I'm lookin up

I don't want this to end

Lily Luna

Nós andamos muito por essas ruas. Quando tínhamos quatro anos decidi que queria fugir de casa. Lily Luna Potter não queria mais ser a irmã mais nova, não queria ser a princesinha que não podia fazer nada, aos quatro anos Lily Luna queria ser uma exploradora. Lily de quatro anos arrumou sua mochila e pegou a bicicleta com rodinhas. Consegui ir até a esquina, mas comecei a sentir sede e não tinha suco na mochila, corri para casa de Hugo e no final da tarde estávamos juntos sentados em um banco com sorvetes de baunilha derretendo em nossas pequenas mãos.

Aos sete anos foi à vez do meu primo resolver que merecia mais que um bolo de aniversário. Juntou os presentes que ganhou dos nossos tios e saiu correndo rua abaixo em direção do parque, no mesmo parque em que tomamos sorvetes e aprendemos a andar de bicicleta, Hugo queria viver na selva. Ele seria um Tarzan da vida moderna. Eu fui com ele, seria sua companheira e criaria macacos como filhos, duas horas depois estávamos famintos e morrendo de vontade de comer o tal bolo.

Depois de alguns minutos andamos estávamos sentados no mesmo banco. Sem os sorvetes. Sem os sonhos infantis. Mas ainda sendo os mesmos. Lily e Hugo.

— Você já sabe o que vai fazer né? – Ele me pergunta olhando para o céu. Seus braços estão mais esticados mostrando algumas veias.

— Sei. – Suspiro cansada. – Não sei se consigo.

— Lily... – Meu melhor amigo me empurra. – Você é capaz de conquistar o mundo.

— Seis meses. – Olho fixamente em seus olhos azuis. – Hugo, vamos nos ver em seis meses né?

— Exatamente. – Seu sorriso faz meu estômago se contorcer.

Ele não parece tão convicto. E eu estou apavorada.

— Hugo...

— Você precisa pedir para a tia Fleur indicar amigos com quem conversar, afinal você vai morar sozinha. Precisa conhecer alguém. – Sua mudança de assunto é estratégica, meu primo sempre foi muito mais inteligente que eu.

— Você também vai morar sozinho. – Estou parecendo uma criança retrucando com ele.

— Eu estarei no Japão, passarei a maior parte do tempo dentro de salas aprendendo técnicas de desenhos. – Ele ri de mim.

— E eu estarei pesquisando aromas.

Um fato sobre Lily e Hugo: Eles são teimosos.

Nós somos muito teimosos.

— Estará pesquisando aromas em Paris. Cidade Luz. Cidade do Amor. – Hugo de repente está muito vermelho e voltando a olhar para o céu.

— Você será o único ruivo natural lá no Japão. – Digo baixinho enquanto sinto as bochechas queimarem. Minha frase foi um pouco preconceituosa, mas pensar em todas as meninas de lá encantadas com as sardas do meu primo é uma imagem terrível.

Ele está sorriso.

Um segundo depois estamos os dois rindo.

XXX

Hugo Weasley

Existe algo no riso de Lily. Normalmente sempre que ela começa a rir contagia a todos em sua volta. Eu sempre sou atingindo, e mesmo convivendo com ela durante todos esses anos ainda estou desprevenido.

Escuto minha prima falando sobre aromas, cheiros e perfumes desde que ela tinha uns treze anos é claro que ela sabia o que queria fazer depois de Hogwarts, só que sendo a Lily que é, ela esperou que todos nós decidíssemos antes dela. Sua coragem é maior que a de todos, ela tem coragem de se importar com os outros sem o medo de que não se importem com ela.

— Quero te pedir uma coisa... – Lily segura minha mão esquerda me obrigando a olhá-la. – Promete que vamos continuar nos falando mesmo longe?

Dou risada.

— Claro que vamos. Somos primos.

— Hugo, somos mais que primos. Você é o meu melhor amigo! – Ela aperta minha mão mais forte. – Promete.

— Eu prometo, Lily.

Digo por fim, e ela parece soltar o ar de uma vida.

