♀ (não me perguntem o porquê).
Distrito 6 ♂
Distrito 6 ♀
Distrito 7 ♀
Distrito 8 ♂
Distrito 9 ♀
Distrito 10 ♀
Distrito 11 ♂
Distrito 12 ♂

Att,
Magicath.



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