Volta a ser a Lily leve, que sorri para idosos e crianças e que gosta de coroas de flores brancas para enfeitar os cabelos tão laranjas quanto os meus. Ela também será uma das únicas ruivas de Paris, e isso me incomoda mesmo que eu não diga nada. Algumas vezes é melhor não dizer tudo que sentimos, nossas palavras possuem força para mudar as pessoas mais do que temos conhecimento.

Nossos passos são lentos na volta para casa. Passamos reto pela minha, as luzes estão acesas e escuto os risos de meus pais, Rose está encostada na janela do seu quarto, deve estar lendo alguma coisa. Estou levando Lily para casa, ela vai conversar com meus tios, também vai ligar para tia Fleur e fazer as malas.

— Me leva na estação de trem? – Ela para em minha frente, estamos a poucos passos de sua garagem.

— Lily, nós podemos aparatar se lembra? – Digo pensando o quanto será difícil vê-la sumindo em minha frente.

— Não. Eu não quero te ver desaparecer assim. – Ela está quase chorando. – Estações de Trem são sempre partida e chegada, trás mais certeza de que vai voltar.

— Provavelmente você vai viajar antes de mim. – Digo sorrindo.

— Hugo Weasley você vai me levar na estação ou não?

Suas mãos na cintura me fazem dar risada. Aceno afirmativamente.

— Hunf... Obrigada.

Lily me abraça com força e entra correndo em casa.

Volto pela rua vazia, quando menos se espera as coisas mudam.

Talvez nenhum de nós esteja pronto para o Adeus. Muito menos para o até logo.

Mas sorriu porque se existe uma certeza é que sempre voltaremos um para o outro.

Melhores Amigos.

Primos.

Fecho a porta atrás de mim e digo quase em um sussurro.

Apaixonados.

XXX

Lily Luna

Foi tudo muito rápido. Hugo me fez dizer em voz alta o que eu realmente queria fazer. Quem eu gostaria de ser. Perfumista. Fugindo do esperado dos Potter’s. Não quero ser a rainha do Quadribol, nem a melhor Auror, também não quero ser a filha de Harry Potter. Gosto de ter minha personalidade. Não sou Gina. Não sou Harry. E com toda certeza não sou Alvo ou James. Sou Lily Luna. Gosto de ficar sentindo o aroma das flores, gosto de assistir as pessoas cozinhando por horas, gosto de sentar no chão enquanto Hugo me desenha, gosto de sentir a chuva gelada. Vou para Paris. Vou ficar pesquisando as magias aromáticas que envolvem o país.

Os trouxas não sabem o que os atraem até lá, mas nós sabemos que os aromas são um tipo de magia muito usada pelos bruxos franceses. E eu quero desvendá-las. Para poder fazer com que todos se lembrem do quanto alguns cheiros nos fazem bem.

Hugo me deixou em casa e eu expliquei quase tudo para meus pais. Agora nós tínhamos menos tempo ainda. A viagem foi marcada para acontecer um dia antes da partida dele, uma escolha minha. É mais fácil partir do que vê-lo fazer.

Uma semana pode passar tão rápido.

E eu já sinto sua falta.

Talvez devêssemos dizer algo antes de parti. Mas será que conseguiríamos ser os mesmos depois das palavras ditas? Estou pensando frequentemente nisso. No ato de dizer. De ser sincera. De conseguir superar a distancia, o adeus, a família, e todas as pessoas que não entendem que mesmo tendo o mundo inteiro disponível eu ainda me apaixonaria por ele.

Não tenho preguiça de conhecer pessoas, na verdade adoro virar amiga de todos, os garotos gostam de mim porque não sou tão metida quanto à maioria das meninas, e nem rude como Rose. As meninas gostam de mim porque sou boa em encontrar o par perfeito para elas. Mas não consigo enxergar alguém melhor que Hugo.

Nunca dissemos nada. Nem tocamos nossos lábios. Apenas ficamos juntos e isso é ótimo. Não importa se somos primos, mesmo que não fossemos seriamos iguais. Transbordando um ao outro. O par perfeito.

Uma semana e terei que me afastar da única certeza que tinha. Que sempre estaríamos juntos.